01 junho 2009

Democracia de audiência

[Tese de doutoramento em Ciência Política defendida em 2008 por Conceição Pequito Teixeira, professora de Ciência Política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa e da Universidade Aberta. Sob orientação de Adriano Moreira e co-orientação de Julían Santamaria Ossorio, director do Departamento de Ciência Política na Universidade Complutense de Madrid. Clicar na imagem para aumentar]


No Público de hoje, em artigo de São José Almeida divulga-se a obra de Maria da Conceição Pequito Teixeira, O Povo Semi-Soberano. Partidos Políticos e Recrutamento Parlamentar em Portugal.
Extraímos citações desse artigo que vem confirmar aquilo que era do conhecimento de uns quantos.
As citações entre aspas pertencem a Conceição Pequito. As citações em itálico são da jornalista São José Almeida.
"Vivemos uma democracia de audiência, feita de comunicação social, sondagens e líderes, em que há uma espécie de sondocracia, de videocracia e de lidercracia".
"As sondagens funcionam como um escrutínio permanente ao eleitorado e é desse escrutínio que saem as ofertas políticas que os partidos direccionam, como produtos no mercado, para rentabilizar votos. Depois há a questão da videocracia, com o peso da comunicação social, que personaliza, por sua vez, os líderes. Tudo isto se vai afunilando, até que torna a sociedade civil claustrofóbica".
[Portugal é] "uma democracia demasiado jovem, mas com traços de envelhecimento precoce".

Ou seja, a sociedade está distanciada dos partidos e o povo não se sente neles representado.

"(...) a UGT é uma espécie de prestação de serviços; quando o PSD está no Governo, presta-se a assinar os acordos, e com o PS o mesmo".

A segunda especificidade portuguesa é que os partidos foram também criados "em torno das figuras dos líderes e cada saída de um líder dá quase uma crise de sucessão e de perda de eleitorado e de descaracterização", o que "mostra a fragilidade, como os partidos acabam por ser quase sinónimo dos líderes conjunturais e não instituições com implantação social e ideologia sólida". Alem disso, os partidos portugueses nascem "em época mediática" e a "mediatização da política junta-se à personalização, são fenómenos que se alimentam mutuamente". E Conceição Pequito pergunta: "Quando o que interessa é o líder e os dirigentes de topo e o palco é a TV, os partidos servem para quê?"

A investigadora opõe-se frontalmente às candidaturas de independentes à Assembleia da República. "Isso era um risco muito grande de populismo", afirma, alertando: "Nós, em Portugal, não estamos sequer preparados para governos de coligação, como é que estamos preparados para a balbúrdia de partidos com independentes? Não acredito que tenhamos sociedade civil preparada para isso nem classe política para o efeito."
E, veemente, insiste: "Temos um legado histórico com uma sociedade civil muito fraca, que vem da Monarquia Constitucional, vem da Primeira República, vem do Estado Novo, com o seu paternalismo que é conhecido. E no pós-25 de Abril, com as maiorias absolutas ou quase absolutas, anestesiou-se a sociedade civil."

"Há governamentalização do Parlamento. Os outros partidos fazem oposição para a televisão. "

1 comentário:

Tiago R. disse...

Não há mesmo volta a dar-lhe!

Falar assim dos "partidos", de forma generalista, como se fossem todos iguais, tivessem todos as mesmas práticas, a mesma política e a mesma história, é um descarado favorecimento do Bloco Central.

E não é mesmo nada científico!