Ao chegar ao mundo toda a gente grita com quanta força tem. Diz-se que é para limpar o aparelho respiratório e, também, porque o primeiro oxigénio causa uma grande sensação de desconforto. O que não se diz é que esse grito primordial é um protesto. Sim, sim, um protesto contra a separação e a divisão. A pouco e pouco perdemos essa qualidade e vamos armazenando medos, fobias e castigos.
Um dos piores medos é o de perder a vida. Por isso, em qualquer ponto do globo a lei Não matarás é aceite. No entanto, como hoje é do conhecimento público, há muitas maneiras de morrer.
A morte lenta é, de longe, a mais bem distribuída, de tal modo que polui o planeta e contribui para o sucesso das indústrias farmacêuticas e de armamento. Em nome da saúde e da segurança cometem-se atropelos e violam-se direitos e liberdades dos cidadãos (os cidadãos pouco mais são, na História do Mundo, que uma criança com três séculos de idade).
Protestar exige muito de nós. A princípio parece fácil, mas logo nos apercebemos que protestar exige prática, curiosidade, tempo, ócio e isso não está ao alcance de todos, apenas de uma pequena minoria. Depois, à medida que as lágrimas diminuem e os gritos ficam esquecidos, o mundo torna-se mais pobre, mais triste, mais baço. Porque, mais do que uma chamada de atenção, as lágrimas são o que nos resta da linguagem do maravilhoso.
O Pisca de Gente deixa aqui um desafio, cumpram o nosso poético e pessoano destino e chorem, deixem-se envolver pelo maravilhoso, enquanto trauteiam, em jeito de refrão, Oceano, quanto do teu sal não é feito com as lágrimas de Portugal?
1 comentário:
Olá, Pisca de Gente.
Tão Pisca e já tão gente que me espantas neste mar salgado de lágrimas.
O teu texto é tão maduro e tão inocente.
Não desarmes. Tens as armas mais poderosas para a luta, a inteligência e as palavras. Estás apenas a testá-las.
Auguro que vais ser grande.
Um beijinho de amigo
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