Damos a palavra a António Barreto:
«O ano lectivo de 2007/2008 ficará para sempre na história da educação em Portugal. Nunca saberemos exactamente o que se passou. Mas a verdade é que ocorreu um milagre nos resultados dos exames (do básico e do secundário) e na avaliação das escolas e dos estudantes. Centenas e centenas de escolas viram as suas médias saltar, é esse o preciso termo, de negativas e medíocres níveis para positivas e gloriosos escalões. (...) A média nacional dos exames de Matemática, negativa há um ano, é agora de mais de 12 valores! Há um ano, apenas 200 escolas conseguiam média positiva a Matemática. Agora, são mais de mil! Mais de 90 por cento das escolas têm agora média positiva a Matemática. Há escolas com médias a Matemática de 18 valores! No conjunto das duas disciplinas, Matemática e Português, 97 por cento obtiveram média positiva! Nas oito disciplinas principais do secundário, a média positiva foi atingida por 87 por cento das escolas!
As médias da Matemática, crónico cancro do sistema, eram o quadro da desonra de uma população manifestamente incapaz de contar. Pois bem! São hoje o certificado de honra e talento de um povo para o qual as equações e as derivadas deixaram de ser mistério. É possível que muitas escolas portuguesas, para já não dizer a média de todas, se situem hoje entre as mais competentes do mundo em Matemática!
Muita gente ficou feliz. Professores gratificados, estudantes recompensados e pais descansados podem comemorar o feito. Nas universidades, esperam-se agora massas de alunos motivados e qualificados. Nos empregos, sobretudo na banca, nos seguros, nas empresas de engenharia e nos laboratórios científicos, esfregam-se as mãos na expectativa de receber, dentro de poucos anos, profissionais extraordinariamente preparados para as contas, o cálculo e o raciocínio abstracto. Nos jornais e nas televisões, onde os jornalistas confundem milhares com milhões e não sabem calcular uma percentagem ou uma taxa de variação, teremos, brevemente, dados exemplares e contas limpas. Começa uma nova era!»
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