Uma investigadora portuguesa descobriu o quebra-nozes mais complexo feito por chimpanzés selvagens na floresta de Bossou, na Guiné. A descoberta faz parte de um estudo que combinou investigadores da Universidade de Coimbra, Universidade Nova de Lisboa e da Universidade de Quioto, no Japão e utilizou técnicas de primatologia e de arqueologia.
"Trata-se de um quebra-nozes constituído por quatro elementos de pedra, um martelo, uma bigorna e dois calços. Até agora só eram conhecidos instrumentos com três componentes", descreve Susana Carvalho, que está a fazer o doutoramento em Cambridge e é a primeira autora do estudo publicado no Journal of Human Evolution. A capacidade cognitiva necessária para combinar simultaneamente quatro pedras e uma noz "indicia que os chimpanzés são capazes de complexificar mais o seu comportamento durante a utilização de ferramentas de pedra do que se pensava", explica Susana Carvalho que também faz parte do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra.
“Existem semelhanças entre as ferramentas de pedra criadas pelos chimpanzés e os artefactos de pedra usados pelos primeiros hominídeos, há 2,5 a 2,6 milhões de anos", assegura Cláudia Sousa, especialista em primatologia na Universidade Nova de Lisboa e co-autora do trabalho.
O estudo mostra também a relação que os chimpanzés têm com o objecto. Os primatas utilizam, seleccionam e reutilizam as mesmas ferramentas durante períodos de tempo longos. Os objectos são abandonados quando deixam de cumprir a sua função.
Mesmo quando os objectos são pesados os chimpanzés continuam a transportar pedras e outros utensílios. Segundo a equipa, este comportamento demonstra não só uma relação de posse mas uma percepção de qualidade e eficiência das ferramentas.
Segundo Susana Carvalho os chimpanzés agem "de forma mais próxima ao nosso ancestral comum, no que diz respeito às primeiras tecnologias".
[in Público]
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