19 janeiro 2010

Manuel de Freitas

Fortinbras says


Que estão nus, não valem nada
os poetas aclamados pela plebe
- o que é, infelizmente, verdade.

Que já vai sendo hora de bebermos
juntos um Jim Beam Black
- o que é, de outra maneira, verdade.

Que a canalha crítica, académica,
jornaleira ou mediática muito dificilmente
se consegue furtar ao grande peido geral.

E é verdade, também,

que morreram príncipes e princesas,
que já não há palavras
no reino deserto das palavras.

É tudo tão verdade, Fortinbras,
que nos apaetece mentir com dignidade,
espancar sem decoro as bestas que progridem.

E esquecer, de vez, que a vida
é um riso inútil,
sem máscara nem chicote.

Morre apenas, a vida,
torna-se verdadeiramente extinta,
insinuando, em cada grito, o silêncio
de que já não fomos capazes.

[in "Telhados de Vidro", nº. 13, págs. 31-32]

2 comentários:

Anónimo disse...

MF é um poeta aclamado pela plebe. Isto é uma mistura de auto-ironia e auto-comiseração ainda mais descarada do que a do Mexia.

pisca de gente disse...

caro anónimo,

Eis um tema que poderá explorar na sua tese, que teremos muito gosto em ler, se se quiser abalançar a tal.
Já agora, se o fizer não se esqueça de clarificar o que é a "plebe", conceito que se nos afigura no mínimo pouco claro.