O título é fracote. O autor tem dias. Falamos de António Guerreiro e da sua crónica semanal no Actual / Expresso.
Vale a pena transcrever um excerto da desta semana, pois é reveladora do estado comatoso das élites portuguesas e, por exetensão, do resto da maralha: "«Verdade ou Poesia»(...) Esta proposição disjuntiva reproduz com toda a fidelidade os termos de uma «velha inimizade», da idade de Platão: aquela entre a palavra poética e a palavra verdadeira. É pertinente verificar que essa cisão, por mais que tenha sido interrogada, por mais que toda a poesia moderna, desde o Romantismo, a tenha desmentido com um grande aparato filosófico, continua a fazer o seu percurso e a ser aceite como a coisa mais natural. Hoje, ela já não é uma palavra de ordem para expulsar os poetas da cidade, mas a expressão do filisteísmo. Tão famigerada disjunção serve para exprimir uma concepção da poesia como coisa inócua, decorativa, «bela», a que se recorre para animar uns saraus, para ensinar aos alunos algumas figuras de retórica, ou para satisfazer o vício do «Kitsch». O filisteísmo também mata, mas docemente, sem a grandeza trágica que levou o poeta russo Mandelstam a dizer à mulher, quando já estava a ser ameaçado de deportação para o Gulag: «Não há outro país onde a poesia seja uma coisa tão importante, uma questão de vida ou de morte.»"
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