Fala Elísio Estanque, sociólogo e autor de A Classe Média: Ascensão e Declínio: "Todos os dias há algo de novo: o acordo de concertação social, o anúncio de uma nova vaga de excedentários na função pública, o abandono da universidade pelos estudantes, as novas vagas de desemprego, o aumento das taxas moderadoras, a desmontagem do Estado Social – está tudo a acontecer de uma forma extraordinariamente rápida e intensa".
Nesse ensaio, referem-se as particularidades da "célere e pouco sustentada ascensão da classe média" e também à forma como ela "agora se desmorona, de maneira igualmente rápida e abrupta, na sequência do "empurrão" da crise e das medidas de austeridade". A classe média "está em risco de um empobrecimento muito rápido" que pode levar a um "descontentamento mais amplo na sociedade portuguesa" e ao "enfraquecimento do sistema socioeconómico e do sistema democrático".
Segundo o autor "a classe média que Portugal conseguiu edificar" foi criada num "processo muito rápido, pouco consistente, que resultou sobretudo da expansão do Estado social e que, na sequência dos anos 80 do século passado, sujeita a um discurso mais ou menos eufórico orientado para o consumo e para um certo individualismo, criou um conjunto de expectativas relativamente às oportunidades do sistema". No entanto, a crise económica que Portugal enfrenta está a defraudar essas expectativas, considerou Elísio Estanque, explicando que isso levará a uma alteração da sociedade a partir da insatisfação dos jovens. Muitos deles, que fazem parte da classe média mas que têm formação superior, vivem uma "condição de precariedade e insatisfação relativamente às instituições e à classe política", sendo esta faixa da sociedade que "alimenta os movimentos de protesto".
No livro, o investigador fala de uma classe média a que atribui "vivências de carácter bipolar", em que "um quotidiano depressivo se conjuga com técnicas de dissimulação e disfarce". Estanque chega a afirmar que o quadro roça "a patologia social", já que um grupo continua "a negar a todo o custo uma realidade, mesmo quando já mergulhou nela até ao pescoço". Por exemplo a do endividamento brutal. Diz-se na notícia de que transcrevemos excertos, que "As pessoas recusam-se a assumir a perda de status, aguentam muito para além do limite do razoável, procurando manter a aparência de um estilo de vida que já não são capazes de pagar." "As pessoas pedem ajuda sob a condição de total confidencialidade. Escondem a sua situação dos vizinhos e até dos familiares que, temem, se afastariam se dela tivessem conhecimento". "São professores, juristas, arquitectos, engenheiros". Ou seja, são uma parte dos que alimentam reality shows e revistas que pululam os consultórios médicos. "É doentia", considera, a forma "envergonhada, calada e silenciosa" como esta frustração está a ser vivida por aqueles que ao mesmo tempo "encenam uma normalidade que já não existe".
Nesse ensaio, referem-se as particularidades da "célere e pouco sustentada ascensão da classe média" e também à forma como ela "agora se desmorona, de maneira igualmente rápida e abrupta, na sequência do "empurrão" da crise e das medidas de austeridade". A classe média "está em risco de um empobrecimento muito rápido" que pode levar a um "descontentamento mais amplo na sociedade portuguesa" e ao "enfraquecimento do sistema socioeconómico e do sistema democrático".
Segundo o autor "a classe média que Portugal conseguiu edificar" foi criada num "processo muito rápido, pouco consistente, que resultou sobretudo da expansão do Estado social e que, na sequência dos anos 80 do século passado, sujeita a um discurso mais ou menos eufórico orientado para o consumo e para um certo individualismo, criou um conjunto de expectativas relativamente às oportunidades do sistema". No entanto, a crise económica que Portugal enfrenta está a defraudar essas expectativas, considerou Elísio Estanque, explicando que isso levará a uma alteração da sociedade a partir da insatisfação dos jovens. Muitos deles, que fazem parte da classe média mas que têm formação superior, vivem uma "condição de precariedade e insatisfação relativamente às instituições e à classe política", sendo esta faixa da sociedade que "alimenta os movimentos de protesto".
No livro, o investigador fala de uma classe média a que atribui "vivências de carácter bipolar", em que "um quotidiano depressivo se conjuga com técnicas de dissimulação e disfarce". Estanque chega a afirmar que o quadro roça "a patologia social", já que um grupo continua "a negar a todo o custo uma realidade, mesmo quando já mergulhou nela até ao pescoço". Por exemplo a do endividamento brutal. Diz-se na notícia de que transcrevemos excertos, que "As pessoas recusam-se a assumir a perda de status, aguentam muito para além do limite do razoável, procurando manter a aparência de um estilo de vida que já não são capazes de pagar." "As pessoas pedem ajuda sob a condição de total confidencialidade. Escondem a sua situação dos vizinhos e até dos familiares que, temem, se afastariam se dela tivessem conhecimento". "São professores, juristas, arquitectos, engenheiros". Ou seja, são uma parte dos que alimentam reality shows e revistas que pululam os consultórios médicos. "É doentia", considera, a forma "envergonhada, calada e silenciosa" como esta frustração está a ser vivida por aqueles que ao mesmo tempo "encenam uma normalidade que já não existe".
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