24 junho 2008

Súplica de D. Inês de Castro, de Vieira Portuense


Há cinco meses foi identificado em França por René Millet, perito da leiloeira Pierre Bergé & Associés, o quadro Súplica de D. Inês de Castro do pintor português Francisco Vieira, o Portuense (1765-1805), que amanhã vai a leilão. Curiosamente, a obra vai a leilão, em Paris, quando Portugal e o Brasil comemoram os 200 anos da chegada da família real do Rio de Janeiro.

A reprodução apresentada no catálogo da leiloeira francesa mostra-nos pela primeira vez um quadro cuja existência era conhecida, mas do qual se tinha perdido o rasto. A Súplica de D. Inês de Castro foi uma das pinturas levadas por D. João VI quando, na sequência das invasões francesas, a família real portuguesa partiu para o Brasil.

O quadro: uma tela de grandes dimensões, com 196 centímetros por 150, executada para o Palácio da Ajuda na sequência da nomeação de Vieira Portuense como pintor régio, a 28 de Junho de 1802. Trata-se de uma obra de que se tinha perdido o rasto desde que fora levada para o Brasil, com a Corte Portuguesa, em 1807.

A partir daí, só se pode especular sobre qual terá sido o seu destino. Depois de ser deposto, em 1889, D. Pedro II partiu para o exílio, tendo morrido em Paris. O casamento da sua filha Isabel com Luís Filipe Gastão de Orleães criou o ramo Orleães e Bragança e é muito provável que a família tenha levado para França quadros que tinha no Brasil.

O director do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Paulo Henriques, diz que "seria bom poder comemorar a chegada da família real ao Brasil com uma peça que já foi património português". Tanto mais que prenuncia uma atitude romântica na pintura, ainda rara naquele tempo. Vieira - que morreu cedo, com apenas 39 anos, na Madeira - terá sido o primeiro a abordar em pintura o episódio de Inês de Castro.

A tela é considerada por Paulo Henriques uma "peça absolutamente essencial" para as colecções do Estado português. O Ministério da Cultura está a "desenhar uma solução" que permita a compra do quadro, com uma base de licitação entre os 120 mil e os 150 mil euros.

José Alberto Seabra, perito do MNAA, recorda que no Porto [em 2001 houve uma retrospectiva da obra de Vieira Portuense no Museu Nacional de Soares dos Reis] foram expostos os dez esboços a óleo que Vieira Portuense tinha realizado para o que pretendia que viesse a ser uma edição ilustrada de Os Lusíadas. Um dos temas escolhidos foi precisamente o do Canto IV: Inês de Castro suplicando ao rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro I, que lhe poupasse a vida. O óleo (que pertence a uma colecção privada) é já bastante semelhante à pintura definitiva.

[Fonte: Público]

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