06 março 2009

Kepler: um olho electrónico para espiar o espaço



A anos-luz da Terra, algures na nossa Via Láctea, uma anónima e modesta estrela alberga um pequeno planeta, feito de continentes de pedra, oceanos de água líquida e céus azuis. Tal como a Terra, esse planeta completa uma órbita em torno do seu sol em mais ou menos um ano. Não é nem muito quente nem muito frio: tem a temperatura ideal para o desenvolvimento da vida. Quem sabe, talvez já esteja cheio de vida... O que não daríamos para o ver!
O mais provável é que isso nunca venha a acontecer - mesmo um punhado de anos-luz são milhões de quilómetros a mais para os seres humanos lá chegarem em pessoa. Mas os astrónomos acreditam que é, contudo, possível fazer algo que se aproxima disso: estudar a atmosfera de planetas como este - se é que existem -, determinar se são habitáveis e descobrir eventuais sinais da presença de vida.
É um velho sonho da Humanidade, saber se estamos ou não sozinhos no Universo. O nosso "pontinho azul", como lhe chamava o conhecido astrónomo Carl Sagan, será único, ou haverá muitos outros como ele noutros cantos da Via Láctea e até de outras galáxias? E se houver muitos outros, haverá ou não vida neles? E se houver vida neles, será vida inteligente, consciente, ou apenas vida primitiva?
As respostas poderão vir através do novo telescópio espacial Kepler que a NASA se prepara para lançar para o espaço.
O novo telescópio, baptizado em homenagem a Johannes Kepler (1571-1630), pai da astronomia moderna, pesa uma tonelada e custou 478 milhões de euros. É basicamente composto por uma câmara digital de 95 milhões de pixéis - a mais potente de sempre a ser colocada no espaço - e de um espelho com quase um metro e meio de diâmetro. A abertura do telescópio é quase de um metro.
Colocado em órbita à volta do Sol, seguirá o rasto ao nosso planeta e ficará orientado para uma porção do céu visível do Hemisfério Norte da Terra, na direcção das constelações Cisne e Lira. Ao longo dos três anos (pode chegar aos seis) que deverá durar a sua missão, vai realizar um gigantesco "recenseamento planetário", olhando fixamente e simultaneamente para mais de 100 mil estrelas nessa região da Via Láctea.
Para detectar exoplanetas, o Kepler utilizará o método dito dos trânsitos, que consiste em detectar pequeníssimas flutuações da radiação, "piscadelas" na luz emitida pelas estrelas, devidas à passagem de um planeta à sua frente. O Kepler é um aguçadíssimo olho que o homem atira para o céu.
O Kepler fará observações em contínuo, sem desviar o olho dos seus alvos e sem pestanejar, e enviará para a Terra os dados recolhidos uma vez por semana.

Fonte: Público

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