05 maio 2008

Hugo Santos, um nome a reter


Hugo Santos presta serviço público neste endereço. A escolha de títulos e de autores a que ele empresta o fôlego de uma leitura pensada e fundamentada, é do melhor que se pode encontrar na net lusa. Hugo Santos sabe do que fala e não está ali para fazer fretes. Os seus pontos de vista são amiúde temperados por uma feroz lucidez. A lucidez tem um preço. Dá-se mais atenção àqueles que passam a vida a carpir frustrações e anseios, ou à meia dúzia que, cheia de si e terrivelmente vazia, perora por aí em blogues ou jornais de referência. E raramente se lembram dos outros. É fácil queixarmo-nos da falta de atenção que temos, mas bastante mais complicado perceber que pouco ou nada temos a dizer. Já Hugo Santos consegue dizer muito em poucas palavras. Uma amostra, do que escreveu sobre A Nossa Necessidade de Consolo É Impossível de Satisfazer, de Stig Dagerman.

«Dagerman atreve-se, aqui, a enfrentar o perigo da melancolia que define certa modernidade, de raízes porventura oitocentistas, finisseculares – «Com amargo prazer desejo ver ruir o que arquitectei e ver-me, eu também, envolto na neve do esquecimento. Mas quê? A depressão é uma boneca russa, e na última boneca estão a faca, a lâmina de barbear, o veneno, as águas profundas e o salto para um grande abismo.» (p.28). Encaminha-se, todavia, de tal maneira despojado nessa direcção – «A vida não é um problema que possa resolver-se dividindo a luz pela escuridão ou os dias pelas noites, mas sim uma viagem imprevisível entre lugares que não existem.» (p.19) – que o seu escrito redunda em avassaladora machadada no nosso conforto e relega-nos para as velhas incertezas, para o campo aberto da desolação, inebriante canto da desolação.»

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