21 novembro 2008

Diálogo... de surdos


Dar-se-á o caso de o Governo ter um problema do foro otorrinolaringológico? É que depois de tanto diálogo, depois de tanta reunião ainda não percebeu o que já todos perceberam: que a dita avaliação não avalia nada, pois não passa de devaneio burocrático de um governo de faz de conta.

Educar é uma ciência e uma arte. Arte porque não tem regras fixas, ou seja, cada caso é um caso, cada circunstância é única. Ciência porque tem método, levanta problemas, coloca hipóteses, procura soluções.

Para o governo é uma religião. Ele diz como é (Sócrates é um iluminado e Maria de Lurdes a discípula que segue o mestre) e todos fazem como ele diz.

Curiosamente, o governo apenas diz que a avalição é assim e ponto. Porquê? Porque procura a qualidade do ensino? Não. Se fosse esse o caso saberia que leis fazer. Trata-se tão-só de poupar em salários. Repetimos: poupar em salários. O resto é para inglês ver.

Um governo para agir precisa de ter um programa de acção. Como é do domínio público, este governo deitou o programa que tinha no caixote do lixo e governa ao sabor de interesses e de momentos.

Não tem uma ideia que seja para a educação. Sublinhamos: uma ideia. Nada! A acção do governo, como a de antecessores, limita-se a atrapalhar a vida das escolas com despachos e decretos-lei. E sempre com o olho posto nas estatísticas internacionais, porque os governantes têm ambições, sonham com tachos mais atractivos em países onde se ganha muito mais do que em Portugal.

Já houve debates na sociedade civil por causa do eduquês. Que fez o governo? "Dialogou", ou seja, fez ouvidos de mercador, ignorou pontos de vista e opções. Persistiu no que já tinha. Porque assim é mais fácil, atira-se com a culpa para o lado mais fraco: os professores.

Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues desprezam os professores. Porque... ganham pouco e têm fraca representatividade social, embora tenham nas mãos mais de um milhão de alunos. Desprezam-nos porque os professores nunca fizeram uso desse poder. NUNCA!

Nem agora.

Os professores limitam-se a ter bom senso e a fazer o que podem para que o maior número de alunos alcance bons resultados, para que progridam, para que sejam cidadãos activos. O seu papel é diminuto. As escolas são sempre o reflexo do que as rodeia: política, económica, social e culturalmente. E seja em que domínio for, o país é débil. A classe política é medíocre (o governo aí está para o provar). A maioria dos portugueses têm salários de países de terceiro mundo, para que meia dúzia possa ganhar o que os congéneres dos países ricos não ganham (apenas nos referimos a salários pagos pelo erário público). A sociedade continua a reger-se por valores onde a cunha, a pequena vigarice e a pequena corrupção são sinónimos de sobrevivência. A cultura é o somatório disso tudo.

Que fez o governo, este governo, para mudar isso? Nada. Prometeu muito, mas sempre que o assunto toca nos grandes interesses, cala-se muito bem caladinho e faz de conta que faz (preço dos medicamentos, impostos, benesses de gestores, prazos e custos de obras públicas, acordos com empresas, etc.).

Isto da educação é um circo que lhe dá jeito, embora a conjuntura nem por um momento dê sinal de lhe facilitar a vida. A crise já fez estragos (BPN e o mais que aí está a pôr o nariz de fora), o desemprego aumenta, o consumo baixa, os salários e pensões não sobem...

O que se pedia era que ao menos revelassem inteligência e percebessem que abrir mão da avaliação era um sinal para negociar de outra maneira. Mas não, queimam cartuchos e habilidades para mostrar que não cedem. Não cedem? É só darem-se ao trabalho de ver os anúncios feitos por Sócrates com pompa e circunstância e ver onde param os resultados. Apenas isso.

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