09 junho 2008

O País do Nunca e o senhor Valter Lemos

Valter Lemos é, de longe, um dos melhores secretários de estado de todos os tempos. E tanto é assim que sempre que o homem abre a boca ou entra mosca ou sai asneira. A mais recente pérola ministerial de tal figura saiu-lhe a propósito da diminuição brutal de alunos que aprendem Latim: menos 80 por cento, só nos últimos dois anos lectivos. Diz ele do alto da sua douta sabedoria: o problema não está nas políticas educativas, mas nos estudantes, que simplesmente "não estão interessados".

"Temos professores para ensinar Latim, mas não há procura. O problema existe nas línguas clássicas no geral e até em algumas línguas modernas. Tem a ver com as expectativas e os interesses das famílias", explica.

Perante os números, professores e investigadores temem o desaparecimento de uma disciplina que desenvolve o raciocínio e facilita a aprendizagem de todas as línguas e que é, por isso, considerada a Matemáticas das Letras.

"O ensino das Humanidades está cada vez mais desvalorizado e o caso do Latim, em vias de desaparecimento, reflecte esse problema. O discurso político passa a ideia de que 'letras são tretas' e o que é preciso são as tecnologias e as ciências exactas", lamenta Paula Dias, investigadora do Instituto de Estudos Clássicos, da Universidade de Coimbra. O problema, assegura, é quase exclusivamente português. Em Espanha e França, por exemplo, não tem havido redução do número de estudantes a aprender os clássicos e em países como a Inglaterra e a Alemanha, cujos idiomas nem sequer têm origem latina, o ensino "tem sido muito divulgado e incentivado pelo Estado".

Os dados do Reino Unido não deixam dúvidas: entre 2004 e 2007 mais do que duplicou o número de secundárias a leccionar a disciplina e há mesmo 2500 escolas do primeiro ciclo que dão às crianças introdução ao Latim para as ajudar na aprendizagem da gramática inglesa.

"Nós andamos sempre ao contrário dos outros. Lá fora percebem a importância do ensino da cultura clássica. Cá, os nossos governantes acham que só as tecnologias são importantes", corrobora Isaltina Martins, presidente da Associação de Professores de Latim e Grego (APLG).

Agora digam-me: que faz S. Exa. Sapientíssima, o senhor Valter Lemos no Ministério da Educação? Nada. Rigorosamente nada. O homem não faz ideia do que é a Educação. Para ele trata-se de números, estatísticas e salários. Política não é para ele. Ideias muito menos. Fala como se estivesse num café e, qual Pilatos, assim lava as mãos. Ah, grande Valter!

1 comentário:

Anónimo disse...

E para que serve o Latim? Agora até já há acordo. Cada vez menos interessa saber pensar, saber escrever, saber interpretar. O que importa é saber parecer. Parece que é doutor. Parece que é engenheiro.

Cumprimentos, Atchim