Há alguém que diga, ao ver um filme, que os actores mentem? Pode acontecer sim que a personagem que o actor encarna faça da mentira um modo de vida. Mas ninguém, ao ver um filme, o avalia pela veracidade. Pela verosimilhança, talvez.
Ora, o suposto estudo científico levado a cabo pela equipa de investigadores canadianos soa a banho da cobra. Porque os políticos são actores. Representam um determinado papel, no qual, além das suas ideias e vontade, intervêm os acessores de imagem e outras pessoas. Tudo para que não só o discurso alcance mais eleitores, como também para que o papel representado seja convincente.
O populismo do estudo e sobretudo aquilo que se pode ler na notícia é confrangedor. Tem muito de opinião (ou seja, de particular) e pouco de científico (ou seja, de geral). Isto para não falarmos do abuso de senso comum. E chega a ser hilariante. Vejamos um excerto: «o que passou despercebido ao comum dos mortais, foi facilmente detectado por Paul Ekman, que estuda as expressões faciais e a maneira como actuam os políticos, em relação ao que pensam, há 40 anos. “Tendo em conta que [Bill] Clinton provavelmente sentiu rejeição por a sua mulher não ter conseguido a nomeação, eu diria que todo o discurso foi na verdade dado de uma maneira muito graciosa”». Sublinhamos o advérbio porque nele reside a falácia. Se isto é ciência, Alberto João Jardim, José Sócrates, Cavaco Silva e tantos outros são cientistas de ponta.
Sem comentários:
Enviar um comentário