23 setembro 2008

A literatura portuguesa de agora por onde anda?

Com algum atraso Portugal chegou à modernidade. Com algum atraso a geração de 70 falou dessa modernidade. Com algum a atraso o crime entrou no nosso quotidiano. Com muito espanto a nossa literatura continua a viver num tempo que não se sabe muito bem onde fica.
Um bom naco de prosa, susceptível de inspirar um humorista:
«Estava evadido da cadeia. Actuava sozinho e com rapidez. Como disfarce usava um capacete com riscas e para fugir um motociclo. Durante meses assaltou farmácias, tendo ficado conhecido como o "solitário das farmácias". Foi detido na sexta-feira, pela Polícia Judiciária (PJ), num hotel de Santo Tirso, e reencaminhado para o estabelecimento prisional de Paços de Ferreira.»
A sinopse de um conto. De um romance.
Aos 27 anos, já sabia tudo de posse ilegal de arma, condução sem habilitação legal e tráfico de estupefacientes. Quando foi preso, preparava-se para acender mais um charro. Era um bom rapaz. Nunca matou ninguém e o horário dos assaltos coincidia sempre com períodos mortos. Mas era um esteta. Para além do uso do capacete com riscas que o caracterizava, ficou conhecido por levar apenas notas das caixas registadoras e por actuar sem fazer alarde, com grande rapidez e eficácia.
Fosse ele menos dado às belas letras e belas artes e ainda agora podia estar no hotel a ver televisão, enquanto destapava o porro.

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