«Os cursos com médias mais altas, como Medicina, são tendencialmente preenchidos por alunos de famílias com mais recursos, revela um estudo na Universidade de Lisboa, que conclui que o acesso ao ensino superior não é “apenas uma questão de mérito”.»
Ou é de mim ou é óbvio. Pensar, ler, estudar exige estímulo, ambiente adequado, algum esforço e isso só é possível quando o meio envolvente cria condições e exige resultados.
Portugal vive muito para as fachadas, para as encenações. É um país, como em tempos disse um pensador, algo esquizofrénico. E muita boa gente julga que a sua vida pode mudar se... acontecer um milagre (por alguma razão somos um dos países que mais dinheiro gasta em jogos do tipo euromilhões). Mas os milagres são-nos por isso mesmo: por serem raros.
Portugal não tem, ao contrário doutros países, uma tradição tão classista como por exemplo o Reino Unido. Mas adopta os mesmos princípios escolares: mediocridade, indiferença, tédio, passatempo. Só que isso destina-se às classes baixas, já que as ricas frequentam outro tipo de escolas.
A educação anda há muito pelas ruas da amargura. Fruto de muitos anos de Salazar, a que se veio juntar uma democratização acelerada do ensino. E como se isso não bastasse, ao caldo de pais analfabetos, famílias desestruturadas, baixos rendimentos, altos consumos de álcool e drogas juntou-se a ideia de que a escola é inclusiva se for uma fachada. Isto é, se fizer com que todos transitem de ano de escolaridade mesmo sem terem adquirido conhecimentos (ou, como agora se gosta de dizer: competências).
A maior parte dos alunos não consegue concentrar-se senão durante mínimas fracções de tempo. Nas aulas, tudo se lhes afigura aborrecido. Os ritmos de estudo resumem-se a alguns minutos nas vésperas de testes. Acresce a dificuldade em distinguir o que é essencial do que é acessório, o não perceber o que é relevante ou axial e que justifica um determinado ponto de vista, ou ainda o transitar de ano sem ter adquirido conhecimentos (relacionar matérias, perceber a complexidade e a interdependência de assuntos, ...).
A maior parte, claro. Os tais que se julgam muito espertos por não serem capazes de executar determinado tipo de raciocínios e de tarefas.
Assim, entre 2003 e 2008, as vagas dos cursos que requerem notas mais elevadas, como Medicina, Belas Artes e Farmácia, foram preenchidas principalmente por alunos com origem em famílias mais favorecidas, cujos pais são “quadros dirigentes e superiores das empresas ou da administração pública, especialistas das profissões científicas e intelectuais, técnicos e profissionais de nível intermédio”.
Sócrates continua a trabalhar para o faz de conta e anunciou hoje ao seu partido que vai conceder bolsas de estudo a alunos entre os 15 e os 18 anos. Que eu saiba essas bolsas existem há muito e sempre deixam de fora alunos das classes médias baixas porque os rendimentos do agregado familiar sempre ultrapassam os plafonds que a lei determina. Ou seja, alguns dos que precisavam mesmo da bolsa não a obtêm. Mas isso que importa? O que interessa é que os títulos das notícias veiculem as boas intenções do PS e de Sócrates. Se isso vai ou não mudar alguma coisa só interessa a meia dúzia (e não é com meia dúzia que se ganham eleições).
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