Com o título Sexo na rua: onde é que eles têm a cabeça? pode ler-se no i-online uma breve reportagem sobre quem gosta de ter relações sexuais no cinema, em vestiários de lojas, em parques de estacionamento, em transportes públicos e noutros lugares públicos. O que me fez recordar um poema que LP traduziu e postou por estes dias no seu Do trapézio, sem rede e que transcrevemos com a devida vénia. Às vezes, a vida e a poesia espelham-se. Às vezes, a poesia é apenas um vazio imenso, que procura transformar a língua numa matéria viscosa, afim da merda. Infelizmente, quer por cá, quer em muitos outros países há quem entenda a poesia como puro experimentalismo, assim algo afim do onanismo. Nós por cá preferimos outro tipo de prazeres.
Encontro na cidade
Eles estavam a defecar em público, disse ele,
e outro disse,
e a copular também,
e eu pensei, quantos, mil?
Todos os sem-abrigo estavam a coupular em público? Que espectáculo.
Então alguém disse,
não eram todos os sem-abrigo,
e nós pudemos respirar melhor,
só uns quinze, se tantos, e eu pensei
que mesmo assim eram uns quantos para fazerem aquilo em público,
mas quando já estávamos no fim
parecia
que só tinha sido uma de cada:
uma cópula, uma defecação,
e então alguém acabou por dizer,
não é preciso ser um sem-abrigo para se fazer isso.
Poema de Doug Anderson, traduzido por LP, a partir de original reproduzido em Poetry like Bread, poets of the political imagination, selecção de Martín Espada, Curbstone Press, 4ª edição, 2007, p. 42).
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