29 novembro 2011

Como festejar um prémio


Soltar um grito capaz de acordar um urso em hibernação, atirar o telemóvel contra a parede e correr a abraçar quem está ao lado.
Veja aqui.

Vamos lá abater despesas no IRC

Massagens, tampões higiénicos, cintos de pele de crocodilo, cabeleireiro, faqueiros em prata, mercearia, viagens e festas de aniversário de família, alugueres de jactos e helicópteros particulares, auditorias e prendas, tudo serviu para poupar a módica quantia de 750 mil euros de IRC entre 2005 e 2007, dado que passaram pela contabilidade da empresa despesas de natureza pessoal no valor de 3,1 milhões de euros.
Coitada da empresa que tal faz. É uma empresa portuguesa, muitas vezes apontada como exemplar pelo volume de negócios. E que se viu apanhada pelo fisco nestes incumprimentos.
Não estamos aqui a sugerir que não se gastem tampões higiénicos ou cintos de pele de crocodilo, apenas que se se usa de tais subterfúgios para fugir aos impostos, algo que lesa o Estado, ou seja, toda a gente, se deve ser julgado. O que está a acontecer.
A empresa “reconheceu já em juízo a existência de lapsos marginais na contabilização de despesas de índole pessoal, tendo evidenciado, porém, que as mesmas correspondem a uma percentagem absolutamente irrisória do valor global em discussão”.
Gosto particularmente do esclarecimento da empresa. Já emoldurei e pendurei na parede. É um naco de boa prosa. Por causa do adjectivo usado: lapsos marginais.

Olarilolé


A banca avisa, a troika está a atirar-nos para as areias movediças da morte certa: serão menos 46 mil milhões que desaparecem da economia portuguesa, com o inevitável asfixiamento das empresas e das pessoas.
“A intervenção dos reguladores está a desarticular o sistema financeiro europeu”, diz o banqueiro Fernando Ulrich.
Ora, no mesmo dia, ficámos a saber que um americano de provecta idade devolveu a uma loja o dinheiro que roubara há 60 anos, com juros. Se a medida fosse seguida pelos mercados, poderíamos viver em paz.
Basta recordar que o dinheiro nada é, apenas um instrumento para suportar transacções. O dinheiro serve apenas para facilitar as transacções comerciais — não produz nenhum bem real. O objectivo da economia é, em princípio, manter e promover o bem-estar das pessoas. Mas há quem sempre queira apropriar-se do que é de todos. Os gulosos podem ter vários nomes: especuladores, agiotas, mercenários, traficantes, débeis mentais. A população aprende desde muito cedo a venerar os traficantes, pelo bem-estar que ostentam. Porque a escola é, grosso-modo, omissa quanto aos fundamentos e bases da economia. O conhecimento é segredo e este é a alma do negócio, por isso a economia é sempre um assunto mal estudado que fica para um pequeno grupo de especialistas (os quais, como se tem visto no caso europeu, falham em toda a linha, excepto na manutenção do seu alto nível de vida).
Mário Soares que não é economista, mas político e que se orgulha de o ser, diz que "estamos a cortar tudo e não estamos a construir nada para obter maior crescimento económico e para reduzir o desemprego. Se assim continuar, daqui a um ano vamos estar pior do que estamos hoje. Para que nos serve então a austeridade que vem aí?"
Se ouvirmos os economistas eles enrolam o discurso para acabarem por admitir que não sabem como é que Portugal vai poder crescer. Porque sabem que Portugal vai empobrecer e o empobrecimento é o contrário do crescimento.
No entanto o país tem recursos: pessoas; território; oceano; competências; massa crítica. Ou seja, pode encontrar maneiras de dar a volta à crise se conseguir envolver na solução o maior número de pessoas. Para o fazer tem de haver espírito de missão por parte de todos e não apenas dos sofredores do costume. E o que se vê é que são apenas os do costume que vão pagar a factura para, no fim, estarem pior. E sem que se veja sinal de a justiça funcionar para com quantos são os grandes responsáveis pelos buracos (sejam eles os do BPN, do BPP, da Madeira, das empresas públicas, das más gestões administrativas, das autarquias).
A mensagem é muito clara: fode-te Zé, para que o Samuel, o Pedro, o Jorge e amigos te continuem a foder. E Zé, não faças ondas, sê bem comportado, como sempre, paga e está caladinho.

28 novembro 2011

Fala Isabel do Carmo

«O primeiro-ministro anunciou que íamos empobrecer, com aquele desígnio de falar "verdade", que consiste na banalização do mal, para que nos resignemos mais suavemente. Ao lado, uma espécie de contabilista a nível nacional diz-nos, como é hábito nos contabilistas, que as contas são difíceis de perceber, mas que os números são crus. Os agiotas batem à porta e eles afinal até são amigos dos agiotas. Que não tivéssemos caído na asneira de empenhar os brincos, os anéis e as pulseiras para comprar a máquina de lavar alemã. (...)
Vamos empobrecer. Já vivi num país assim. Um país onde os "remediados" só compravam fruta para as crianças e os pomares estavam rodeados de muros encimados por vidros de garrafa partidos, onde as crianças mais pobres se espetavam, se tentassem ir às árvores. Um país onde se ia ao talho comprar um bife que se pedia "mais tenrinho" para os mais pequenos, onde convinha que o peixe não cheirasse "a fénico". Não, não era a "alimentação mediterrânica", nos meios industriais e no interior isolado, era a sobrevivência.
Na terra onde nasci, os operários corticeiros, quando adoeciam ou deixavam de trabalhar vinham para a rua pedir esmola (como é que vão fazer agora os desempregados de "longa" duração, ou seja, ao fim de um ano e meio?). (...)
Na terra onde nasci e vivi, o hospital estava entregue à Misericórdia. Nesse, como em todos os das Misericórdias, o provedor decidia em absoluto os desígnios do hospital. Era um senhor rural e arcaico, vestido de samarra, evidentemente não médico, que escolhia no catálogo os aparelhos de fisioterapia, contratava as religiosas e os médicos, atendia os pedidos dos administrativos (...) E tudo dependia da Assistência. O nome diz tudo. (...)
E todos por todo o lado pediam "um jeitinho", "um empenhozinho", "um padrinho", "depois dou-lhe qualquer coisinha", "olhe que no Natal não me esqueço de si" e procuravam "conhecer lá alguém".
Na província, alguns, poucos, tinham acesso às primeiras letras (e últimas) através de regentes escolares, que elas próprias só tinham a quarta classe. Também na província não havia livrarias (abençoadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian), nem teatro, nem cinema.»

Isabel do Carmo, Já vivi nesse país e não gostei, in Público

Da vespa para o audi


Andava de lambreta e passa a andar com um carro que custa a pequena quantia de 86 mil euros.
O CM avançou com a notícia, que o gabinete do ministro se apressou a desmentir. O desmentido diz que o carro não foi comprado, que se trata de um aluguer de longa duração. A verdade é que Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, tem agora um carrito cómodo para se deslocar, pois a crise, oh diacho, não toca a todos.

Ditaduras na Europa

Fala Diogo Freitas do Amaral: há «um conjunto de países democráticos governados por uma ditadura de cima para baixo», «uma ditadura de dois chefes de estado ou de governo» ou de «um ser híbrido a que chamam "Merkozy"» que impõe orçamentos e determina políticas nacionais, o que cheira a «imperialismo, hegemonia, colonialismo, protectorado».

Fonte: DN

O estranho caso do esperma roubado


Há notícias que não lembram ao diabo, esse cornudo que sempre esteve ligado a casos de grande erotismo.
Os factos ocorreram em Harare, Zimbábue. As irmãs Sophie Nhokwara (de 26 anos) e Netsai Nhokwara (24) e Rosemary Chakwizira (28) foram detidas juntamente com o namorado de Sophie, Thulani Ngwenya (24), por suspeita de dezassete ataques indecentes agravados contra homens que obrigavam a ter relações sexuais, depois de os estimularem com químicos afrodisíacos. A polícia apanhou-as com mais de três dezenas de preservativos usados no carro. E há vários rapazes e homens que se queixaram de ter sido obrigados a ter relações sexuais com as três, que depois os abandonavam sem roupas.

Fonte: JN

27 novembro 2011

...se nem nos 'fait-divers' acerta

diz o deputado comunista Bruno Dias ao ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Pereira.



Fonte: JN

VPV feat Cavaco e o resultado é...

Há coisas a que se chega com razoável atraso. Porque é preciso vencer o tédio. A mim acontece-me com Vasco Pulido Valente. Espécie de bonzo nacional que se diz social-democrata, do mesmo modo que Paulo Portas é democrata cristão. Há designações que de tão vazias servem para se usar como emblema e ficam bem com a pose.
Só agora li a entrevista de Pedro Lomba. Uma dessas entrevistas que dão bem a medida da vaidade de duas pessoas: entrevistado e entrevistador. As pessoas de direita têm tiques assim. Gostam de dar nas vistas. Cultivam mesmo um ar meio blasé, a imitar os gauches que dizem detestar, porque lhes dá sainete. (Ah, que chatice, hoje saem-me termos franceses e isso é tão démodé.)
Vasco Pulido Valente é homem de certos ressentimentos. E isso torna-o engraçado aos olhos de quem o lê. O veneno, a bílis, o ácido funcionam como uma espécie de voyeurismo, a gente espreita para ver a posição que o Autor vai assumir. As posições contra por exemplo Cavaco Silva são uma delícia. Vasco Pulido Valente não lhe perdoa o modo como Cavaco o ignorou, pondo a nu a sua vacuidade. E não perde, por isso, oportunidade de dizer que Cavaco Silva é o inimigo número 1 do país e o culpado pelo estado em que estamos.
As contradições são o seu forte. Quando a pose é mais de historiador, quer mostrar que há continuidades que explicam as "falhas", mas quando o ressentimento é mais forte, isso é esquecido e opta pelo maniqueísmo mais primário.
Cavaco Silva não tem pergaminhos. Vasco Pulido Valente tem. Ambos estudaram fora. Ambos têm um relacionamento de longa data com o pensamento (e as afectações) do mundo anglo-saxónico. Mas Cavaco dominou o país durante anos. Conseguiu aquilo que antes dele ninguém conseguira. Ou seja, sempre foi um protótipo do português. Vasco Pulido Valente é mais da linha queirosiana, um estrangeirado. Alguém que toma a sua própria vaidade como régua através da qual mede tudo. E que não chega aos calcanhares do escritor. A medida de Vasco Pulido Valente é mesquinha. Veja-se este pequeno naco de pensamento (de ressentimento). «O país transformou-se. Foi o Cavaco que, como lhe disse, pôs o carro a descer a encosta. Ele criou aos portugueses o sentido de entitlement, quando o Estado lhes dava qualquer coisa isso passava a ser um direito. Transformou Portugal. Eu tenho um artigo qualquer que se chama "Homus Cavaquensis". Isso não foi um erro, foi uma profecia que acabou por se verificar. Se foi esse o grande erro que eu fiz... Eu costumava fazer campanhas eleitorais com um amigo meu que era médico. Entrávamos no distrito de Leiria e ele dizia-me sempre, isto em 1980, "agora vai devagarinho que aqui o Hospital de Leiria só tem algodão e mercúrio cromo". Anos depois, há hospitais moderníssimos. O Cavaco subiu as expectativas dos portugueses absurdamente.»
Cavaco é o culpado por... ter criado nos portugueses a sensação de que tinham direito a ter hospitais. Não têm. Vasco Pulido Valente sabe isso muito bem. Ele tem médicos na família. Os portugueses não podem ter hospitais. Isso é um crime. E é por causa desse crime que estamos onde estamos.

25 novembro 2011

Entre o risco e a utopia

Portugal é um país baço? Tosco? Atrasado?
Há quem garanta que sim. Há quem não hesite em negar tais barbaridades.
E no meio não há virtude nenhuma.
Quando um empresário fala e põe a tónica no risco, pode ser aplaudido, sobretudo se for bem sucedido e obtiver lucro.
Já quando alguém afiança que a criatividade é a mãe de todo o crescimento, fruto da insatisfação intrínseca do ser humano, verifica-se um generalizado encolher de ombros, senão um sorriso cúmplice, que pode ser traduzido por Olha, mais um idiota...
No entanto, são os gestores e os empresários mais bem sucedidos que incorporam no seu discurso e comportamento aquilo que um conjunto de criativos pensa estrategicamente, obtendo assim mais-valias e contribuindo para o enriquecimento próprio e do país onde isso acontece.
São muitos os seminários, os encontros, os congressos onde se debatem estes assuntos, procurando sensibilizar empresários e quadros superiores para uma percepção mais abrangente que lhes permita inovar e desenvolverem-se.
Porque é que o governo do meu país parece rastejar e apenas se serve de uma retórica passadista, bolorenta, incapaz de dinamizar a economia?
A babugem do défice, os cortes mastodônticos servem que interesses? Os do país ou os de um pequeno grupo de agiotas? Não deixa de ser caricato verificar que o governo, depois de, enquanto oposição ter zurzido Sócrates, venha agora reivindicar aquilo que ele fazia como ninguém: usar as centrais de informação para passar as suas mensagens. (Repare-se como Moedas titubeia, como se mostra incapaz de enfrentar o touro e prefere dizer que é um grande bailarino. Acreditará que assim levará água a algum moinho?)
Quando é que o governo passa à acção e arrisca contrariar os mercados? Como? Por exemplo promovendo nos sítios certos aquilo em que somos bons: pastelaria, enchidos, queijos, culinária, vinhos, azeite, calçado, lanifícios, cortiça. Apostando no design, na divulgação, na exportação.

23 novembro 2011

Devagarinho

ou depressa, como se quiser, Portugal retrocede a tempos não muito longínquos, em que a fome fazia parte do dia a dia.
E como é da praxe, o que vale em circunstâncias tão difíceis é a caridade. Que merda de país onde se pagam tantos impostos, onde se fazem tantos negócios e em que se deixam estudantes à míngua.
«O presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve afirmou, esta quarta-feira, que há estudantes com fome na instituição».

Zefrey Throwell e o sucesso do "strip poker"


Forma de protesto contra a política económica dos Estados Unidos, Strip poker é um jogo que decorre ao vivo numa galeria de Nova Iorque. Os jogadores vão-se despindo em cada rodada que perdem.
Diz Zefrey Throwell que "O jogo é uma crítica moderna à forma como os Estados Unidos funcionam. Cada um, de situações económicas diferentes, deve jogar pelas mesmas regras, o que considero ser uma situação parecida com o que acontece nos Estados Unidos".
A partida durou sete dias e foi acompanhada com muita excitação e filmagens pela população que passava na rua.






Strip Poker in Manhattan - I'll Raise You Two! por ramimor

Adeus Montserrat Figueras

Montserrat Figueras (1942-2011) morreu hoje, aos 63 anos, em Barcelona.





Da ignomínia

Quando há milhares de portugueses que não têm emprego nem recebem subsídio, com casas para pagar e filhos para sustentar, a quem se diz "Aguenta, não deixes de acreditar", sem que se lhes dê nada mais do que a oportunidade de enfileirar o grupo dos pedintes, que vão mendigar sopa à assistência social, pagam-se rendas altíssimas a senhores cuja situação económica é mais do que suficiente para pagarem o alojamento.
A situação é, no mínimo, indigna. Mas releva de uma mentalidade que está na origem dos problemas económicos do país: viver acima das suas possibilidades.
Um ministro não precisa de receber do erário público subsídio de alojamento. Mas um desempregado precisa de receber subsídio de desemprego.
Um governo que brinca com as palavras como se elas fossem vazias é um mau governo. Um primeiro-ministro que deixa mensagens no facebook a pedir crença é o mesmo primeiro-ministro que atribui subsídios de alto valor a colegas de governo (num sinal claro de favorecimento pessoal). Recorde-se que o subsídio de alojamento corresponde a 75% do valor das ajudas de custo, calculadas em função da remuneração que os governantes auferem.
Chamam-lhe justiça. Dignidade. E outras coisas. Mas o nome concreto disso é ignomínia. Pois deixa-se que pessoas passem fome e sofram humilhações indignas para se conservarem mordomias.
Em tempos de crise não há direito a mordomias pagas pelo erário público.
Portugal sempre foi assim. Na monarquia. No tempo da ditadura. Depois do 25 de abril.

21 novembro 2011

Portugal, um país de bons profissionais em certas áreas

Afinal, os portugueses bem preparados até são apreciados: por empresas do Reino Unido, Noruega, Alemanha, França, Suíça e Finlândia. Que procuram? Profissionais altamente especializados, como engenheiros, profissionais das tecnologias de informação, enfermeiros, professores e educadores de infância, assistentes sociais e cozinheiros. Reconhecem-nos, além de uma boa preparação académica, a facilidade de aprendizagem de novas línguas e, em particular, um bom domínio do inglês. E a capacidade para a resolução de novos problemas/adaptação a novas situações; facilidade de adaptação a novas culturas e métodos de organização de trabalho, de integração em ambientes multiculturais; espírito de equipa; tenacidade e competências sociais.

Fonte

Do mau jornalismo

Há gente em Portugal a ganhar fortunas mensais. Salários dourados, acima do dos congéneres internacionais.
Ninguém declara, a pretexto disso, que os salários da função pública deveriam ser equiparados aos desses milionários. No entanto, há por aí muito jornalismo de sarjeta que faz comparações desse nível quando se trata de comparar salários e reformas. Como se as médias significassem alguma coisa. Talvez seja gente mal preparada e profissionalmente incapaz, mas mesmo assim contribui para um clima podre que, mais cedo ou mais tarde, terá consequências graves. Como se diz, quem brinca com o fogo, queima-se.

O medo começa a espalhar-se como um gás

Christine Lagarde, directora-geral do FMI, teme que a actual crise soberana provoque "enormes consequências" e "consequências negativas" nas várias economias do mundo, incluindo a norte-americana. O pior cenário possível é a estagnação económica, o elevado desemprego e as revoltas sociais na sequência da turbulência dos mercados financeiros.
Caminha-se calmamente para um mundo policial, senão mesmo militarizado, em que a liberdade será restringida?

Passos Coelho garante que não vai mexer nos salários

mas nas garantias dele já ninguém acredita. Pois garantiu a uma criança, olhos nos olhos, que era mentira que ia cortar os subsídios de férias e de natal. E foi o que se viu.
Talvez seja mesmo melhor dar como certo que o governo tem em movimento um projecto de redução de salários.
Quem assinou contratos expectando um determinado percurso salarial pode pedir aos bancos o favor de remeter as contas para Passos Coelho, Vítor Gaspar e Hélder Rosalino.

Em política o que parece é

Os portugueses, gente desconfiada mas crente, ainda supõe que o governo está a fazer tudo o que pode para nos tirar da crise.
Ainda não perceberam que o governo está a fazer mais do que era suposto fazer, a pretexto da crise, ao mesmo tempo que dá prémios aos mais gastadores.
Ora veja-se: o governo vai alterar o Orçamento de Estado de 2012 e propor uma alteração que dará mais dinheiro à Região Autónoma da Madeira e menos à Região Autónoma dos Açores.
A Madeira, como é público, contribuiu para o corte dos subsídios dos funcionários públicos, para a subida do IVA nos restaurantes, na água engarrafada e noutros produtos.
Mas nada disso importa, pois, vai receber mais dinheiro. E pode, portanto, começar já a esbanjá-lo: o Governo Regional da Madeira vai gastar mais de três milhões de euros nas iluminações decorativas de Natal e no fogo-de-artifício do fim do Ano.
E também daí não virá mal ao país, pois o governo já sabe onde vai buscar dinheiro. Basta mudar as tabelas salariais do sector público até ao final de 2012, a pretexto de "ajustar para os níveis de mercado as remunerações praticadas relativamente a outros grupos, relativamente aos quais a administração pública poderá eventualmente estar a pagar acima do que é a prática do mercado".
O governo conta com a anestesia dos seus concidadãos e com a crença que ainda vigora.
Quando os portugueses acordarem da letargia verão um país onde o número de pobres subiu exponencialmente e ricos cada vez mais ricos, numa clara política de distribuição de riqueza que tem estado a ser levada a cabo pelo governo PSD/CDS.

19 novembro 2011

A dívida do PSD

O passivo do PSD nacional, em 31 de Dezembro de 2008, era de 10,5 milhões. Quase metade (4,7 milhões) das dívidas do partido a instituições bancárias foram contraídas pela Madeira, neste caso maioritariamente junto do BANIF (3,4 milhões).
Passaram 3 anos e as contas do PSD Madeira devem estar piores. Já as do PSD nacional devem estar melhores. Quando o PSD sair do poder vamos ver como estão os números. É que mesmo com crise, o passivo vai sofrer mudanças significativas e não me espantaria que houvesse já muito dinheiro em saldo - afinal quem paga é o contribuinte e o funcionário público (que paga a dobrar).

Fonte

Para memória futura


Passos Coelho garante hoje a pés juntos: "Não podemos acrescentar ao défice". Desse modo justifica o corte do 13.º e 14.º mês aos funcionários públicos.
Segundo o Bloco de Esquerda há medidas que poderiam arrecadar 2 mil milhões de euros ao Estado: uma taxa de 0,6 por cento para fortunas superiores a um milhão de euros e uma taxa de um por cento para fortunas superiores a três milhões de euros (renderia mil milhões) e uma taxa sobre as mais valias urbanísticas geraria outros mil milhões.
Vamos ver como ficam as coisas. E sobretudo ver como é que Passos Coelho vai justificar o aumento do défice. Porque parece certo que ele vai subir (fruto da recessão).

Repare-se no que Passos Coelho diz aos jotinhas

Num discurso que parafraseia o yes we can de Obama, Passos Coelho tenta dar a volta ao pessimismo dos jotinhas dizendo-lhes que "à medida que formos ganhando a confiança daqueles com quem fizemos estes contratos, eles próprios se irão convencendo que nós não precisamos de ser aqui uma espécie de protectorado onde nos dão as ordens e as indicações sobre o que devemos e como devemos fazer". Às crianças não se mente. Usa-se um discurso enviesado que confirma aquilo que já todos sabíamos: quem governa Portugal é a troika.

Fonte

Os católicos portugueses acham que Passos Coelho não cumpre o que promete

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP, instituição da Igreja Católica) afirma que a governação dos últimos meses não corresponde ao discurso proferido pelo primeiro-ministro na apresentação do programa do Governo. Mais: a acção governativa tem-se ocupado, nos últimos meses, quase exclusivamente do défice orçamental e da dívida. Comentários sobre os outros objectivos - crescimento, emprego, equidade, bem-estar humano - são passageiros, quando existem.

Fonte

18 novembro 2011

Um estudo de mercado

Há notícias cirúrgicas. Surgem no momento certo. Até porque se trata de espalhar uma mensagem. Esta pretende mostrar que não vale a pena protestar porque quem governa é a luz e as luzes sabem sempre tudo. São os mensageiros da palavra divina na terra. Mensageiros do mercado, claro.

Aqui fica a súmula da notícia:
«Estudo revela que portugueses acham a austeridade um mal necessário

Os portugueses consideram que as medidas previstas no Orçamento do Estado para o próximo ano agravam a sua situação financeira, mas reconhecem a razoabilidade das mesmas face à actual situação do país.»

Democracia?

«Manuela Ferreira Leite escandalizou com os seis meses de suspensão da democracia. Seis meses? Upa, upa! A democracia enquanto tal está suspensa até ver. Por cá, na Grécia, em Itália, e no que está para vir.» Raul Vaz

17 novembro 2011

Do orgasmo feminino

Barry Komisaruk, investigador da Universidade de Rutgers, nos EUA, gravou as imagens da ressonância magnética feita ao cérebro de uma mulher, enquanto esta se auto-estimulava. E verificou que durante o orgasmo feminino são activadas praticamente todas as zonas cerebrais importantes.
As imagens mostram que a primeira área cerebral a ser activada, logo no início, é o córtex sensorial. A seguir, a actividade alarga-se ao sistema límbico, unidade cerebral responsável pelas emoções. Quando a mulher está prestes a atingir o clímax, a acção concentra-se no cerebelo e no córtex frontal, associado ao movimento de mãos e da face. No ponto alto, a actividade circunscreve-se ao hipotálamo, que liberta oxitocina, hormona responsável pelas sensações de prazer.
Já se sabia que a estimulação da vagina, do colo do útero e do clítoris activa três locais distintos e separados no córtex sensorial. E que a auto-estimulação do mamilo não só activa a região do córtex sensorial que esperávamos, como também activa as mesmas zonas que a região genital, o que explica por que é que algumas mulheres podem ter orgasmos através da estimulação da área mamária.

O vídeo pode ser visto aqui.

Um país que fica bem no postal


Com bacalhau e nada mais, a não ser paisagem. E golfe. Golfa-se muito e é barato. De resto vende-se como sendo bom para namorar (embora os gays pareçam excluídos dos vídeos de promoção, mesmo sendo clientes ricos) e com uns arremedos de arte (que daqui a pouco estarão reduzidos a escombros, depois do meritório trabalho de Francisco José Viegas em prol do livro-lixo), Portugal é vendido como um lugar de natureza intocável (mentir aos que cá vêm não é fazer com que nunca mais voltem?).
São campanhas, senhor, não passam disso, não vos zangueis. Portugal é de facto um imenso tédio quando envolto em plástico.

O jeito que as crises dão


Com passinhos de lã, o governo vai tentando levar a água ao seu moinho, exaurindo os solos, qual praga de eucaliptos, para que todos agradeçam a pouca água que lhes calhar em sorte. As vítimas serão, agora, os mais velhos.
O governo não gosta de velhos. Quer que os empresários os ponham a andar das empresas. São um empecilho para o Estado - ganham mais, pagam mais impostos e o Estado não quer que isso aconteça. É preciso americanizar isto tudo: pagar menos aos mais novos que produzem mais.
A protecção no trabalho tem os dias contados por vontade do PSD e do CDS/PP.
A retórica é sempre pelo lado da competência, da viabilidade e de outros méritos com que convém acenar para ir criando divisões e se poder reinar. Na prática, a ser criada a tal lei, os mais velhos que se acautelem, chegam aos quarentas e ala, borda fora. Como nessa meia idade é difícilimo arranjar emprego, sugere-se que os primeiros a virem para a rua criem empresas de suicídio assistido, pois os cidadãos tornar-se-ão desnecessários.
Que belo país o nosso.

Pelo preço de um leve dois e pague três

Estamos no primeiro pacote made in Troika e já o nosso Gasparzinho, qual pequeno fantasma, prepara a próxima partida. O novo assalto ao bolso de quem trabalha será já no próximo ano: “como mostra o Orçamento do Estado para 2012 é possível ter de tomar medidas adicionais muito consideráveis para assegurar os objectivos do programa”.
Repare-se que ele não diz que Portugal precisa de crescer para poder pagar. Não. Ele apenas sublinha nesse tom neutro que vêm aí mais cortes. E como de "gorduras" já ninguém fala (os jobs continuam, as mordomias permanecem, os interesses subsistem) percebe-se que o governo vai pôr a função pública a pão e água e o resto dos tugas não vai ficar melhor.
A pressão da austeridade sobre o Estado e os contribuintes vai continuar bem além de 2012 e do final do primeiro programa da troika.
Primeiro porque Portugal já trabalha para pedir um segundo, decidido antes das eleições, altura em que haverá momento para uma pequena folga para se voltar a ganhar eleições e continuar com os "ajustamentos muito difíceis".
O governo já usa a táctica comercial do gratuito por N euros (78 mil mais 28 mil milhões, a que se juntam juros e comissões).

A pouco e pouco expõem-se as aldrabices de certos economistas

«A ideologia reinante desde há séculos não muda. No futebol interessa quem gere a arbitragem. Na política só importa quem tem o poder da informação. Portugal é um país sempre à espera de que o Estado pastoreie as almas. Ou controlando a informação, ou tornando-a inofensiva.

O pretenso liberalismo de alguns é um estalinismo doce e crocante. As declarações de João Duque, regente de um documento que é elaborado repositório de frases feitas, são típicas de quem acha que o liberalismo é bom enquanto não se comanda o Estado. Quando se tem o poder, tudo deve ser ministrado a conta-gotas aos cidadãos.»

Fernando Sobral

Fala Helena Garrido

«Sem atacar a falta de concorrência, sem reduzir o poder dos grupos de pressão, sem haver justiça, nunca haverá mais crescimento. Teremos apenas mais empobrecimento. E um enorme risco de revolta.

O que se fez até agora para cumprir os objectivos da troika era aquilo que se tinha de fazer. Porque tudo o resto leva mais tempo. Mas, a partir de agora, é preciso acabar com o que efectivamente condenou Portugal ao colapso financeiro. É preciso criar, de facto, um mercado e acabar com a exploração de rendas, com os abusos de posição dominante e com a cultura (e realidade) geral de impunidade para quem tenha os amigos certos.

Políticas de crescimento ou agendas de transformação não são, como parece ser o entendimento de alguns, pacotes de subsídios a empresas. São medidas que expõem sectores como a energia, as telecomunicações e a grande distribuição a uma efectiva concorrência e sem acesso a favores do Estado. São decisões que não cedem ao poder de influência de um sistema financeiro mal habituado. São iniciativas muito para além do que exige a troika na justiça.

É toda esta nova actuação dos poderes públicos em defesa do interesse dos portugueses que é preciso acelerar. Umas estão previstas no Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF), outras não e devem ser assumidas pelo Governo como prioritárias.»

Fonte

Como os economistas adoram o desemprego

«Ainda é muito cedo para abrir garrafas de champanhe mas, para já, Portugal está a cumprir a sua parte, com enormes sacrifícios económicos e sociais. Os números do desemprego ontem conhecidos são mais uma prova. É com este tipo de avaliações positivas que Portugal reconquistará a credibilidade internacional, imprescindível para voltar aos mercados financeiros daqui a dois anos.» Bruno Proença

Como se dá a volta aos números

Relvas fala em 50 milhões. Ruas fala em 102 milhões.
O governo diz que vai cortar 240 milhões nos subsídios de férias e de Natal das autarquias. A Associação Nacional de Municípios diz que não, que o corte será apenas de 146 milhões de euros.
Assim anda o país alegremente a acreditar no que o governo diz.

Dívidas públicas

Dizia-se e ainda se diz que o problema de Portugal é ter vivido acima das suas possibilidades.
Vai-se ver e a Inglaterra vive astronomicamente acima das suas possibilidades. A França idem. A Alemanha aspas.
A maior parte dos países europeus são grandes gastadores. Já os EUA não ficam atrás.
Exemplo parece ser a China. Os salários são miseráveis. Os horários de trabalho correspondem aos dos escravos. Os lucros dos capitalistas do país são colossais. A população continua a emigrar massivamente.
Deve ser este o modelo que pretendem aplicar por cá.

Fala Belmiro de Azevedo

"O problema de Portugal não é um plano de austeridade, mas saber para onde vamos a seguir".
"Não se vislumbra uma estratégia que potencie o crescimento para uma verdadeira competitividade das empresas".
"Maior deve ser a desilusão do país" perante a falta de políticas estruturais de lançamento da economia.
Os "políticos são frágeis" e "facilmente substituídos em movimentos pouco democráticos".

Com a contundência que é lhe é própria BA põe o dedo nalgumas feridas. E diz, para quem o quiser ouvir, que este governo tem falta de gente capaz. Capaz de nos tirar da crise. Capaz de nos fazer crescer economicamente.

Para que a Madeira permaneça igual a si mesma

O porta-voz dos Assuntos Económicos da Comissão Europeia, Amadeu Altafaj Tardio, afirmou que os contribuintes portugueses vão pagar o "sério desvio" financeiro da Madeira.
Ele já sabe que o tio Alberto João encontrou maneira de Passos Coelho e o seu estimado ministro das finanças darem a volta à coisa de maneira a que haja mais cortes salariais para que a Madeira possa continuar o seu louvável trabalho em prol da da democracia e do rigor das contas públicas.

16 novembro 2011

Maneiras de ludibriar

Fala André Freire, politólogo: «Desde que ascendeu à liderança do PSD e até às legislativas de 2011, Passos Coelho disse sempre que não cortaria salários e subsídios, cortaria sobretudo as "gorduras do Estado". A verdade é que se propõe agora renovar o corte nos salários (acima de 1500 euros) dos funcionários públicos (FP), entre 5 e 10 por cento, e ainda os subsídios de férias e de Natal a FP e pensionistas, 2012-2013. Tais cortes contrariam os programas eleitorais de PSD e CDS e o acordo com a troika (PAEF). Mais: o corte com as despesas com pessoal é o quádruplo do exigido (de 0,4 para 1,6 por cento do PIB) (Nicolau Santos, Expresso, 22/10/11); nas "gorduras do Estado" a redução é de 89 milhões de euros, quando se previam 500 milhões, e o corte nas transferências para as regiões e municípios é de 8,3 milhões, quando se previam 150 milhões (Paulo T. Pereira, PÚBLICO, 13/11/11). Portanto, em matéria de salários e subsídios o Governo vai contra os compromissos assumidos com os portugueses e a troika; pelo contrário, no que se tinha comprometido a fazer ("gorduras do Estado"; transferências para as autarquias) fica muito aquém do prometido e do PAEF.»

«O Governo alega que corta só nos salários dos FP e nas pensões, porque se comprometeu a cortar prioritariamente "na despesa". Porém, por um lado, apenas formalmente se trata de "cortes na despesa": "É sabido por todos que a redução dos salários ou pensões a grupos específicos é um imposto." (Cavaco Silva, citado em DN, 19/10/2011; idem Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, 13/11/11.) Por outro lado, o Governo tem violado, e/ou renegociado, vários compromissos com a troika naquilo que lhe convém ideologicamente ou a que não é capaz de resistir por pressão dos lobbies.»

»As medidas de cortes de salários e de subsídios, bem como o grosso das medidas restritivas no OE afectam sobretudo os assalariados e deixam de fora as empresas e os seus accionistas, ferindo assim a "universalidade" e a "igualdade". Mais, enquanto no caso dos rendimentos do trabalho o Governo é muito escrupuloso no cumprimento do PAEF, no tratamento da evasão fiscal e dos rendimentos de capital é laxista. "O Governo renegociou com a troika um regime mais favorável para abater lucros com prejuízos", aumentando o prazo de três para cinco anos (PÚBLICO, 18/10/11), quando se sabe que, entre 1997 e 2007, cerca de 30 a 40 por cento das empresas não pagaram IRC sobretudo por causa deste expediente (PÚBLICO, 9/8/10). Ao contrário do prometido, o Governo recuou no corte das isenções fiscais e na tributação de dividendos na Madeira (jornal i, 1/11/11). Contrariando um parecer do Centro de Estudos Fiscais, o Governo despachou sobre a tributação de dividendos no sentido de "permitir a isenção fiscal de milhões de euros" (PÚBLICO, 6/11/11 e 14/11/11).»

A água das torneiras é boa para todos mas não para os deputados

Entre entre Janeiro e Novembro de 2010 a Assembleia da República gastou 8000 euros com a água engarrafada. Mas os deputados não querem beber água da torneira. Porque a comissão parlamentar do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local acha que não.

Fonte

Troika diz que Portugal tem funcionários públicos a mais

Pois tem. Aqui estão as tabelas comparativas (com uma vénia a A e a B) e, já agora, o quanto são felizardos os funcionários públicos portugueses.
(Clicar nas imagens para as poder ver com nitidez. A primeira pode ser vista, com outro tratamento, aqui.)





Detalhes que ajudam à festa


O mundo aquece. Os gelos vão-se. É um problema? É. Enorme: tempestades, colheitas perdidas, cheias monumentais, mortes, casas e vidas destruídas, doenças. Mas nada disso incomoda os senhores do mundo. Esses querem o quê? Deitar a mão às reservas de combustíveis que se encontram no Árctico: 90 mil milhões de barris de petróleo por descobrir e 44 mil milhões de barris de gás natural – 13% das reservas de combustíveis fósseis por explorar. É o Oeste Selvagem do século XXI. A Rússia, a Noruega, os Estados Unidos, o Canadá e a Dinamarca, todos querem uma fatia do fundo do mar Árctico.


Que nome se dá a isso? Realismo. Ter os pés assentes na terra. Oportunidades de negócio.

Aos doutores paga-se 700 milhões de euros

Em Portugal é preciso deixar de comer para que o país pague. E o país paga tudo direitinho, enquanto se tratar de ir ao bolso de quem se deixa espoliar silenciosamente, pois lhe é dito que só assim Portugal vai crescer.
O crescimento é uma farsa, claro. Mas enquanto o discurso dura, há quem ganhe à tripa forra. Veja-se o caso dos nossos amigos da troika. Para nos ajudarem, o país paga-lhes supostamento 0,5 do dinheiro que emprestam em comissões. Ou seja, além de termos de pagar os 78 mil milhões mais cerca de 40 mil milhões em juros, ainda pagamos perto de 700 milhões aos senhores que vêm cá dizer que é preciso baixar salários e acabar com o serviço nacional de saúde, entre outras sugestões.
Nós, respeitosos e crentes, fazemos tudo como querem.
Já eu se chegar ao governo e lhes disser que quero o,5 em comissões do dinheiro que me estão a tirar todos os meses em impostos mandam-me passear. A mim ou a qualquer cidadão. Ao mesmo tempo dizem-me que devo produzir mais, que devo consumir menos e que devo poupar.
Eu que ainda tenho alguma memória lembro-me bem dessa conversa, vinha num manual de português do tempo de Salazar e do Estado Novo (como os adjectivos são belos), em que alguém recolhia tostões do chão, pois assim seria uma pessoa rica.
Duas gerações de portugueses fizeram isso. E como éramos ricos: uma imensa massa de emigrantes; casas sem condições; fome; altos níveis de analfabetismo e alcoolismo; empresários paupérrimos (como Feteiras e Champalimauds); carência de médicos e de tudo e mais alguma coisa.
A receita que estão a aplicar é a mesma. E como nos bons velhos tempos aos senhores doutores paga-se em ouro e de que maneira.
Grande país. Grandes dirigentes. Grandes empresários.

15 novembro 2011

Portugal precisa de

cortes salariais reais e outra medidas que conduzam o país à miséria para tornar a economia mais competitiva e travar o aumento do seu endividamento face ao exterior.
Diz quem? O think tank norte-americano Peterson Institute for International Economics. Yes yes, obviamente. Recorde-se apenas que «a fragilidade das economias periféricas é o alvo perfeito para a especulação financeira e agências de rating (controladas maioritariamente pelos republicanos) e são ouro sobre azul na estratégia republicana de desacreditação da sustentabilidade do modelo social europeu e do seu sistema universal de saúde gratuito.» [Domingos Ferreira, no Público de ontem. Nota: republicanos refere-se ao Partido Republicano dos EUA]

É preciso lançar a confusão para reinar

Portugal é o país das inevitabilidades. De repente, o país acordou para a inevitabilidade do corte dos subsídios de férias e de natal - depois de já ter sido inevitável reduzir salários. Segue-se a inevitabilidade de ter de pagar o buracão do BPN, da Madeira e muitos outros que existem nas empresas públicas, enquanto administradores e gestores continuam a encher-se à tripa forra.
Agora, a nova inevitabilidade é o corte nas reformas: "algumas pessoas vão passar a ganhar pouco mais de metade do seu ordenado quando se reformarem" dizem os especialistas (não se sabe se pagos pelas companhias seguradoras / bancos).
As inevitabilidades portuguesas são sempre "benéficas" para o país. Paga-se impostos e mais impostos, sofrem-se cortes por tudo e por nada nos salários e tanta-se paulatina e insistentemente vender a ideia de que o país não tem futuro.
Portugueses, façam o favor de emigrar. Vão para África, para o Brasil, para os EUA, para a Austrália ou para o raio que vos parta, mas paguem e paguem caro para que meia dúzia continue a beneficiar de regalias, mordomias e possa manter altos níveis de vida.
O mais engraçado em todos os cortes é a retórica usada para os justificar. Desde medidas de último recurso, a inevitabilidades, passando por medidas de "fim de linha". Como se os portugueses fossem atrasados mentais e não estivessem há anos perante a mesma argumentação: é preciso empobrecer para que os ricos possam enriquecer ainda mais. E mais engraçado ainda é quando a troika diz que o problema não é político mas sim de política económica. Veja-se como são meticulosos na linguagem, como atiram areia para os olhos das pessoas.
As campanhas contra os salários e a Segurança Social começou há mais de uma década e tem sido recorrente. É que são muitos os que querem poder deitar a mão a milhares de milhões de euros, em nome do futuro, pois claro.
Quanto aos subsídios, repare-se como por insistência do PS e de várias individualidades, instituições e sectores da sociedade, o governo faz de conta que é uma barata tonta e assegura que o corte dos subsídios é temporário para 2012 e 2013.
Será preciso recordar que em Portugal, além das inevitabilidades, também se é adepto do temporário? Quantas escolas estão, há décadas, temporárias em edifícios degradados? Quantos centros de saúde funcionam, também temporários?

12 novembro 2011

Contra certos lugares comuns, por exemplo o sexo


Quando se fala em sexo há logo coisas do género: os homens assim, as mulheres assado. E muita boa gente dá isso por adquirido e até se dá ao luxo de perorar sobre o assunto como se fosse especialista. Felizmente, há quem se dedique a testar esses lugares comuns e as conclusões a que vão chegando são avassaladoras:
«Cerca de 90% dos homens não têm orgasmo, eles têm uma sensação de alívio porque apenas descarregam, e por isso é que as mulheres ficam infelizes e frustradas.» Palavras de Prem Milan, professor de bioenergética.
As mulheres portuguesas gostam mais de pornografia do que os homens. “Os homens têm tido respostas sexuais muito abaixo do que é habitual quando estão a ver filme pornográficos. As médias de excitação são próximas do cinco (numa escala de dez), abaixo da média dos estudos de outros países europeus. Já as mulheres tiveram médias próximas ou superiores às médias europeias”, afirma Pedro Nobre, coordenador do SexLab.
Fala Prem Milan: «As pessoas, em vez de olharem para dentro de si, elas preferem fugir, todo o mundo está fugindo. E todo o mundo acaba caído em antidepressivos ou fazendo um monte de basbaquices. Porque é que as pessoas estão usando tanta droga? São débeis mentais? Não. As pessoas estão muito frustradas e a base da nossa frustração começa com a sexualidade, quer você queira quer não.»
«Toda essa quantidade de doenças que estão por aí, a grande maioria delas começa num espaço emocional. As pessoas não ouvem o corpo, qualquer emoção está no corpo, as pessoas existem a partir do corpo, tudo começa no corpo. Se você está com raiva, você está de um jeito, se vê no teu olho. Se você está com tesão, está no teu corpo. As pessoas é que não enxergam, têm medo de se olhar. Os casais não se percebem, não se notam, têm de perguntar “E aí, tu está a fim?”, não sabem ler os sinais. É ridículo o estado a que as coisas estão chegando. O automatismo. O amor que sentem é muito pequeno, é uma carência desgraçada. O amor não pode ser essa escravidão, você depender do outro.»

Fontes: 1, 2, 3

10 novembro 2011

Passos Coelho é um homem de palavra

«Desde que arrancou a "colheita" orçamental, a 17 de Outubro, Passos já deixou pelo caminho alguns ingredientes com que contava para "cozinhar" a consolidação exigida pela troika para 2012. Se,aparentemente, alguns caíram apenas por um esquecimento inicial, outros acabaram por ser atirados "borda fora" por acção directa das partes interessadas.»
Ver animação aqui.

Das artes de hoje e dos artistas em particular


Quando um português urina diz-se que mija. Quando um artista urina, é uma performance. Não acredita? Ora leia:

«O artista italiano Alberto Magrin auto-retratou-se a urinar sobre uma instalação da autoria do brasileiro Flávio Cerqueira, que esteve patente ao longo da edição deste ano da Bienal de Vila Nova de Cerveira, no Verão passado, frente ao Fórum Cultural, o espaço-mãe do evento.
A "performance", que está publicada no seu site (http://www.magrin.it/magrine.htm), foi também enviada, pelo autor, à Fundação Bienal de Cerveira, na sequência da polémica que marcou o arranque do certame, em Julho, em que vários artistas, incluindo Magrin, se queixaram das condições "insalubres e indignas" em que estariam expostas as suas obras.
Uma peça do italiano estaria colocada numa casa de banho. Na altura, o pólo expositivo da bienal, instalado no castelo da vila, onde se encontravam as referidas obras, foi encerrado durante alguns dias para readaptação do espaço e reorganização das peças de arte. Não satisfeito com a situação, Alberto Magrin terá tentado activar o seguro relativo à sua participação no evento. A Fundação Bienal de Cerveira recusou-se a pagar qualquer um dos valores e acabou, no passado dia 2, por devolver a obra do autor, encerrando o processo.
"No seguimento da reclamação efectuada pelo artista e após diligências com a seguradora da 16.ª Bienal de Cerveira, foi concluído pela mesma, a 3 de Setembro de 2011, e enviado ao queixoso a inexistência de "nexo de casualidade" na reclamação apresentada, uma vez que não houve indícios de responsabilidade lesiva da sua imagem, como alegou o artista", pode ler-se num comunicado enviado, ao JN, pela Fundação Bienal de Cerveira, ao qual é anexada a foto de Magrin a urinar sobre a obra de um outro artista, com a seguinte explicação: "No intuito de ir ao encontro da pretensão do artista, a 16.ª Bienal de Cerveira mudou a obra para um local de maior e melhor visibilidade e o artista foi convidado a visitar o evento, de modo a verificar a nova instalação da mesma. Tendo rejeitado a nossa proposta, Alberto Magrin pediu uma indemnização no valor de 35.000 euros e/ou a compra da sua obra no valor de 13.000 euros, revelando uma atitude puramente comercial. De salientar ainda a postura provocatória do mesmo, ao enviar-nos uma fotografia na qual urinava para obra de um outro artista".» in JN

O correio da manha

Manha porque só alguém manhoso e que detesta a poesia pode afirmar que o Joaquim é poeta. Versejador, ainda vá. Poeta não. Que tem artes de surrealista, lá isso: vendeu ao BPN, em 2004, por 5,2 milhões de euros, a "Colecção Joaquim Pessoa", 174 peças raras, entre esculturas egípcias e outros achados arqueológicos raros. Tudo falso.
Não dá vontade de rir?
São banqueiros como Oliveira e Costa que mostram que o povo deve mesmo sofrer na pele o ter vivido "acima das suas possibilidades".

A equidade em Portugal

Quem é pobre tem de penar, fica ainda mais pobre e a maior parte opta pelo silêncio. Quem não é pobre e sabe usa a lei para ganhar ainda mais.

«Há famílias com rendimentos de milhares de euros às quais o Estado paga bolsas para terem os filhos na Universidade. Isto porque o cálculo de atribuição de apoio social deixa de fora os ganhos das sociedades. Resultado: alunos ricos conseguem ajudas elevadas.
Só na Universidade do Minho existem 123 estudantes nesta situação. Alguns recebem bolsas anuais de três mil euros, apesar de serem provenientes de agregados familiares com sociedades cujos proveitos ascendem aos 880 mil euros. Mas os casos repetem-se em todo o País.» 1

Que faz o governo? Ora, corta "gorduras", ou seja, reduz os salários dos funcionários do Estado.

Os nossos amigos europeus

Pelo empréstimo de 78 mil milhões de euros vamos pagar de juros... 34,4 milhões, mais 655 milhões de euros de comissões.

O governo de Portugal sabe que não chega. Vamos precisar de mais dinheiro. E sabe também que está a atirar o país para o fundo do poço.

A Grécia sofre. Mas nós vamos sofrer mais. A diferença está na atitude: os gregos protestam, saem para a rua. Os portugueses deixam vir ao de cima aquilo que os caracteriza há gerações: o medo.

Até a Igreja, conservadora por vocação, já diz que que a democracia está em risco.

09 novembro 2011

Os dois cromos a tentar um arranjinho


A Alemanha e a França estão a discutir uma alteração radical na União Europeia. A ideia é criar uma Zona Euro mais pequena, mas mais integrada e com maior potencial. Nestes planos podem estar incluídas saídas de países actualmente no euro.
Ver aqui ou aqui.

Dos tempos de fartura 2

Dos tempos de fartura

Quando a fome aperta


Inglaterra é, diz-se, um exemplo. Há tugas que adoram o país da rainha. Porque lá é tudo muito culto e têm jardins e outras coisas que ficam bem nas revistas ou nas séries de TV. O pior é a realidade. Um país que sobreviveu a Tatcher, levou com mais do mesmo e depois com o fotogénico da terceira via. Aquilo foi um fartote. Os resultados estão à vista: Um ex-militar britânico e a sua mulher foram encontrados mortos em casa, no que as autoridades consideram ter sido um "pacto de suicídio" para fugir à fome e à miséria.
O único rendimento do casal era a pensão militar que Mark Mullins recebia do Estado, mas que terminou há dois anos, devido ao ex-militar não ter servido o tempo suficiente no exército britânico para continuar a receber esse apoio.
O casal passou a viver numa situação de completa miséria, chegando a fazer todos os dias mais de 16 quilómetros para poder arranjar uma sopa para comer. Segundo os vizinhos do casal, além das miseráveis condições em que viviam, o provável suicídio terá ficado a dever-se ao facto de Mark e Helen não terem coragem para enfrentar o rigor de mais um Inverno numa casa sem as mínimas condições. "Eles não tinham sequer frigorífico e guardavam a comida que arranjavam em sacos", afirma um vizinho.

Eis um modelo a seguir com atenção pelo governo de Passos Coelho, em nome da honra, da dignidade e de não se viver acima das possibilidades.

Tow In em Portugal

Os arredondamentos dão nisto: 100 pés de altura (quase 27,5 metros) tornam-se 30 metros. E assim saiu para o mundo a notícia, Garrett McNamara conseguir surfar uma onda de 30 metros, um fenómeno gigantesco motivado por um acidente geomorfológico raro na costa da Nazaré, o maior do género em toda a Europa. Tudo aconteceu no dia 1 de Novembro, na Praia do Norte (Nazaré). O vídeo correu mundo. De facto, é impressionante como ele desliza pelas ondas como faca quente a cortar manteiga.




Detalhe:




Garrett explica como tudo começou:

08 novembro 2011

Com ou sem almofadas, assobiemos

Alberto João Jardim vai conseguir uma alteração na proposta do Orçamento do Estado, de maneira a manter as isenções fiscais no que toca a dividendos e juros. A continuação dos benefícios fiscais para o offshore da Madeira é só uma das primeiras alterações ao Orçamento. Jardim já ganhou a primeira batalha.
Jardim que sabe que quem paga o buraco lá da ilha são os cubanos, aproveita para conceder «dispensa ao serviço, a partir das 14 horas, dos trabalhadores dos serviços públicos e dos institutos e empresas públicas sob tutela do Governo da Região Autónoma, a fim de permitir aos mesmos assistirem, pessoalmente ou através dos meios de comunicação social, à tomada de posse do novo Executivo, que se realizará no dia 9 de Novembro do corrente ano, pelas 17 horas».
Tudo a bem da nação, pois claro.

O problema das almofadas


Oh pá, uma almofada dava jeito, o cheiro é do piorio

Esse iluminado que dá pelo nome de Relvas, sabe que para acalmar os ânimos é preciso tirar as almofadas. Há quem jogue pelo Seguro e pense que com Silva há a possibilidade de trocar os passos ao Coelho. Mas Relvas é um homem terra a terra e não deixa que os portugueses se imaginem já em assentos etéreos. Ainda é muito cedo para o dia da pátria e para cantar os varões.
Calma, gente. Para já deliciemo-nos com o sabor da prosa da agência que divulgou a notícia: «"Este é um orçamento sem folgas, difícil de ser construído, daí ser muito difícil de ser executado, porque não há almofadas. Portanto, não são permitidos erros, o que demonstra que não temos alternativa", disse Miguel Relvas, à margem de um encontro em Sintra».

Um miúdo de sucesso no Portugal moderno

Mais uma história de sucesso. Esta de um miúdo que poderá vir a fazer carreira no PS ou no PSD e chegar, quem sabe, a primeiro-ministro. Talvez esteja talhado para outros voos e um dia chegará a banqueiro.
É um miúdo dotado. Domina as tecnologias. Tem o know how necessário. Não tarda pavonear-se-á por aí com o seu tablet, o seu ipad e demais brinquedos caros.
Será sempre um forte inimigo dos livros difíceis. Ou da arte contemporânea (música, bailado, dança, teatro, escultura, pintura, instalação, performance).
Há miúdos assim, afortunados. Este teve um percalço pelo caminho. Foi-lhe capturado o instrumento de conhecimento, o telemóvel. Porque a professora detectou que estava a copiar num teste, com a ajuda da mãe, que lhe enviava mensagens escritas de telemóvel com as respostas das perguntas.
A escola está preocupada. Porquê? Ora, porquê. Porque neste momento só conhecem a versão da professora. E isso, como se sabe, é péssimo. Mas o director da escola acredita que tudo se vai resolver.

O prazer de dar aulas em Portugal



Segundo o jornal que divulga o ocorrido, «Um filme colocado no YouTube a 25 de Outubro tem quase seis minutos de duração. Neste vídeo, o grupo de alunos ‘monopoliza' a aula, sem que a professora exerça qualquer autoridade. O aluno que é sempre o principal protagonista atira ‘bocas', levanta-se, impede que a aula decorra normalmente e filma tudo. Alguns colegas riem-se, enquanto outros não gostam. Pelo meio, há uma situação que configura a prática de bullying sobre uma colega, que é apelidada de "ogre" e alvo de um gesto obsceno com o dedo do meio.
No segundo vídeo, com cerca de três minutos, colocado no YouTube na passada quinta-feira, o mesmo aluno pergunta à professora se pode sair da sala para "ir tomar a pílula", ao mesmo tempo que exibe os comprimidos. A professora dá autorização para ele sair. Quando regressa, o aluno tenta, aparentemente, apalpar os seios da colega de carteira. Esta não se mostra incomodada e ri-se.»
A propósito desses incidentes, o ministro da Educação, Nuno Crato, disse que “O Ministério não tolera que haja indisciplina nas aulas, não tolera que os professores possam ser maltratados verbalmente ou mesmo fisicamente, como em alguns casos tem acontecido. Queremos criar um clima de disciplina nas escolas, um clima de respeito pelo professor para que o professor possa cumprir a sua missão, que é ensinar os alunos”.
O aluno já foi suspenso, diz-se também.
Pergunta-se e aos outros que são cúmplices e estão ali nitidamente a divertir-se com a coisa não acontece nada?
Há muita gente que acha perfeitamente normal que os alunos passem as aulas a conversar e a brincar como se as aulas fossem um prolongamento do intervalo. Alguns acham mesmo que isso se pode mudar com outras pedagogias. Há sempre gente a acreditar em milagres e a não querer ver o óbvio: a escola é, para muitos alunos, um mero passatempo.

07 novembro 2011

Simon Armitage: poetry is a form of dissent







Europa em crise, extrema-direita a inchar

Helena Garrido insiste num ponto que parecia esquecido quando se fala em finanças: a democracia. Diz: «George Papandreou, com a ideia do referendo, lançou sobre uma Zona Euro, medrosa e subjugada ao populismo e ao sector financeiro, uma autêntica basuca. (...)
Os soberanos têm a obrigação, em nome do poder que os povos lhes delegaram, de ter a coragem necessária para adoptarem as medidas que melhor servem o futuro dos seus cidadãos. Não são servidores da economia financeira. Isso foi o que fizeram no passado, deixando-se capturar por uma lógica que conduziu o mundo ocidental à pior crise de que há memória. Para quem não se lembre, o problema de hoje começou em 2007 nos Estados Unidos, não nasceu na Grécia, nem na Irlanda nem em Portugal.»

Nem a propósito, noutras paragens, revela-se que a extrema-direita está a crescer em toda a Europa. Sobretudo entre os mais novos, maioritariamente do sexo masculino. Grunhos que usam a net para veicular ódios, frustrações e ideias-feitas. As consequências poderão ser graves. Reacendem-se ideias que queimaram a Europa há sete décadas. Com a mesma origem: os partidos tradicionais correm demasiado colados aos interesses financeiros e descuram a vida dos cidadãos, seja qual for o país.

05 novembro 2011

A persecução do lucro ou Great by Choice


Acho que toda a gente gosta de histórias. Quanto mais fabulosas mais doces. O açúcar sabe bem. Amolece o cérebro e cria adiposidades. O que é sempre uma vantagem quando está frio.
São dias de frio, estes que vivemos desde há uns anos, sobretudo a partir de 2008. Os gulosos deixaram-nos uma herança doce, muito doce, gordurosamente doce. Alguns ficam horrorizados com tanto açúcar, mas outros esfregam as mãos de contentes. Em tudo há oportunidades de negócio. O negócio é o grande combustível da humanidade. Sem negócio as artes esmorecem, definham, morrem. O negócio é a alma do segredo. Seja o segredo da vida, seja o da longevidade.
Por isso, trazemos aqui a história de um desses gurus do negócio, Jim Collins, o homem do momento, aquele que vê nas estrelas e nas nuvens o que nós não vemos. Uma grande escolha, não porque se trate de um vinho, não porque se trate de um espumante, mas porque quem gosta de negócios gosta de sonhar e a aridez dos números é feita de muitas fantasias. Grande porque sim. Grande porque escolheu bem. Grande porque só os grandes enfrentam o frio e chegam lá acima sem morrer. Ou, dito de outra maneira, morrem na mesma, mas ´so depois de chegar lá cima. E todos queremos chegar lá acima. Pelo menos sentados no nosso sofá, por entre aquela sonolência que os grandes filmes provocam. Grandes porque são longos.
Ora pois, a coisa chama-se Great by Choice: Uncertainty, Chaos, and Luck - Why Some Thrive Despite Them All. Um título doce, para quem gosta de donuts ou de banana frita.
Tudo começa em 1911, ou seja, anos antes do crash. E bem longe o epicentro, ou seja, ali para as bandas do Pólo Sul, onde o frio é e continua a ser um estimulante.
Depois do bestseller Good to Great, o bestseller Great by Choice. Ah... sim... «empresas cujos líderes conseguiram navegar em mares turbulentos de forma excepcional. Não se limitam a ter sucesso: prosperam.» E já sinto as minhas glândulas salivares a produzirem água.

Há livros de auto-ajuda para empresários maravilhosos. O que é um empresário maravilhoso? Alguém que sabe que sabe rir e sabe que os «mercados financeiros estão fora do seu controlo. Os clientes também. As alterações climáticas idem. A concorrência global também está fora de controlo. Bem como as mudanças tecnológicas. Na verdade, quase tudo está fora de controlo. Mas com a marcha das 20 milhas, é possível ter-se um ponto de concentração tangível que o mantém a si, líder, e à sua equipa, a andar para a frente, apesar da confusão, da incerteza e até do caos.»
Um líder que é líder, um empresário que é bom tem que ter competências de liderança absolutamente necessárias num mundo de incerteza: a disciplina fanática mantém os líderes no seu caminho; a criatividade empírica mantém-nos despertos e a paranóia produtiva mantém-nos vivos.
Para quem gosta de sonhar ou de se rir, ou de chorar, pode ler a exaltação integral aqui.

Os alertas vêm de todos os lados


Jacopo Ponticelli e Hans-Joachim Voth fizeram um estudo sobre os movimentos de contestação social, incluindo motins, manifestações, greves gerais, assassinatos políticos, crises governamentais e tentativas de revolução, ao longo de 90 anos, em 26 países, Portugal incluído. Nesse estudo (que pode ser descarregado aqui ou aqui), Austerity and Anarchy: Budget Cuts and Social Unrest in Europe, 1919-2009, mostram que a gestão das crises que é levada a cabo pela via da recessão tem efeitos devastadores.
Segundo os autores, os estados que optaram por subir impostos sem cortar benefícios sofreram menos do que aqueles em que os cortes foram sucessivos e brutais. Por exemplo, a Alemanha, no início da década de 1930, sob a orientação de Heinrich Brüning: o governo tomava todos os anos novas medidas orçamentais que reduziam os salários da função pública para tentar equilibrar o orçamento e sempre que o fazia a economia contraía ainda mais, as receitas fiscais era ainda mais baixas, o governo tinha de cortar mais e, no final, destruiu a democracia alemã.
Não é a pobreza que provoca violência, é a perda do emprego e a percepção de que o Estado não se interessa por quem está na mó de baixo.
Mais em 1,2,3.