Os diminutivos são geralmente usados como descarga sentimental, traduzindo uma manifestação que pode ser tanto de afecto como de aversão por pessoas ou coisas. Talvez porque sempre fomos sentimentais e escarnecedores e os sufixos captam bem essa dupla e contraditória faceta do nosso temperamento, às vezes de grande delicadeza lírica, às vezes ostensivamente galhofeiro e motejador.
O diminutivo inho é, dentre os sufixos, aquele que mais absorveu essa característica temperamental do ser português, associando a pequenez a algo ternurento, simpático, gracioso (pobrezinho, mãezinha, paizinho, velhinho), pois, como em tempos disse Jaime Cortesão, o português é uma língua lírica, franciscana, repassada de ternura e de piedade e por isso muito rica em diminutivos caridosos. No entanto, como assinalou Rodrigues Lapa, somos, porém, gente apaixonada, e facilmente vamos de um extremo ao outro, pelo que não é de surpreender que o mesmo sufixo evoque em nós sentimentos depreciativos.
Transcrevemos dois sonetos, um do ferino Bocage, outro do sofrido António Nobre, que fazem distinto uso do diminutivo. Os exemplos foram colhidos nesse livro magistral de Lapa que é Estilística da Língua Portuguesa. Esperamos que contribuam para um bom domingo de quantos aqui vêm.
Junto ao Tejo, entre os tenros Amorinhos,
as belmíricas musas pequeninas,
para agradar a estúpidas meninas
haviam fabricado uns bonequinhos.
Com eles os travessos rapazinhos,
que são mui folgazões e mui traquinas,
armaram mil subtis alicantinas
e os lançaram depois nuns bispotinhos.
Eis tágide louçã, de ebúrneo colo,
a quem não vencerá, por mais que lute,
o nosso Belmirinho, anão de Apolo,
Surge d'água e lhe diz: – Filhinho, escute,
olhe com que notícia hoje o consolo:
é poeta do rei de Lilipute!
Fazes-me pena, ao ver-te. Andas rotinho,
como que envolto em transparente véu:
pouco me falta para te ver nuzinho,
pouco te falta para andar ao léu!
Tens a batina, pálido Misquinho,
cor da esperança... e tem a cor do breu...
No entanto assim foi Cristo, em rapazinho,
e hoje é o duque de Morny no céu!
Por isso, ó flor ideal dos rapazitos,
paciênciazinha, cose os farrapitos
dessa batina. Toma a agulha e as linhas.
Dar-te-ia, crê, meu lindo pequerrucho,
uma das penas orientais – um luxo! –
se eu fosse Deus, o pai das andorinhas.
O diminutivo inho é, dentre os sufixos, aquele que mais absorveu essa característica temperamental do ser português, associando a pequenez a algo ternurento, simpático, gracioso (pobrezinho, mãezinha, paizinho, velhinho), pois, como em tempos disse Jaime Cortesão, o português é uma língua lírica, franciscana, repassada de ternura e de piedade e por isso muito rica em diminutivos caridosos. No entanto, como assinalou Rodrigues Lapa, somos, porém, gente apaixonada, e facilmente vamos de um extremo ao outro, pelo que não é de surpreender que o mesmo sufixo evoque em nós sentimentos depreciativos.
Transcrevemos dois sonetos, um do ferino Bocage, outro do sofrido António Nobre, que fazem distinto uso do diminutivo. Os exemplos foram colhidos nesse livro magistral de Lapa que é Estilística da Língua Portuguesa. Esperamos que contribuam para um bom domingo de quantos aqui vêm.
Junto ao Tejo, entre os tenros Amorinhos,
as belmíricas musas pequeninas,
para agradar a estúpidas meninas
haviam fabricado uns bonequinhos.
Com eles os travessos rapazinhos,
que são mui folgazões e mui traquinas,
armaram mil subtis alicantinas
e os lançaram depois nuns bispotinhos.
Eis tágide louçã, de ebúrneo colo,
a quem não vencerá, por mais que lute,
o nosso Belmirinho, anão de Apolo,
Surge d'água e lhe diz: – Filhinho, escute,
olhe com que notícia hoje o consolo:
é poeta do rei de Lilipute!
Fazes-me pena, ao ver-te. Andas rotinho,
como que envolto em transparente véu:
pouco me falta para te ver nuzinho,
pouco te falta para andar ao léu!
Tens a batina, pálido Misquinho,
cor da esperança... e tem a cor do breu...
No entanto assim foi Cristo, em rapazinho,
e hoje é o duque de Morny no céu!
Por isso, ó flor ideal dos rapazitos,
paciênciazinha, cose os farrapitos
dessa batina. Toma a agulha e as linhas.
Dar-te-ia, crê, meu lindo pequerrucho,
uma das penas orientais – um luxo! –
se eu fosse Deus, o pai das andorinhas.
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