Pedro Lapa dirigia o Museu do Chiado (Lisboa) desde 1998. Foi substituído. E houve quem não gostasse e pusesse a circular uma petição, que transcrevemos abaixo. A pesar da divulgação da mesma, conta ainda com muito poucas assinaturas. O que mostra duas coisas: o desinteresse que o assunto provoca na população que lê jornais e a ignorância sobre a arte contemporânea.
Há certamente razões particulares por parte de pessoas que já assinaram. Há solidariedade doutras. E isso também mostra como a arte contemporânea é assunto de minorias, apesar de movimentar quantias avultadas. Além de revelar o pouco que se tem feito na educação dos mais novos. Os lugares comuns são moeda corrente entre quase toda a gente.
Lisboa, apesar da sua condição de capital e da urbanidade de alguns dos seus moradores, viveu demasiado tempo à sombra da Gulbenkian e quando a fonte fechou, o Estado não foi capaz de criar dinâmicas que permitissem à capital continuar a ser um pólo artístico. E não será por falta de diálogo entre os agentes, pois os que estão ao serviço do Estado chegaram lá por terem começado a actividade em galerias, jornais e afins. Falta, como se viu no caso Berardo, visão empresarial por parte das empresas e da banca. Lisboa não tem um museu que seja capaz de chamar gente.
Pedro Lapa fez o que pôde no Museu do Chiado. Os recursos não eram avantajados. Mas porque tem um museu que viver sempre à custa do dinheiro dos contribuintes? Não serão capazes de seduzir empresários, banqueiros e outros abonados?
Transcrição da
Pedro Lapa é uma das pessoas que tem contribuído, de forma continuada e consistente, para a divulgação da arte portuguesa. Possui um extenso curriculum, no qual avultam as inúmeras exposições que comissariou, a forma como tem trabalhado para a preservação da memória da arte moderna portuguesa com a edição de monografias e retrospectivas hoje incontornáveis para a História da Arte, a combatividade com que tem dirigido um Museu espartilhado por um orçamento aviltantemente insuficiente. Com enorme perseverança lutou no sentido de tornar possível o alargamento do Museu do Chiado, tendo conseguido reunir um consenso particularmente difícil no sentido de reunir as condições para a sua expansão, o que, finalmente, poderia estar em vista. Se assim é, a sua experiência como Director de Museu seria, agora, fundamental – não só pelo extenso conhecimento da colecção que possui, como pela capacidade que revelou de constituir e manter uma equipa em torno do projecto deste Museu, contra todas as vicissitudes.
Nesse sentido, a sua substituição à frente do Museu do Chiado é incompreensível para todos aqueles que têm acompanhado o seu percurso institucional, independentemente das eventuais diferenças de perspectiva sobre a sua orientação artística.
Em Portugal há o estranho hábito de não rentabilizar o saber, o conhecimento e a experiência. Na cultura, onde estas características assumem uma importância determinante, o cuidado em manter nos lugares certos quem pode constituir uma mais-valia deveria orientar as escolhas.
E esta estranheza é tanto maior quanto não se conhece, pelo menos ela nunca foi tornada pública, nenhuma directiva programática por parte da tutela (Ministério da Cultura e Instituto dos Museus e da Conservação), no que concerne o papel e missão do Museu do Chiado no contexto e definição das políticas nacionais para a arte contemporânea.
A direcção de Pedro Lapa, ultrapassando essa ausência de orientação, teve uma visão inovadora da colecção nacional de arte moderna e contemporânea do único museu estatal com essa vocação, trazendo novas interpretações à colecção até então nunca realizadas.
Os abaixo-assinados solidarizam-se com Pedro Lapa e manifestam a maior estranheza e discordância pelo seu afastamento da direcção da instituição que tem sabido dirigir e manter activa."
Há certamente razões particulares por parte de pessoas que já assinaram. Há solidariedade doutras. E isso também mostra como a arte contemporânea é assunto de minorias, apesar de movimentar quantias avultadas. Além de revelar o pouco que se tem feito na educação dos mais novos. Os lugares comuns são moeda corrente entre quase toda a gente.
Lisboa, apesar da sua condição de capital e da urbanidade de alguns dos seus moradores, viveu demasiado tempo à sombra da Gulbenkian e quando a fonte fechou, o Estado não foi capaz de criar dinâmicas que permitissem à capital continuar a ser um pólo artístico. E não será por falta de diálogo entre os agentes, pois os que estão ao serviço do Estado chegaram lá por terem começado a actividade em galerias, jornais e afins. Falta, como se viu no caso Berardo, visão empresarial por parte das empresas e da banca. Lisboa não tem um museu que seja capaz de chamar gente.
Pedro Lapa fez o que pôde no Museu do Chiado. Os recursos não eram avantajados. Mas porque tem um museu que viver sempre à custa do dinheiro dos contribuintes? Não serão capazes de seduzir empresários, banqueiros e outros abonados?
Transcrição da
Petição Manifesto de Opinião
"No concurso para Director do Museu do Chiado que decorre das regras que regem os Museus do Instituto dos Museus e da Conservação, Pedro Lapa, seu actual director e candidato à recondução, foi preterido na escolha para o cargo.Pedro Lapa é uma das pessoas que tem contribuído, de forma continuada e consistente, para a divulgação da arte portuguesa. Possui um extenso curriculum, no qual avultam as inúmeras exposições que comissariou, a forma como tem trabalhado para a preservação da memória da arte moderna portuguesa com a edição de monografias e retrospectivas hoje incontornáveis para a História da Arte, a combatividade com que tem dirigido um Museu espartilhado por um orçamento aviltantemente insuficiente. Com enorme perseverança lutou no sentido de tornar possível o alargamento do Museu do Chiado, tendo conseguido reunir um consenso particularmente difícil no sentido de reunir as condições para a sua expansão, o que, finalmente, poderia estar em vista. Se assim é, a sua experiência como Director de Museu seria, agora, fundamental – não só pelo extenso conhecimento da colecção que possui, como pela capacidade que revelou de constituir e manter uma equipa em torno do projecto deste Museu, contra todas as vicissitudes.
Nesse sentido, a sua substituição à frente do Museu do Chiado é incompreensível para todos aqueles que têm acompanhado o seu percurso institucional, independentemente das eventuais diferenças de perspectiva sobre a sua orientação artística.
Em Portugal há o estranho hábito de não rentabilizar o saber, o conhecimento e a experiência. Na cultura, onde estas características assumem uma importância determinante, o cuidado em manter nos lugares certos quem pode constituir uma mais-valia deveria orientar as escolhas.
E esta estranheza é tanto maior quanto não se conhece, pelo menos ela nunca foi tornada pública, nenhuma directiva programática por parte da tutela (Ministério da Cultura e Instituto dos Museus e da Conservação), no que concerne o papel e missão do Museu do Chiado no contexto e definição das políticas nacionais para a arte contemporânea.
A direcção de Pedro Lapa, ultrapassando essa ausência de orientação, teve uma visão inovadora da colecção nacional de arte moderna e contemporânea do único museu estatal com essa vocação, trazendo novas interpretações à colecção até então nunca realizadas.
Os abaixo-assinados solidarizam-se com Pedro Lapa e manifestam a maior estranheza e discordância pelo seu afastamento da direcção da instituição que tem sabido dirigir e manter activa."
3 comentários:
o que este país precisa é de rotatividade!!
abaixo a malta que não sabe ceder o lugar ao próximo...
Todos os directores dos museus nacionais fazem o que podem com os escassos meios de que dispõem. Pedro Lapa perdeu um concurso contra outra concorrente e a petição não contesta a validade do concurso. Um pouco de história recente: quando Pedro Lapa, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, ganhou o concurso para entrar no Chiado (em 1990), havia dois outros concorrentes com Mestrados em História de Arte. Concluiu-se, logicamente, que as provas ter-lhe-ão corrido muito bem para ganhar a pessoas com mais habilitações do que ele. Agora, uma concorrente com mais habilitações, mas muito meno experiência, ganhou. Conclui-se, logicamente, que as provas lhe terão corrido muito bem. O motivo pelo qual não há muitos assinantes está na própria actuação de Pedro Lapa, que desprezou sempre o acervo do Museu do Chiado (séc. XIX e início do séc.XX) porque só queria arte de hoje, e que tinha uma outra actividade nada aceitável dum ponto de vista ético (co-responsável pelas compras da Fundação Elipse).
Concordo inteiramente com o que diz o anónimo. Pedro Lapa não ganhou o concurso. A petição é fogo de vista.
Conceição Sabino
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