28 fevereiro 2012

Enquanto uns trabalham outros governam-se

As dívidas globais dos municípios e das empresas municipais são de cerca de 10 mil milhões de euros, 8,2 mil milhões relativas às dívidas dos municípios e 1,8 mil milhões de euros relativos ao sector empresarial local.
Os municípios precisam na globalidade de cerca de dois mil milhões de euros para pagar as suas dívidas de curto prazo.
Os municípios tendem a fazer previsões de receitas exageradas e não conseguem arrecadar o que previam, fazendo com que haja um aumento global da dívida.
Há municípios com uma boa gestão, que têm dívidas muito reduzidas e insignificantes, como é o caso de Almada, da Amadora, de Vila Franca de Xira. Porque será?

Trabalharemos com determinação

Fala Vítor Gaspar:

"Em 2013 já estaremos em período de recuperação económica". "Trabalharemos com determinação".
O desemprego continuará a crescer ainda em 2012 e no principio de 2013. A taxa atingirá 14,5% em 2012, diminuindo para pouco menos de 14% em 2013". "Trabalharemos com determinação".
"Não pediremos nem mais dinheiro, nem mais tempo". "Trabalharemos com determinação".


E assim, com tanta determinação, Portugal é um caso de sucesso. O desemprego sobe. A recessão agrava-se. As desigualdades sociais agravam-se. O assistencialismo regressa. As pessoas vão de mal a pior, com excepção de meia dúzia que continua a viver muito acima da média nacional. E ouvimos um discurso que traz ecos perniciosos: trabalharemos com determinação. Música que encanta tantos ouvidos tugas, quiçá por um saudosismo do velho Arbeit macht frei (o trabalho liberta).

Mimos de inverno com bolas de cristal

Passos Coelho já não é tão ingénuo como parecia quando debutou como chefe do governo. Agora já tem gente a trabalhar discursos e maneiras de dizer. Há que preparar a gentalha para mais austeridade. Crêem estas luminárias que a melhor maneira é fazerem assim, dizendo que não vai ser preciso mais austeridade e completar a mensagem com uma dessas frases tão do agrado dos pacóvios salões portugueses: "Não tenho nenhuma bola de cristal. Como presidente do PSD ou como primeiro-ministro não me anuncio como um profeta". E depois insistir com uma frase longa, dessas que as pessoas logo se cansam a ler ou a ouvir: "O que posso é dizer aos portugueses que não temos, como referi ainda há poucos dias, nenhum elemento que nos leve a concluir que será necessário reajustar de tal forma o cenário macroeconómico, as perspectivas de desenvolvimento ao longo deste ano em Portugal, que isso tenha de conduzir à adopção de medidas novas que, de alguma forma, corrijam esse desempenho".

Das câmaras indiscretas

A televisão é boa quando é porta-voz dos interesses que o governo representa, mas péssima quando mostra inadvertidamente aquilo que não era suposto ver-se. Portugal ainda há pouco se ria com a postura do senhor ministro das finanças portuguesas, em tudo distinta da que tem quando dá conferências de imprensa. Víamo-lo meio encavacado, não por causa de S. Exa. o senhor Presidente da República Portuguesa mas para corresponder à enfadada generosidade de um alemão.
Agora vemos Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças de Berlim, a jogar sudoku enquanto o Parlamento discute um novo resgate à Grécia. O homem não se interessa por miudezas. Não. Um joguinho de sudoku sim, dá um bocado de adrenalina.


27 fevereiro 2012

Haja um mínimo de lucidez

Ainda bem que há vozes que dão o seu a seu dono. Como estas que põem o ponto nos is: "Há uma teia em que diversos factores, e não apenas a crise económica, podem contribuir para o aumento da criminalidade. Por exemplo, as pessoas que vêem o crime de colarinho branco a não ser punido adquirem a percepção de que se os grandes fazem, então também podem roubar num supermercado", como diz o antropólogo Daniel Seabra.
Já o inspector-chefe da PJ, Tavares Rijo, faz questão de salientar "Quando assistimos ao retirar de direitos às pessoas e vemos outros vangloriarem-se de que nem se importam muito sobre quanto vão receber por cargos não executivos (...), temo que a revolta possa surgir e que a legitimação dessa revolta se comece a instalar".
Um mínimo de bom senso é sempre salutar.

Fonte: JN

Da asneirada

O homem fala e a coisa propaga-se. Diz ele (ele é Paul Krugman) que para reconquistar competitividade, os salários em Portugal têm de descer substancialmente: 20% a 30% em relação aos salários alemães.
Ora, ou estamos completamente doidos, ou os salários em Portugal são 35% inferiores em média ao dos alemães. O salário médio anual de Portugal antes da crise era de 12 425 euros. Na Alemanha era de 34 975 euros. Se não me falham as contas eram 35,5% de diferença. Agora a coisa ainda deve ser pior.
Por isso pergunta-se que pretende Paul Krugman com a boutade? Chamar a atenção para a sua argúcia? Ou dizer que influencia o governo português? Ou será que advoga sem ter coragem para o fazer que Portugal deve ser como a China e ter trabalho escravo?
Em Maio de 2010, o economista e professor de Princeton recomendava cortes salariais que podiam ir até 30%, dando como exemplos a Grécia, Espanha, Portugal, Lituânia e Estónia. Agora fica-se pelos 20%. Curiosamente, afirma “o que se passa na Europa e no mundo se deve em grande parte ao fracasso dos economistas”. Ele deve ser um dos tais, digo eu.

25 fevereiro 2012

Da poesia















Há mais poesia numa câmara fotográfica do que em muito texto pretensamente poético. Veja-se o sítio de Jon Rafman, artista canadiano que fez algo tão simples como reunir algumas imagens do Google Street View. A força das imagens não trabalhadas, a crueza, ironia, ternura ou a mera simplicidade dos apanhados alcançam a melhor poesia e configuram mesmo um tratado da poesia hoje.

24 fevereiro 2012

Da falta de cultura política dos portugueses

A incompetência para governar Portugal é tripartida: PSD, CDS-PP e PS. São os partidos do arco governativo. São os responsáveis pelos anos de governação democrática que temos pós-25 de abril.
A crise não tem a ver com o nosso país, embora tenhamos descurado certas mudanças dolorosas. Mudanças que as grandes empresas sempre impediram, pois bastava que as tivessem exigido para terem sido feitas. E como já aqui se mostrou algumas continuam a travá-las, pois os lucros que obtêm anualmente são astronómicos.
O problema é que quem tem as mãos metidas na merda não se livra do cheiro e por isso atiram culpas uns para cima dos outros enquanto os negócios continuam a desenrolar-se em grande estilo, mesmo que pontualmente com menos lucro.
Isso que parece tão óbvio continua a não entrar nas cabeças duras de muito escriba. O ódio a Sócrates e a demonização do seu governo permanecem politicamente rentáveis. Mas socialmente criminosos, pois somos nós, os que não somos nem grandes empresários, nem gestores, nem banqueiros quem paga todas as facturas.
E das duas uma, ou somos completamente idiotas ou profundamente masoquistas, pois em vez de dizermos NÃO, rosna-se contra o governo anterior. Ou seja, demonstramos que somos, também, co-responsáveis pelo problema.

Sem comentários

«Em 2011, o valor das multas do Código da Estrada passadas em Portugal ascendeu a 85,3 milhões de euros. Trata-se de um valor superior em quase 80% relativamente ao contabilizado um ano antes (47,7 milhões). Em Janeiro deste ano, embora sem confirmação oficial por parte da Direcção-Geral do Orçamento, os montantes pagos, face ao mesmo mês de 2011, sofreram um acréscimo a rondar os 80%.»

A crise cá e noutros lados

Portugal está no grupo de países com maiores desigualdades em termos de rendimento disponível das famílias, sendo o terceiro com maior desigualdade em rendimento de trabalhadores a tempo inteiro, diz a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. (fonte)
Entre os 17 países do euro, os quatro países do Sul - Portugal, Grécia, Espanha e Itália - que estão a realizar maiores esforços de consolidação orçamental são precisamente aqueles que enfrentam um panorama mais negro. Todos estarão este ano em recessão, o que já era esperado para Portugal e Grécia, que terão um crescimento de menos 3,3 e menos 4,4%, respectivamente. A surpresa surge em Espanha e Itália, cujo PIB sofrerá uma contracção de 1 e 1,3%, respectivamente, contra uma progressão de 0,7 e 0,1% esperada há três meses. (fonte)
A receita aplicada, como se ouve repetir até à náusea, é boa. Para quem? Segundo o jornalista e investigador espanhol Santiago Camacho, autor do livro "A Troika e os 40 Ladrões", "Os Estados como Portugal, Grécia, Itália e Espanha têm dívidas, mas uma boa parte dos défices públicos ficaria resolvido se não fossem as enormes fraudes cometidas por empresas que estão a pagar muito menos impostos do que aquilo que deveriam de facto pagar porque utilizam mecanismos de engenharia financeira através da banca offshore". Já "em Espanha, as empresas que fazem parte do índice bolsista estão a descontar em impostos uma quantidade ínfima em relação aquilo que deveriam pagar porque utilizam filiais nas ilhas Marshall, no Lichtenstein, nas ilhas Caimão e que ficam com todo o dinheiro. Se a fraude e a evasão fiscais dessas empresas fosse combatida em Espanha, na Grécia e em Portugal o défice seria anulado".
Camacho advoga que está na hora de "os países que estão a ser atacados pela crise dizerem que estas medidas não servem de nada e que é preciso repensar a economia desde o ponto de vista do interesse dos cidadãos e não em benefício dos bancos que foram os que nos atiraram para esta situação".
Mas para isso era preciso que a democracia funcionasse, ou seja, que as pessoas dissessem basta! Ora, a democracia precisa de partidos e os do arco de poder estão reféns da banca e de instituições afins.

23 fevereiro 2012

Case study: como criar emprego

Portugal é um país inovador, moderno, criativo. Tem no governo palhaços que tentam animar o povo com piadas de alto gabarito. Ora riam-se lá:
Pedro Martins convocou a imprensa para falar do Programa de Relançamento do Serviço Público de Emprego, hoje aprovado em Conselho de Ministros, dizendo que o Governo pretende reconverter em gestores de carreira cerca de 150 dirigentes do Instituto de Emprego e Formação Profissional. "Vamos proceder a uma nova configuração de tarefas dos técnicos de emprego, de modo a que os cerca de 1.000 técnicos de emprego do país passem a gestores de carreira, com maior proximidade aos desempregados de modo a ajudá-los a regressar mais rapidamente ao mercado de trabalho", disse aos jornalistas o secretário de Estado do Emprego.
É de partir o coco.

Diz-se e desdiz-se

Os "responsáveis" governamentais portugueses ou de instituições europeias mentem com quantos dentes têm na boca. Veja-se o caso do presidente do Banco Central Europeu (BCE) que considera que o programa de Portugal "está no bom caminho" e que o País não precisa de mais ajuda financeira. Mario Draghi considera que o país está a implementar "medidas apropriadas", com "objectivos alcançáveis e realistas". (fonte)
Já Silva Lopes garante que Portugal vai precisar de auxílio adicional. Mal de nós se ela [ajuda] não for dada". (fonte)
Poderíamos referir outras vozes. É um espectáculo. Vítor Gaspar agradece ao alemão. O alemão, qual magnata, diz de forma displicente que o seu país considerará nova ajuda ao nosso país.
Robert Mundell, Nobel da Economia e também considerado "pai do euro", afirma que Portugal vai precisar de novo resgate devido à recessão (fonte). E toda a gente sabe que sim, que é verdade. Mas continua-se a fazer de conta e a assobiar para o lado, para dar ideia de que os gestores de desempregados são a melhor das coisas que vamos ter e que os mercados são muito sensíveis a estes passos de balet.

22 fevereiro 2012

Vergar? Jamais. Só aos ricos, sejam donde for

O governo em funções é duro. Miguel Relvas é o rosto e a voz da força (será prepotência?). Pouco importa. Registe-se a convicção com que diz: não há tolerância de ponto no Carnaval em 2013.
Faz tudo parte de uma estratégia. Qual? Ainda não percebeu? A de chatear a populaça e mostrar quem manda. Em Espanha já andam à bordoada nos estudantes. Aqui não há-de tardar. Força, Relvas, o governo está contigo. E o povo tuguês gosta de gente com força.
O governo em funções envergonha o país com estas estratégias de lamber as botas aos ricos e esmifrar o povo. É feito da mesma estirpe desses empresários belgas que se desfazem de funcionários mutilados para que morram aos poucos em becos sem saída.

21 fevereiro 2012

Da vaidade

«Os escritores têm muita dificuldade em aceitar que tudo acaba por se esquecer. Tudo tende para o esquecimento. Mas há mais relações, o jornalista aprende com o escritor o respeito pelas palavras, sabendo que há palavras que se dão com as outras, e outras não. Não calcula o tempo que demoro a escrever aquela merda com 1400 caracteres. Leio aquilo tantas vezes... Volto atrás e vou para a frente. Só a trabalheira de arranjar assunto. Eu espontaneamente só tenho opinião uma vez por ano, agora tenho de ter todos os dias porque ganho a vida assim.»

«Os políticos tratam-me sempre bem. São umas putas velhas.»

«Eu não tenho nenhuma fé. Mas escrevi recentemente uma crónica chamada “O que fica depois do que se perde”, sobre o filme “A Palavra”, do Dreyer. É uma história sobre a fé.»

«No outro dia disse uma coisa com que concordo, nem sempre isso me acontece. Estive a reler uma entrevista minha à “Ler”, e exclamei: “Eu disse isso?” Fiquei contente. Achei que tinha dito uma coisa acertada. Nem pareço eu. A propósito do Joaquim Manuel Magalhães falar do regresso ao real, disse: “Mas há alguma coisa que não seja real? Tudo é real. O problema é que há muitas realidades. O sonho é tão real como estar acordado.”»

palavras de Manuel António Pina em entrevista ao jornal i

O Estado, a ortografia e o resto

Fala António Feijó:

O Estado abstém-se de entrar em certos domínios da economia porque entende que não tem vocação para o fazer. Então porque é que há-de entrar nas consoantes mudas? É um contra-senso.

Um governo ter legitimidade democrática não significa que tem legitimidade de legislar em todas as áreas. Há uma série de funções que seria abusivo o Estado arrogar-se exercer. A imposição de uma ortografia é uma delas.

A noção de educação deixou de interessar. A brutalidade prática é tal, que a única coisa que interessa é a saída profissional. E isto é algo que vai ter custos enormes no país, nem que sejam custos de um ponto de vista moral, da auto-estima das pessoas, etc.

(...) a questão central é a educação das pessoas, o que é que determinada pessoa é capaz de fazer, se é capaz de articular um pensamento lógico, perceber um argumento, escrever um texto. Nada disto interessa, interessa apenas que tenha uma saída profissional. E quando depois vamos ver os índices de desemprego, reparamos que cursos que tinham emprego pleno, como por exemplo Direito, deixaram de ter (...)

(...) falamos com os maiores empregadores portugueses e dizem--nos: “As pessoas aprendem no exercício da actividade, na empresa. Queremos é pessoas que saibam pensar, exprimir-se, que saibam perceber a leitura de um texto complexo. Desses é que nós precisamos, depois cá dentro é que os treinamos, não precisamos que vocês os treinem para trabalhar, por exemplo, na Portugal Telecom, pois a Portugal Telecom é que vai treiná-los para trabalhar na Portugal Telecom”.

20 fevereiro 2012

Da democracia e do dinheiro

Os governos cortam e onde se notam logo os cortes é nos salários e no emprego. O emprego cai, os salários das maiorias baixam e os mercados sorriem de satisfação. Ao desemprego junta-se a exclusão social, o aumento das desigualdades e da pobreza, a rotina da humilhação, o desmembramento da dignidade humana (isso em que supostamente assentam as constituições de todos os países europeus). A hierarquia de valores inverteu-se e o dinheiro sobrepõe-se à vida das pessoas. Podem morrer milhares, isso são migalhas num negócio de biliões.
Wolfgang Munchau, colunista do "Financial Times", acusa a Alemanha de ter tentado que a Grécia adiasse as eleições e permanecesse com o Governo liderado por Lucas Papademos. Mas as acusações não ficam por este ponto. O colunista diz mesmo que “a estratégia da Alemanha parece ser fazer a vida tão miserável que os próprios gregos vão querer sair da Zona Euro.” “É uma estratégia de suicídio assistido” e “extremamente perigosa e irresponsável.”

Da banca e da política. Quem manda mais?

A resposta é óbvia? Não, não é. O que acontece é que os ministros da economia e das finanças sabem que a vida não acaba no governo...
Veja-se: Sócrates lutou até ao fim para que não houvesse pedido de ajuda. A banca fez o inverso. Ouça-se Judite de Sousa: “Muitas pessoas não perceberam porque é que andava a entrevistar banqueiros todos os dias. A verdade é que as entrevistas foram feitas numa segunda, numa terça, numa quarta e numa quinta; 48 horas depois, o primeiro-ministro estava a pedir ajuda financeira.” “Acabei por, com aquelas entrevistas, fazer parte de uma narrativa que foi meticulosamente preparada pelos banqueiros para acertar uma posição conjunta de forma a fazer um ultimato a José Sócrates.”
Por onde partiu a corda? Pelo lado de Teixeira dos Santos. Este sabia que Portugal não tinha força nem dinheiro para aguentar o braço de ferro com os mercados e com a banca.
A banca, como também já se percebeu, não cumpre a função de financiar a economia, mas os gestores ganham como reis. A banca é grande. Os portugueses são pobres... de espírito.
Quem acredita na troika ganha pouco e mal. Quem cumpre a missão de dourar a pílula da troika ganha muito acima da média dos portugueses e precisa de manter o seu nível de vida.

Da fé

Em Portugal a crença é universal. O povo acredita nos pastorinhos, o governo em Portugal. É um mar de crença, tanto azul, tanto branco.
E que tem o primeiro-ministro a dizer? Ora, coisas tão profundas como qualquer palerma num café: «Não podemos andar a varrer os problemas para debaixo do tapete e fazer de conta que as dificuldades não são muitas. Parceria de tolos.»
Portanto, só falta acrescentar que Passos Coelho enche a boca com afirmações destas: «Não tenho uma mensagem mais forte para Portugal hoje, que não seja a de dizer: eu acredito no meu país, eu acredito na Europa».
Olé!

Das dívidas

A dívida conjunta de Estado, famílias e empresas não financeiras ascendeu, no final do ano, a 715 mil milhões de euros, ou seja, 418% do PIB.

Fonte

A grande banca portuguesa

... houve um período em que os bancos emprestavam para tudo, a taxas baixas, ficando garantidos com a hipoteca do imóvel e com fiadores – na maioria, os pais –, mesmo sabendo que os seus rendimentos eram baixos. Resultado: há cada vez mais casos de idosos que, por terem avalizado os empréstimos dos filhos, vêem os seus imóveis serem penhorados.

frases retiradas daqui

Pequenas coisas sem importância. Portugal

Fala Pedro Santos Guerreiro:

«Mesmo com abundância de liquidez e de crédito, a economia não cresceu - cresceram as margens de lucro de alguns grupos [EDP, PT, Galp, Mota-Engil, Brisa, Sonae, Jerónimo Martins], muitos deles protegidos. Agora que o Governo já tratou das leis laborais e os mercados trataram do mau (e do bom) financiamento público, falta abrir os aloquetes dos cintos de castidade aos protegidos.»

«Enfrentar uma vaia em Gouveia é nada ao pé desses silenciosos lóbis. É mais fácil não ter medo do povo que do polvo.»

«A derrapagem no sector dos transportes é maior que os salários que a função pública perde. É preciso dizer mais?»

Pequenas coisas sem importância

Independência é uma palavra redonda, cheia de ondulações, musical. E também rica de sentido. Segundo o dicionário Houaiss, tomo IV, pág. 2078, é o estado, condição, carácter daquele que goza de autonomia, de liberdade em relação a alguém ou alguma coisa.
Ora, como nos vêm ensinando muitos autores, desde antiguidade, passando pelo século XVII e seguintes, é uma fantasia a que alguns se entregam e que costumam pagar com a vida.
O mundo de hoje, tão informativo, é um mundo cheio de independentes. A informação é independente, mas em dando-se o caso de ser indiscreta pode-lhe acontecer como a António Galvão (o repórter de imagem da TVI que captou a polémica conversa a 9 deste mês, entre Vítor Gaspar e Wolfgang Schäuble), que passa a estar impedido de aceder à sala onde se reúnem os ministros da União Europeia, pelos serviços de imprensa.
Noutra parte do globo, esse lídimo representante do povo russo (que é apelidado nas ruas de aldrabão e de vigarista) chamado Vladimir Putin tem a vitória assegurada na primeira volta das eleições presidenciais. Ele sabe como ninguém que teclas tocar para pôr os russos a dançar ao som da sua orquestra. E já prometeu um rearmamento “sem precedentes” da Rússia. Ah o orgulho russo. Ah o mundo belo em que vivemos, a caminhar contente e tranquilo para um regresso em força das ditaduras, em nome do enriquecimento da meia dúzia do costume, e num tempo supostamente de informação.

16 fevereiro 2012

Já são mais de um milhão

os cidadãos portugueses que não têm emprego. Ao todo dá o lindo número de um milhão e 57 mil portugueses.
Os 770 mil de que fala o Instituto Nacional de Estatística (INE) esquece os 203 mil inactivos disponíveis e os 83 mil inactivos desencorajados, a que é preciso juntar ainda os 286 mil que, apesar não terem emprego, também não procuraram trabalho activamente.

Da poesia. Uma irritação

A poesia é um assunto tóxico. Por favor não metam a poesia onde não é chamada. E aqueles que se entusiasmam com as baboseiras e fantochadas do costume tenham pelo menos a decência de deixar a poesia em paz. A poesia passa bem sem essa tanta gentalha que mal sabe ler, que quase nada lê e que agita as coberturas acrílicas com chilreios irritantes.
A poesia é vida e a vida cheira mal. A vida não usa perfume, nem anda de BMW. A poesia diz, sugere, brinca, irrita, seduz e permite o uso de tantas outras acções porque (refrão) é vida, tem sangue, fezes, emoções. As emoções são perigosas, podem levar as pessoas para lá do que é devido. A poesia é perigosa. Tão perigosa que, excepto uns poucos, continuam a etiquetá-la junto aos cosméticos ou junto aos rolos coloridos de papel higiénico. As etiquetas sempre foram úteis, sempre permitiram aos burocratas orientarem-se e dominar. Mas a poesia é vida, não se submete a nenhum credo. De vez em quando fere. Às vezes chateia. Mais raramente ousa. E todas as ousadias são um remendo. A poesia é vida, não é um rol de palavreado cheio de referências e citações. Quando espirro, quando tusso não estou preocupado com Shakespeare ou com Camões. A poesia pode ser um catarro medonho. Ou o mau cheiro de quem bebe mais do que a conta.
A poesia não é coisa de professores, sejam básicos ou universitários, embora uns e outros gostem muito de se lembrar dela no dia mundial da coisa. Ai, a poesia... Ou a poesia e tal e coisa, aquelas palavras que se encavalitam umas nas outras e fazem momices com os braços como as medíocres representações teatrais. Não, a poesia tem fome, tem sede, anseia, quer. A poesia é vida ou não presta. A vida não se limita ao bê-a-bá da economia ou disto ou daquilo. É, como sempre foi, um campo vasto de possibilidades que o homem tenta abarcar mas que lhe continua a escapar. Há ainda muito por conhecer. Por isso, aqueles que parafraseiam quem disse que já está tudo dito só podem estar a brincar - e a poesia, recordo, também é um jogo.
Posto isto, bardamerda para quem gosta de poesia.

15 fevereiro 2012

Fala M. A. Pina

«Segundo cálculos divulgados pelo jornal económico francês "Les Echos", a Alemanha deverá à Grécia em resultado de obrigações decorrentes da brutal ocupação do país na II Guerra Mundial 575 mil milhões de euros a valores actuais (a dívida grega aos "mercados", entre os quais avultam gestoras de activos, fundos soberanos, banco central e bancos comerciais alemães, é de 350 mil milhões).

Ao contrário de outros países do Eixo, a Alemanha nunca pagou.

Talvez seja a altura de a Grécia exigir que um comissário grego assuma a soberania orçamental alemã de modo a que a Alemanha dê, como a sra. Merkel exige à Grécia, "prioridade absoluta ao pagamento da dívida".»

Ler o artigo aqui.

A choldra da Europa comunitária

A Comunidade Europeia mostra-se tal como é: uma farsa. Nada de comunidade e muito do E que deixou cair, Económica. O que interessa, sempre, é o plim. O resto é uma velha cantiga que continua a ter os seus efeitos sociais.
Desde que os bancos alemães, franceses e outros se livraram da dívida grega que o "risco de contágio" se tornou irrelevante. E logo começaram os arautos a apregoar a cantilena da saída do euro da Grécia. Países que têm latente uma forte tendência de extrema-direita (populismo disfarçado de patriotismo, negócios de milhões em nome das pátrias) como a Alemanha, a Holanda e a Finlândia começam a subir o tom e a revelar-se a cloaca, senão mesmo a latrina que são.
Abençoado presidente grego Carolos Papouilas que pergunta e bem: "Quem é o Sr. Schauble para criticar a Grécia?"
Mesmo gente nascida na Grécia não se enxerga e vem com a prosápia rançosa da publicidade, como esse deputado alemão de origem grega, Yiorgos Chatzimarkakis, militante do Partido Liberal incorporado na coligação Merkel. Propõe ele que “Para um honesto ‘new beginning’, a constituição grega deve ser escrita a partir do zero e o país deve passar a ser conhecido em todas as línguas como ‘Hellas’, porque precisa de uma nova imagem.”
A idiotice levou a Europa a este beco. Será que os europeus têm tomates para sair da choldra em que estão atolados?
Se houver mudança no país de Sarkozy, pode ser que a Europa comece a orientar-se numa direcção menos infecta. Por ora resta-nos fazer como Cossery e olhar para esses burocratas com escárnio e altivez.

14 fevereiro 2012

Lucinda Creighton vs. Miguel Relvas

Enquanto Relvas se arvora em entendido e mostra a fibra débil que o molda, dizendo que a Grécia «deve seguir o caminho» de Portugal e Irlanda, que «aplicaram as políticas correctas no momento adequado», Lucinda Creighton, ministra irlandesa dos Assuntos Europeus, põe em evidência que a formação é essencial e diz que há um dever de solidariedade, um dever que é particular entre os três países do euro intervencionados e “seria errado tentarmos demarcar-nos da Grécia ou de outro país que esteja a atravessar dificuldades”.

Previsões

"Sem o apoio mais amplo da Alemanha à Europa, Portugal será a próxima Grécia. Para mim, Portugal é a Grécia 12-18 meses depois. Olhem para a Grécia e podem traçar uma linha temporal para Portugal", diz Steen Jakobsen, economista-chefe do Saxo Bank.
Que prevê que a Grécia deve sair da zona euro antes de Junho e que, poucos meses depois, algures no terceiro trimestre, Portugal vai viver uma nova "fase crítica".

Anne-Laure Delatte, professora de Economia na Rouen Business School, não acredita que Portugal escape a um novo resgate. Caso os juros da dívida pública exigidos pelos investidores ainda estejam em "níveis superiores a 5% quando os empréstimos do FMI terminarem", Portugal vai ter de pedir mais austeridade em nome do novo empréstimo. Para já, todas as ‘yields' nacionais negoceiam acima de 13%.

Mais aqui.

A beleza dos gráficos


O PIB nosso e o mundo, em gráfico.

Os luxos deste governo PSD / CDS

Receita de sempre: cortar.
Resultado: corta-se tanto que pouco fica.
Crescer? Como?
No fim do pacote teremos regredido três a quatro décadas.
Há sempre quem esfregue as mãos de contentamento. Os ressabiados, os saudosistas, os filhos da puta.
Não há a mínima perspectiva de que o desemprego possa estancar nem de que a actividade económica possa ressurgir. A crise agrava-se cada vez mais e Portugal vai apático e ressentido ao fundo. Os primeiros dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao andamento da actividade económica no quarto trimestre de 2011 apontam para uma acentuada degradação das condições recessivas. O Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu, no quarto trimestre, 2,7% em termos homólogos (o que compara com uma queda de 1,8% no trimestre anterior) e caiu 1,3% por comparação com o trimestre anterior, mais do que duplicando a anterior queda em cadeia, que fora de 0,6%.
Lá fora há quem aplauda e diga: Portugal vai no bom caminho. Vai, vai. Vai ser um paraíso de férias. Mão-de-obra e tudo barato para poderem gozar à grande.
Entretanto, mesmo com a crise, o governo gasta dinheiro à tripa forra. Por exemplo, para a merda do programa de governo foram 12 mil euros, por cem exemplares. É que a coisa tinha de ser em papel couché semimate, tudo a cores, a capa com fundo em tons de cinza-prata e ilustração em alto-relevo. Cada exemplar ficou a 120 euros. E nem para limpar o cu serve. O nome diz tudo: "Compromisso para uma Nação Forte". Uma nação de papalvos que paga mordomias como livros para cada um dos membros do governo. Em plena crise.

13 fevereiro 2012

Portugal afunda-se

mas não é em água. É economicamente.
Os indicadores compósitos avançados relativos à Irlanda estão a melhorar há três meses e já se encontram acima da média de longo prazo, enquanto na Grécia a melhoria tem-se verificado consecutivamente nos últimos seis meses.

Problemas de seca? Chamem a Assunção Cristas

Ela tem a solução: tem "esperança que comece e chover e as coisas se possam resolver”.
Ser ministro confere o dom da esperança. E a esperança é pródiga em água, como todos sabemos.

10 fevereiro 2012

Adoro esta maneira de fazer notícias

Diz a caixa alta «Conversa de Schaeuble com Gaspar provoca forte queda nos juros da dívida portuguesa». O corpo da notícia é no mesmo tom, confiante, como quem é bailarino e desliza à vontade. O problema é que os números desmentem a euforia. Veja-se, «Os juros da dívida pública portuguesa estão hoje em forte queda, contrariando a tendência que se verifica nas obrigações de outros países do euro, como Espanha e Itália.» Ora, «A “yield” da dívida espanhola a 10 anos sobe 12 pontos base para 5,3% e os juros das obrigações italianas com a mesma maturidade avançam 11 pontos base para 5,59%.
E nós? Nós que estamos a baixar?
A dois anos, a taxa de juro implícita recua 133 pontos base e está nos 13,75%. A “yield” das obrigações a cinco anos cai 126 pontos base para 15,49%. No prazo a dez anos, a rendibilidade exigida pelos investidores cede 82 pontos base para 12,5%. Ou seja, nós temos de pagar mais do dobro. Que maravilha, não é? Que poupança.
Acima dos 7% é incomportável dizia Teixeira dos Santos.
A propaganda faz-se assim, com estas jigajogas eufóricas. A distância entre a propaganda e a realidade é: o abismo.

Sobre o salário dos políticos portugueses

Passos Coelho considera que os políticos não são bem pagos. E eu discordo de Passos Coelho. Olhando para o salário médio dos portugueses, os políticos são muito bem pagos.
Se quisermos aumentar os vencimentos dos servidores do Estado temos de os aumentar todos e o mesmo terão de fazer os privados. Mas para que isso seja viável, é preciso que o país se desenvolva economicamente. Ou seja, é preciso que o governo olhe para onde deve olhar: para as empresas.
É que em Portugal há sempre um discurso para baixar salários e tirar direitos aos assalariados e outro para quem se acha acima dos assalariados.
Sabemos que em todo o mundo as maiorias aceitam ganhar muito pouco para que alguns ganhem exorbitâncias. Portugal ainda é um país assim, cheio de desigualdades e de miséria. Quando certos tontos falam da «folia dos últimos anos» devem estar a ver-se ao espelho.
Passos Coelho gostava de ganhar mais como primeiro-ministro. Mas para isso, além do crescimento da economia, exige que tenha menos motoristas e que gaste o dinheiro do Estado em outras coisas que não as do costume: mordomias, assessorias, pareceres, obras megalómanas ou desnecessárias.

Quanto mais preocupados com o dinheiro

mais comprovam que o dinheiro é, de facto, o que os move. E assim são muitos políticos. Trabalham sempre com um objectivo claro: o enriquecimento pessoal. Enchem a boca para falar da sua localidade, da sua região, do seu país, mas não passa disso: ar e vento, balelas.
Veja-se o caso desse grande representante da direita europeia que é Nicolas Sarkozy. Gasta quantias astronómicas ao erário público. O orçamento do Eliseu ultrapassa as despesas anuais da Rainha Isabel II de Inglaterra.
As manias da grandeza fazem lembrar as de qualquer pato bravo ou novo-rico: o presidente gasta, por dia, 12 mil euros em alimentação, tem 121 carros estacionados no Eliseu (o dobro da frota do ex-presidente, Jacques Chirac) e usou quase 260 milhões de euros de dinheiro público para comprar e manter o seu Airbus A330 (baptizado de Air Sarko One).
É este mesmo homem que quer fazer referendos... sobre os benefícios dos desempregados e os direitos dos estrangeiros.
Há gente que tem os tiques da rainha dos croissants, Marie Antoinette. Vive em ambiente forrado a ouro enquanto na rua corre o cheiro fétido da fome.

09 fevereiro 2012

Alemanha e Madeira

As estratégias de que se serviu Merkel para chegar ao poder são afins das que se servem Alberto João Jardim e outros para o mesmo. Os alemães há muito vivem noutra dimensão económica. E têm acesso a outros níveis de formação. Mas nem por isso deixam de ser egoístas.
O egoísmo madeirense permite que JJ conserve o poder há três décadas. E isso tem custos. Custos elevados. Os alemães podem encher o peito de ar e apontar baterias à Madeira ou a Portugal. Mas quando Passos Coelho ou Sarkozy se encostam a Merkel ela dá apoio e isso vale muito mais, simbólica e efectivamente, do que o blá blá das parangonas.
De resto, a Madeira recebeu dinheiro porque os seus projectos foram validados. E também na Alemanha há casos de corrupção e de fundos públicos que vão parar aos bolsos de certos tubarões (o que não é de molde a desenvolver a economia ou a competitividade).

Os preconceitos alemães

O partido e apoiantes da senhora Merkel mantêm tiques e comportamentos que levaram a Alemanha às duas grandes guerras. São arrogantes e pretenciosos e estão convencidos de que ajudar um país é impor-lhe a sua vontade.
A Europa nunca foi e não é um estado, mas um conjunto de países com história e mentalidades diferentes que ainda há não muito se digladiavam. Circunstâncias económicas deste início de século e opções políticas/económicas desastrosas (nomeadamente de bancos) legitimaram a necessidade de países tão diferentes como a Islândia, Grécia, Irlanda e Portugal terem de recorrer a instituições como o FMI para terem dinheiro. A Europa da CE, se não fossem as decisões políticas tomadas, poderia e deveria ter mecanismos de apoio que facilitassem aos países carenciados cumprir as suas obrigações e reestruturar as economias nacionais para se desenvolverem e poderem pagar as dívidas contraídas.
Mas não só a Europa não ajuda como é parte do problema. Estivéssemos noutro século e estaríamos já perante uma situação de guerra na Europa. A Alemanha comporta-se como uma menina mimada, que quer à viva força impor o seu modelo de sociedade, de vida, de mentalidade aos gregos. E fá-lo com armas mais mortíferas do que os mísseis: com dinheiro.
Os gregos terão os seus defeitos, mas não são parvos. Sentem na pele a merda que o mundo mercantil ali despeja. E descobrem-se, como em todo o lado, impotentes para travar uma estratégia mundial de destruição da dignidade humana. O que vale, sempre, por inércia e por costume, é a lei da selva ou a lei do mais forte.
A Alemanha tem tiques autoritários. E o autoritarismo faz crescer ódios que acabarão por vir ao de cima. Como é o que se verá durante esta década.

Angola diz não ao Brasil

Num editorial intitulado Património em risco, José Ribeiro dá a conhecer a posição de Angola quanto ao acordo ortográfico. O texto é precioso e começa a dar que falar (veja-se o Público de hoje).

Ora vejam lá:

«A Língua Portuguesa é património de todos os povos que a falam e neste ponto estamos todos de acordo. É pertença de angolanos, portugueses, macaenses, goeses ou brasileiros. E nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante.

O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige. Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às “leis do mercado”. Os afectos não são transaccionáveis. E a língua que veicula esses afectos, muito menos.

Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas Línguas Nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via popular. Do “português tabeliónico” aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas. Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que se tratam as preciosidades.

O nosso [dos jornalistas] trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português.

A escrita é “contaminada” pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais, não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica. Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras.»

08 fevereiro 2012

O país de que o PSD e o CDS gostam

Segundo o Público: «Os números divulgados nesta quarta-feira pelo Eurostat revelam que 2,7 milhões de portugueses estavam confrontados com pelo menos uma das três formas de exclusão social: risco de pobreza, situação de privação material grave ou, finalmente, a viver em agregados com uma intensidade de trabalho muito baixa.»

Da emigração

O pessoal que pode dá à sola de um país que tem Passos Coelhos a dirigi-los e demais sumidades a entourá-lo.
Segundo o Diário Económico: «Engenheiros, profissionais das tecnologias de informação, enfermeiros, professores e educadores de infância, assistentes sociais e cozinheiros. Foram estas as profissões mais procuradas por empresas do Reino Unido, Noruega, Alemanha, França, Suíça e Finlândia, que vieram a Portugal, em Outubro de 2011 apresentar-se aos candidatos a um emprego no estrangeiro.»
Segundo o i: «mais de 1.700 enfermeiros emigraram no ano passado e que só nas primeiras três semanas deste ano 200 destes profissionais solicitaram declarações para sair do país.»
Ora digam lá que Portugal não é um país maravilhoso.

Dos Tonis deste país

Um dos meus passatempos preferidos é ler os comentadores económicos da nossa praça. Pelo humor de que são capazes. Ou, mais prosaicamente, por serem exímios em encher chouriços com nada.
Veja-se esse ilustre escriba que dá pelo nome de António Costa. Diz ele, cheio de sabedoria e muito preocupado com Portugal, que «a discussão em torno da tolerância de ponto do Carnaval é desproporcionada face à sua real importância. É absurda.» E porque é que ele acha isso absurdo? Porque está preocupado com o país. Afirma que «Portugal dificilmente conseguirá regressar aos mercados em 2013, mesmo que faça tudo bem.»
É uma preocupação monumental. Algo que dá insónias a qualquer patriota.
O que é que o cu tem a ver com as calças, pergunta o Zé na rua. Ora, caro Zé, tem tudo a ver. A economia do país não cresce por causa dos feriados e do Carnaval. Em se acabando com essas duas pechas, a economia crescerá a olhos vistos... Ou se calhar não. Segundo o nosso Toni Costa, a solução está em «criar condições para a economia crescer e tornar a nossa dívida solvente.» Lindo, não é?
Não há uma ideia que seja no artigo que mostre aos leitores do jornal como é que a economia vai crescer, há apenas o ressentimento do Toni contra o Carnaval e o assobiar para o lado com o crescimento da economia.
Percebe-se que para ele o bem-estar das pessoas e o ânimo que possam sentir são irrelevantes. Eu pergunto-me se é assim, porque é que lhe pagam o que pagam? Não sairia mais barato ao jornal e ao país ter um comentador deste calibre a varrer ruas?

07 fevereiro 2012

Fala quem sabe

Fala Jorge Sampaio: "Porque é que os trabalhadores têm menos absentismo nas empresas bem geridas, porque é que as multinacionais bem geridas têm sucesso, porque que é que a Ford Volkswagen é citada como um exemplo de boas relações laborais?"

"A minha tese é que temos grandes capacidades, somos capazes de tudo, mas precisamos obviamente de gestão, de capacidade, de aprofundamento e de combater desigualdade sérias".

David Choe ft. Facebook ou plim plim


Morre um pintor e há mais que chegam. Os pintores são mais que as mães. Alguns dão que falar porque sabem fazer bons negócios. Não é por serem bons pintores. Isso é critério menoríssimo, importa sim o money money, como o nosso amigo Andy deixou bem claro, até em tela.
Antoni Tàpies (1923-2012) morreu. E David Choe torna-se ainda mais conhecido, por ter sido convidado, em 2005, pelo criador do facebook, Mark Zuckerberg, para pintar as paredes do primeiro escritório da Facebook, na Califórnia. Este pagou-lhe em acções. Depois do sucesso da empresa, tem 200 milhões de dólares e é designer gráfico e muralista (grafitter) reconhecido em todo o mundo.
Os trabalhos de Choe são um pastishe de muita coisa. O mundo gosta de pastishes. O mundo gosta de dinheiro.

Já há quem siga a proposta do governo e emigre

O actual director artístico do Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS), João Fernandes (n. Bragança, 1964), vai ser o novo subdirector do Museu Nacional Rainha Sofia, em Madrid, substituindo no cargo a australiana Lynne Cooke.

Pode ler-se em a mesma notícia no original, em castelhano:

João Fernandes (Bragança, 1964) , el hasta ahora director del Museo Serralves de Oporto, ocupará el cargo de subdirector del Reina Sofía, en lugar de Lynne Cooke.

Da pieguice do coelho a querer dar passos socráticos

Alguma alma douta e esclarecida soprou o termo à alma moldável de Passos e o coelho que há nele caçou-o e com ele fez brilharete na cerimónia do 40.º aniversário das escolas do grupo Pedago.
Há escolas com um nome que é todo um programa. Coelho deu passos de ambicioso, pondo a nu o seu coração perante tão douta e esclarecida assembleia. Mas Coelho claudicou no discurso, socorrendo-se de expressões como "enfatizar a relevância", muito ao gosto das reuniões empresariais em que a elite económica confirma (em privado) a débil formação intelectual que possui, o que não a impede, claro está, de ser altamente bem sucedida nos negócios. Passos Coelho, quiçá empolgado pelas muitas reuniões em que já participou, pôs de lado o seu ar de menino aplicado e bem comportado e ousou um pouco da soberba socrática. Como não podia deixar de ser, quem veste uma pele que não é a sua, estatela-se e dá aso a muita maledicência.
Não sejamos piegas e zurzamos com toda a força no coelho, a ver se a carne se amacia um pouco, pois é coelho velho. Sejamos exigentes e intransigentes para com o primeiro-ministro do nosso país, não deixando passar em silêncio prosápia de tão baixo calibre.

06 fevereiro 2012

O governo de Passos Coelho tem bons resultados

Prova disso mesmo é que a dívida pública de Portugal é a 3.ª mais elevada da Europa e a terceira que mais cresceu na União Europeia desde o Verão.
Os números hoje divulgados colocam igualmente Portugal no terceiro lugar quando se avalia a dinâmica de agravamento da dívida entre o segundo e o terceiro trimestres, período em que o rácio se deteriorou em 3,6 pontos percentuais.
Parabéns, Passos Coelho. Excelente trabalho o teu.

Se não me engano

O porta-voz dos Assuntos Económicos da Comissão Europeia, Amadeu Altafaj Tardio, é, como o nome indica, tardio, ou seja, distraído. A distracção, em política, traz sempre água no bico. E num processo negocial destina-se a atirar areia para os olhos de alguém, na expectativa de levar a sua avante.
Diz o senhor que em Portugal o salário mínimo é de 570 euros. É, sim senhor. Acho até, "se as minhas informações são corretas" que é de um pouco mais: 485 euros. Mesmo que ele faça o jogo das médias, 14 vezes 485, a dividir por 12, fica um pouco abaixo do valor que apresenta (os arredondamentos dão jeito numas coisas, noutras são proibidos).
Tudo porque considera que 751 euros por mês, valor do salário mínimo grego, é muito elevado. O senhor Amadeu Altafaj Tardio é da estirpe de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, ganha pouco e poupa muito.
Uma salva de palma, por favor e não se enganem, não o apupem nem mandem prò c...

05 fevereiro 2012

Fernando Lanhas (1923-2012)


Pintura [Óleo sobre Cartão], 1960

"A arte é um fenómeno intrínseco à espécie humana. Um voo liberto e incontido pelo homem. A arte é um princípio ajustado àqueles que a fazem. É um fenómeno de intimidade ainda não entendido. Em suma, muitas vezes a arte não parece, mas é".

Wisława Szymborska (1923-2012)

ALGUNS GOSTAM DE POESIA

Alguns -
quer dizer nem todos.
Nem a maioria de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve
e os próprios poetas,
serão talvez dois em mil.

Gostam -
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de um velho cachecol,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.

De poesia -
mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial.


AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS

Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.

Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves

Fala Antonio Negri

«É em torno da finança que se organizam os mecanismos de comando desta sociedade globalizada. Esse processo não se faz sem problemas. A transformação do universo financeiro dá aos mercados a possibilidade de mudar as estruturas políticas.

Há uma ligação cada vez mais plena, pelo menos nos países desenvolvidos, entre o velho proletariado e uma classe média enormemente empobrecida. E isso determina dificuldades profundas, de linguagem e de instrumentos de comunicação em torno dos protestos, mas sobretudo de projecto.

É evidente em Itália que a democracia já não existe. O que sobra é uma espécie de ditadura comissária, como se define nos tratados que eu estudava quando era jovem.

Há uma ordem financeira que movimenta muitas vezes mais capital que aquele que corresponde à produção de bens e serviços. Neste quadro, o keynesianismo já não funciona, não pode funcionar a nível nacional, e a nível global não tem interlocutores como os sindicatos. Tudo aquilo que representava a velha lógica fordista da produção não pode existir numa relação globalizada.

Hoje os instrumentos não são os partidos. De direita ou de esquerda, os partidos estão completamente afectados pela crise da representação.

Considero que o público não é mais que uma garantia do privado. Hoje em dia o público não é mais que a manutenção da ordem pública para dar aos privados, numa relação de subordinação, os bens comuns e a exploração das coisas. O público foi sempre nas democracias capitalistas alguma coisa que servia os interesses privados.»

Frases de uma entrevista publicada no i

............................
O cidadão deve pensar e defender seu próprio destino. Apenas a capacidade de reorganizar a democracia o salvará. A democracia deve se renovar desde um órgão constituinte novo porque as Constituições existentes estão baseadas na propriedade privada. Devemos mudar as Constituições. Chegamos a um momento que a produção se tornou cada vez mais imaterial. Sempre haverá uma necessidade de elementos ou momentos hierárquicos para que o valor produzido possa ser coletado e classificado, mas já não há nenhuma necessidade da propriedade privada como centro da produção e do desenvolvimento. Tem que modificar o conceito mesmo de desenvolvimento. A produção já não pode estar voltada apenas para o lucro. Deve passar a frente, a produção do ser humano pelo ser humano. A propriedade privada não pode governar a democracia. A riqueza não deve seguir sendo como até agora. Já não serve produzir para ganhar, mas para partilhar. (ver aqui)

Perguntas que não são perguntas

«O seu amigo Slavoj Zizek costuma dizer que um dos problemas desta época é que acreditamos mais na possibilidade de uma catástrofe ou de uma invasão alienígena que na simples possibilidade da mudança de um modo de produção...»

Nuno Ramos de Almeida, i

Dos feriados a extinguir

«O que leva, pois, o Governo a apresentar o embuste da "simetria dos cortes dos feriados"? Não existindo qualquer base jurídico-legal para isso, só pode haver uma leitura: quis um álibi para acabar com alguns dos feriados a que chama "civis", comprando a indulgência da Igreja Católica numa época em que antecipa um recrudescimento dos problemas sociais. Tão afoito a derrubar "direitos adquiridos" e a fazer declarações de bravura ("custe o que custar") este Executivo chefiado por um autoproclamado "liberal de costumes" reconhece assim aos bispos prerrogativas que estes não têm - incluindo a da partilha da soberania - e chega à pantomina de, pós-anúncio da UGT de que "salvara" o 5 de Outubro na Concertação Social, vir dizer que afinal, perante a irredutibilidade "da Igreja", se via "obrigado" a matar o feriado que comemora a Implantação da República.»

Fernanda Câncio, DN

Portugal, um país entre as saudades e o presente

Portugal é um país antigo, mas onde a democracia ainda é trintona. E como acontece com essa faixa etária a crise fá-lo pôr em causa a democracia, até porque são recorrentes entre os mais velhos as hossanas a Salazar.
Portugal é um país velho mas sem memória. E de grande pobreza mental. O que se explica por décadas sucessivas de analfabetismo e pouca formação escolar.
Há por aí muita gentinha a propagar as vantagens da não escolarização. E, acreditem, é gente com formação. A habilidade dos portugueses cai sempre nas mesmas coisas. Mascarar-se, lamentar-se, terem pena de si próprios.
As pessoas tendem a esquecer rapidamente o que foi conseguido em três décadas, apesar dos estudos que vão sendo públicos. Porque o discurso da misericórdia continua a ser socialmente rentável e, como este governo não se tem cansado de propagandear, é a segurança social do futuro.
O primeiro-ministro ora diz que não devemos andar de mão estendida, ora assina decretos que aumentam o número dos que se vêem constrangidos a estender a mão para sobreviver. Percebe-se. Um povo temeroso é um povo que se governa mais facilmente. O pior é que isso agrava o atraso económico de Portugal, pois cada vez mais a economia precisa de massa crítica, ou seja, precisa de indivíduos capazes de tomar decisões e capazes de pensarem.
A pobreza sempre foi assunto muito apreciado em Portugal, à mesa, na missa, nas filas, no supermercado, em todos os estratos sociais e em todas as actividades económicos. O salazarismo ainda está vivo, ainda tem muitas ramificações. Até a inquisição, a pide e afins fazem ainda demasiado parte do imaginário colectivo nacional.
As pessoas lidam mal com a crítica e esperam sempre que o Estado seja paternal (que apoie e que castigue). E facilmente escondem o propalado bem-estar conseguido à custa de empréstimos bancários, pois os salários nacionais permanecem miseráveis.
Podiam, os portugueses, enfiar nas suas duras cabeças que uma política de encenação e de faz de conta dá maus resultados. Podiam perceber que grande parte dos empresários não está preparada para enfrentar os tempos que correm. Podiam arregaçar as mangas e lutar por uma política mais equilibrada que não usasse sempre os mais débeis como arma de arremesso. Mas para isso precisavam de ter melhor formação e ser menos individualistas e menos desconfiados. Gerir é partilhar e saber estabelecer metas. Gerir é também procurar equilíbrios quase sempre dolorosos, pois entre o desejo e a realidade está a ponte da possibilidade. Mas não. Enquanto se mantiver a ilusão de um Estado paternal, os portugueses continuarão a alimentar as fantasias de índias e brasis.
Os resultados são fracos. Veja-se o que diz Nuno de Almeida Alves, professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e um dos autores do estudo Jovens em transições precárias - trabalho, quotidiano e futuro, «O trabalho é muito central na vida das pessoas, tal como ter o suficiente para fazer face ao quotidiano, pagar as despesas, poupar algum rendimento ou projectar a vida dos filhos. Se as pessoas não conseguem posicionar-se satisfatoriamente no mundo do trabalho, isso pode projectar muitas outras dificuldades na vida quotidiana. (...)
Há um conjunto de passos que as pessoas devem dar para passarem da escola até à actividade profissional, à constituição de uma família e poderem assegurar descendência. Esse processo, que, há uns anos atrás, se fazia rapidamente e de uma forma segura, está a tornar-se muito mais longo.
As pessoas não se sentem seguras para cumprir estes passos. Quando não são dados consecutivamente num lapso de tempo relativamente rápido para as aspirações pessoais de cada um, começa-se a gerar alguma perturbação no quadro dos afectos. E isto é um problema que tende a alastrar-se a toda a sociedade. (...)
Voltámos 50 anos atrás e temos outra vez as três gerações a residir debaixo do mesmo texto.» (Público)
Repare-se que o governo PSD / CDS está a atirar o país para um vazio temporal. Recuar meio século é gravíssimo. Seja qual for o lado por onde se olhe.
É isto que os portugueses desejam? Ou será apenas reflexo de uma baixa escolarização e de um défice enorme de associativismo?
A misericórdia assenta na caridadezinha. A política assenta no debate de ideias e na escolha de opções de vida. Qual será dominante em Portugal?

03 fevereiro 2012

Um governo sem sentido de humor ou com medo?

Ou o governo não tem sentido de humor (e a olhar para as caras de suas exas os ministros parecem ter pouca capacidade de rir) ou tem medo de que o zé aproveite o dia de carnaval para zurzir no governo. Vai daí, ao melhor estilo da política trauliteira (sem samba), o Reverendíssimo e doutíssimo Passos Coelho, primeiro-ministro diz que "Julgo que ninguém perceberia em Portugal, numa altura em que nos estamos a propor acabar com feriados como o 5 de Outubro ou o 1.º de Dezembro ou até feriados religiosos, que o Governo pensasse sequer em dar tolerância de ponto, institucionalizando a partir de agora o Carnaval como um feriado em Portugal".
Passos Coelho é, até, um homem religioso, mas... o carnaval é demasiado ostensivo e profano para gosto tão refinado, pelo que Coelho, Passos faz questão de sublinhar que a terça-feira de Carnaval "não é um feriado".
O zé, ser pacato e um pouco gay (alegre quando se mascara do sexo oposto), vai certamente entender que os altos desígnios da nação apenas permitem que o governo faça várias nomeações com subsídio de férias e de natal ou que os motoristas aufiram salários dourados, mas nunca, mesmo nunca pense sequer em tolerâncias, pois o governo é trokista e muito intolerante.