09 março 2009

Stuart (1887-1961)



Baptizado José Herculano Stuart Torrie d’Almeida Carvalhais, o nosso ilustrador nasce em Março de 1887, em Vila Real de Trás-os-Montes, de pai português e mãe inglesa. Após vários anos em Espanha, regressa a Portugal em 1891. A sua irregular vida escolar termina após passagem pelo Real Instituto de Lisboa (1901-1903).
Além de ilustrador, Stuart foi desenhador, introdutor da banda desenhada em Portugal, fotógrafo, realizador de cinema, actor, decorador, cenógrafo, figurinista e designer gráfico.
Enquanto ilustrador, fez a ponte com a caricatura herdeira de Bordalo Pinheiro, apurada com o conhecimento de trabalhos de Corot, Seurat e Daumier, que lhe permitem ser um cronista perspicaz e cirúrgico.
Os anos 20 marcam o grande sucesso de Stuart. Em 1921, trabalha para o Diário de Lisboa e para o Batalha. Em 1922, desenha para o ABCzinho, reiterando o sucesso das suas peças nos suplementos infantis. Colabora ainda com A Corja, o Espectro, A Choldra e o Diário de Notícias, a revista Ilustração (a cuja fundação está ligado) e com o semanário humorístico Sempre Fixe. Como gráfico, soma encomendas: da ementa do Bristol Club, aos conjuntos de postais ilustrados realizados para a exposição de 1925 dos Mercados, ou à concepção da publicidade da Sassetti. É assim que, em meados da década, é o artista que contabiliza mais capas de livros e de pautas de música – trabalho gráfico em cuja investigação associa o desenho aos tipos de letra a usar e com o qual ganha dois prémios em concursos internacionais, em Itália e Espanha. Cenógrafo e figurinista de teatro (Teatro Nacional e Politeama), desenvolve actividade no cinema (em 1916, trabalha na adaptação a filme das Aventuras do Quim e do Manecas), passa pela aventura da realização (O Condenado, com Mário Huguin) e desdobra-se como actor, decorador, cenógrafo e gráfico.
Levou uma vida na qual o sucesso conviveu com o alcoolismo e a instabilidade financeira. Em termos artísticos, dedicou-se à experimentação de materiais inesperados, como papel de embrulho, tampas de caixotes, fósforos queimados (com que frequentemente traça composições).
Profundo conhecedor do basfond lisboeta, fixa a capital em manchados fundos de café ou vinho. Assim, elegante na ilustração, essencial na caricatura, cada personagem de Stuart detém, na representação, os conceitos que a ela estão associados. Negra e violenta, a miséria, como o vício ou a solidão, é caracterizada em traços rápidos e rugosos, gastos ou recortados, no contraste de preto e branco.

Morre em Lisboa em Março de 1961.

Texto adaptado a partir do de Emília Ferreira

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