Portugal é um país antigo, mas onde a democracia ainda é trintona. E como acontece com essa faixa etária a crise fá-lo pôr em causa a democracia, até porque são recorrentes entre os mais velhos as hossanas a Salazar.
Portugal é um país velho mas sem memória. E de grande pobreza mental. O que se explica por décadas sucessivas de analfabetismo e pouca formação escolar.
Há por aí muita gentinha a propagar as vantagens da não escolarização. E, acreditem, é gente com formação. A habilidade dos portugueses cai sempre nas mesmas coisas. Mascarar-se, lamentar-se, terem pena de si próprios.
As pessoas tendem a esquecer rapidamente o que foi conseguido em três décadas, apesar dos estudos que vão sendo públicos. Porque o discurso da misericórdia continua a ser socialmente rentável e, como este governo não se tem cansado de propagandear, é a segurança social do futuro.
O primeiro-ministro ora diz que não devemos andar de mão estendida, ora assina decretos que aumentam o número dos que se vêem constrangidos a estender a mão para sobreviver. Percebe-se. Um povo temeroso é um povo que se governa mais facilmente. O pior é que isso agrava o atraso económico de Portugal, pois cada vez mais a economia precisa de massa crítica, ou seja, precisa de indivíduos capazes de tomar decisões e capazes de pensarem.
A pobreza sempre foi assunto muito apreciado em Portugal, à mesa, na missa, nas filas, no supermercado, em todos os estratos sociais e em todas as actividades económicos. O salazarismo ainda está vivo, ainda tem muitas ramificações. Até a inquisição, a pide e afins fazem ainda demasiado parte do imaginário colectivo nacional.
As pessoas lidam mal com a crítica e esperam sempre que o Estado seja paternal (que apoie e que castigue). E facilmente escondem o propalado bem-estar conseguido à custa de empréstimos bancários, pois os salários nacionais permanecem miseráveis.
Podiam, os portugueses, enfiar nas suas duras cabeças que uma política de encenação e de faz de conta dá maus resultados. Podiam perceber que grande parte dos empresários não está preparada para enfrentar os tempos que correm. Podiam arregaçar as mangas e lutar por uma política mais equilibrada que não usasse sempre os mais débeis como arma de arremesso. Mas para isso precisavam de ter melhor formação e ser menos individualistas e menos desconfiados. Gerir é partilhar e saber estabelecer metas. Gerir é também procurar equilíbrios quase sempre dolorosos, pois entre o desejo e a realidade está a ponte da possibilidade. Mas não. Enquanto se mantiver a ilusão de um Estado paternal, os portugueses continuarão a alimentar as fantasias de índias e brasis.
Os resultados são fracos. Veja-se o que diz Nuno de Almeida Alves, professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e um dos autores do estudo Jovens em transições precárias - trabalho, quotidiano e futuro, «O trabalho é muito central na vida das pessoas, tal como ter o suficiente para fazer face ao quotidiano, pagar as despesas, poupar algum rendimento ou projectar a vida dos filhos. Se as pessoas não conseguem posicionar-se satisfatoriamente no mundo do trabalho, isso pode projectar muitas outras dificuldades na vida quotidiana. (...)
Há um conjunto de passos que as pessoas devem dar para passarem da escola até à actividade profissional, à constituição de uma família e poderem assegurar descendência. Esse processo, que, há uns anos atrás, se fazia rapidamente e de uma forma segura, está a tornar-se muito mais longo.
As pessoas não se sentem seguras para cumprir estes passos. Quando não são dados consecutivamente num lapso de tempo relativamente rápido para as aspirações pessoais de cada um, começa-se a gerar alguma perturbação no quadro dos afectos. E isto é um problema que tende a alastrar-se a toda a sociedade. (...)
Voltámos 50 anos atrás e temos outra vez as três gerações a residir debaixo do mesmo texto.» (Público)
Repare-se que o governo PSD / CDS está a atirar o país para um vazio temporal. Recuar meio século é gravíssimo. Seja qual for o lado por onde se olhe.
É isto que os portugueses desejam? Ou será apenas reflexo de uma baixa escolarização e de um défice enorme de associativismo?
A misericórdia assenta na caridadezinha. A política assenta no debate de ideias e na escolha de opções de vida. Qual será dominante em Portugal?
Portugal é um país velho mas sem memória. E de grande pobreza mental. O que se explica por décadas sucessivas de analfabetismo e pouca formação escolar.
Há por aí muita gentinha a propagar as vantagens da não escolarização. E, acreditem, é gente com formação. A habilidade dos portugueses cai sempre nas mesmas coisas. Mascarar-se, lamentar-se, terem pena de si próprios.
As pessoas tendem a esquecer rapidamente o que foi conseguido em três décadas, apesar dos estudos que vão sendo públicos. Porque o discurso da misericórdia continua a ser socialmente rentável e, como este governo não se tem cansado de propagandear, é a segurança social do futuro.
O primeiro-ministro ora diz que não devemos andar de mão estendida, ora assina decretos que aumentam o número dos que se vêem constrangidos a estender a mão para sobreviver. Percebe-se. Um povo temeroso é um povo que se governa mais facilmente. O pior é que isso agrava o atraso económico de Portugal, pois cada vez mais a economia precisa de massa crítica, ou seja, precisa de indivíduos capazes de tomar decisões e capazes de pensarem.
A pobreza sempre foi assunto muito apreciado em Portugal, à mesa, na missa, nas filas, no supermercado, em todos os estratos sociais e em todas as actividades económicos. O salazarismo ainda está vivo, ainda tem muitas ramificações. Até a inquisição, a pide e afins fazem ainda demasiado parte do imaginário colectivo nacional.
As pessoas lidam mal com a crítica e esperam sempre que o Estado seja paternal (que apoie e que castigue). E facilmente escondem o propalado bem-estar conseguido à custa de empréstimos bancários, pois os salários nacionais permanecem miseráveis.
Podiam, os portugueses, enfiar nas suas duras cabeças que uma política de encenação e de faz de conta dá maus resultados. Podiam perceber que grande parte dos empresários não está preparada para enfrentar os tempos que correm. Podiam arregaçar as mangas e lutar por uma política mais equilibrada que não usasse sempre os mais débeis como arma de arremesso. Mas para isso precisavam de ter melhor formação e ser menos individualistas e menos desconfiados. Gerir é partilhar e saber estabelecer metas. Gerir é também procurar equilíbrios quase sempre dolorosos, pois entre o desejo e a realidade está a ponte da possibilidade. Mas não. Enquanto se mantiver a ilusão de um Estado paternal, os portugueses continuarão a alimentar as fantasias de índias e brasis.
Os resultados são fracos. Veja-se o que diz Nuno de Almeida Alves, professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e um dos autores do estudo Jovens em transições precárias - trabalho, quotidiano e futuro, «O trabalho é muito central na vida das pessoas, tal como ter o suficiente para fazer face ao quotidiano, pagar as despesas, poupar algum rendimento ou projectar a vida dos filhos. Se as pessoas não conseguem posicionar-se satisfatoriamente no mundo do trabalho, isso pode projectar muitas outras dificuldades na vida quotidiana. (...)
Há um conjunto de passos que as pessoas devem dar para passarem da escola até à actividade profissional, à constituição de uma família e poderem assegurar descendência. Esse processo, que, há uns anos atrás, se fazia rapidamente e de uma forma segura, está a tornar-se muito mais longo.
As pessoas não se sentem seguras para cumprir estes passos. Quando não são dados consecutivamente num lapso de tempo relativamente rápido para as aspirações pessoais de cada um, começa-se a gerar alguma perturbação no quadro dos afectos. E isto é um problema que tende a alastrar-se a toda a sociedade. (...)
Voltámos 50 anos atrás e temos outra vez as três gerações a residir debaixo do mesmo texto.» (Público)
Repare-se que o governo PSD / CDS está a atirar o país para um vazio temporal. Recuar meio século é gravíssimo. Seja qual for o lado por onde se olhe.
É isto que os portugueses desejam? Ou será apenas reflexo de uma baixa escolarização e de um défice enorme de associativismo?
A misericórdia assenta na caridadezinha. A política assenta no debate de ideias e na escolha de opções de vida. Qual será dominante em Portugal?
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