29 outubro 2011

Para quem gosta de saber


Como é e como funciona a Opus Dei. Por que regras se rege e que tipo de benesses proporciona. Tudo aqui, em espanhol, e já depois da censura a que foi sujeito o sítio por ordem da justiça espanhola.
A Opus Dei trabalha tanto como uma agência secreta e mete numa bolsinha o tipo de coisas que se vê em filmes americanos.
Uma amostra: «Las inquietudes de un hombre de negocios o de un político, las preocupaciones de los sacerdotes diocesanos, lo que pueda oír la limpiadora de cualquier curia, o el conductor del automóvil de un político o de un Obispo, o un familiar próximo, o alguien cercano a la familia, el camarero del restaurante, etcétera, todo eso llega, de todo se toma nota o se juzga, y todo se recoge como el agua en los embalses. Es más, tratándose de Obispos, está indicado que todo miembro de la Prelatura que tenga algún contacto directo con la jerarquía debe redactar un escrito detallado para entregarlo a los Directores, sobre todo si en las conversaciones ha sido mentado el Opus Dei. Y, si esa persona no es capaz de redactarlo, se encarga de hacerlo quien recibe su charla de “dirección espiritual”.
De este modo los Directores nacionales y centrales del Opus Dei retienen información abundante sobre cada Obispo, por ejemplo, como un discretísimo “servicio de inteligencia” en el seno de la Iglesia, que va dejando constancia de todo y centraliza la información. Después, no es difícil diseñar una “política de relaciones públicas” para en cada momento promover la imagen que conviene o hacer pensar a otros lo que interesa. Y, al igual que con los Obispos, sucede lo mismo con casi todo. Como el gobierno de la institución influye en sus miembros a través de la dirección espiritual, es fácil servirse de ella para actuaciones institucionales interesadas, al modo de los grupos de presión. Esto ha ocurrido en política, en finanzas, en medios de comunicación y en otros ámbitos profesionales, y ocurre también en el seno de la sociedad eclesiástica. Ése es el “poder del Opus Dei”, que algunos dicen, sea en el Vaticano o en las curias eclesiásticas, en la política, en la educación o en las finanzas: algo muy distinto de la fuerza transformadora de la oración de los santos, a veces difícil de calibrar. Y así los límites entre organización de servicio y organización de poder se tornan muy borrosos y sutiles en la práctica. La supuesta finalidad estrictamente espiritual de la Prelatura se diluye por excesivamente “encarnada” en las conveniencias del momento.»
Ver também a reportagem da Visão, aqui.

O prazer dos trópicos

O calor faz aumentar a sudação e talvez dê azo a alucinações. Embora nalguns casos não se trate de delírio mas de simpatia. Passos Coelho simpatiza com a miséria com que se vive na América Latina e, homem de sorriso franco, distribui manteiga como um verdadeiro menino-escola: «Saudamos esta mudança. É uma mudança profunda que nos leva a rever os nossos hábitos de consumo e a revisitar o nosso tecido produtivo, e que nos obriga a reformar e renovar para voltar a ser competitivos e inovadores» diz ele, referindo-se à produção de riqueza, ao crescimento e ao emprego «que estão a ser liderados por novos actores e centros de desenvolvimento» como a América Latina.
A América Latina ainda se caracteriza por assimetrias brutais entre um pequeno grupo de multi-milionários e massas exploradas. Tanto assim que são os próprios a reconhecer que precisam agora de transformar esse crescimento em desenvolvimento económico e social.

Parole parole


Não, não é uma referência a um poema de Cesariny. Trata-se de plim, esse assunto de que os portugueses não gostam de falar. E tanto é assim que as instituições que falam do assunto (credo, cruzes, canhoto) o fazem ora a olhar para norte ora a olhar para sul, dependendo dos dias e do sítio onde falam.
Assim, no início do ano, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, definiu o aumento da taxa de poupança das famílias como um dos imperativos para a recuperação da economia portuguesa. Mas por estes dias veio dizer que o BP quer conter a autêntica corrida às taxas de juro de depósitos a prazo que está em curso entre os bancos nacionais.
O discurso da tanga é assim. Assobia-se para ficar bem no retrato e continua-se a fazer pela vidinha mal as câmaras viram costas.
Segunda-feira, 31 de Outubro, é o dia mundial da poupança. Que nos dirá o sapientíssimo Passos Coelho que prometeu, no discurso de tomada de posse, em Junho, lançar um Programa Nacional de Poupança, para «elevar a taxa de poupança e reduzir o endividamento das famílias e das empresas»?
Passos Coelho deve aparecer solene e majestático, qual guru, a reiterar que "Não vale a pena fazer demagogia sobre isto, nós sabemos que só vamos sair desta situação empobrecendo – em termos relativos, em termos absolutos até, na medida em que o nosso Produto Interno Bruto está a cair". Por isso, senhoras e senhores, o melhor é porem de lado essa coisa da poupança e darem já o dinheirinho ao Estado para que a crise continue e para que os ministros andem todos com ar pesaroso.

Essa corja do economês

Que matriz mental é dominante entre os economistas? A matriz do lucro. Apenas isso: lucro. O resto são migalhas. Arrotam postas de bacalhau porque têm o rei na barriga.
No entanto, as mesmas luminárias rapidamente usam os jornais, rádios e televisões para fazer sentir o seu incómodo quando lhes mexem no bolso. Nessa altura desatam a protestar como gente grande. Mas esperam sempre que o povo português fique sereno. Sem a serenidade do povo não podem fazer os negócios lucrativos.
Estão sempre preocupados com "dividendos" e com os prejuízos dos "mercados". A vida dos concidadãos interessa-lhes pouco, a não ser que daí possam colher dividendos.
Por isso, estão todos de acordo que o cidadão pague uma dívida que não é sua, por exemplo o buraco do BPN. E não disfarçam o sorriso com a perda brutal de poder de compra senão mesmo com a ruína das pessoas.
Quando falam em crescimento da economia estão a falar de quê? De uma justa distribuição da riqueza? Ou tão-só de um venha a nós o vosso reino, que vós continuareis pobres e tontos?

28 outubro 2011

De que é que o governo tem medo?

A Madeira aproveitou-se do dinheiro da pátria. O governo não quer que a Madeira volte às parangonas. Por isso, evita a todo o custo que se saiba qual é o buraco real e quem o vai pagar até ao último cêntimo. Até porque todos os buracos dão jeito para a campanha de privatização em curso de tudo o que é serviço público.

A oportunidade da recessão

A gula é o mais nobre dos princípios. E quem é guloso sabe que há negócios altamente rentáveis, se...
Por exemplo, se o estado abrir mão da saúde como há muito reclamam bancos e companhias seguradoras, o lucro vai ser brutal (se o Estado continuar a pagar a factura, claro). O pior é que os cidadãos perderiam direitos constitucionais. Que importa isso aos gulosos?
Há figuras que adoram vir a terreiro mostrar a sua vaidadezinha, à espera de receberem umas migalhas, claro.
Há decisões que cabem aos cidadãos. Se os cidadãos do meu país acharem, por maioria de dois terços que a saúde deve ser toda privatizada, eu terei de engolir em seco. Agora, acho inadmissível que uns borrabotas quaisquer andem por aí a cuspir nas paredes e a dizer que são artistas.

Enganar os portugueses... através do Brasil

Quem vai parar ao governo português é atacado por uma estranha bactéria que transforma as pessoas em mentirosos compulsivos e em troca-tintas repetitivos. Veja-se este case study chamado Passos Coelho. Diz ele (longe, lá para os lados da capital brasileira) que a retoma do padrão anterior (14 vencimentos) não acontecerá de forma automática e que existe a possibilidade de se manterem os 12 vencimentos.
Usa o termo "temporário" quando está farto de saber que quer passar isso a "definitivo".
E é este homem que interpelou Sócrates acusando-o de enganar os portugueses.

Este governo merece um grande aplauso

faz de todos nós, portugueses, bobos da corte e atrasados mentais. Ai, isto é só rir (para descomprimir e porque ainda não é taxado pelo governo).

Acabe-se com o Estado já!

Para que servem os funcionários públicos? Para nada. O governo devia despedir toda a gente: médicos, professores, enfermeiros, juízes, polícias, gestores, assessores, directores, secretárias, auxiliares. E para dar o exemplo devia primeiro demitir-se em bloco, pois ministros, secretários de estado e demais são funcionários públicos, pelos menos enquanto vigoram os mandatos e têm a confiança política do primeiro-ministro.
Assim, ficava toda a gente contente. Acabava-se de vez com o público e tudo passava a ser privado.
O Estado, como é do conhecimento público, não serve para nada. A criação e aplicação das leis faz-se por moto próprio. A saúde é um assunto privado e apenas deviam ser prestados cuidados aos que podem pagar - aos outros a eliminação pura e dura.
As pessoas não interessam para nada. O que importa é o DINHEIRO. Quem tem dinheiro, tem. Quem não tem dinheiro, deita-se fora.
Passos Coelho anda aos poucos a mostrar a quem o elegeu e a quem tem de o sofrer (a ele e a todos os Relvas trauliteiros) que o país não lhe(s) interessa um (aqui vamos citar um douto e ilustre PSD) pintelho.
Enquanto não conseguirem fazer da constituição que juraram respeitar um monte de papel inútil não descansarão.
A apatia da nação ajudá-los-á. A apatia é sempre um sintoma de que o país está no bom caminho e tem futuro.

27 outubro 2011

Há quem diga preto no branco que

Reforma da Justiça é forma de relançamento da economia.

A conselheira do Fundo Monetário Internacional (FMI), Estela Barbot, considera que a Justiça é o sector que mais penaliza os portugueses e a sua reforma, no âmbito da troika, lançará as bases para o relançamento económico. Note-se que fez questão de dizer que de todas as pessoas que falaram com a troika em Abril, "não houve nenhum grupo que não dissesse que a Justiça tinha de ser reformada", segundo as conversas que foi tendo com os responsáveis. No entanto, até agora, ainda nada foi feito.

Onde anda a Ministra da Justiça?

Essa coisa de ser yeyé tuga


O assunto em discussão é sério. Importantíssimo para o país. Sua excelência, o senhor deputado João de Almeida, porta-voz do CDS, está muito tenso e resolve por isso descomprimir, falando de algo que gosta: futebol.
«"Para descomprimir... Após "censo" realizado no Grupo Parlamentar do CDS, conclui-se que existem: 12 Deputados do Benfica; 7 do Sporting; 2 do Belenenses; 2 da Académica e 1 do F.C.Porto", escreveu o deputado João de Almeida às 15h30 na sua página do Facebook, hora a que decorria no Parlamento o debate sobre o orçamento rectificativo». 1
A nação, claro, paga salários elevados aos deputados para estes descomprimirem quando lhes dá na veneta.

O governo dos dois rostos ou as mentiras com que se enganam os portugueses

Quem sabe ler sempre detecta pormenores que a outros escapam. Veja-se o que diz António Carlos dos Santos, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de António Guterres: "Se é uma medida temporária, devia ser contabilizada como medida 'one-off' [temporária] no relatório do Orçamento do Estado, mas a única medida 'one-off' é a integração de fundo de pensões [da banca na Segurança Social]". E vai até um pouco mais longe e afirma que "há um discurso interno para o pessoal e sobretudo para o Tribunal Constitucional e um discurso externo que transparece dos quadros enviados para Bruxelas de que [a suspensão dos subsídios de férias e de Natal da administração pública e dos pensionistas] é uma medida para ficar, de corte puro e duro".
Ou seja, o governo tem dois rostos, um para os portugueses, outro para o exterior.

Fonte

26 outubro 2011

Fala Santana Castilho

Passos Coelho protegeu Jardim e escamoteou quem saldaria o escândalo. Sabemos agora que são os funcionários públicos e os pensionistas. Na segunda, enquanto os responsáveis pelo tenebroso roubo permanecem impunes, os contabilistas que governam venderam o BPN ao desbarato, limpinho das dívidas colossais. O povo vai pagar e pedem-lhe agora que não bufe, por causa dos mercados.

atirando o investimento na Educação para o último lugar da União Europeia, ao nível dos indicadores do terceiro mundo, não só não desce o financiamento do ensino privado como o aumenta em nove milhões e 465 mil euros;

pareceres e estudos aos grandes gabinetes de advogados e outros protegidos do regime (...) 100,7 milhões

13 milhões e meio para despesas de representação dos titulares políticos;

Público

Notícias seguidas de dúvidas

Sucedem-se a um ritmo vertiginoso. Como se fossem um sinal:

«De acordo com a média das estimativas de cinco analistas sondados pela Reuters, a EDP deve ter tido um lucro de 801 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, ligeiramente acima dos 774 milhões de euros registados no mesmo período do ano passado. (...) Já o EBITDA, que é o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, deve ter aumentado 12% até Setembro, face ao período homólogo, para uma média de 2,71 mil milhões de euros.» 1

«Dois investigadores do M.I.T. publicaram ontem um livro defendendo que as inovações tecnológicas estão a amplificar a diminuição de postos de trabalho originada pela recessão económica.
(...) Pelas suas contas a produtividade cresceu 2,5% na última década, mas esse crescimento não teve correspondência na criação de postos de trabalho.» 2

«"O que verdadeiramente preocupa o Governo são as pessoas", disse Álvaro Santos Pereira, sublinhando que o Governo não quer "de modo algum retirar direitos aos trabalhadores".» 3

«A taxa de desemprego em 2012 pode vir a ser superior aos 13,4% estimados pelo Governo, colocando uma pressão adicional sobre as despesas com prestações sociais e consequentemente sobre o défice, considera a Unidade Técnica de Apoio Orçamental.» 4

«O Bloco de Esquerda garantiu hoje que as injecções de dinheiro no BPN ascendem a 8,5 mil milhões de euros segundo a proposta de Orçamento do Estado para 2012 e exigiu ao Governo "informação com transparência" sobre este caso.» 5

«A proposta do Orçamento do Estado para o próximo ano tem pelo menos uma particularidade nunca vista: uma verba destinada a salários da Função Pública que está posta de parte e classificada como despesa excepcional. E o montante não é pequeno: são 360 milhões de euros. (...) vários especialistas admitem que vise financiar rescisões e mobilidade especial.» 6

«Na primeira apresentação do Orçamento do Estado para 2012, Vítor Gaspar disse que o buraco colossal do défice previsto para 2011, avaliado em 3,353 mil milhões de euros, é explicado em um terço (mil milhões de euros) por desvios temporários (ligados às contas da Madeira e ao BPN).
O restante é explicado por "um desvio não temporário" de 2,4 mil milhões que se deve, essencialmente, a receitas não realizadas, a derrapagens nos consumos intermédios e a novas despesas de capital.» 7 (Veja-se bem onde há buracos.)

«O Estado vai endividar-se em mais de 8 mil milhões de euros para pagar à banca os empréstimos que concederam às empresas públicas e ao Banco Português de Negócios (BPN), anunciou hoje o secretário de Estado do Orçamento.» 8

O governo de Passos Coelho parece querer despedir muita gente da função pública. Por entender que isso é necessário ao equilíbrio das contas públicas? Ou por entender que a economia vai crescer com tanto desemprego? Ainda há não muito o valor das empresas subia em bolsa quando os despedimentos aconteciam. O governo, claro, não conta com valorizações em bolsa, apenas com o apreço internacional. E com a possibilidade de alterar a constituição sem lhe ter mudado uma vírgula (deixou cair o assunto, mas movimenta-se com grande à-vontade nas mexidas na Saúde, Educação e Segurança Social).
Quando os tugas andarem aí de mão estendida, contentes pelo estado assistencial que o governo está a criar, a nossa economia vai crescer muito e, nessa altura, vamos todos ser muito felizes.
Os empregos vão ser tantos que a imigração vai aumentar exponencialmente.

25 outubro 2011

Perda de soberania e provincianismo

Chegamos a isto: o governo de Portugal trabalha para procurar agradar aos governos de outros países.
Que se saiba o governo de Portugal resulta da coligação de dois partidos que foram maioritariamente votados pelos portugueses em eleições democráticas. Não me recordo de haver nem no programa eleitoral do PSD nem do CDS nenhuma alínea onde se afirmasse que se fossem governo cederiam a autonomia do país à Alemanha ou à França. Mas parece que chegamos a isso. Quem o diz é nem mais nem menos do que Passos Coelho: «a alternativa de criar um imposto extraordinário sobre os subsídios “não era algo que o Governo pudesse aceitar”, visto que “dificilmente seria considerado um exercício credível lá fora”.» (vide Público).
Que miséria. Que governo triste.

24 outubro 2011

Até os juízes acham que:

Portugal pode chegar a uma "situação insustentável de desagregação social" ou mesmo a uma "crise no sistema democrático" devido às medidas de austeridade impostas pelo Governo.
Os sacrifícios pedidos aos portugueses "para serem compreendidos e aceites, têm de respeitar os princípios constitucionais da necessidade e da proporcionalidade, incidindo sobre todos os rendimentos".
Segundo a Associação Sindical dos Juízes Portugueses "a eliminação, disfarçada de suspensão duradoura, dos subsídios de férias e Natal" dos funcionários públicos não respeita a equidade e "constitui uma medida violenta, injusta, discriminatória e flagrantemente violadora da Constituição".
"Esta medida diminuirá de maneira drástica as condições de vida e dignidade duma parcela de portugueses (...) e conduzirá à insolvência económica e ao desespero de muitas famílias, que se verão impossibilitadas de cumprir os seus compromissos e de levarem uma vida digna".

Lido aqui.

E para puxar ao sentimento, isto:

Um exemplo que vem de cima

O Parlamento devolve ao Tesouro os montantes dos subsídios de férias e de natal, ao contrário dos "notáveis" que continuam a receber pensões embora estejam no activo e com salários muito elevados. A notícia pode ser lida aqui.

23 outubro 2011

Da Politeia


... «o maior dos castigos é ser governado por alguém pior do que nós» ... in A República, de Platão, tradução de Elísio Gala, Guimarães Editores, 2005

Por vontade pessoal... por vontade pessoal... não terá sido, mas a gente faz de conta que sim

Demorou a abdicar. Fá-lo com má cara (ninguém gosta que lhe retirem regalias) e visivelmente irritado. Pena que não o façam todos os outros, mesmo que não tenham casa própria em Lisboa. Podia-se parafrasear o primeiro-ministro e dizer que já ganham muito acima da média dos portugueses. A situação é absolutamente excepcional e o país não pode pagar luxos.
Acho que todos os ministros deviam seguir o exemplo e acabar com motoristas, encargos com flores, água engarrafada e o mais, para ver se se diminuem as "gorduras".
Posso esperar sentado, claro, que nada disso vai acontecer, mas não custa deixar aqui um alerta, mesmo que mínimo.
Creio que ao populismo deve sempre responder-se com populismo e meio. De resto, para se renunciar a uma coisa não são necessárias tantas explicações (compreensíveis por lhe meterem a mão no bolso)., bastava apenas o anúncio de que renunciava porque a situação do país é absolutamente excepcional e um ministro é alguém que exerce funções de servidor do Estado e não alguém que se serve do Estado.

É um fartar de benesses mesmo com a crise

O ex-patrão e amigo de Passos Coelho é Ângelo Correia, presidente da Fomentinvest, onde Passos Coelho trabalhou antes de assumir a liderança do PSD.

Ângelo Correia é um dos gestores de topo que recebe uma subvenção vitalícia por ter sido político no activo. Manuel Dias Loureiro, ex-administrador da Sociedade Lusa de Negócios, holding do BPN, e ex-conselheiro de estado é outro indivíduo que ainda acumula a pensão com o salário.

Ao todo, segundo o DN, são mais de 400 ex-políticos de todos os quadrantes, à excepção do BE, ainda beneficiam desta benesse que foi revogada em 2005 pelo PS. Armando Vara e Jorge Coelho são outros dos nomes referidos.

A crise sob o olhar de uma astróloga


Com a crise a fazer mossa, nada como passar os olhos pelo horóscopo semanal da Maya. A próxima semana vai ser excelente ou aparentada para quase todos. Senão, veja:
«No plano material, esta semana abrem-se novas perspectivas de trabalho e expansão de actividades ou novas abordagens de matérias.» - Carneiro
«No plano material, se pretende efectuar mudanças, chegou o momento para fazê-lo.» - Touro
«No plano material, não se deixe desorientar, mesmo que surjam contratempos.» - Gémeos
«No plano material, conseguirá gerir a vida económica com grande lucidez.» - Virgem
«No plano material, a pressa será a maior inimiga do êxito e da perfeição.» - Balança
«No plano material, possibilidade de ser confrontado com propostas, mas nem todas bem intencionadas.» - Escorpião
«No plano material, estará muito lutador e com vontade de superar todas as dificuldades.» - Sagitário
«No plano material, pode resolver importantes diferendos e obter progressos.» - Capricórnio
«No plano material, é um período em que, se actuar no momento certo, conseguirá êxito e prosperidade.» - Peixes
Mal mal estarão estes. «Tendência para pequenas e constantes dificuldades no plano material.» - Caranguejo
«No plano material, tenha em conta que não pode gastar tudo o que ganha.» - Leão
«No plano material, algumas armadilhas ou assuntos fluem à sua revelia.» - Aquário

Senso comum


Ouve-se muita gente perguntar: se se tomam medidas tão duras é porque são necessárias. E o comentário inevitável é: não faz sentido pensar de outra maneira.
Ora, se assim fosse nunca haveria grandes chatices e elas sempre aconteceram e tantas vezes com resultados gravíssimos.
Recordam-se da chegada de Hitler ao poder? Estava tudo bem, ele era inócuo e depois foi o que se viu.
O tempo passa e nos dias de hoje estamos nisto: «Com as devidas proporções, a atitude da Alemanha para com a Grécia não parece muito longe da lógica das reparações da Primeira Guerra Mundial - pagar um elevado preço pelos erros cometidos - que lhe foram impostas nos anos 1920 com todas as consequências conhecidas. Ninguém parece, em contrapartida, lembrar-se do papel que o Plano Marshall desempenhou na reconstrução da Alemanha depois da II Guerra» (Isabel Arriaga e Cunha, no Público de hoje).
Já Teresa de Sousa diz, no mesmo jornal: «O problema europeu é que as suas lideranças, estejam elas em Berlim ou em Paris, em Bruxelas ou noutro sítio qualquer, não conseguem libertar-se de uma visão paroquial e limitada para abraçar uma visão global sobre o papel da Europa no mundo que entretanto mudou radicalmente à nossa volta. Parece demasiado vago? Não é. Seria a única forma de fazer juntar aquilo que hoje parece oposto. De encontrar um novo e poderoso interesse comum. O interesse alemão com o interesse francês ou o italiano ou o polaco ou o português e o finlandês. Mas para isso era preciso que a Alemanha pensasse um pouco mais em termos estratégicos, que a França tivesse alguma humildade política, que todos conseguissem ver um pouco mais longe do que o dia seguinte e um pouco mais fundo do que o seu interesse político imediato. "Os Estados-membros ainda não estão totalmente convencidos que a Europa pode ser rapidamente relegada a um papel secundário, devido às transformações aceleradas do contexto geopolítico", diz António Vitorino. Enredados nesta gestão errática da crise, profundamente divididos, olhando para dentro e não para fora, perderam a visão de conjunto e nem sequer querem ver como o resto do mundo os encara. "O que o mundo não percebe é que os credores e os devedores são todos membros de uma união monetária, que por acaso é também uma das regiões mais ricas do mundo", escreve Simon Tilford, do Center for European Reform. Tão simples como isto. Precisamente o que os europeus não são capazes de ver.»
Vale a pena ler isto (em francês).

Não quer pagar impostos? Aqui fica a lista de offshores

Andorra; Anguilla; Antígua e Barbuda; Antilhas Holandesas; Aruba; Comunidade das Bahamas; Bahrein; Barbados; Belize; Ilhas Bermudas; Campione D'Italia; Ilhas do Canal (Alderney, Guernsey, Jersey e Sark); Ilhas Cayman; Chipre; Ilhas Cook; República da Costa Rica; Djibouti; Dominica; Emirados Árabes Unidos; Gibraltar; Granada; Hong Kong; Lebuan; Líbano; Libéria; Liechtenstein; Luxemburgo; Macau; Ilha da Madeira; Maldivas; Malta; Ilha de Man; Ilhas Marshall; Ilhas Maurício; Mónaco; Ilhas Montserrat; Nauru; Ilha Niue; Sultanato de Omã; Panamá; Federação de São Cristóvão e Nevis; Samoa Americana; Samoa Ocidental; San Marino; São Vicente e Granadinas; Santa Lúcia; Seychelles; Singapura; Tonga; Ilhas Turks e Caicos; Vanuatu; Ilhas Virgens Americanas; Ilhas Virgens Britânicas.

Sempre a mesma tónicas nas empresas, mas depois é que se vê

Não há gato pingado com cargo público que não encha a boca para falar do emprego, das empresas, do mérito, da excelência e do mais. Os nos passam e a riqueza criada pelas empresas é a que se sabe. O desemprego não pára de aumentar. O consumo não pára de cair e as exportações não aumentam, até porque grande parte das empresas não sabe vender para fora - risco é uma palavra que desconhecem.
Mas isso não é nada comparado com o despudor com que gente como Mira Amaral abre a boca para dar lições de moral. Recordemo-nos que, apesar de ser banqueiro e de estar no activo, recebe uma reforma de 18 156 euros mensais da CGD. Como ele diz, ainda se pode pagar pensões. Pois pode, só ele leva do Estado esse pequeno montante, desde 2004.
Quando gente desta diz que não devemos viver acima das nossas possibilidades, perguntamo-nos onde está a fiscalização. Porque não se acaba durante os próximos dois anos com este tipo de injustiças. Basta usar o argumento dos próprios: o patrão está falido.
O que é mais engraçado é que são pessoas assim que estão sempre a pedir sacrifícios aos outros sem que dêem nunca o exemplo, ao prescindir dos tais direitos.

A agenda oculta do PSD é cada vez menos oculta

A pouco e pouco vai-se percebendo a ideia do PSD para a educação.
Fica sempre bem negar, com ar compungido senão mesmo indignado, a criação de elites, mas, na verdade, há anseios de poder que é preciso assegurar e acreditam muitos que isso só é possível para alguns. Embora a constituição propugne a igualdade de acesso, o PSD não está para aí virado e acha que o poder só deve estar ao alcance de uns quantos. A democracia é, assim, uma fachada para a manutenção de interesses particulares, à custa do dinheiro de todos.
Para denegrirem a escola pública, falam em "quantidade" e para enaltecerem a escola privada falam em "qualidade". Vale a pena referir que os professores foram todos, sem excepção, formados em escolas públicas? E porque não perguntar: se uma escola é particular, para que raio recebe dinheiros públicos? A constituição dá um jeitaço para fazer negócios, ao defender o ensino obrigatório e gratuito. Ora, num colégio paga-se e bem. Não é gratuito. Para que recebe dinheiro dos nossos impostos? E como se entende que aumentem a dádiva estatal numa altura em que se fazem cortes brutais na escola pública?
À falta de argumentos, usam-se os sindicatos como bode expiatório. No que parece ser a estratégia retórica do PSD para convencer o povo. No tempo de Salazar a causa de todos os males eram os comunistas...
Outro dado relevante para as tais comparações entre público e privado é o da escolha de alunos. Os privados podem escolher, o público tem de se sujeitar. Os privados não têm de lidar com adolescentes ou crianças oriundos de bairros problemáticos ou de famílias sem recursos nem formação. Os privados podem oferecer actividades extra-curriculares (cada uma é paga). E podem impor aulas extra para os casos complicados, sob pena de expulsão.
Que interessam as variantes, se para o PSD tudo o que é público é apenas um desperdício de dinheiro? (Apenas não o é quando estão em causa regalias próprias, como subsídios de alojamento e afins...).
Às vezes a gente pergunta-se, se voltássemos aos anos 30 do século passado será que os do PSD andavam por aí a defender a eugenia?

22 outubro 2011

Para recordar a Passos Coelho daqui a seis meses

Já ouviram falar do Calimero?



Um vídeo que questiona

Do "bando de mentirosos"

Dois membros do Governo que têm casa própria em Lisboa recusam a ideia de não receber o apoio que lhes foi dado por a residência permanente estar a mais de 100 km da capital.
Em tempos de crise uns podem ver o pouco que recebem cortado. Os que são mais ricos nunca querem. Vai daí, um dos militares de Abril já diz o que vai na boca do povo: o poder foi tomado por um "bando de mentirosos".

«Não dizemos hoje uma coisa e manhã outra...»

Da falta de indústrias no nosso país


Há notícias que caem que nem ginjas. E quase despertam a esperança de que Portugal vai encontrar saída para o atoleiro onde se encontra.
Segundo o Expresso, somos o quinto produtor mundial de lítio, matéria-prima para baterias de carros eléctricos cuja procura vai quadriplicar nos próximos 10 anos. O lítio é também utilizado na indústria electrónica, nomeadamente em telemóveis, na indústria farmacêutica e prevê-se que venha a ter cada vez mais aplicações na indústria aeroespacial e também na área militar.
«O problema é que Portugal apenas vai até à produção de concentrado de lítio, ou seja, não acrescenta mais valor ao seu produto, tendo que o vender em bruto para os smelters (proprietários de fundições) de outros países. Esses, sim, é que entregam à indústria automóvel o lítio pronto para ser utilizado em baterias de carros elétricos. São também estes intermediários que faturam uma parte considerável do processo de transformação do lítio.»
Ou seja, os nossos problemas repetem-se. Temos a matéria-prima mas não a trabalhamos, apenas a exportamos. No entanto, há a possibilidade de se virem a formar parcerias para a criação de uma fundição em Portugal. E se isso vier a acontecer, Portugal ficará com mais alguns recursos financeiros.

21 outubro 2011

O jeito que dão os bodes expiatórios

Outro dado curioso é que há economistas que dizem que há já muito que se sabia que o ritmo de endividamento do país era perigoso. Uns falam em 15 anos, outros vão mais longe. Mas para os que querem que o país enverede por um rumo neoliberal, faz-se de conta que o culpado de tudo é o senhor Pinto de Sousa. Talvez por quererem que os compatriotas esqueçam de que desde que assumiram o governo já vamos no terceiro pacote de austeridade. Ou seja, batem o senhor Pinto de Sousa aos pontos. E atiram o país para uma recessão muito perigosa.

O exemplo que vem de cima

No nosso país os cortes são para aqueles que não podem fugir deles. Como foram sempre.
Numa altura em que a crise é... tão grande, que exemplo dão os governantes? Andam de motorista, recebem subsídios para viverem em sítios onde têm casa. Já o pagode tem de sofrer cortes nos salários com que contam para... sobreviver.
Veja-se o caso do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, recebe todos os meses cerca de 1400 euros por subsídio de alojamento apesar de ter um apartamento seu na área de Lisboa onde reside durante toda a semana.
A mim faz-me espécie que numa altura supostamente tão má as mordomias se mantenham inalteráveis: políticos que recebem pensões.... por terem sido políticos. Políticos que ao seu salário (bastante alto para o nível médio salarial do país) juntam subsídios, ajudas de custo e outras regalias que estão vedadas ao comum dos cidadãos.
O problema deve ser meu, que percebo tudo ao contrário. Devia estar contente por haver dois pesos e duas medidas. Uma, para o comum dos cidadãos. Outra para quantos juram cumprir com lealdade as funções que lhe são confiadas.

20 outubro 2011

Propostas

Fala Bagão Félix: «se eu tivesse de definir um modelo de IVA de início, criava três taxas. Uma mínima para os produtos consumidos por toda a população e que têm um peso importante nos orçamentos familiares. Depois, uma taxa normal. E, por último, uma taxa bastante mais alta para produtos de luxo, sumptuários, que normalmente são importados e contribuem para o desequilíbrio da balança comercial.
Se uma pessoa quiser ter um automóvel de luxo ou comprar uma jóia – produtos que são absolutamente dispensáveis e importados – pagaria uma taxa maior. E as pessoas perceberiam. Quem compra um carro de grande cilindrada, tanto compra com IVA a 23% como a 35%. Não faz é sentido que, para comprar um automóvel de grande cilindrada, se pague a mesma taxa que se paga na luz de casa ou na papa de bebé.»

Maneiras de dizer as coisas

Os jornais têm o péssimo hábito de ser meros veículos de propaganda de instituições públicas e privadas. O que causa sempre confusão. E como se costuma dizer, em terra de cegos...
Diz o Público: «O défice do Estado atingiu em Setembro os 6,5 mil milhões de euros, uma melhoria de 2,7 mil milhões face ao ano passado. A receita está a crescer acima de 5% e a despesa total está em queda.»
Quem ler a notícia assim a seco fica com a ideia de que está tudo bem. São quase só sinais positivos.
Noutro jornal, o Económico, os dados são menos optimistas: «Depois de dois meses de contracção, a dívida directa do Estado retomou a sua tendência de subida.
De acordo com dados do boletim mensal de Outubro do IGCP, a entidade responsável pela gestão da Tesouraria e Crédito público, o saldo da dívida directa do Estado registou um incremento de 5,5% em Setembro face a Agosto, fixando-se no valor histórico de 178.165 milhões de euros, o equivalente a 16.878 euros por português.
Esta evolução traduz-se também num aumento homólogo de 20,59%, o segundo aumento homólogo mais elevado de sempre, apenas superado pelo aumento homólogo de 20,88% verificada em Junho deste ano.»
Como se pode ver, aquilo que pareciam rosas são, afinal, espinhos. O governo continua incapaz de conter a despesa. «Desde o início do ano que a dívida directa do Estado não tem parado de crescer. Segundo os dados do IGCP, o "monstro" da dívida tem crescido a um ritmo diário médio de 96,7 milhões de euros, que se traduz num aumento anual de 17,4%.»
Ora, os economistas podem sentar-se todos à volta da fogueira onde se queima Portugal e dizer que assim é que é, mas enquanto não se atacar o problema (já sabemos que com custos elevados para muitas pessoas e empresas) não se sai da cepa torta.
Quem trabalha com números pode sempre fazer muitas construções, mesmo que isso seja irrelevante na hora de pagar: o buraco alastra diariamente a um ritmo assustador.

O luxo de viver em Portugal

«O Director-Nacional, os três Directores adjuntos e o Inspector Nacional da PSP aumentaram-se a si próprios já no ano passado, colocando-se logo no novo regime remuneratório da polícia, deixando para trás a esmagadora maioria do efectivo que não transitou para esta tabela, em vigor desde início do ano. Só para o "chefe" máximo foram mais de 800 euros mensais.
Os aumentos foram processados quando era Director Nacional o superintendente-chefe Francisco Oliveira Pereira, que se aposentou em Abril deste ano, e Director-Nacional Adjunto de Operações e Segurança, o superintendente-chefe Guedes da Silva, actualmente o chefe máximo.
A iniciativa foi discreta e, até agora, rodeada do maior secretismo, mas uma auditoria realizada este ano à PSP pela Inspecção-Geral de Finanças (IGF) veio revelar a "traição" dos Directores aos seus homens.»

DN

Voltamos a insistir neste ponto importante e que caracteriza o nosso país há séculos: muitos dos titulares de cargos abusam do poder que têm e são maus gestores. Isso causa sempre graves problemas ao erário público e ao desenvolvimento do país.

19 outubro 2011

Do desconhecimento

«O momento mais interessante da conferência de imprensa em que Vítor Gaspar apresentou o OE 2012 não foi o dramatismo com que explicou a difícil situação do País. Nem foi a coragem com que lembrou não haver margem para renegociar o programa de ajustamento. Nem foi o anúncio do agravamento da pena de prisão para fraudes fiscais. Foi quando declarou não conhecer as necessidades de financiamento das empresas públicas.»

Camilo Lourenço

Este OE é uma canção de despedida. Um disco riscado

«2012 será pior do que muitos imaginavam. 2013 poderá ser ainda pior do que todos calculavam. Mas quem ocupou e usufruiu do Estado durante anos e construiu este regime de compadrios e cumplicidades pode dormir descansado. Quem paga é quem não pode fugir. E já não tem força para emigrar.»

Fernando Sobral

Os números e o que disseram

«Para o próximo ano, estão orçamentados 7,8 mil milhões de euros em consumos intermédios. Um corte de 20% é sensivelmente igual a 1,6 mil milhões de euros, praticamente o mesmo que o Governo consegue com os cortes dos subsídios de Natal e de Férias a três milhões de funcionários públicos e pensionistas. Ou seja, com um corte profundo nos consumos das Administrações Públicas é possível evitar as medidas drásticas que os portugueses vão suportar no próximo ano.

Há um ano, por esta altura, o PSD de Pedro Passos Coelho, então na oposição a José Sócrates, apresentava a sua estratégia para resolver o problema orçamental.

Tudo começava nos consumos intermédios. Antes de qualquer outra medida, deviam-se atacar as gorduras do Estado. Nos ministérios, nas empresas públicas, nos hospitais, nas escolas viviam todos com enormes desperdícios da água, da luz, de papel e todos os outros materiais. Resolvendo isto, estava meio caminho andado para consolidar as contas públicas. Na altura, Carlos Moedas, hoje secretário de Estado responsável pelo acompanhamento do memorando com a ‘troika', citava estudos que falavam de cortes de milhões e mais milhões nos célebres "consumos intermédios". E não foi o único a defender essa teoria. O actual ministro da Economia, ainda na pele de professor universitário, também falou abundantemente sobre a mesma teoria no seu último livro - "Portugal na Hora da Verdade".»

Bruno Proença

Os doutos e hábeis banqueiros


Os banqueiros, pobres e tristes, andam aí pelas ruas da amargura a comer o pão que o diabo amassou. São as piores vítimas de tudo. Contribuem exemplarmente para a crise, sofrem no dia a dia a carência alimentar e, como se não bastasse, ainda são obrigados a andar sob os holofotes da comunicação "social". Veja-se aqui o nosso querido Ricardo Salgado a dar manteiga onde já há muito sebo: "O Governo teve uma enorme coragem. Julgo que é o buraco da agulha por onde podemos passar para voltar a ter credibilidade", afirmou Ricardo Salgado numa conversa com os jornalistas, na sede do BES, em Lisboa, citado pela Lusa.

Os pantomineiros da economia

Portugal tem um dom: a qualidade exemplar dos nossos economistas. Abrem a boca e saem pérolas e diamantes. Por exemplo, coisas deste quilate: "enquanto sociedade não há limites para o sacrifício" afirmou Vítor Bento.
Como se começa a explicar de mansinho, qualquer aumento do IVA tem sempre um efeito mais agressivo na factura para os rendimentos mais baixos, porque estas pessoas têm pouca margem para poupar e reduzir o consumo.
Ora, entre subidas de impostos e cortes na despesa pública, as famílias portuguesas vão suportar cerca de três quartos da poupança recorde no défice orçamental no próximo ano.
Depois, não deixa de ser curioso verificar que o tal consumo exagerado dos portugueses é puro engodo. A distribuição da receita arrecadada com o IRS mostra a concentração enorme que existe sobre a classe média e média alta, fruto da progressividade grande das taxas: quem declara acima de 40 mil euros anuais brutos representa 9% do número de declarações de IRS, mas 74% da receita total arrecadada.
Será por isso que até o Presidente da República veio a terreiro apontar falhas na "equidade fiscal" do Orçamento de Estado para 2012 ao taxar um "grupo específico", ou seja, a redução dos subsídios da função pública e dos pensionistas?
Aos iluminados da nossa economia (que andaram estes anos todos a dormir de olhos abertos) ficava-lhes bem serem pedagógicos e dizerem como pode a economia crescer; o que é preciso para produzir mais; onde estão as gorduras que o Estado tem de cortar. Porque para generalidades não é preciso ser-se doutorado.

Scarlettjohanssoning



“Scarlettjohanssificar-se” é tirar fotos com o telemóvel nas mesmas poses da actriz. E divulgá-las, seja por MMS, seja em sites como estes: http://scarlettjohanssoning.com/ ou http://weknowmemes.com/2011/09/johanssoning-naked-tush-meme/.
Tudo começou quando algumas fotos íntimas no iPhone da actriz norte-americana ficaram à mercê de hackers, no início de Setembro. As imagens, que correram mundo, rapidamente deram origem a paródias onde vale tudo. Basta ires até lá na tua prancha virtual.

18 outubro 2011

Belmiro é que sabe

Fala Belmiro de Azevedo: a execução orçamental portuguesa é igual à da Madeira.

Os portugueses têm de se organizar e produzir melhor


João Salgueiro é taxativo. "Não interessa só ter um projecto para o Estado. Temos de ter um projecto para o país."
Onde está esse projecto? Quando é que o Álvaro pára de dizer generalidades e apresenta trabalho?
João Salgueiro defende uma reforma na administração pública, por haver “organismos a mais e intervenções a mais”, salientando que não se trata de “um problema das pessoas, mas sim do sistema”. “Os portugueses têm todo o direito de querer viver melhor, como outros europeus, mas para isso têm de produzir o mesmo”.

Falar para os outros é fácil, mudar já é outra coisa

Lá vêm estes gajos outra vez com a chatice dos cortes

O Governo não vai impor ao Banco de Portugal que volte em 2012 a cortar salários e agora também os subsídios de férias e de Natal, respeitando a autonomia da instituição. Tal como aconteceu com o corte salarial decretado para este ano, só o governador do Banco de Portugal poderá tomar essa decisão.
Que diz o douto Carlos Costa? Que não comenta. Está, claro , mais preocupado com os outros: por isso fez questão de dizer que o programa de ajustamento não é o fim do caminho que Portugal tem de fazer rumo à sustentabilidade, ou seja, segundo ele a "disciplina financeira" tem de continuar após 2014. Que disciplina é essa? Ora, meus amigos, é cortar os salários aos outros.

Fontes 1 e 2

Frases 8

"Este [Orçamento de Estado para 2012] é um grande PEC e esperamos que, pelo menos, não iluda a realidade. Tomamos medicamentos para uma doença, essa doença agrava-se e os medicamentos deixam de fazer efeito", disse Bagão Félix à TSF.

17 outubro 2011

O prazer do jogo

O Orçamento de Estado para 2012 é, segundo vários analistas económicos, um tiro no escuro: a tentativa de Portugal dizer aos mercados que cumpre exemplarmente as suas obrigações, na esperança de poder voltar aos mercados para adquirir liquidez.
Os mesmos analistas são unânimes na dúvida de que tal seja possível. E se não for, Portugal é atirado para um redemoinho de recessão. Ou seja, durante mais de uma década viveremos sob os efeitos de uma guerra: desemprego, perda de salários, emigração em massa, cortes e mais cortes.
Neste orçamento, ao contrário do que foi prometido por diferentes ministros, não há sinais de medidas estruturais. Isto é, nada se diz sobre a reestruturação do Estado, sequer naqueles aspectos que tanto abespinhavam Passos Coelho e Marques Mendes, como redução de fundações, institutos e outras "gorduras" do Estado. Nicles. Nadinha.
Para já, a certeza de que se pode dizer adeus aos subsídios de férias e de Natal. Despediram-se no ano da graça de 2011.
Este governo dá sinais evidentes de que não faz melhor do que o governo de Sócrates: vai de corte em corte sem rumo à vista. Espera apenas que seja possível um milagre.

Sinais da agenda oculta do governo

«Primeiro, apesar de cortarem na educação pública o triplo do previsto, acabam de aumentar o financiamento do ensino privado de 80 mil para 85 mil euros por turma. Segundo, apesar de outros custos, como os da energia, terem tanto ou mais peso na estrutura de custos das empresas do que os do trabalho, preferiram aumentar o horário de trabalho e simultaneamente aumentar brutalmente os custos com a electricidade (IVA de 6 para 23 por cento), apesar dos efeitos contraditórios e recessivos disto e de o secretário de Estado da Energia ter proposto que tal fosse coberto pela EDP (gere um monopólio natural, tem "lucros excessivos" - troika dixit - e um chairman com um vencimento obscenamente milionário, mas que não será cortado: trabalha no privado).»

André Freire, idem

Frases 7

«O primeiro-ministro anunciou aquilo que, quando foi a votos, sempre tinha dito que não faria: eliminação dos subsídios de férias e Natal dos servidores públicos e dos pensionistas, em 2012 e 2013; eliminação das progressões de carreira dos servidores públicos; aumento de meia hora de trabalho diário para os trabalhadores do privado; fim das deduções em matéria de saúde e educação, para os dois escalões superiores do IRS, reduções substanciais para os outros; aumentos vários de impostos, sobretudo IRS e IVA: poupando em regra o capital; cortes a triplicar, face ao previsto no acordo com a troika, na saúde e educação (públicas).

Estas medidas, que em regra não constam do acordo, foram alegadamente ditadas pela má gestão das contas no primeiro semestre. Na verdade, representam um monumental embuste face ao que o PSD sempre defendeu no passado ano e meio. A justificação radica também num embuste: sabe-se que a derrapagem resulta, primeiro, de uma fraca captação fiscal, fruto da recessão; segundo, das consequências da irresponsabilidade fiscal reiterada na Madeira (e que o PSD voltou a cobrir ao não especificar o plano de ajustamento antes das eleições, e ao não definir quem pagaria a factura: sabemos agora que serão os servidores públicos do Continente e os pensionistas); terceiro, do ruinoso processo de privatização do BPN (um tenebroso caso de polícia conduzido por figuras gradas do cavaquismo) que o PSD conduziu recentemente: os privados compraram o BPN a preço de saldo, mas os contribuintes portugueses pagam primeiro (e mais uma vez) todas as dívidas.»

André Freire, Público

Frases 6

«O Governo ainda não explicou as contas para um corte tão profundo. O desvio do défice do primeiro semestre explica muito mas não tudo. Parece claro que o corte prometido da despesa intermédia está a falhar, e que a reforma do Estado avança como um caracol. E que, portanto, Vítor Gaspar pôs cinto e suspensórios: cortou salários e pensões, que é a forma mais segura de garantir corte de despesa.

(...)

O Estado não está a reestruturar a Função Pública, está a aniquilá-la. O país, no estado que está, precisa da "boa" administração do Estado e é esta que está a enxotar. Arrisca-se a ficar apenas com a "má", que é a comparativamente cara e improdutiva. A todos pede agora compaixão: que apesar de tirar quatro salários dos próximos 48, seja missionário. A salvação do Estado deixou, pois, de ser uma questão de governação. Passou a ser uma questão de fé. Que a fé nos proteja.»

Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios

"A função pública não é a base eleitoral deste governo"

«É falso, ou se quiserem uma falácia de treta, que os funcionários públicos ganhem mais que quem trabalha no privado, conforme afirmou Passos Coelho, e os neocons por aí repetem, baseando-se num estudo do Banco de Portugal datado de 2001. Para comparar salários temos de comparar habilitações.

A maioria dos trabalhadores do sector privado (72,5%) tinha, em 2005, o ensino básico, e apenas 11% possuíam o ensino superior. Já a maioria dos funcionários da administração pública tinha mais habilitações que escolaridade básica. E 44% concluíram uma formação de nível superior.

Portanto, “apenas pelo facto de a percentagem de trabalhadores com o ensino superior na AP ser muito superior ao privado, concluiu-se que o rendimento da função pública tem de ser 3,5 vezes superior ao do privado. Se utilizarmos o estudo do Banco de Portugal, a percentagem de trabalhadores com o ensino superior deveria ser cinco vezes superior ao privado”, diz Eugénio Rosa. E, acrescenta, “o próprio estudo do Banco de Portugal reconhece que se análise foi (sic) feita por categorias se conclui que se verifica uma penalização salarial dos trabalhadores da administração pública.” DN

E já agora, segundo o mesmo Eugénio Rosa ”entre 2000 e 2011, o poder de compra das remunerações dos trabalhadores da Função Pública diminuiu entre -8 (trabalhadores com remunerações até 1500 €) e -15,5% (trabalhadores com remunerações superiores a 1500€), enquanto no sector privado, em idêntico período (2000-2011), o poder de compra das remunerações, de acordo com os dados oficiais, aumentou 8%.”

Seria bem mais honesto explicar porque se virou o saque aos salários em primeiro lugar para os funcionários públicos: ”a função pública não é a base eleitoral deste governo“, conforme confessava um governante ao Expresso desta semana…»

João José Cardoso, Aventar

Frases 5

«Diz-se que a política é a arte de fazer escolhas. Passos Coelho fez as suas: o assalto fiscal à classe média e aos mais vulneráveis da sociedade. E em breve o veremos a anunciar a capitalização da Banca com os recursos espoliados a pensionistas e trabalhadores. Tem toda a legitimidade para impor as suas escolhas aos portugueses porque os portugueses o elegeram. Só que os portugueses elegeram-no com base em pressupostos e garantias falsos, que ele repetiu à exaustão antes e durante a campanha eleitoral.

Agradecendo a Ricardo Santos Pinto, recordem-se algumas das garantias com que Passos Coelho foi eleito: "Se vier a ser primeiro-ministro, a minha garantia é que a [carga fiscal] será canalizada para os impostos sobre o consumo e não sobre o rendimento das pessoas"; "Dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês é um disparate"; "O PSD acha que não é preciso fazer mais aumentos de impostos, do nosso lado não contem com mais impostos"; "O IVA, já o referi, não é para subir"; "Eu não quero ser primeiro-ministro para proteger os mais ricos"; "Que quando for preciso apertar o cinto, não fiquem aqueles que têm a barriga maior a desapertá-lo e a folgá-lo"; "Tributaremos mais o capital financeiro, com certeza que sim"; "Não podem ser os mais modestos a pagar pelos que precisam menos"...

E ainda: "Nós não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra".»

Manuel António Pina, JN

Ladrão que rouba a ladrão... e nós pagamos tudo

Se alguém entrar num banco e roubar é julgado e recebe a pena devida. Que estranho! Não é o banqueiro ou o gerente que é obrigado a repor o dinheiro roubado. Já se for um banqueiro e o seu conselho de administração a roubarem o banco são os cidadãos do país que têm de repor o dinheiro.
A isto chamam-lhe justiça. Eu creio que é precisamente o inverso.

«O corte dos subsídios de Natal e de férias a funcionários públicos e pensionistas que ganhem mais de mil euros não chega para cobrir o buraco do Banco Português de Negócios (BPN) que, segundo o primeiro-ministro, acaba de engordar 350 milhões de euros.
A factura a passar aos contribuintes sobe, assim, para 2750 milhões de euros, quando o encaixe com os dois subsídios que não serão pagos rondará 2,6 mil milhões.»

16 outubro 2011

Frases 4

«Numa declaração reveladora da nova maneira de os políticos falarem aos portugueses, Vítor Gaspar disse não ser possível, no imediato, fazer cortes racionais na despesa pública. Ou seja, só não haverá cortes cegos quando os serviço do Estado forem alvo de reformas.»

Francisco Sarsfield Cabral, Sol

Frases 3

«E quando todos, em coro, pedimos que cortem a despesa, é a carne de alguém que estamos a pedir. Porque despesa do Estado é sobretudo juros (que são inegociáveis), salários e pensões. As "gorduras" enquanto matéria substantiva só existiam na cabeça do Passos Coelho candidato, não existem mais na cabeça do Passos Coelho primeiro-ministro.»

Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios

Frases 2

«Não deixa de ser um exercício curioso olhar para a declaração de voto do PSD ao tempo da rejeição do PEC IV e depois comparar com todas as medidas que foram implementadas desde que tomou conta do Governo.»

Pedro Marques Lopes, DN

Frases

«Não tenham dúvidas, a grande medida de retirar aos funcionários públicos e aos pensionistas os subsídios de férias e de Natal é mesmo para vigorar apenas até às eleições, nessa altura regressam com toda a certeza. Mas o pior não é sequer esta jogada política que se antevê, o pior é que a repartição justa dos sacrifícios é mera retórica política. São sempre os mesmos a pagar. Não há dinheiro, retire-se aos funcionários públicos. Não chega, retire-se aos pensionistas. Também não chega, retire-se aos que vivem do trabalho.»

Paulo Baldaia, DN

Dirigentes de Portugal

O "Correio da Manhã" diz que a EMEF - Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, cujo único accionista é a CP, vai gastar 237 120 euros na aquisição de treze carros topo de gama para directores.
Qual foi o lucro dessa empresa estatal? Nenhum. Apresentou um resultado líquido negativo de 2,2 milhões de euros no seu Relatório e Contas no que respeita a 2010. O passivo da empresa é de 71,7 milhões de euros.
A CP, recorde-se, registou resultados líquidos negativos no ano passado de 195,197 milhões de euros. No total acumulado, a CP tem um prejuízo de cerca de 5,55 mil milhões de euros.

Governar no medo é um modo de afundar mais um país

Portugal viveu durante séculos sob o jugo da inquisição. À inquisição aliava-se a ignorância, a crendice, o medo. Depois da inquisição os ares pareciam apontar noutra direcção, mas rapidamente se percebeu que o analfabetismo, aliado à subserviência, apenas sustentava a menoridade de uma população que vivia mal. Mesmo assim, deram-se passos importantes para mudar o ritmo de vida de alguns. O número de alfabetizados aumentou. O país de algum modo modernizou-se e essas alterações permitiram a chegada da república. Que rapidamente se defrontou com a dura realidade: à bancarrota juntava-se a guerra. A guerra pôs fim ao sonho de liberdade. Seguiram-se muitos anos de ditadura que, uma vez mais, nos afastaram do desenvolvimento da Europa. No entanto, o país conseguiu, em poucas décadas, ganhar balanço e desenvolver-se. Embora com o velho problema de sempre: uma classe dirigente mentalmente débil e uma população maioritariamente resignada e mal formada.


Portugal é um pequeno país. Com um tecido empresarial pequeno, cheio de chico-espertos que exploram quem trabalha e que pouco investem. A produtividade é, por isso, baixa. Embora os horários de trabalho sejam pesados.
Mas em Portugal há muito dinheiro a circular. E há quem saiba como o canalizar em seu proveito.
Infelizmente, a maior parte da população, por preguiça, desinteresse e má formação, é facilmente manipulável e tende a acreditar que não há solução. Quem pode, foge aos impostos. Quem pode, aldraba os outros. Quem pode, faz pela vida. Ora num cenário assim é fácil aterrorizar as pessoas. É fácil convencê-las de que as decisões políticas do momento são inevitáveis. Que se não for assim, se corre o risco da falência completa.
A crendice continua a dominar o país. Mesmo que muitos saibam das fortunas que fulano e beltrano conseguem à mesa do erário público. Mesmo que os membros do governo e das autarquias continuem a beneficiar de mordomias de ricos (motoristas, classes executivas, subsídios para isto e para aquilo, cartões de crédito, uma leque de secretárias, assessores e outros criados para todo o serviço), os portugueses aceitam, resignados, que lhes metam a mão no bolso e lhes tirem o pouco que ganham... por trabalharem.
Os portugueses acham natural que Passos Coelho tenha mudado de retórica tão rapidamente. Porque o bode expiatório José Sócrates ainda está muito fresco. Ainda serve e é eficaz. Mas assim que acabar esse bode expiatório, como é que os portugueses vão ficar ao perceberem que a sua resignação e que o seu silêncio foram cúmplices de uma política que ajudou a crise a crescer e que contribuiu inexoravelmente para nos afundar muito mais?


Já repararam que deste governo ainda não saiu uma medida que potencie o crescimento económico?
Já repararam que a equidade é uma miragem?
Já se aperceberam de que ainda não houve sinal de que o Ministério da Justiça tenha encontrado solução para os processos económicos que impedem o Estado de arrecadar milhares de milhões de euros em impostos?
Já deram conta de que nem nas pescas nem na agricultura nem na indústria apareceu uma medida que contribua para o desenvolvimento desses sectores?


A resignação e o medo que nos acompanham há tantos séculos têm impedido o país de crescer e continuam a afastar-nos de um nível de vida europeu. Em Portugal o custo de vida é maior do que na Alemanha ou do que em França, mas os salários do comum dos cidadãos é manifestamente inferior. Já os salários dos nossos gestores é em muitos casos superior. Algo que costuma ser próprio de ditaduras.

15 outubro 2011

Portugal - sempre os mesmos problemas

Entre 1974 e 2010 o salário mínimo nacional teve um acréscimo de apenas 88 euros. Já as pensões mínimas de velhice e invalidez aumentaram a extraordinária quantia de 38 euros nos últimos 36 anos.
Há milhares de pessoas em lugares de chefia, gestão, administração que auferiram quantias astronómicas. Isto para não falarmos dos avultados dinheiros públicos que foram parar às contas bancárias de escritórios de advogados, empresas de consultadoria, empresas de construção civil e de obras públicas. Foi um tal fartar.
E para que serviram esses lucros? Para criar empregos? Para criar riqueza? Ou tão-só para o aumento do luxo de meia dúzia?
A Pordata revela que em 2009 Portugal era o quarto país da União Europeia com maiores desigualdades de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres, sendo que o rendimento dos mais ricos era 6 vezes superior ao dos mais pobres.
"O espaço democrático está a ser restringido com a entrada em vigor de leis que progressivamente ameaçam os direitos civis e políticos", mas "as insurreições democráticas em todo o mundo estão a abrir caminho para a autodeterminação dos povos", afirma a Oikos num comunicado, acrescentando que "as pessoas estão fartas da pobreza e de alimentar os ditadores".
Claro que isso não acontece apenas no nosso país. As manifestações de hoje em mais de 900 cidades de 80 países é bem a prova de que o descontentamento é geral. O mundo não suporta durante muito mais tempo um tal desfasamento entre ricos e pobres, entre fortunas colossais e salários miseráveis, embora do FMI à União Europeia, passando pelos EUA e por outros lugares se continue a trabalhar afincadamente para manter as coisas como estão.

Ler mais aqui e aqui.





14 outubro 2011

A mais antiga oficina de pintura da humanidade


Foi descoberta na gruta de Blombos, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul. As conchas marinhas achadas na caverna sul-africana continham uma mescla de pigmentos ocres com osso e carvão triturados, misturados com água ou urina, criando uma "tinta" arcaica que podia ser aplicada com uma espátula de osso (também achada no local).


Cristopher Henshilwood dirige uma equipa de arqueólogos da Universidade de Bergen, na Noruega, que fez o levantamento do achado.


"Acreditamos que o processo de produção passava por esfregar pedaços de ocre (obtido a partir da terra ou da rocha que contém uma mistura de óxidos e hidróxidos de ferro, com cor ferruginosa] em lâminas de quartzito para produzir um pó fino. Depois o pó era misturado com carvão vegetal, com lascas de pedra e um líquido."


À volta dos utensílios, os paleontólogos não encontraram nem comida, nem detritos associados ao quotidiano destas populações. Algo que reforça a ideia de que aquele não era um local habitado, mas um sítio de trabalho, uma oficina.


A descoberta das duas espécies de "estojos de ferramentas" da idade da pedra, pertencentes ao Paleolítico Médio, deu-se numa camada com cem mil anos, na gruta. Duas conchas separadas por alguns centímetros, em que cada uma continha restos secos da tinta de ocre-vermelho produzida pelas pessoas que estiveram ali. Um dos estojos estava mais completo, e tinha pedras para polir, osso, carvão vegetal, etc.
No mesmo campo arquológico já se tinham realizado outros importantes achados, como duas barras de argila colorida com desenhos geométricos.

Fontes: 1, 2, 3 e Público

Se


Se a obesidade fosse um sintoma de riqueza, que alegria para os gordos, que poderiam finalmente emagrecer. E que susto para os magros, que correriam o risco de ficar anorécticos.

Até os neoliberais já começam a ter medo

"Um dos maiores problemas das empresas portuguesas é o défice de gestão, que está na base da nossa baixa produtividade. Défice que se esconde por trás de mil e uma desculpas (até o Estado entra nesta equação…). A ideia de levar os funcionários a participarem no seu próprio enriquecimento, via prémios associados ao aumento da produtividade, é um dos caminhos para tornar as empresas mais competitivas."

Camilo Lourenço

Portugal tem medo da Grécia

mas, grosso modo, os problemas são idênticos: crise que gera crise, medidas duras que geram recessão, recessão que agrava a recessão, mais medidas duras e mais recessão, grande fuga aos impostos.

Era uma vez

Era uma vez um homem que foi ao médico porque lhe doía um joelho. O médico disse-lhe que aquilo precisava de ser operado se ele quisesse manter a qualidade de vida. O homem reflectiu e achou por bem submeter-se à operação.
A operação correu muito bem. O médico ganhou os seus honorários. O centro hospitalar foi principescamente pago pela cama, pela anestesia, pelos pensos e o mais. O homem acordou sem as duas pernas. Perdeu o emprego. Passou a receber uma reforma miserável, pois ainda era novo e assim eram as regras.
Quanto à qualidade de vida...
Pois assim estamos nós em Portugal. De promessa em promessa, de medida em medida, o país afunda-se, as pessoas vêem-se esvaziadas do pouco que auferiam e os analistas insistem na comparação com a Grécia: Portugal não vai resolver a crise com as medidas tomadas, pois as medidas são já parte significativa do problema.
O governo, numa atitude de bom aluno, quer impressionar os mestres, quer mostrar que vai mais longe, mas está apenas a amputar os seus próprios membros. E não dá nenhum sinal claro de ter solução para o problema, ou seja, não se vê como vai aumentar a produtividade, criar emprego, aumentar as receitas.
Passos Coelho quer fazer passar a ideia de que sofre muito por ter de tomar medidas tão duras, mas daqui a a dias está a anunciar mais cortes. Os portugueses não acreditam que o torniquete fique por aqui.

05 outubro 2011

As vozes dos Simpsons







Os actores que dão voz às personagens principais da série são Dan Castellaneta (Homer), Julie Kavner (Marge), Nancy Cartwright (Bart), Yeardley Smith (Lisa), Hank Azaria (Moe, Chefe Wiggum e Apu) e Harry Shearer (Mr. Burns e Ned Flanders).
Bem como Pamela Hayden (Milhouse,Rod Flanders, Janey Powell, Dolph, Mrs. Pennycandy, Tattoo Annie e Malibu Stacy), Maggie Roswell (Maude Flanders, Helen Lovejoy, a mulher do Rev. Lovejoy, Elizabeth Hoover, Luanne Van Houten, Shary Bobbins, Princesa Kashmir, entre outros), Marcia Wallace (prof. Edna Krabappel), Tress MacNeille (James "Jimbo" Jones, Dolph, Mrs. Agnes SKinner, Lindsay Naegle, Sunday School Teacher, Brandine, Nana Von Housten, Barbara Bush, entre outros), Glenn Close (Mona Simpson).
Podem ver mais aqui, aqui e aqui e aqui.

Link

Blá blá - fala o Presidente da República


Cavaco Silva tem um dom. Fala e só diz generalidades... que ficam bem nas parangonas e que de nada servem, pois as pessoas não vivem de palavras.
Quando fala em consumo fácil, deve estar a falar de algum grupo de amigos e conhecidos. Ao fim de tanto tempo no poder ainda não conhece nem o país nem as pessoas que nele habitam. E também não deita sentido aos números e às estatísticas. A maior parte dos portugueses vive com muito pouco... Consumo fácil? Deve ser brincadeira de mau gosto.
Seria melhor dizer aos empresários que acabou o tempo dos Ferraris, mas sabemos que o tempo dos baixos salários está para durar.
Poderia também estar a referir-se ao excesso de alcatrão e de cimento que chegou a todo o lado, sem que daí viesse melhor distribuição de riqueza. Mas não parece que seja isso que o incomoda, até porque foi com ele que começou o regabofe.
Portugal teve, tem e dá sinais de continuar a ter uma classe dirigente débil, mal formada e pouco audaz. Ora sem rasgo, sem audácia, risco e ousadia o país claudica, treme, afunda-se. Pelo menos o país que cresceu a ouvir falar de fome e já tinha por hábito ir a restaurantes. Ou o país que ainda conheceu os remendos e já nem liga à má qualidade da confecção que faz com que as coisas pouco mais durem que uma estação.
Cavaco Silva tem o dom de engonhar e continuar impávido e crispado como se o país se resumisse ao seu quintal. Pese embora o grande número de portugueses que se revê no senhor presidente da república, as coisas não mudam por fulano ou beltrano dizer isto ou aquilo. É preciso fazer. E Cavaco nada faz, como ainda há pouco foi evidente perante a aldrabice e o descalabro da Madeira.

Dos jornais


Como se fazem as notícias? Como funcionam os jornais? Que credibilidade merecem?
Ontem foi posto a nu um esquema usado pelas redacções dos jornais: as notícias fazem-se antes dos acontecimentos. Os jornalistas, quais adivinhos, redigem as "estórias" com base em probabilidades e depois é só publicar. A coisa costuma bater certo, mas de vez em quando dá raia. Quando a fome de estar na linha na frente ultrapassa o bom senso e as "notícias" saem antes de concluídos os acontecimentos a que supostamente se reportam. Isso mesmo aconteceu com o caso Amanda Knox. O “Daily Mail” publicou uma versão fictícia da leitura da sentença de Amanda Knox, com muito drama à mistura: “Amanda Knox ficou aturdida esta noite, após perder de forma dramática o recurso da pena de prisão por homicídio. Quando Knox se apercebeu da enormidade do que o juiz Hellman estava a dizer, afundou-se na cadeira a soluçar incontrolavelmente, enquanto a sua família e amigos se abraçavam uns aos outros em lágrimas”. “A poucos metros, a mãe de Meredith [a vítima], Arline, a irmã Stephanie e o irmão Lyle, que voaram de propósito [para Itália] para ouvir o veredicto, permaneceram serenos, a olhar para a frente, voltando-se apenas uma vez para a família perturbada de Knox”.
Por cá as notícias saem ao ritmo das agências noticiosas e das palavras de assessores de imprensa que as redigem e enviam para essas agências. Raramente os jornalistas cumprem o seu papel de contraditório, limitando-se a ser veículos numa cadeia que tem pouco de informação e muito de propaganda.