Há um senhor deputado dos Açores, vice-presidente do grupo parlamentar do PS e Presidente da JS Açores, que gosta muito de opinar. Fá-lo com regularidade nos jornalinhos da Região e hoje também no blogue do Tibério Dinis.
É um orgulho para a Região ver que há deputados assim tão novos e tão seguros das suas opiniões. Algo que mostra bem como aqui, neste Pisca de Gente, nos enganamos: há quem tenha subido na vida apenas por mérito, como é o caso do senhor deputado.
Ora diz o senhor deputado que acha «pertinente falar das Novas Tecnologias como base para estratégias ligadas a uma Nova Economia, a uma cultura de capital de risco e de fomento da livre iniciativa jovem.» E nós, leitores curiosos e ávidos de conhecimento ficámos eufóricos. Finalmente alguém que nos apresenta não uma economia nova, mas, bem à maneira socialista, uma Nova Economia. O segredo está no uso das maiúsculas, pois dizer pão é muito diferente de dizer Pão ou até PÃO.
E o que diz afinal o senhor deputado sobre essa Economia? Vejamos: «No sistema económico actual a chamada Nova Economia, relacionada com as Tecnologias da Informação assume uma importância vital. Tanta que, mundialmente, esta Nova Economia deixa de ser Nova passando a ser um cenário cada vez mais presente e determinante para qualquer modelo de desenvolvimento sustentável futuro.» Como? Importa-se de repetir? Afinal a Nova não é Nova, é apenas uma Economia como outra qualquer? Não, não é bem isso. Pois a economia de que fala o senhor deputado não é uma realidade, é apenas algo virtual, ele chama-lhe «um cenário» (serão resquícios dos bailinhos do Carnaval?).
A frase, rebuscada e confusa, além de evidenciar dotes raros de oratória (o senhor deputado faz um post em que nada diz) engana, pois a Nova Economia não é Nova, é um cenário.
Diz ainda o senhor deputado, que, além de grandes dotes de oratória exibe um elevado conhecimento das potencialidades da língua materna: «Por todo o mundo é visível que as economias mais desenvolvidas têm apresentado uma crescente “leveza”. Esta “perda de peso” das estruturas económicas é um factor comum das economias que se tem vindo a desenvolver acima da média.»
A que é ele se refere? O texto nada diz. Será que para ele crise é sinónimo de leveza? Não, nada disso. Como explica o senhor deputado vice-presidente do grupo parlamentar trata-se de uma «“desmaterialização” da Economia». Uma quê? Que é que quer dizer desmaterialização? Será tirar a matéria economia do discurso do senhor deputado? Será mostrar-nos que de economia nada percebe?
Para não nos acusarem de má-fé, transcrevemos o parágrafo: «Esta “desmaterialização” da Economia, sendo um factor de sucesso nos mais variados sectores económicos revela-se como um importante instrumento para o desenvolvimento de um quadro económico favorável. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, o Conhecimento ou a Mega Base de Dados que é a Internet e o fluxo de informação que permite são a base desta Nova Economia.»
A desmaterialização da Economia (com letra grande, faz favor) é um factor de sucesso[???] nos nais variados sectores económicos [quais? como?]. E o que é um «quadro económico favorável«? Será como aquele dos cartoons que se inverte para só mostrar resultados positivos?
O senhor deputado, imparável, certamente inspirado, continua: «A possibilidade de ultrapassar, facilmente, as barreiras comunicacionais de uma Região com a localização e disposição geográfica dos Açores utilizando os conceitos e mais valias desta Nova Economia representa a criação de mecanismos para uma fácil e rápida difusão destes novos produtos ultrapassando, também, os custos de transportes que algumas vezes bloqueiam investimentos na Região.»
Saberá o que são barreiras comunicacionais? E de que novos produtos fala? Será que para o nosso douto presidente da JS Açores o virtual é um produto? Assim do género, eu que moro em Lisboa encomendo por e-mail duas toneladas de carne terceirense e o vendedor envia-mas num ficheiro zip?
Para terminar, que este post já vai demasiado longo, reparem como o senhor deputado adora mais valias: «É sabido que o passatempo de muitas crianças, adolescentes e jovens açorianos é navegar na Internet. A utilização deste hábito e desta apetência dos jovens açorianos para o aumento da sensibilidade às mais valias da Nova Economia revela-se estrutural para o Modelo de Desenvolvimento Futuro da nossa Região.»
Eu, ao ler este texto ainda pensei que se tratasse de alguma brincadeira de um aluno do 8.º ano de escolaridade a fazer de conta que sabia do que falava. Mas não, é mesmo do senhor deputado Berto Messias.
Com deputados assim, a Região pode descansar, pois «Estamos na era do Conhecimento. Vivemos “à distância de um click”.»
4 comentários:
Ía comentar o post do nosso deputado no In Concreto. Mas depois de o ler lá e de ler o comentário aqui, desisti por que ficou tudo dito e subscrevo.
Caro Pisca de gente
a sua análise à opinião do Messias é, no minimo, intelectualmente desonesta.
A opinião não só é legitima como muito pertinente. A análise que faz demonstra alguma ignorância no que se refere a estas matérias relacionadas com nova economia.
Castro
É pertinente introduzir estes conceitos nesta fase do campeonato.
a matéria prima "leve" nas novas tecnologias pode ajudar-nos a fugir aos malfadados custos de transporte e criar formas de vender software produzido nos Açores para todo o mundo.
Isto pode parecer utópico hoje, mas n é impossivel.
Jáchega de vacas, carne, leite. Tudo isso é importante, sem duvida, mas temos de nos orientar para novas realidades. O turismo ou a nova economia referida nesta texto podem ser exemplos disso.
Joca Santos
Confesso que não compreendi quase nada do artigo, porque assim que comecei a ler as palavras de 50€ [leia-se, caras] vi logo que, em termos de conteúdo, ia ser difícil discernir alguma coisa. Até porque o tempo é curto. Por isso vim aqui [da caixa de comentários do InConceto], e não dou meu tempo como perdido. De facto, o texto/artigo parece um rol de nadas, temperados com palavras/expressões que se aprendem na verdadeiras escolas da política [um prémio para quem adivinhar].
Sendo praticamente impossível, pelas razões que acima mencionei, contra-argumentar o artigo, prefiro fazer uma observação ao comentário de Joca Santos: se é certo que é possível, no futuro, haver exportações de softwares e tudo isso, será também verdade que para se chegar aí, há um sem-número de outras prioridade, essas sim, bastante actuais. Porque não o Berto Messias não trata delas? Porque razão prefere não escrever nada [no fundo, foi isso que fez]?
É muito triste notar que a gerações políticas vão ficando cada vez mais pobres com o passar do tempo.
E quanto ao texto do Pisca de Gente, numa palavra: genial!
PS: a escolas que falava são as jotas e, afinal, não há prémio.
BALEIA BRANCA
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