31 agosto 2009

Narrativa, de Paulo da Costa Domingos


Paulo da Costa Domingos é o responsável por uma qualidade gráfica raríssima entre nós. Meticuloso, faz de cada livro frenesi um pequeno objecto de culto.

Um livro não é apenas um objecto, e Paulo da Costa Domingos sempre os quis com pólvora, com sangue, com vísceras. Editou por isso quem quis, o que lhe trouxe bastantes inimigos. E sobretudo escreveu o que achou pertinente. Caldeando gargalhada altiva, raiva contra as diversas formas de castração e uma postura ética rara entre portugueses.

A edição é indissociável da sua poesia. Áspera, até há pouco de uma acidez criptográfica. Fruto da época em que cresceu, dos autores que começou a ler e lhe propiciaram ar fresco e território onde o seu corpo não se sentia aprisionado e também maneira de dizer não à babugem poética. Percorreu o árido caminho da tensão, do combate, da noite e dos lastros que lhe andam associados. Foi e é um autor refractário. Narrativa ajuda a perceber porquê e deveria ser lido em complemento a Vaga, livro que reúne alguns dos textos que foi publicando em periódicos nos anos 80 e 90. A literatura portuguesa nunca foi pródiga em rebeldias, quiçá pelo excesso de funcionalismo público e de clericalismo. E é parca também em vida.

Narrativa é um livro contra a corrente. Não encena, diz. E isso, caros amigos, é toda a diferença.

Marques de Oliveira (1853-1927)

30 agosto 2009

Enquanto uns se entretêm com marquises, outros dizem:



A "prostituição deve ser legal".
Quem o diz é Alexandra Oliveira, investigadora da Universidade do Porto, que desmonta os mitos recorrentes sobre o trabalho sexual e defende a sua regulamentação como profissão.
Alexandra põe o dedo em várias feridas. Por exemplo: "O discurso das autoridades - policiais, judiciais e políticas - é o da luta contra o tráfico e a exploração sexual, é aparentemente humanista, mas, na prática, trata estas mulheres não como vítimas mas como delinquentes."
Nega "o estereótipo que diz que 'a mulher não quer estar lá por opção, há sempre alguém a obrigá-la e, se ela puder, sai'. Não é verdade. Há mulheres que dizem que não trocavam a actividade por outro emprego com remuneração igual. Conheci mulheres cujos companheiros gostariam que deixassem a prostituição e elas recusam por perceberem ali a sua autonomia e capacidade de decisão. Para muitas, é ali que está a sua independência, porque quem não é economicamente independente não tem a liberdade garantida. Conheci mulheres que diziam: “Sei que ele pode, mas não quero depender dele”, e então vão à rua, de vez em quando, para terem o seu dinheiro. Embora possa ser polémico, também vi a opção pela prostituição como oportunidade de as mulheres terem o seu próprio espaço, de serem mais independentes do que seriam noutras profissões. Muitas prostitutas têm relações de grande dependência de homens (maridos, pais, outros familiares); mas, com os clientes, isso inverte-se, o poder é delas."
"A relação sexual comercial habitual é uma relação rápida e, por norma, desprovida de afecto. Mas, às vezes, pode haver sentimentos e emoções passíveis de serem concretizados. Muitas vezes, os clientes tornam-se habituais e começam a investir naquela relação, que passa a ser de amizade, de afecto e, caso a prostituta esteja disponível, pode até evoluir. Ou seja, apesar de, por regra, não haver afecto, é possível que ele exista. Tal como o prazer. Antigamente, definia-se a prostituição como a ausência de escolha e de prazer; quanto à escolha, já vimos que existe; quanto ao prazer, embora não seja algo facilmente admitido pelas prostitutas, percebe-se que algumas acabam por tê-lo com os clientes. Ora, isto é polémico: dizer que a prostituta é activa, que escolhe, e, ainda por cima, que o faz porque pode ter prazer sexual, é mais um tabu para o que se julga ser o comportamento sexual adequado a uma mulher... É mais fácil vê-las como vítimas, e não como sexualmente activas, porque o comportamento esperado de uma mulher não é aquele – é o recato, a monogamia, a fidelidade, ideias que estas mulheres, de algum modo, vêem contrariar."

"O que defendo é que o trabalho sexual em geral, e o da prostituição em particular, seja uma profissão semelhante às outras, sem leis nem estatutos especiais – deve ser regulado segundo o Estatuto Nacional das Profissões. A vantagem será, desde logo, o reconhecimento dos direitos laborais a um grupo significativo de pessoas, que poderiam efectuar descontos para a Segurança Social, recorrer a um subsídio em caso de doença, além de questões mais práticas: ganham dinheiro e, no entanto, não conseguem um empréstimo à habitação por não terem uma folha de IRS para mostrar ao banco. São esses pequenos constrangimentos no dia a dia que podiam ser obviados. Além da violência nas ruas a que estão sujeitas e que, por vezes, não tem o melhor acolhimento da Polícia. Por exercerem uma actividade não reconhecida, é como se essas pessoas não existissem. Mas, talvez mais importante do que isso, contribuiria para a destigmatização, porque ao encarar o trabalho sexual como profissão, ao legitimar uma função que já existe, a tendência será vê-la menos negativamente. Porque o posicionamento ideológico de grande rejeição da prostituição leva a tratar as pessoas que a exercem como se não existissem."

Ler mais aqui.

O horror das marquises


Engenheiro, vivo modestamente numa casita com a área total de 500m2. A dita cuja, de r/c e 1.º andar, possui ainda um anexo de 80m2 com piscina. Além disso há uma horta para passar o fim de semana, um canil, uma capoeira (são mais 5800m2). A casita dispõe também de garagem fechada com acesso interior para 3 automóveis, churrasqueira, acessos interiores de calçada portuguesa e tijoleiras.
De resto, são quatro quartos e três suites (uma com saleta), com armários embutidos, cinco casas de banho completas (duas com hidromassagem), mais uma de serviço, dois salões (um de festas, com bar e kitchnet), sala de jantar, cozinha e copa, sala de estar, duas lareiras.
Disponho de lavandaria e sala de arrumos. Há aquecimento central com caldeira de gasóleo e poço de água potável com 150m de profundidade. Como sou amigo do ambiente tenho painel solar e um pinhal com 20 pinheiros centenário.
Ora bem, a minha casita não tem marquises. Isso é muito feio. E por isso sou contra as marquises. "Choca-me ver o meu país degradar-se. Estamos a hipotecar a nossa paisagem urbana" e detesto aparelhos de ar condicionado colocados de forma indiscriminada e estendais "com cuecas que teimam em pingar". Quero viver num país civilizado e estou, portanto, de acordo com essa campanha que vai para o ar em Setembro.
Que falta de chá ter uma varandinha num apartamentozeco fechada com marquise. Que horror!!(também sou um bocadinho contra os pontos de exclamação, mas que fazer se a situação é tão grave?)
Detesto andar pelas ruas e ver a paisagem urbana tão degradada - vejo as traseiras cobertas de marquises e arrepio-me todo.

Pablo García Baena

Os poemas aqui transcritos pertencem à antologia Rama Fiel, Ediciones Universidad de Salamanca, 2008 (XVII Premio Reina Sofía).

Amantes

El que todo lo ama con las manos
despierta la caricia de las cítaras,
siente el silencio y su pesada carne
fluyendo como ungüento entre los dedos,
lame la lenta lengua de sus manos
el hueso de la tarde y sus sortijas
se enredan en el ave adormecida
del viento. Labra en mármoles de humo
el cuerpo palpitante del abrazo
extenuado cual cervato agónico,
y con el pico frío de sus uñas
monda la oliva efímera del beso.
El que se ama solo, el que se sueña
bajo el deseo blanco de las sábanas,
el que llora por sí, el que se pierde
tras espejos de lluvia y el que busca
su boca cuando bebe el don del vino,
el que sorbe en la axila de la rosa
la pereza oferente de sus hombros,
el que encuentra los muslos del aljibe
contra sus muslos, como un saurio verde
sobre el mármol desnudo e inviolado,
ese que pisa, sombra, desdeñoso
el pavimento de las madrugadas.
El que ama un instante, peregrino
voluble, de flauta hasta los labios,
de la trenza al cítiso, de los cisnes
a la garganta, de la perla al párpado,
de la cintura al ágata, del paje
a la calandria y tras él, silente
va talando el olvido de las mieses altas,
tirso áureos de espigas, leves brotes,
todo un bosque confuso de recuerdos,
y él va cantando, ruiseñor nocturno,
capricho y galanía, bajo la luna.
Y el que besa llorando y el que sólo
sabe ofrecer y aquel que cubre el pecho,
para no amar, de oscuro arnés, sonrisa
y un gerifalte lleva silencioso
devorando su corazón de gules.
Todos, la noche maga con su rezo
los enloquece, clava en sus pupilas
el helor de su vaga nieve negra,
les da a beber rencor entre sus manos,
los hurta en el arzón de sus corceles,
los trae y los lleva como mar en cólera,
coronadas las olas de sollozos,
de cabelleras náufragas, de sangre,
y los devuelve dulces, poseídos,
hasta la playa bruna y solitaria.

[pág. 193-4]


Los libros

Llegam todos los días libros. ¿Nuevos?
Albor primero, lumbre contenida,
noticias de dominios abolidos.
Abres, cierta cautela, azar e páginas.
¿Seguirá todo igual, vida, muerte, ruinas
del amor? Tú ya lejos.
Ávido lees. Desgana. Desaliento.
Irrespirable es el hedor del calco,
las lágrimas prestada glicerina,
gruesos cirios eléctricos alumbran
al almor en las cámaras ardientes.
¿Y esto era todo, aquel deslumbramiento?
Silencioso entreabres la ventana
y aspiras, desde alto, vasta noche.
Turba la madreselva y estás solo.
¿Salir ahora? No te espera nadie.
Vuelves a tuas amigos reales: seminario
de Besançon, Fabricio
-las violetas de Parma junto al guante-,
Sor Teodora de Aransis, rúas húmedas
de Dublin. Vivos Joyce, Galdós, Stendhal.

[pág. 291]

29 agosto 2009

António Ramalho (1858-1916)



João Miguel Fernandes Jorge - Pickpocket

Pela minha parte


Pela minha parte ofereço o meu próprio
corpo, os golpes sofridos na sólida casa
de pilastras de prata
de lintéis de ouro
e jardins abertos ao comércio do fumo e
ao gosto do sono sob um manto de palavra
tecida de mirto e beladona

ofereço o navio negro, cofre banhado pelas
libações ao longo da vida
carvão aceso à vez no festim das vestais e
no canto sem fim, fio de aço nos lábios do aedo.

[in Pickpocket, Cinemateca Portuguesa, Fevereiro 2009, p.37]

27 agosto 2009

Henrique Pousão (1859-1884)



Miguel Agudo


... de Universo

Al principio
-eran las cuatro y cuarto de la tarde-,
se levantó Dios de la mesa
y creó un café solo.
Y pensó que sabría demasiado fuerte
y creó Dios un terrón de azúcar.
Y, parafraseando a Arquímedes, se dijo:
«dadme una cucharilla y ...»
y removió el terrón
-sin sudor de su frente
ni usar azada alguna-,
y quiso sorber
y sin querer besó
esta negrura...

[in Cuando Herodes La Tierra, p.9, Sevilha, 2009]

La verdad interior

Tengo algunas palabras preferidas.
No son las que más uso.
No son rebuscadas.
No son las que te guardo.
No son las importantes.
No recuerdo cuándo las aprendí.
No creo que nos hagan mejores.
Pero son como tus gestos.
No sé qué significan.
No las olvido.


Opus 55

Por favor,
déjame ya
dormir
que tengo ganas
de soñar contigo.

[poemas encontrados no sítio do poeta]


14 agosto 2009

Férias

Esta imagem de Angra do Heroísmo chegou-nos por e-mail sem indicação de autor. Se alguém souber, digam que nós logo o identificamos.
Agora vamos de férias. Até daqui a uns dias.

12 agosto 2009

A diferença entre os líderes e os psicopatas


Diz a notícia: "Os psicopatas que matam e violam têm ligações defeituosas entre a parte do cérebro que lida com as emoções e uma área que gere o processo de tomada de decisões, anuncia uma equipa de investigadores britânicos. Como se fossem buracos numa estrada. A descoberta pode ajudar a encontrar formas de os reparar."

Uns têm buracos na estrada mental, outros têm pontes e viadutos feitos de ouro, prata fina e quanta riqueza há por í.
Estudar psicopatas parece fácil, mas estudar milionários é que não.
Agora digam lá, se pudessem escolher, que preferiam saber? Como deixar de ser um psicopata ou como tornar-se um líder?

Mona Lisa


Sim, chamam-me mona lisa porque sou careca. Há uns tempos, não sei se por causa disso, se porque o meu patrão teve de dar uma casa à namorada, fui despedido. Desatei a beber. Para todo o lado para onde vou levo a minha taça de estimação. O vinho, o bagaço (ou o vodka) sabem-me que nem euros. Ora domingo passado fui com a minha pequena ver o Louvre e no saco a tiracolo lá estava a botelha e a taça. Ia-me a sentar para ver que semelhanças há entre mim e o quadro do Leonardo da Vinci e deu-me uma sede terrível. Tirei a taça... A X ao ver aquilo correu para mim para não passar uma vergonha e quis tirar-me a taça, mas fê-lo com tanta força e eu fui tão dócilao abrir a mão que a taça voou e se fez em mim bocadinhos depois de embater no vidro que protege o quadro. Oh, deus, que susto. Fugi. Ela ficou e foi presa.
Agora, estão para aí a dizer que "A cidadã russa responsável pelo ataque visitou o museu do Louvre, em Paris, no primeiro domingo do mês e levou consigo uma taça que, a determinado momento, arremessou contra a obra, numa acção de protesto pelo facto de as autoridades gaulesas não lhe terem concedido a nacionalidade francesa."
Acção de protesto? Cá nada. Ela quis foi poupar-me a um embaraço e aconteceu o que aconteceu. Mas os cagões dos franciús tiveram que inventar aquilo do protesto, para fazerem de conta que são bons. Qui merde de nation làquèle, que não sai da cepa torta e tem um presidente que anda por aí a rivalizar com o Putin e o Berlusconi.

11 agosto 2009

Destruição de património

O que são pinturas rupestres? Que representam para as populações das aldeias ou até das cidades? Que formação cultural se recebe na escola?
Mesmo que as razões da destruição tenham sido ocasionais (alguém pode ter querido pôr a pedra mais limpinha), a verdade é que tudo acontece fruto da ignorância. E se o intuito partiu da inveja ou da vingança, a conclusão é a mesma: ignorância.
Um dos painéis de granito com pinturas rupestres, com cerca de cinco mil anos, encontrado há sete anos na área da freguesia de Malhada Sorda, concelho de Almeida, foi destruído. A figura pré-histórica foi completamente destruída, tendo sido lavada e repicada com a clara intenção de a fazer desaparecer, o que de facto foi conseguido. Apagou-se assim mais de cinco mil anos de História.
Que importância tem isso para as populações? As poses e prosápias culturais não colhem junto de quem se está nas tintas para riscos e lajes. É preciso que expliquem às pessoas do que se trata e que lhes digam que isso pode estimular o turismo na localidade e contribuir de forma indirecta para a melhoria da aldeia ou da localidade.

10 agosto 2009

John Lennon - Jealous Guy

Do album Imagine editado em 1971

«Are we getting away from the property concept of relationships?»

(Estamos a livrar-nos do conceito de posse nas relações sentimentais?)

08 agosto 2009

AL BERTO (1948-1997)

Al Berto, 1996

© Luísa Ferreira

CASA

.

.

durante a noite

a casa geme agita-se aquece e arrefece

no interior frio do olho da tua sombra sentada

na cadeira aparentemente vazia

.

esperas acordado sem sono

que a temperatura da casa se funda

com a temperatura incerta do mundo

depois

escreves exactamente isto: o horror dos dias

secou contra os dentes – e rouco

dobrado para dentro do teu próprio pensamento

ferido

atravessas as sílabas diáfanas do poema.

.

levantas-te tarde

atordoado

para extinguires o lume ateado

junto à memória da casa – respiras fundo

para que o gelo derreta e afogue

a vulgar noite do mundo.

.

olhas-te no espelho

atribuis-te um nome um corpo um gesto

dormes

com a árvore de saliva das ilhas – com o vento

que arrasta consigo esta chuva de fósforo e

estes presságios de tranquilos ossos

.

.

Al Berto, O medo


Mediterranean Sundance

Paco de Lucia, Al Di Meola e John McLaughlin tocam no Concerto de Pavarotti & Friend for War Child de 2006.

06 agosto 2009

Dylan Thomas (1914-1953)


That sanity be kept
That sanity be kept I sit at open windows,
Regard the sky, make unobtrusive comment on the moon,
Sit at open windows in my shirt,
And let the traffic pass, the signals shine,
The engines run, the brass bands keep in tune,
For sanity must be preserved.

Thinking of death, I sit and watch the park
Where children play in all their innocence,
And matrons on the littered grass
Absorb the daily sun.

The sweet suburban music from a hundred lawns
Comes softly to my ears. The English mowers mow and mow.

I mark the couples walking arm in arm,
Observe their smiles,
Sweet invitations and inventions,
See them lend love illustration
By gesture and grimace.
I watch them curiously, detect beneath the laughs
What stands for grief, a vague bewilderment
At things not turning right.

I sit at open windows in my shirt,
Observe, like some Jehovah of the west
What passes by, that sanity be kept.
in Poetry Pearls

Joaquim Sorolla Y Bastida, um pintor apaixonado pela luz - outros quadros

05 agosto 2009

O PSD é sempre um lamentável déjà vu


Manuela Ferreira Leite surge aos olhos dos mais míopes como uma dama de ferro. Que não é. E as suas passagens pelos diversos ministérios já mostrou isso mesmo. De resto, o PSD é uma nódoa repetitiva, aquilo é o partido por excelência das negociatas. E pouco democrático. O PS sempre incluiu nas suas listas os opositores internos. Mas o PSD não consegue. O medo de perder é muito e são tantos a querer assegurar o seu tachinho.
Como é que um partido assim pode marcar a diferença em relação ao PS?

04 agosto 2009

Frederick Carl Frieseke (1874-1939)





Frederick Carl Frieseke é um pintor norte-americano, que passou uma temporada em França, deixando-se contaminar pela luz e pelas técnicas que aí apreendeu.

03 agosto 2009

Bénédicte Houart

a minha avó dizia-me
querer é poder
era mentira
ela soube-o antes de mim

a minha mãe dizia-me
não se pode querer tudo
era mentira
ela nunca o soube

eu sempre quis tudo e pude pouco
daí em diante passei a não querer quase nada
eis a única lição maldita que a vida me terá dado




quase todos os tiros que damos são no escuro
alguns iluminam a noite
outros tornam-na mais obscura
não raras vezes, porém, acertamos na própria sombra
aquela em que nos fomos tornando sem dar por isso

morta a sombra, ficamos nós
ainda mais sós, cada vez mais perto

O consumo de cannabis afecta a memória


O processo de aquisição de memórias, seja de valores, experiências ou conhecimentos, divide-se em diferentes fases. Primeiro ficamos expostos ao que vamos aprender: como usar uma colher, qual a capital de Marrocos… De seguida o nosso cérebro inicia o processo de consolidação, 24 horas depois. Se este processo não acontece então não recordamos essas informações.
A investigação garante que a cannabis afecta precisamente este processo de consolidação, ou seja, afecta o hipocampo, parte do cérebro onde se encontram os circuitos de neurónios necessários para realizar as tarefas cognitivas relacionadas com a memória.

02 agosto 2009

Peder Severin Krøyer 2



Peder Severin Krøyer (1851-1909)





P. S. Kroyer, pintor norueguês e dinamarquês, é um dos nomes cimeiros do grupo de Skagen. Podem ver mais trabalhos dele aqui.
Algumas das imagens podem, como é costume, ser vistas em melhor definição, desde que abertas.

Os esquemas dos medicamentos


No reino dos medicamentos, como em quase todos os negócios, incluindo claro o das leis e da saúde, é preciso estar por dentro do negócio para não tomar gato por lebre. Mas mesmo que seja suposto o farmacêutico informar qual é o medicamento mais barato, eu sei de experiência própria que eles nada dizem. O que não admira, pois os mesmos vendedores que visitam os médicos, para os seduzirem para o medicamento X, Y ou Z, podem ser vistos nas farmácias em amena cavaqueira com funcionários e donos. Com medicamentos não se brinca, razão para tantos cuidados, obviamente. Mas ainda não percebemos porque tem de se comprar seis carteiras com dez comprimidos quando a própria posologia da bula indica serem necessários menos comprimidos. Os que vão para o lixo ou ficam nas farmácias domésticas a ocupar espaço fazem parte dos cuidados que têm para com connosco quantos se dedicam ao negócio dos remédios.
Já agora, vejamos alguns exemplos de genéricos que supostamente deveriam sair mais baratos aos consumidores e saem mais caros, pela simples razão de que não são comparticipados (outro esquema interessante, tanto mais que em muitos vem logo na embalagem que só podem ser vendidos mediante receita médica).

Ibuprofeno 600 granulado:
A marca do anti-inflamatório custa 4,91 euros e tem 69% de comparticipação. Fica por 1,42 euros. O genérico custa 3,93 euros e não tem comparticipação. Na versão comprimido de 600 mg, com o apoio do Estado a marca fica por 3,31 euros, enquanto alguns genéricos (não todos) custam 5,89 euros.

Omeprazol 20 mg:
As caixas de 28 unidades dos genéricos não subsidiados custam 19,77; o fármaco de marca sai ao utente a 9,42 euros. No Lanzoprazol, também para o estômago, as embalagens de 14 e 20 unidades saem ao dobro do preço. Isto em medicamentos cuja toma é, geralmente, prolongada.

Sinvastatina e Pravastatina (colesterol):
As embalagens de 30 unidades de Sinvastatina sem marca são duas vezes mais caras para o utente. As de 30 comprimidos de 20 mg de Pravastatina custam-lhe mais quatro ou cinco euros do que o original.

Fluoxetina:
É um antidepressivo cujo uso está a crescer em Portugal e que é de toma minimamente prolongada. Mas comprar um genérico de 56 ou 60 unidades sai mais caro do que optar pela marca.

Fonte: JN

01 agosto 2009

"Joven", 1955, um quadro de Víctor Manuel García a abeirar o cubismo?


No fim da carreira de Victor Manuel o seu trabalho modifica-se abeirando o abstraccionismo. Começa a pintar a guache quadros quase cubistas. A mulher dos seus quadros adquire um olhar diferente: as sobrancelhas estetizam-se e os olhos adquirem uma forma amendoada. Um olhar diferente do olhar da pintura “La Gitana Tropical“. Ver mais aqui.

"La Gitana Tropical", 1929, de Víctor Manuel García


Víctor Manuel García - mais alguns quadros



Auto-retrato de Victor Manuel García (1897-1969)


Com Víctor Manuel García (Habana, 1897-1969) nasce a pintura moderna em Cuba. Aos seis anos, começa a pintar. Aos 12, inicia os estudos de pintura, na Escola de Artes de San Alejandro. Estuda com Romañac e aos dezanove revela o seu talento, como ele próprio confessa. A primeira exposição data de 1924, em Havana, em "Las Galleries".
Viaja para França, em 1925, país onde um grupo de artistas de Montparnase o passa a chamar apenas por "Victor Manuel", nome com que assina muitos quadros.
Abre nova exposição, em 1927, nos salões das Associações de Pintura e de Escultura. Um dos primeiros passos para a era da pintura moderna cubana.
A partir da primeira viagem a Paris e do contacto com o pós-impressionismo, o seu estilo transforma-se, como se verifica, em 1929, quando pinta, na sua cidade natal, a famosa e melancólica Cigana tropical, que passou a ser o símbolo de toda a sua arte. Desde essa altura aborda temas que passam a ser recorrentes: rostos femininos e paisagens.
Manuel Manuel García é um artista para quem a arte não era considerada um refúgio, mas sim uma forma de expressão.