11 janeiro 2012

Em terra de cegos...

Pobres de nós, país pequeno e... "pobre". No país dos pobres, a EDP cobre fortunas pela electricidade e, garante-se, não estamos a pagar o que é devido, mas quanto aos salários de topo não há quais quer problemas, paga-se muito e a bastantes.
Já no caso dos que começaram por baixo e passaram de mansinho de cargos públicos para empresas, o caso é ainda mais cómico: os vencimentos e mordomias dos ex-governantes mostra bem que vale a pena ter cartão de militante de um partido. Pena que os portugueses, por um problema notório e antigo de iliteracia não saibam intervir socialmente, reivindicando direitos e propugnando por uma sociedade menos desigual. É pena que o cada um por si redunde sistemática e repetidamente no enriquecimento de uma oligarquia que usa os conhecimentos que adquiriu na governação para serviço de privados e prejuízo da população em geral.
Os governantes são um exemplo claro de que em Portugal as pessoas ganham pouco e mal e que precisam de ganhar mais para viver melhor, mas isso só pode acontecer quando mais de seis milhões de portugueses deixarem de ser papalvos e crentes. Quem ganha 500 euros não pode viver com dignidade. Governantes que tal defendem deveriam auferir apenas 500 euros (sem quaisquer regalias, seja de transporte, de comunicações, de alimentação ou outras), já que consideram que isso é bom.
As empresas têm todo o direito de pagar os salários que muito entendem, mas a legislação deveria criar um período de uma década que impedisse a ex-governantes de saltar de cadeiras, indo do governo para as empresas.
Os governantes são legitimados por maiorias que ao votarem deveriam exigir cumprimento da lei pela parte desses governantes e, no caso em que a lei seja omissa, a revisão da mesma, no sentido de defender os interesses do Estado e não de meia dúzia de empresas.
A troika faz propostas para "melhorar" a economia, mas quem governa o país são cidadãos portugueses escolhidos pelos líderes dos partidos que se coligaram para o efeito. Um governo que se diz tão preocupado com o crescimento da economia não pode deixar que exemplos lamentáveis como os das escolhas para a EDP e a Águas de Portugal aconteçam. Ou então comprova que não se trata de crescimento da economia, mas apenas de empobrecimento da maioria das pessoas.
Como diz Mário Soares, no tempo em que recorreu à ajuda internacional, o FMI «não dava conferências de imprensa nem dizia que mandava no País», porque, e apesar de terem emprestado dinheiro, «não se tinha criado uma situação de dependência».
Que Passos Coelho, Paulo Portas e demais ministros, ou que os deputados do PSD, CDS e PS estejam tão dependentes é sinal de que o nosso país tem uma elite política débil, mal preparada, que não consegue estar à altura dos desafios. O que não espanta, claro, dada a iliteracia de tanto português. Como diz o ditado, basta ter um olho para governar. Mesmo que o país precisasse de gente que usasse os dois olhos.

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