13 maio 2009

Obesa e antiga: a nova deusa da fertilidade europeia


Descoberta nas grutas de Hohle Fels (na região do Danúbio-Alb, Alemanha), a nova Vénus foi esculpida há mais de 35 mil anos, em marfim de mamute Ou seja, é sete mil anos mais velha do que a antecessora, descoberta na Áustria, em 1908, e conhecida por Vénus de Willendorf. Tem menos de seis centímetros, pesa 33 gramas e é a representação mais antiga conhecida de arte figurativa.
A vénus tem seios e vulva desproporcionados, o que, segundo os investigadores alemães, é quase pornográfico à luz dos valores estéticos e morais da actualidade. Quando foi achada, a cerca de 20 metros da abertura da gruta, a vénus, que será exposta a partir de Setembro no Kunstgebäude de Estugarda, estava partida em seis pedaços e faltam-lhe o braço e o ombro esquerdos, que os arqueólogos alemães estão esperançados em encontrar.
Talhada com grande pormenor, a figura tem os órgãos genitais muito marcados, com seios e vulva de um tamanho desproporcionado, em contraste com a pequenez dos braços, pernas e cabeça, acabados com menos esmero. Algo que os estudiosos vêem como representação artística da fertilidade e que pode ter sido objecto de algum tipo de culto ou ritual.
Na gruta de Hohle Fels foram descobertos nos últimos 100 anos 25 figuras talhadas em marfim, quase todas representando animais, e também uma flauta, considerada o instrumento musical mais antigo do mundo.
A nova vénus confirma que o homem pré-histórico talhava, não apenas figuras de animais, mas também humanas, no princípio do período aurignaciense, algo que apanhou de surpresa a equipa arqueológica alemã.
Uma das características destas figuras é a representação da gordura. Muitas vezes é tão realista que os investigadores defendem que quem esculpiu terá de ter visto alguém com um nível de obesidade raro nestas sociedades. Isto, segundo Mariana Diniz (arqueóloga e professora da Faculdade de Letras de Lisboa), mostra que a gordura era apreciada, talvez porque a obesidade era algo que não se tinha e podia estar associada “ao poder, aos que não têm de trabalhar”.

Fonte: Público

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