Não param de crescer as obras deste pintor português. Em 1987 o catálogo da exposição do centenário mostrava 145 pinturas. Em 2008, já vai nas 209 e "e não é um ponto final. É até mais um ponto de partida do que um ponto de chegada: com a informação que conseguimos recolher, é possível aprofundar a investigação sobre o Amadeo", diz Helena de Melo, coordenadora do catálogo raisonné do pintor, hoje tornado público.
Não é ainda todo o Amadeo - é todo o Amadeo conhecido (na pintura, porque o raisonné do desenho, que devia vir já a seguir, é outra história), mas em versão revista e aumentada. "Não só encontrámos algumas peças cujo paradeiro era desconhecido desde meados do século XX, como recuperámos muitos títulos originais das peças e produzimos uma ficha detalhada com bibliografia específica e indicação do percurso expositivo de cada obra", diz Helena Melo.
Foi uma complexa operação de resgate, dada a escassez da informação disponível nalguns dos casos e as dúvidas de natureza técnica colocadas por outros - a meio do processo, a fundação nomeou uma comissão científica independente composta por António Rodrigues, Raquel Henriques da Silva e Rui Mário Gonçalves para resolver alguns problemas concretos suscitados por peças de atribuição mais duvidosa. "Muitíssimas" foram excluídas liminarmente, "entre desenhos e pinturas", ainda antes da intervenção da comissão - mas há outras que "continuam no purgatório", adianta Raquel Henriques da Silva. O desenho mostrou-se especialmente problemático - e é justamente por ser "tecnicamente difícil legitimar muitos dos desenhos atribuídos ao Amadeo" que a fundação optou por suspender, para já, a edição do terceiro e último volume do catálogo raisonné (o primeiro foi a fotobiografia lançada há um ano).
Amadeo de Souza-Cardoso nasceu a 14 de Novembro de 1887 em Manhufe, próximo de Amarante, e morreu em Espinho, vítima de “pneumónica”, ou gripe espanhola, a 25 de Outubro de 1918.
Em 1906, parte para Paris e instala-se no Boulevard de Montparnasse. Estuda Arquitectura, frequentando os ateliês de Godefroy e de Freynet, mas acaba por desistir do curso, por estar mais interessado em desenvolver uma actividade de desenhador e caricaturista, permanecendo atento ao movimento artístico parisiense.
A partir de 1910, desenvolve uma sólida amizade com Amadeo Modigliani (com quem expõe no seu ateliê, em 1911) e relaciona-se com Juan Gris, Max Jacob, Sonia e Robert Delaunay, Otto Freundlich, Brancusi, Archipenko, entre outros. Destes contactos, Amadeo retém a informação teórica fundamental para o desenvolvimento da sua investigação plástica. A sua obra, marcada pela constante pesquisa e reformulação de conceitos e práticas pictóricas, atravessou quase todos os movimentos estéticos relacionados com a ruptura da arte convencional. Do Cubismo à arte abstracta, passando pelo Expressionismo e Futurismo, Amadeo experimenta e ensaia modalidades pessoais de entendimento destas correntes.
Surpreendido pela guerra, Amadeo regressa a Portugal no ano seguinte. Entre 1915 e 1916, convive com o casal Delaunay, então instalado em Vila do Conde. Alguns projectos comuns nascem deste convívio – exposições em Barcelona, Estocolmo e Oslo –, e nascem também da sua participação nas exposições Corporation nouvelle e Expositions mouvantes, que acabam por não se concretizar. Alguns encontros em Lisboa, com Almada Negreiros e o grupo do Orpheu, estabeleceram ainda rituais de cumplicidade entre as artes e as letras, integrados no movimento futurista. Em 1916, expõe individualmente pela primeira vez em Portugal (Porto, Jardim Passos Manuel; Lisboa, nas salas da Liga Naval) um vasto conjunto de trabalhos a que deu o nome de Abstraccionismo. No folheto-manifesto, Almada Negreiros apresenta-o como “a primeira Descoberta de Portugal na Europa do século xx”, e, no cabeçalho do jornal O Dia (4-12-1916), fez-se eco do imenso escândalo desta “Exposição original –impressionista, cubista, futurista, abstraccionista? De tudo um pouco”.
Também neste ano, Amadeo publica o álbum 12 Reprodutions e, em 1917, reproduz três obras na revista Portugal Futurista, enquanto Almada lhe dedica o livro K4 Quadrado Azul.
Também neste ano, Amadeo publica o álbum 12 Reprodutions e, em 1917, reproduz três obras na revista Portugal Futurista, enquanto Almada lhe dedica o livro K4 Quadrado Azul.
1 comentário:
boas! ando a pesquisar sobre Amadeo de Souza Cardoso e gostaria que me esclarecesse sobre as imagens que juntou a este post, principalmente o "retrato". Faz parte do espólio de Amadeo?
espero resposta breve, se possivel.
(http://n-de-nica.blogspot.com)
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