11 novembro 2008

De quem é a culpa?, de Anselm Jappe


Está a chegar às livrarias De quem é a culpa?, de Anselm Jappe, editado pela Antígona.

Anselm Jappe nasceu em 1962 na Alemanha, tendo feito os seus estudos em Itália e em França, onde vive actualmente. É autor de As Aventuras da Mercadoria (2006) e de Guy Debord (2008), ambos editados pela Antígona.

De quem é a culpa? aborda «a crise». E tece considerações sobre os actores dessa crise e sobre os modelos de vida que nos têm ocupado os dias.

Uma amostra: «Desta vez, todos os comentadores estão de acordo: o que se está a passar não é uma mera turbulência passageira dos mercados financeiros. Estamos a viver, sem dúvida, uma crise que é considerada a pior desde a Segunda Guerra Mundial, ou desde 1929. Mas de quem é a culpa, e por onde encontrar a saída? A resposta é quase sempre a mesma: a «economia real» está sã, foram os mecanismos corruptos de uma finança que escapou a todo e qualquer controlo que puseram em risco a economia mundial. Sendo assim, a explicação mais expedita, mas também mais propagada, atribui toda a responsabilidade pela crise à «avidez» de um punhado de especuladores que teriam jogado com o dinheiro de todos como se estivessem num casino. Mas reduzir os arcanos da economia capitalista, quando esta funciona mal, às maquinações de uma conspiração maléfica tem uma longa e perigosa tradição. Arranjar, mais uma vez, bodes expiatórios – a «alta finança judaica» ou outra –, oferecendo-os ao julgamento do «povo honesto», constituído pelos trabalhadores e aforradores, seria a pior das saídas possíveis.

(...) Talvez não venhamos a assistir a uma «sexta-feira negra», como em 1929, a um «Dia do Juízo». Mas há boas razões para crer que estamos a viver o fim de uma longa época histórica. A época em que a actividade produtiva e os produtos não servem para satisfazer necessidades, mas para alimentar o ciclo incessante do trabalho que valoriza o capital e do capital que emprega o trabalho. A mercadoria e o trabalho, o dinheiro e a regulação estatal, a concorrência e o mercado: por trás das crises financeiras que há vinte anos se repetem, cada vez mais graves, perfila-se a crise de todas estas categorias. As quais, é sempre bom lembrá-lo, não fazem parte da existência humana em toda a parte e sempre. Apoderaram-se da existência humana ao longo dos últimos séculos e poderão evoluir para algo diferente – algo melhor ou ainda pior. Contudo, não é o tipo de decisão que se tome numa reunião do G8…»

1 comentário:

Papio Cynocephalus disse...

achei o "as aventuras da mercadoria" essencial para perceber o sistema capitalista. mt bom mesmo. não sabia deste novo, mas vou comprá-lo.