30 abril 2008

Massada de cherne


Ingredientes para 4 pessoas:

400 g de cherne
400g de massa (“macarronete”)
1 cebola média
50 g de tomate pelado
1 colher de sopa de massa de pimentão
5g de alho
0,5 dl de azeite
Sal, piri-piri e coentros q.b.
1 raminho de hortelã


Prepara-se assim:

Faz-se um refogado com cebola, tomate, alho, azeite e massa de pimentão. Depois de pronto, tritura-se tudo com a varinha mágica e acrescenta-se água o quanto baste. Ao levantar fervura, junta-se o cherne cortado aos cubos. Ao cabo de alguns minutos, adiciona-se a massa e deixa-se cozinhar em lume brando. Tempera-se com sal, piri-piri, coentros e um raminho de hortelã.

O cherne é um peixe de água salgada que se alimenta de crustáceos. Habitualmente, encontra-se no Mediterrâneo e Atlântico Norte. Enquanto jovem habita em águas pouco profundas, geralmente perto de objectos flutuantes, migrando para águas profundas (100 a 500 m) quando adulto. O cherne possui um corpo robusto, barbatanas com espinhos e boca grande, sendo a maxila inferior maior que a superior. O cherne adulto pode atingir os 2 m de comprimento, chegando mesmo a pesar cerca de 100kg. Os peixes da família do cherne são muito apreciados na culinária por possuírem uma “carne” firme e branca, pela facilidade com que se retiram as espinhas e por serem muito saborosos. Quando inserido em diferentes pratos culinários, desde o arroz, às sopas e massas de peixe, o cherne constitui uma verdadeira iguaria da gastronomia das zonas costeiras de Portugal.

Keith Jarret, Koln Concert (excerto)

Keith Jarrett, Solo Concert

Os americanos são nossos amigos 2

«Pipelines das Lajes contaminam a Terceira» diz o DI na página 5 da edição de hoje. O título pode ser mal interpretado. Quando se fala das Lajes, fala-se da base militar ali situada e não da freguesia. De que se trata? Há 15 quilómetros de tubagens com combustíveis que permanecem enterradas entre o interior da ilha Terceira e a Base das Lajes. Os pipelines estão abandonados desde 1997 e há derrames registados. O percurso das tubagens é considerado como área contaminada. As tubagens atravessam terrenos de agricultura, áreas industriais e aproximam-se muito de habitações, bem como de poços de água para consumo público e irrigação de terrenos. Os próprios norte-americanos estão preocupados e consideram a situação, como uma “bomba-relógio”.
O que foi feito até agora? Pouco ou nada. Ai estes americanos são tão nossos amigos.

Quando a esmola é grande 2

É frequente ouvir falar de esquemas para ganhar dinheiro a partir de amigos, familiares ou vizinhos. Tradicionalmente, os esquemas em pirâmide recorrem a seminários, reuniões domésticas, telefone ou mesmo ao correio para angariar pessoas. Hoje em dia, o e-mail, normalmente via spam (comunicação não solicitada), é também um método cada vez mais utilizado. Num esquema em pirâmide típico, quem quer ser membro tem de pagar para aderir. Depois, para reaver algum dinheiro, tem de convencer ou ludibriar outras pessoas a aderirem e a “investirem” também o seu dinheiro.

Outro processo é o do choradinho. Os vigaristas contactam por carta (frequentemente manuscrita) ou por e-mail. Dizem que, devido a um infortúnio nos seus países de origem, têm uma necessidade legítima de transferir discretamente grandes quantidades de fundos para o estrangeiro, muitas vezes milhões de dólares. Para o fazerem, precisam de ter acesso à conta bancária de alguém que os ajudará e a quem oferecerão uma volumosa percentagem do seu dinheiro. Toda a história é, obviamente, fictícia. E enfatizam sempre a necessidade de sigilo e urgência – para dissuadir os destinatários de procurar aconselhamento. Caso aceite e lhes envie os seus dados, respondem prontamente com o que aparenta ser informação genuína da transferência de fundos. Posteriormente, pedem que proceda ao pagamento de uma determinada quantia para cobrir “encargos locais”, ou “subornos para agentes locais”. Quando lhes enviar o dinheiro, nunca mais voltará a ouvir falar deles, ou voltarão a contactá-lo para pedirem mais dinheiro. Nunca receberá qualquer quantia – apenas perderá o que lhes enviou.

Este tipo de fraude assume diferentes formas de disfarce e remonta a 1588, quando era conhecida como a fraude do “prisioneiro espanhol”. O alegado prisioneiro estava cativo num castelo espanhol e solicitava dinheiro a fim de subornar os carcereiros para o libertarem. As cartas eram escritas pelo prisioneiro fictício, que prometia uma parte da sua arca do tesouro, a troco de ajuda. Nas actuais fraudes nigerianas, um consumidor recebe uma carta ou uma mensagem por e-mail proveniente de um exilado nigeriano fictício que pretende transferir milhões de dólares para fora do país.

Outras variantes desta abordagem foram igualmente recebidas de outros países africanos e do Iraque. Por vezes, todo o esquema é disfarçado sob a capa de trabalho caritativo ou missionário.

Quando a esmola é grande

Pisca de Gente adora histórias. A história do vigário é velha e repete-se incessantemente. Aqui ficam alguns conselhos e um enquadramento histórico. Porque amanhã é dia do trabalhador. Nada como ser trabalhador ou estar no desemprego para precisar de uma história que o faça sentir rico pelo menos num dia.

Se receber

a) um convite para participar em qualquer tipo de lotaria ou prémio de sorteio;

b) ofertas ou bens não solicitados provenientes de qualquer fonte;

c) um pedido para pagar um valor inicial para receber mais “benefícios”;

d) uma oferta proveniente de um sorteio não registado;

e) uma oferta de benefícios especiais (por exemplo, fortuna, amor, saúde) provenientes de pessoas que invocam poderes supostamente de vidência;

f) uma oferta de um “sistema” de apostas que garante vencedores;

g) um pedido para ligar para um número de telefone, ou responder a um e-mail a fim de reclamar um prémio

é provável que seja uma fraude.

Coloque a si mesmo a seguinte questão: se alguém conhecesse o segredo para obter a riqueza imediata, por que motivo gastaria o seu tempo a dizê-lo a toda a gente, ou mesmo a cobrar dinheiro por isso?


Porque será que quando a senhora abre a boca sai...

A Finlândia é, como todos sabemos, o paradigma dos países. Pensa-se no país mais desenvolvido do planeta e o nome sai logo: Finlândia. Pensa-se no país mais criativo e lá está o nome Finlândia a piscar. Pensa-se no país onde qualquer pessoa quer viver e não é que toda a gente quer ser finlandesa?

A Finlândia é, pois, o corolário retórico dos portugueses que estão neste momento no governo. Até porque, como todos sabemos também, entre os políticos de ambos os países as afinidades são muitas. Lá como cá, os ministros aprovam negócios que lesam em muitos milhões o Estado. Lá como cá, os ministros saem do governo e vão dirigir empresas que foram altamente beneficiadas pelo governante em causa. Lá como cá a cultura social é a mesma: vivenda, automóvel, trapos, trabalhar pouco. Isto para não falarmos do clima. Não há dois países mais parecidos, a Finlândia e Portugal.

Maria de Lurdes Rodrigues, a ministra maravilha, certamente com uma costela finlandesa, descobriu que «Facilitismo é chumbar. Rigor e exigência é fazer com que todos aprendam». Nem mais. Os alunos portugueses é que, coitados, não são nada finlandeses, gostam muito de estudar. E estudam tanto e são tão empenhados e esforçados que estamos a conseguir a proeza de ter cada vez mais alunos com 9 anos de escolaridade, a que se juntam três de pré, que não percebem o simples enunciado de um problema e não podem, portanto, ser bons a matemática. Também não são capazes de digerir um texto simples. Qualquer texto literário que não tenha sido redigido para um público infantil lhes faz mossa. Refiro-me, claro, aos tais que a nossa ilustre e sapientíssima Lurdes Rodrigues quer passar de ano à viva força. Até porque isso sai muito caro.

Seria lógico, num país bastante menos rico que a Finlândia, que isso tivesse custos para os pais ou encarregados de educação. Ou seja, que o ensino para tais alunos deixasse de ser gratuito, enquanto os filhos ou os educandos não revelassem o básico: interesse, empenho, esforço. Mas não. O que é preciso é haver uma lei que passe toda a gente.

Albert Hofmann (1905-2008)



Tinha 102 anos. Morreu. Morreu o pai do ácido. O homem que inventou o LSD. Morreu sem chegar a Maio. Logo agora que se vão comemorar os 30 anos do Maio de 68, que, juntamente com o movimento hippie, alterou o modo de vida ocidental. Descobriu o LSD em 1938.

LSD é o acrónimo de Lysergsäurediethylamid, palavra alemã para a dietilamida do ácido lisérgico, extraído de um fungo do centeio (Claviceps purpúrea). É uma das mais potentes substâncias alucinogéneas conhecidas: desperta os sentidos para as cores e os sons, afectando os sentimentos e a memória.

O problema das obras públicas


Além dos problemas do costume, há outros. Por exemplo deste género: «há muita gente que diz que ali se gastou muito dinheiro nas maçanetas e nas carpetes, e que há deficiências.» Reininho dixit. A Casa da Música é apenas um exemplo. Podíamos falar da escola que dizem que é a melhor da Península Ibérica, onde, nos balneários que servem a piscina, ao fim da chuveirada da praxe, julgamos estar num lago. Porque aquilo não tem escoadouros, nem os chuveiros têm protecção. O que importa, claro, é pôr o slogan a correr. A funcionalidade e a relação custo/uso não interessam nada.

«Há um lado de violência que é inata à humanidade e que se tem de compreender. Eles nada têm a perder.» (idem). Pois é, a violência tem muitos rostos. É fácil ligá-la aos burgessos do futebol, mas torna-se mais inquietante quando está ligada aos ditos gestores da coisa pública. Ele há muita maneira de fazer passar sinais. E quando a lei é a do mais forte, que podem fazer os deserdados senão gritar, beber, destruir?

29 abril 2008

Paisagem do Dia


Pormenor areal da Praia da Vitória

Os americanos da Base das Lajes são tão nossos amigos


Os americanos são nossos amigos. Gostam tanto de nós que até têm uma base ali no meio do Atlântico Norte, algures na ilha Terceira. E como gostam muito de nós são extremamente generosos para com os ilhéus, dão-lhes algum emprego e deixam que adquiram produtos made in USA ou até made in outro lado qualquer. Claro que não pagam impostos. Claro que num país-país isso seria uma ilegalidade. Mas aqui não é. Os americanos são muito boas pessoas. Já deixaram de tudo um pouco na ilha: lixo, radioactividade, poluição sonora e mais umas pequenas coisas. Agora é tornado público que «Os norte-americanos da base das Lajes consomem água do subsolo da ilha terceira avaliada em mais de dois milhões de euros por ano, mas não pagam» um cêntimo à Câmara da Praia da Vitória ou a Portugal. Mais «Toda a água captada pelos norte-americanos é tratada através de um processo dispendioso, mas muito eficaz, designado por “osmose invertida”. Trata-se de um método utilizado quando há fortes suspeitas de contaminação da água. Segundo os peritos, a água sujeita a este tratamento resulta mais pura do que quando é captada na natureza em locais sem contaminação. Durante o tratamento perde-se cerca de 40 por cento do líquido captado, que no caso é desperdiçado, quando poderia ser reinjectado no aquífero, como é comum em outros locais onde se pratica a “osmose invertida”. O processo é encarecido na Terceira devido ao facto de a água ter um forte teor de sílica, produto que corrói os filtros com muita facilidade.»

E a coisa não se fica por aí. Os americanos da base das Lajes consomem mais de metade da água do concelho da Praia da Vitória. Segundo o Diário Insular, donde transcrevemos a informação, «a extracção contribui de forma significativa para a salinização da água de consumo público no concelho. Os norte-americanos já têm vários furos salinizadas, entretanto substituídos por outros, que garantem que o caudal mantém a intensidade desejada. A quantidade de água extraída para as Lajes é responsável pelo facto de os poços de consumo público também já apresentarem, em alguns casos, índices elevados de salinização, colocando a necessidade de a Praia da Vitória procurar fontes alternativas de água mais cedo do que esperaria.» Não fossem os nossos amigos americanos e a Praia da Vitória conseguiria viver com um equilíbrio relativo favorável entre a extracção e o reenchimento dos aquíferos. «Porém, esse equilíbrio já está desfeito, não se prevendo que volte a restabelecer-se em tempo útil.»

Angra cidade museu


Manuel Faria, historiador e professor, assina, no «Diário Insular» de hoje, um libelo a favor de Angra como cidade museu. Diz Manuel Faria "Se há espaço onde há vida, é num museu – mesmo naqueles museus de antanho, meros expositores de antiguidades. O museu de hoje é, por natureza, um repositório da memória, onde ela se exercita e criativamente se desenvolve e enriquece. Talvez a única diferença com outros espaços é que, no museu, a criatividade emana da própria memória, num processo dinâmico e cumulativo do saber. No dia em que Angra deixar de ser museu, é a orfandade que nos espera. Gente que anda por ver andar os outros, imitadores, sem identidade própria, sem personalidade. Quem desdenha Angra-Museu, demonstra, tão só, uma ignorância básica da natureza e função de um museu (e a ignorância é arrogante e atrevida)."

Jorge de Sena (1919-1978)



O Beco Sem Saída, Ou Em Resumo...


I
As mulheres são visceralmente burras.
Os homens são espiritualmente sacanas.
Os velhos são cronologicamente surdos.
As crianças são intemporalmente parvas.
Claro que há as excepções honrosas.

II
As pedras não são humanas.
Os animais não são humanos.
As plantas não são humanas.
Os humanos é que têm algo deles todos:
o que não justifica o panteísmo,
nem a chamada «Criação».

III
Humanamente feitas são as coisas,
e as ideias, as obras de arte, etc.
mas que diferença há entre ser-se uma besta na Ilíada
ou no Viet-Nam?

IV
Há por certo os poetas, os santos, e gente semelhante
(os heróis, que os leve o diabo)
- mas desde sempre, em qualquer língua,
qualquer das religiões (ilustres ou do manipanso),
fizeram o mesmo, disseram o mesmo, morreram igual,
e os outros que nascem e vivem e morrem
continuam a ser a mesma maioria triunfal
de filhos da mãe.

V
Que haja Deus ou não
e a humanidade venha a ser ou não
e os astros sejam conquistados (ou não)
apenas terá como resultado o que tem tido:
uma expansão gloriosa do cretino humano
até ao mais limite.

VI
A vida é bela, sem dúvida:
sobretudo por não termos outra,
e sempre supormos que amanhã se entrega
o corpo que já ontem desejávamos.

VII
O poeta Rimbaud anunciava o tempo dos assassinos.
Sempre foi o tempo dos assassinos
- e mesmo um deles é o que ele era.

VIII
Gloriosos, virtuosos, geniais,
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Ignorados, viciosos, ou medíocres,
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Do primeiro, do segundo, do terceiro ou quarto sexo:
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Em Neanderthal, Atenas, ou em Júpiter
- burros, sacanas, surdos, parvos.

IX
Canção, se te culparem
de infame e malcriada,
subversiva ou não,
ou de, mais que imoral, desesperada;
se te disserem má, mal inventada,
responde que te orgulhas:
humano é mais que pulhas
e mais que humanidade mal lavada.

(Exorcismos, 1972)

Satisfaction

Rolling Stones, Waiting On A Friend

28 abril 2008

Para quem se interessa pela coisa

A coisa tem muitos nomes e tem feito correr muita tinta. A coisa é inesgotável. Aqui dedicam-se à coisa. Fala-se, discute-se, apresentam-se sugestões, etc. Como a coisa não é apenas a coisa, pois também pode ser a thing, la chose, la cosa, há lá material para todos os gostos. Se queres saber o que é a coisa, passa por .

Philip Scott Johnson

Women In Film




Philip Scott Johnson gosta de brincar com retratos. Pega em rostos de vários séculos, escolhe sequências e as animações são curiosas. Pintura, fotografia e.... o resultado é o que se vê. Mais aqui.

Crime e Castigo


Para quem gosta de curiosidades; para quem acha que tem uma costela de Sherlock Holmes; para quem não perde as novidades sobre o reino de Sua Majestade; para quem sente que a História é de todos, apressem-se e estejam à vontade. Trata-se de nada menos nada mais que cerca de 250 anos de sentenças, num total de 210 mil. Tudo no velho tribunal de Old Bailey. Crimes e delitos para todos os gostos. Não se aflijam se a coisa não correr bem às primeiras tentativas. É novidade e são milhares de todo o mundo a dar uma perninha ao seu lado de voyeur.

Grávida no teatro da guerra 2

Uma grávida no teatro da guerra


Ver uma mulher grávida e em traje informal a passar revista a militares dá gosto. E quase dá vontade de ser espanhol. Quase. Mas que sabe bem ver, lá isso...

Problemas familiares


– Senhor doutor, o meu marido é republicano.
– Republicano?
– Sim. E candidatou-se a governador.
– Não me diga. E então?
– Então, doutor?! Eu sou democrata e jornalista.
– Sim e …
– … e fui despedida e tornei-me doméstica. Agora até o meu filho me despreza. «Quem foi eleito foi o papá, tu és apenas dona de casa.»
– E você que lhe disse?
– Eu… eu… nada… eu choro. Veja lá que outro dia até fui ao Oprah e lá fiquei com a cara toda molhada.
– Continua a ser democrata?
– Claro. Estou 100% com Barack Obama.
– E o seu marido?
– Que é que tem o meu marido?
– É por…
– Ah, pois… é republicano claro.
– Já agora, perdoe a minha ignorância, mas o seu marido é…
– É o Arnold.
– Arnold? ...
– Arnold Schwarzenegger.

Comichões

Era uma vez uma comichão. Uma comichão danada. Num desses sítios que nunca se pode coçar em público, pois além de parecer mal, torna-nos quase trogloditas e ninguém gosta de ser tomado por boneco de caricatura.

Quando se tem uma comichão no nariz, vai-se lá com o dedo e pumba, arranha daqui, arranha dali, a coisa passa. Nas costas é mais complicado, porque nem todos são da estirpe homem-borracha, mas, seja numa esquina, seja com uma escova ou com a ajuda de alguém, lá se resolve o assunto.

Na cabeça, já não é bem assim, sobretudo se houver caspa à mistura. A caspa, maugrado os champôs milagrosos, que há décadas prometem a eliminação da dita cuja, continua. Afecta grande parte da população e tem tendência a agravar-se nos períodos mais quentes e secos. Em vez de champôs, chegamos a desejar que houvesse umas cápsulas de sulfato de selénio, de zinco piridine, corticóides, ketoconazol ou octopirox. Mas cada caso é um caso. Cada cabelo reclama pela substância específica. Cada organismo sabe as linhas com que se cose.

Esta comichão, no entanto, não era no couro cabeludo. E o leitor, malévolo, já começa a procurar mapeá-la em outros lugares do corpo, descolando-a para pontos menos expostos. Será, não será? Antes de esclarecer o assunto, deixe-me perguntar se nunca lhe aconteceu estar à beira de alguém que se ri e começar a rir. Ou começar a tossir num concerto em que já metade da sala tosse? O contágio é terrível. A gente ouve dizer que há piolhos e vê alguém a coçar-se e começa logo a sentir umas ligeiras e irritantes picadas, que passam, mal esquecemos o assunto. Pois esta comichão era desse género. Contagiado pelos apelos ao exercício, comprei uns ténis e zás zás zás, todos os dias dava a minha corridinha. O pior foi que fiquei com pé de atleta. E isso dá uma comichão danada.

Os dinossauros estão de volta


Não, não se trata de nenhuma produção cinematográfica, tão-pouco de qualquer exposição espectacular. Os dinossauros estão de volta porque a Paleontologia e a Engenharia começaram a trabalhar em conjunto. O objectivo em vista é o avião do futuro.
Um avião com o comportamento inteligente de um organismo dinâmico, capaz de ajustar a forma, flexibilidade e tensão das suas asas a diferentes condições de temperatura, vento e pressão atmosférica. Seguindo um modelo aerodinâmico com 250 milhões de anos, que tem estado a ser desenvolvido nos estiradores da engenharia aeronáutica a partir dos modelos de fósseis de pterossauros – essa classe de gigantes répteis voadores do período Mezóico, extintos há 65 milhões de anos.
"Sabemos agora que dentro da membrana das asas destes animais havia diferentes camadas de tecidos, e não apenas uma pele tensa. Era como uma túnica viva, dinâmica, num jogo complexo de vasos sanguíneos, fibras e muitos pequenos músculos" diz o paleontólogo britânico David Unwin. E é nesse complexo sistema, que permitia a estes gigantes o domínio perfeito do voo, atingindo velocidades enormes e mantendo uma extraordinária capacidade de manobra rápida, que se acredita estar a chave tecnológica dos aviões de amanhã.

"Os engenheiros aeronáuticos com quem tenho contactado estão muito entusiasmados com esta ideia, porque é exactamente isso que eles hoje procuram desenvolver", explica Unwin.

27 abril 2008

Paisagem do Dia

Lagoa das Patas - Ilha Terceira - Açores

Esta cara é-me familiar, mas, assim de repente, não sei se o reconheço


O mundo é um lugar maravilhoso. Tão maravilhoso quanto engraçado. E talvez seja de realçar este último aspecto: a graça. O senhor da fotografia é... (esta memória está péssima) francês? russo? americano? português? italiano? Deixa cá ver, chamar-se-á Sarkozy? Ou será Putin? Talvez Bush? Não, não, deve ser João Jardim? Quiçá Berlusconi? Desisto. Deve ser qualquer coisa do género. O que sei é que o senhor da fotografia é um dos homens mais ricos do seu país. Sei que já foi primeiro-ministro e que é um verdadeiro líder. Se não fosse um verdadeiro líder, seríamos levados a pensar que se tratava de uma caricatura do nosso Rafael Bordalo Pinheiro. Mas o senhor da fotografia não se chama Zé, muito menos povinho, embora seja certo que foi eleito pelo povinho do país dele. Ajudem-me, por favor, e digam-me quem é este admirável líder do nosso tempo.

Filmes e muito mais


Quem gosta de cinema pode dar um saltinho aqui. O blogue tem estado parado e promete remodelações para breve. Por enquanto, dispõe de uma lista de filmes dos últimos anos e de uma selecção de alguns clássicos, entre outras coisas.
Para os muito curiosos, sugere-se também uma visita ao site Eu sou cinéfilo.

26 abril 2008

A deriva

Postais


Milhões de pessoas coleccionam coisas. Das mais comuns, como postais, até às mais invulgares. Sugerimos este Vi(d)a Postal.

Prisões, o mundo das


O mundo das prisões: uma colecção de imagens históricas de edifícios, prisioneiros, símbolos e o mais que se pode ver aqui.

Entre as brumas da memória


Para quem gosta de História e sente particular interesse pelos últimos 35 anos, sugere-se uma visita ao blogue Entre as brumas da memória: textos, imagens e mais.

T Rex: galinha ou avestruz?


O temido Tyrannosaurus rex não passa de uma galinha crescida. Quem o diz é John M. Asara, da Escola Médica de Harvard. Asara e equipa pegaram nos componentes das proteínas de alguns animais extintos e compararam-nos com as versões de uma grande gama de animais actuais, de peixes a humanos. Assim, enquanto os mamutes eram agrupados juntamente com os elefantes de hoje, tal como se previa, o T-Rex encontrou o seu lugar juntamente com as galinhas e avestruzes modernas.
A dúvida é saber de qual deles está mais próximo: se das galinhas, se das avestruzes.

Edgar Varèse, Offrandes

Luciano Berio, Sequenza 3

Steve Reich - Eight Lines

Pierre Henry, Messe pour le temps present, 2

25 abril 2008

Guerra das estrelas


A ignorância é mãe de muitas e belas histórias. O céu, por exemplo, a perfeita imagem da paz, para nós, terráqueos. Quando, afinal, é palco das batalhas mais assustadoras. Razão tinham os gauleses, o pior perigo é o céu cair-nos em cima da cabeça.

Imagens captadas pelo telescópio Hubble mostram uma verdadeira "guerra das estrelas": galáxias a colidir, a orbitar e a provocar destruições estelares que dão origem a novas e maiores galáxias.

Vinte e quê? Agora, não posso. Agora vou ver um joguito

O poeta candidato, o poeta da resistência, o poeta inflamado recebeu uma chamada telefónica de um jornalista. Pediam-lhe um comentário sobre o 25 de Abril. Mas o homem não podia. Valores mais altos se levantavam. Tinha estado todo o dia a trabalhar e a resposta foi: "Não posso porque agora vou ver o futebol." E desligou a chamada. O jornalista, coitado, ficou triste e escreve “Foi a única pessoa que contactámos que se recusou a comentar, dando esta desculpa.”

Manuel Alegre prefere futebol a ter de aturar perguntas impertinentes.

Rui Pires Cabral


[Passagem de Peões]


À vinda do supermercado
diz-me o pequeno monstro
que às vezes me faz companhia:
«E qual é a tua razão de ser?»


Na rua, a tarde rola devagar
entre prédios murchos – e ele
acrescenta: «Não me digas
que são os versos.»


E ri-se.

(Capitais da Solidão, 2006)

O ódio às árvores


Para os londrinos este plátano vale 938 000 euros


Diz Pedro Nuno Teixeira Santos no seu blogue: «Em Inglaterra e na generalidade da Europa e América do Norte, viver nas imediações de uma árvore monumental é visto como um privilégio, que inclusive valoriza o valor de um imóvel, e não como um aborrecimento!»

E em Portugal, como é? Façam-lhe uma visita e recordem-se doutros casos que conhecem. Nós aqui, como achega, apenas perguntamos: Porque é que nos Açores se plantam cada vez mais palmeiras? Por ser uma espécie particularmente adaptada ao clima? Por estar associada no imaginário dos gestores da coisa pública a paraísos de férias? Por simples falta de gosto?

Credo, cruzes, canhoto!!!


É impressão minha ou os políticos portugueses vivem no mundo da lua?

Pode um Presidente da República fazer alarde, como aconteceu hoje com Cavaco Silva, da ignorância de muitos jovens sobre o 25 de Abril e o seu significado, e partir para a denúncia de uma «notória insatisfação» dos portugueses com o funcionamento da democracia? Pode. Cavaco Silva foi, durante anos, primeiro-ministro e é hoje o chefe da Nação portuguesa. Um português não fica bem com a sua consciência se não falar. É preciso falar. Falando a coisa fica menos pesada. Fazer alguma coisa para mudar isso é que não. Basta falar. Os outros que façam.

O 25 de Abril de 1974 mudou o país? Mudou. Mas os portugueses continuam a sofrer diariamente os 48 anos de ditadura mais o lastro de vários séculos de Inquisição. Estão moldados pelo medo. O medo torna-os cúmplices, senão actores principais, do polvo que é a classe dirigente e grande parte da classe económica do país. Políticos, gestores e empresários que ao longo destas três décadas nos conduziram até onde estamos: à beira do precipício.

Que precipício? O de sempre, a miséria.

A miséria urbana e rural (em três décadas o cimento e o alcatrão destruíram quase tudo, para gáudio de bancos, stands de automóveis, agências de viagens e algumas prostitutas de luxo) não dão mostras de regredir. Se há coisa de que os portugueses gostam é de gritar o seu atraso cultural. Um atraso que se manifesta nas grandes e nas pequenas coisas. Por exemplo, no modo como a Filosofia, a História e a Literatura são paulatinamente afastadas dos programas escolares, em nome do tão propalado sucesso. O sucesso cá é sempre sinónimo de ignorância e de vale tudo. Os custos dessa militância educativa vão-se fazendo sentir a pouco e pouco. Primeiro é a falta de memória, depois a falta de referências, a seguir a dificuldade em contra-argumentar. Ao analfabetismo dos avós sucede a iliteracia escolarizada dos netos. Parabéns Portugal, continuas a cumprir o teu destino.

Madredeus, Haja o que houver

Bom dia. Ao longe o mar

24 abril 2008

Paisagem do Dia


Interior da Ilha Terceira, Açores

Moda portuguesa em 1974

Loucos e fantásticos: os portugueses




Há mais de três décadas, os portugueses saíam à rua para ver chaimites e outros aparelhos militares a entupir o trânsito ou a parar em semáforos. Horas mais tarde, o velho regime dava lugar a uma esperança.
Três décadas é muito tempo. A esperança deu lugar ao nojo. Porque o 25 de Abril pouco mais é do que um imenso cemitério. De resto, as ideias morrem, a vidinha continua e como nos ensinou Lampedusa, muda-se para continuar tudo na mesma.

José Sebag (1936-1990)


quando eu partir apanhado de surpresa

como se tolhido por um dislate dito

vão fazer o quê com os meus livros?

com o problema inesperado do peso?

com o teu modo tão peculiar de olhar-me?

com a minha aptidão para o silêncio?

(a minha biblioteca é indivisível)


quando eu estiver como um retrato

acelerado ao longo de uma recta

vão desequilibrar os meus cristais?

representar um luto muito preto?

respeitar a distância que mantinha?

quando eu partir apanhado de surpresa

para a viagem que jamais descarrila


(Cão até Setembro, 1991)

Daniel Maia na Marvel



Viver em Portugal é difícil. Sobretudo se não se for como os demais, isto é, medíocre. Porque não há indústria nem comércio nem nada que dê oportunidade a quem tem talento. O que há cá, em excesso, é blá blá. Fala-se pelos cotovelos. De resto, nada. É assim na poesia, na arte, na música, na dança, no teatro, no cinema, na BD.
Por isso, é bom saber que, depois de Miguel Montenegro, e de Ricardo Tércio e João Lemos
, chegou a vez de Daniel Maia ser convidado pela Marvel, uma das grandes editoras de comics nos E.U.A. Parabéns Daniel.
Por cá é tudo muito bonito, mas ninguém consegue viver de adjectivos. E o plim, senhores, vai sempre para o mesmo: betão, alcatrão e demais negócios que, a pretexto de contribuírem para o desenvolvimento do nosso país, mais não fazem do que perpetuar o nosso atraso.

Portugal e Brasil, países irmãos




É só clicar na imagem

Amanhã é feriado, eh! eh! eh!

FRANGO À COCACOLA


FRANGO À COCACOLA
12 coxas de frango
1 embalagem de sopa de cebola (se possível Knorr)
1 embalagem de 12 verduras (se possível Knorr)
2 latas de coca-cola


Numa assadeira dispõem-se as coxas de frango. Por cima espalham-se as sopas e as colas.
Põe-se a assar a baixa temperatura (160º), cerca de 2 horas. A cada meia hora, viram-se as coxas. No fim, juntam-se batatas fritas, bem escorridas, que se misturam bem com o molho. Volta-se a meter no forno e deixa-se gratinar uns 5 minutos.

Receitas


Iniciamos hoje um novo espaço, aqui, neste blogue generalista: o da culinária. Aproveitando o feriado e dia de festa, nada melhor do que um bom prato a acompanhar. O adjectivo engloba o paladar e a facilidade de confecção. Porque somos simples cozinheiros. A arte de comer com os olhos, deixamo-la para os restaurantes. Isto é para cada um fazer em casa. As receitas têm o dedo do chefe Fernando Santos.
Bom apetite.

Tortilla de chouriço

Fica aqui uma sugestão, para aqueles dias em que não sabemos o que fazer.

Primeiro bato os ovos. À parte, frito batatas em palitos (nunca deixo fritar muito).
Tempero os ovos com sal, pimenta e salsa picada.
Na frigideira, derreto um pouquinho de margarina, deito os ovos, pedacinhos ou rodelas de chouriço finas (pode substituir-se por frango, fiambre ou bacon), as batatas que deixei fritar ligeiramente. Quem gostar, pode juntar um pouco de cebola. Deixo cozinhar, fazendo sempre pequenos cortes no centro, para os ovos irem cozinhando por cima e não deixar queimar a parte de baixo. Quando os ovos por cima estiverem quase cozinhados, vira-se o preparado com a ajuda de um prato, deixa-se cozinhar mais uns minutos e depois acompanha-se com uma saladinha de que aqui deixo a receita:

Tomates bastante maduros cortados aos cubos bem pequeninos (aproveite o sumo
para dentro da saladeira)
Pimento verde cortado aos cubos pequenos
Cebola igualmente cortada aos cubos pequenos
Salsa e coentros cortados aos cubos pequenos

Tempere com sal, vinagre ou limão e azeite

23 abril 2008

Paisagem do Dia

Pico Gaspar - Ilha Terceira - Açores

Velocidades


Más notícias. Para já continuaremos a pagar muito por… velocidades de caracol. A publicidade enganosa manter-se-á. A banda larga é rápida apenas no momento em que os servidores a lançam. Dias ou meses depois já está tudo como dantes: entupido, a arrastar. Chama-se a isso, em bom português, roubalheira.

Mas nem tudo é mau. Os que chegarem a 2020 assistirão ao fenómeno da alta-velocidade. Segundo uma empresa do sector, daqui a 12 anos, uma casa média deverá necessitar de Internet a 1400 megabits. Os mais exigentes poderão precisar de 2200 megabits. Velocidade mais de 70 vezes superior à máxima comercializada nos nossos dias. Segundo a Alcatel-Lucent, televisões, consolas e computadores estarão todos ligados à rede. À visualização de vídeos via Internet dever-se-á o aumento das necessidades de largura de banda.

Estatísticas do planeta

«72 milhões de crianças em todo o mundo que não tem acesso à educação e cerca de 800 milhões de analfabetos adultos».

Para quem gosta de calendários


Vá pelos seus dedos e divirta-se.

Um livro ou uma caixa?


O editor Nelson de Matos abre a caixa que o escritor
José Cardoso Pires lhe deu
com o manuscrito de Alexandra Alpha
e outras coisas relacionadas com este romance.

Um pulha ou Gente Cinco Estrelas




[Crónica de Nuno Costa Santos]

Acuso!

A expressão, cheia de história e de insularidade (em sentido lato), vale mais do que os desenvolvimentos que teve. Servimo-nos dela agora para transcrever, com a devida vénia, um excerto de um post de Masson (Almocreve das Petas).

«cuidam todos os comentadores que tricotam admiráveis prosas sobre o ensino que os professores são meros funcionários administrativos - seres desprezáveis e de vida fácil – sem labor profissional, cultural ou intelectual. Cuida o sr. ARF [António Ribeiro Ferreira], e cuidam todos os comentadores de testada altiva, que os cursos e diplomas que os professores (orgulhosamente) exibem e nos diversos ramos do saber, não lhes servem para nada. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem soluçar, jubilosamente, autorizadas apreciações sobre a docência, o ensino e a educação pública, sem nenhum contraditório. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores investidos de idiotas toleimas, que os professores são meros papagaios transmissores/reprodutores do conhecimento científico, sem discurso, exercício e acção pedagógica visível e que, na sua natureza educacional, só debitam aquilo que (presumidamente) na folclorização das faculdades aprenderam. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem, em piramidal discursata e em aleluias de ruído gratuito, passar atestados de imbecilidade a docentes, que ao longo da sua profissão têm feito inúmeros (e, por vezes, inenarráveis) investimentos culturais, formativos e pedagógicos, conforme a tutela e a administração escolar muda de humores. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os ofegantes comentadores afectados pela "inteligência" ministerial, que o debate e o conflito que reina e persiste no ensino público e na educação não vai deixar sequelas insanáveis entre docentes (ofendidos e injuriados que estão a ser) e os seus grosseiros detractores. Cuidam – caso curioso -, mas enganam-se!»

O segredo de Mona Lisa


1% de «vermillon» (vermelho-alaranjado) e 99% de branco de chumbo. Ou «glacis». O que é isso? Uma camada de sombra com um único pigmento de camada superficial e uma sobreposição de camadas de uma mesma cor muito diluída. A descoberta deve-se a investigadores franceses do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS).

Após retirar o verniz do famoso quadro do artista italiano, os cientistas fixaram-se nas cores inalteradas dos pigmentos, em especial no rosto da Gioconda. E descobriram o «glacis». Era um procedimento utilizado na pintura a óleo, inventado pelos flamengos medievais e introduzido em Itália pelas mãos do pintor Antonello da Messina (segunda metade do século XV).

Leonardo da Vinci adoptou a técnica para pintar alguns dos seus quadros, entre os quais a sua obra mais famosa, a «Mona Lisa».

O quadro apresenta uma mulher com uma expressão introspectiva e um pouco tímida. O seu sorriso tímido e reservado revelou-se muito sedutor, tão sedutor que já fez correr rios e rios de tinta.

Leonardo da Vinci começou-o em 1503 e terminou-o três ou quatro anos mais tarde. É uma pintura a óleo sobre madeira de álamo, que se encontra exposta no Museu do Louvre, em Paris.

Era uma vez

Livros


Objecto de remorso para uma cultura que aprende na escola e no dia-a-dia a valorizá-lo ao mesmo tempo que o rejeita; que o diviniza e teme, como se faz com os deuses; a quem se recorre, por vezes, no desespero de respostas, de uma medicina todos placebos, o livro não é senão a fome humana de falar e ser ouvido, de contar e encantar, de querer guardar para o futuro um pouco do horror e da beleza que cada época é capaz de inventar ou de descobrir.

Suporto mal a praga dos que em todo o lado enchem a boca com a palavra livro, qual password de entrada num qualquer areópago. Professores, políticos, engenheiros, advogados, até pretensos escritores, que propagam o insulto – quando dizem livro arrepio-me todo – como um gás venenoso. Tive que aturar uns quantos desde que aprendi a juntar as letras e sempre prefiro aqueles que não lêem e que do alto da sua sabedoria dizem, para quem os queira ouvir, que não têm pachorra.

De resto, livros há-os aos pontapés. Os melhores, creio, são essa qualquer coisa que nos distrai e faz sair de nós mesmos. Mesmo quando a linguagem não é mais do que o recipiente que recolhe o abismo do quotidiano. Mesmo quando a frequência nos soa à primeira vista como estranha. Como se o movimento ondulante da escrita escavasse um túnel até ao pensamento, com ramificações para o coração e fôssemos um rádio em sintonia com a felicidade.

22 abril 2008

Intemporalidades!!!!!


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."

Guerra Junqueiro, escrito em 1886

Paisagem do Dia


Estrada no Vale da Achada - Ilha Terceira - Açores

Transformar pneus velhos em asfalto


Um projecto do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) para reutilizar pneus velhos no fabrico de asfalto está a ser apresentado esta semana na Eslovénia como um exemplo a seguir por outros países europeus.

Segundo Maria de Lurdes Antunes, investigadora do LNEC, Portugal é «um dos primeiros países europeus» a utilizar restos de pneus velhos no fabrico de asfalto, juntamente com betume e outros inertes. «Usamos borracha de pneus utilizados no agregado final», procurando encontrar uma «forma original de reutilizar» estes resíduos mas acaba por ser uma «solução técnica final mais vantajosa».

Daqui a instantes chega o Dia Mundial do Livro


O dia 23 de Abril foi escolhido pela UNESCO para comemorar o Dia Mundial do Livro por, supostamente, ter sido o dia em que morreram três grandes escritores: o espanhol Miguel de Cervantes, o inglês William Shakespeare e o peruano Garcilaso de La Vega («El Inca»). Todos no ano de 1616. Mas, na verdade, nem Cervantes nem Shakespeare morreram no dia 23. Cervantes morreu a 22 de Abril e Shakespeare no dia 3 de Maio.
23 de Abril é também o dia em que nasceram ou morreram outros escritores, como Vladimir Nabokov ou Josep Pla. A data é celebrada desde 1996, como uma homenagem ao livro e aos autores.
Dada a vulgaridade da imprensa e a facilidade com que qualquer medíocre publica livros, talvez fosse bom delimitar o sentido do substantivo livro e explicitar o que é isso de autor. Se o termo autor contém muitos usos, a raiz etimológica é muito clara quanto ao sentido: autor é aquele que cria, que funda, que inventa. Já quanto a livro o sentido é o mesmo de sempre: um caderno com determinado número de folhas. Haver um dia para comemorar apenas o livro seria, convenhamos, um tanto ou quanto humorístico. Quase tanto como haver o dia mundial do plástico. Mas apesar de ser o dia dos autores, o certo é que pouco ou nada se fala deles. Talvez por ser próprio dos dias de evitarem-se as ideias e acabar-se, invariavelmente, a bater nas estatísticas. Bater dá muito mais gozo do que debater. Batamos então um pouco nos órgãos da Região que têm o livro a seu cargo.

Nos Açores, a SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) vai à Horta, à Escola Secundária Manuel de Arriaga, oferecer um conjunto de livros para a biblioteca e distribuir junto dos alunos o folheto «SPA: Modo de Usar», livros, relógios, pastas e CDs de música portuguesa. Quando de lá saírem, os alunos vão a correr para as salas ler. Ah, como ler é divertido. Divertido e produtivo: dão-me um relógio e CDs. O resto ponho disfarçadamente no ecoponto amarelo. Ontem aprendi que para defendermos a Terra devemos reciclar. É isso que eu faço, reciclo. Se vai mesmo para reciclagem, ou se juntam tudo na lixeira, não me interessa. O que importa é parecer que… Eu faço de conta que leio. Eles fazem de conta que reciclam.

Já na ilha Terceira, o Serviço Educativo do Museu de Angra do Heroísmo vai proporcionar uma recepção “cheia de surpresas” aos visitantes da instituição. Ou seja, além de uma visita à biblioteca do Museu, haverá lugar para «a exploração da organização dos livros no espaço». (Ler, já se sabe, é meio caminho andado para chegar a engenheiro ou a arquitecto. Ou será apenas a pedreiro?)
Coisa pouca e triste para uma ilha que se auto-apelida da cultura, mas consequente, pois até o próprio programa da Direcção Regional da Cultura é vago e falho de ideias, além de revelar pouco cuidado na redacção. Para a DRC, a «leitura constitui uma ferramenta fundamental do desenvolvimento da personalidade, mas também da socialização como elemento essencial para conviver-se em democracia e desenvolver-se na Sociedade de Informação.» O resto nem transcrevemos, quem quiser pode consultá-lo aqui. Terá sido redigido por alguém bem-intencionado mas que de livros e de leitura sabe manifestamente pouco. De resto, o que importa é apresentar serviço. Umas larachas e algum blá-blá e pronto, NÓS TAMBÉM COMEMORAMOS O DIA MUNDIAL DO LIVRO.

É para isso que servem os dias de, não é?

Inês Lourenço

Des(acordo)



Emudecer o afecto português?
Amputar a consoante que ilumina
a vibração exacta
do abraço, a urgência

táctil do beijo? Eu não nasci
nos trópicos; preciso desta interna
consoante para abrir a névoa
do dilecto norte. Grafem e vocalizem
como amam as variantes dos
falantes lusos, mas não
apaguem da matriz primeira

o seu modo de olhar o sol.

Inês Lourenço

Nelson Mandela, académico português


Nem tudo são más notícias. Portugal é um país que também sabe ser generoso e aplaudir quantos lutam por valores humanos. Um país que durante anos travou uma luta perdida em África reconhece o mérito e a nobreza de Nelson Mandela, elegendo-o membro honorário da Academia das Ciências de Lisboa. Mandela passou quase três décadas da sua vida na prisão. Ele, o terrorista, não só não se vingou de ninguém como sempre o vimos defender a razão e a paz.

De assinalar que esta eleição do antigo presidente sul-africano para membro da Academia das Ciências de Lisboa partiu do professor Adriano Moreira.

Mais arte


Uma pergunta aos nossos leitores: o que é arte?

Um aperitivo, que pode, ou não, servir de ponto de partida para a troca de ideias: Aliza Shvarts submeteu-se, sem intervenção médica, a inseminações artificiais ao longo de noves meses, provocando no fim do ciclo menstrual abortos com recurso a medicação. Aliza Shvarts é aluna do mestrado de Belas Artes da universidade norte-americana de Yale e quer expor os vídeos dos abortos a que se submeteu voluntariamente.

Segundo Aliza, o objectivo do projecto não é chocar as pessoas, mas sim promover a conversa e o debate em torno da relação entre a arte e o corpo humano – pelo que quer expor vídeos do processo e restos de sangue “trabalhados” que conservou. “Acredito verdadeiramente que a arte pode ser um meio de transmitir política e ideologia e não apenas uma comodidade. Penso que criei um projecto que reacende o que a arte deveria ser”.

Opinião bem diferente é a da presidente do Comité Nacional do Direito à Vida dos Estados Unidos, Wanda Franza, que não tem dúvidas de que a estudante sofre de “graves distúrbios mentais”.

Sentido crítico sim, mas só sobre o que eu disser

Há frases curiosas. Na pressa de uma primeira leitura parecem cheias de significado, mas, em parando para pensar, o encanto dá lugar ao bocejo. Vejamos uma atribuída a José Saramago. Diz ele: "falta em Portugal sentido crítico". E defende o valor "das ideias que vão contra a maré".

O que à primeira vista parece um apelo à insurreição revela-se fogo-fátuo. Basta lembrar que José Saramago sempre que foi alvo de críticas reagiu mal, tão mal que nem sequer hesitava em pôr em causa o tal espírito crítico que vem agora reclamar. E se há alguém que represente a voz de Portugal é, como todos sabemos, Saramago. Porquê? Porque ele defende as ideias que vão contra a maré e ir contra a maré é o que mais caracteriza os portugueses. Vão tanto contra a maré que se se perguntar quem escreveu a Torre da Barbela, alguns até julgarão ter sido Saramago

Dia da Terra


O Dia da Terra foi criado em 1970, pelo Senador norte-americano Gaylord Nelson, que convocou o primeiro protesto nacional contra a poluição. Tal acontecimento levaria à criação da Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). A partir de 1990, o dia 22 de Abril foi adoptado mundialmente como o Dia da Terra, dando um grande impulso aos esforços de reciclagem a nível mundial.

Que melhor forma de o comemorar do que dar conhecimento da feliz iniciativa "Estrada da Ciência" do Centro Ciência Viva de Estremoz.

É que os cerca de 4570 milhões de anos da história da Terra vão ser representados através de uma coluna estratigráfica do planeta, entre Estremoz e Évora, numa iniciativa única no mundo com esta dimensão. A ideia e o projecto partiram do Centro Ciência Viva de Estremoz que pretende representar, em cada um dos 45,7 quilómetros que separam as cidades de Estremoz e Évora, cerca de 100 milhões de anos. "A ideia é colocar em Estremoz a representação do começo do colapso da nebulosa solar (a formação da terra) e continuar a evolução no sentido de Évora, de tal forma que o aparecimento do Homem fique representado nesta cidade".

Paisagem do Dia


Serra de Santa Bárbara - Ilha Terceira - Açores

21 abril 2008

Professores? Nada disso: Artistas



Para acabar com as imagens chocantes de alunos a serem torturados nas salas de aulas, está a surgir uma nova geração de professores artistas com métodos de ensino do século XXI em que as aulas passam a ser shows e os alunos turmas de fãs.

Manuel de Freitas



PEDAÇOS DE VINIL COM LAMA


Devia ser o disco mais ouvido:
a Quinta Sinfonia, numa gravação
de Klemperer. As manhãs
e as tardes auguravam um futuro
melhor, prendados costumes
que depressa perdi. Já então olhava
para a taberna da Ana,
enchendo a janela do meu quarto.
Tinha medo da sombra, do silêncio,
adivinhando em cada passo o monstro
que me habitava. E lia, para não pensar,
desacreditando escritores franceses.

Um dia, de tanto o amar,
peguei no disco e quebrei-o
em pequenos pedaços de vinil
– para doerem mais, melhor.
Mantive, não sei bem porquê,
a dura capa de cartão,
essa fúnebre alegoria da infância.
E o que sobrou do disco foi parar
ao ribeiro junto à casa dos meus pais.

Mais tarde, o ribeiro com hortas
de domingo à volta foi sufocado pelo terror
de um aldeamento, versão provinciana
de condomínio fechado, num mundo
em que são cada vez mais as portas.
Beethoven, esse, quase deixou
de me comover, soterrado como as rãs
pelas mãos invisíveis de quem mata.

O que me comove, passado tanto
tempo, é perceber que fiz a esse disco
o mesmo que faço e volto a fazer
aos corpos que julgo amar:

parti-los, muito devagar, para
que doam sempre um pouco mais.


(Beau Séjour, 2003)