28 novembro 2008

Quando a esmola é muita


Quando a esmola é muita, o pobre desconfia. Quando a teimosia é recorrente, o pobre encolhe os ombros. E à custa desse encolher de ombros, Portugal viveu demasiado tempo sob alçada do Estado Novo. Algo cujos efeitos nefastos ainda se fazem sentir - atraso do país em relação aos demais países da Europa; problemas estruturais e económicos que ainda não conseguimos ultrapassar; falta de participação dos cidadãos na vida comunitária; grande abandono escolar; iliteracia cultural.

Portugal conseguiu realizar, em trinta anos de democracia, progressos notáveis: a vida das pessoas mudou tanto que o bem-estar se tornou quotidiano. Mas ainda há coisas sinistras. Uma delas é a tríade que encabeça o monstro do Ministério da Educação. Figuras baças que, por desconhecimento do que é a realidade do ensino básico e secundário e com as cabeças formatadas por uma cultura pidesca e burocrática, resolveram criar um suposto modelo de avaliação do trabalho do professor que não só não avalia nada, como tem intuitos absolutamente perniciosos, na linha mais soez do Estado Novo: constranger o corpo docente a uma amálgama obediente.

Ora, os professores, nestas três décadas de democracia, foram protagonistas de uma escola diferente, democrática, embora cheia de problemas e de questões mal resolvidas, pois sobre as escolas têm sido despejados decretos-lei atrás de decretos-lei que tudo querem controlar.

Esses professores cresceram com a democracia e a pouco e pouco, desde que esta equipa ministerial iniciou funções, viram-se enxovalhados, amesquinhados e constrangidos a cumprir o despautério de um Cérbero que nem de olhos fechados está desperto, tal a ânsia de agradar ao chefe Sócrates.

O dito modelo de avaliação só é possível porque os professores, ao contrário de outros grupos profissionais, nunca possuiu um código deontológico que definisse as suas funções. Viu-se, por isso, entregue ao famigerado Estatuto cujos efeitos estão à vista: fantochada.

Em que é que isso contribuiu para melhorar a escola e o ensino? Em nada. Mas já piorou as coisas, com mais uma mãozinha ministerial que tenta a todo o custo que a escola seja entendida como um jardim de infância dos 3 aos 19 anos.

A continuarmos neste caminho não há democracia que aguente. Um país sem pessoas bem formadas é um país fantasma. A formação tem custos e o Estado, pelos vistos, não está na disposição de os suportar (até porque eleitoralmente rendem pouco ou nada), mas também não tem coragem para reformular a Constituição e eliminar a gratuitidade do ensino.

O Estado quer que todos andem na escola e está-se nas tintas para a aprendizagem ou para a formação. Até porque estas almas pardas parecem ser da opinião de que a escola pública é para a ralé.

O que lhes interessa, como aos tugas salazarentos, é o que ganha um professor e que essa massa salarial permaneça baixa, pois assim será mais fácil domesticá-lo e conduzi-lo qual títere.

Não lhes interessa que os professores invistam em formação científica, mas que invistam em formação... iliterária, que cumpram o que os cérebros iluminados e Maria e Jorge e Valter decidem.

A tal simplificação é bem a prova de que as iluminárias apenas estão preocupadas com o dinheirinho. Como se estivessem no ministério das finanças. De educação, está visto, não percebem nem querem perceber nada.

1 comentário:

psergio57 disse...

Não podia estar mais de acordo. Como escreveu Alfredo Barroso há um 'bafio salazarento' em todo este processo...