28 abril 2008

Comichões

Era uma vez uma comichão. Uma comichão danada. Num desses sítios que nunca se pode coçar em público, pois além de parecer mal, torna-nos quase trogloditas e ninguém gosta de ser tomado por boneco de caricatura.

Quando se tem uma comichão no nariz, vai-se lá com o dedo e pumba, arranha daqui, arranha dali, a coisa passa. Nas costas é mais complicado, porque nem todos são da estirpe homem-borracha, mas, seja numa esquina, seja com uma escova ou com a ajuda de alguém, lá se resolve o assunto.

Na cabeça, já não é bem assim, sobretudo se houver caspa à mistura. A caspa, maugrado os champôs milagrosos, que há décadas prometem a eliminação da dita cuja, continua. Afecta grande parte da população e tem tendência a agravar-se nos períodos mais quentes e secos. Em vez de champôs, chegamos a desejar que houvesse umas cápsulas de sulfato de selénio, de zinco piridine, corticóides, ketoconazol ou octopirox. Mas cada caso é um caso. Cada cabelo reclama pela substância específica. Cada organismo sabe as linhas com que se cose.

Esta comichão, no entanto, não era no couro cabeludo. E o leitor, malévolo, já começa a procurar mapeá-la em outros lugares do corpo, descolando-a para pontos menos expostos. Será, não será? Antes de esclarecer o assunto, deixe-me perguntar se nunca lhe aconteceu estar à beira de alguém que se ri e começar a rir. Ou começar a tossir num concerto em que já metade da sala tosse? O contágio é terrível. A gente ouve dizer que há piolhos e vê alguém a coçar-se e começa logo a sentir umas ligeiras e irritantes picadas, que passam, mal esquecemos o assunto. Pois esta comichão era desse género. Contagiado pelos apelos ao exercício, comprei uns ténis e zás zás zás, todos os dias dava a minha corridinha. O pior foi que fiquei com pé de atleta. E isso dá uma comichão danada.

Sem comentários: