29 outubro 2008

Tiques "soit disant" bem pensantes


De boas intenções está o inferno cheio, diz-se. A expressão serve que nem uma luva às intenções do Conselho Nacional de Educação (CNE). Propor que os alunos deixem de reprovar até que completem os 12 anos é lindo, tanto lindo que cai mal. Porque o país ainda não está preparado para isso, embora a bandalheira esteja instalada há muito. E quando falamos em bandalheira referimo-nos à dificuldade que muitos licenciados têm com o simples acto de leitura e de escrita.

Se a proposta for avante (e tudo indica que sim), caminharemos para o descalabro. Porquê?

Porque há um número muito grande de alunos absolutamente (advérbio intencional e não mera muleta retórica) entediados que levam para a escola o grau zero do interesse que conhecem de casa. Ora, para agradar a esses meninos e meninas, a escola passará a ser um jardim até muito tarde. Entreter crianças é complicado (os filmes americanos e ingleses mostram isso muito bem). Educá-las ainda é mais complicado. Porque exige metas e nós estamos a prescindir de metas para agradar a estatísticas, para ocupar lugares em tabelas.

Cada vez é mais complicado fazer com que os alunos leiam, com que os alunos pensem, com que os alunos sintam e ultrapassem obstáculos.

Já aqui usamos a metáfora do futebol e novamente nos servimos dela. Como seria lindo ter dito ao Cristiano Ronaldo: rapaz, não precisas de te esforçar, basta que dês uns toques na bola e chegarás a apanha bolas nalguma equipa da terceira divisão da Madeira.

O problema não são os alunos que ficam retidos (poucos) mas o que este tipo de medidas proposto pelo CNE coloca.

Porque a formação dos professores é, em geral, péssima. Se o ministério e o CNE tanto gostam da Finlândia, paguem aos professores bolsas para irem até lá formarem-se com os colegas finlandeses (mas não se esqueçam do resto: a gratuitidade até ao 12.º ano; os impostos que os pais pagam).

Portugal é Portugal: com a sua história de mendicidade, de dependência, de fuga aos impostos, de salários baixíssimos, de desprezo pela escola, de mania por títulos (com o dr. logo à cabeça). E se não se tiver a realidade do país em conta, essas propostas de sucesso fácil farão com que milhares de portugueses não alcancem o básico: um emprego.

Convém que Maria de Lurdes Rodrigues e os deputados assumam as suas responsabilidades até ao limite e que daqui a vinte anos sejam criminalmente responsabilizados pela ileteracia, pela incapacidade de cálculo e raciocínio.
Problemas com que se defrontam vários países: EUA, Espanha, Itália, França...

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