12 outubro 2009

Par de pistolas da Casa Real Portuguesa


Corria o ano de 1973 e as pistolas levaram sumiço. Andaram a passear pela Europa, entre negócio e negócio. Tantos anos depois, regressam ao nosso país. Num caso todo ele digno de pistoleiros, embora nos nossos dias as pistolas sejam mais coisas de gangs ou então de gente meio avariada do juízo que pega em caçadeiras e põe fim a questiúnculas miúdas, tirando a avida a alguém e indo morar para algumas das belas cadeias nacionais.
As ditas pistolas são exemplares únicos, com canos de desenroscar para carregamento, fechos de “caixa” e rica ornamentação com finos embutidos de ouro e prata. Foram fabricadas em 1817 para uso pessoal do Rei D. Pedro IV, pelo famoso mestre armeiro do Arsenal Real de Lisboa, Thomás Jozé de Freitas.
Segundo descrição da casa leiloeira onde foram encontradas a apreendidas, trata-se de exemplares muito raros. Com as seguintes características "Canos de desenroscar, para carregamento, com fina decoração embutida a ouro de motivos vegetalistas estilizados e aves. Fechos centrais de pederneira, ditos 'de caixa', com decoração embutida a ouro, semelhante à dos canos, tendo, de cada lado das caixas, reservas ovais, envoltas por serpentes embutidas a ouro, o nome do mestre armeiro 'Thomás Jozé de Freitas', de um lado, e do outro, 'Arcenal Real do Exercito Lx.ª 1817', nas partes inferiores das caixas, junto aos canos, ovais, em ouro, com o nome do mestre gravador 'António Joaquim de Figueiredo'. Cães do tipo 'de argola', igualmente embutidos a ouro assim como os fuzis e tampas das caçoletas, tendo estas ultimas, pequenos rodízios em latão, para diminuir a fricção aumentando assim a velocidade do disparo, patilhas de segurança aos cães, igualmente embutidas a ouro, que não permitiam a colocação, acidental, dos cães na posição de disparo, evitando, também, a abertura da tampa da caçoleta. Coronhas em madeira, profusa e finamente decoradas a fio de prata embutido, com motivos vegetalistas estilizados e cabeças de dragões e as Armas do Reino Unido de Portugal e Brasil, igualmente em prata. Chapas de couce em aço, azulado, com decoração embutida em ouro, de motivos vegetalistas e mascarões. Alguma oxidação nos canos, pequeníssimas faltas de fio de prata nas coronhas e fechadura do estojo com defeito. Peças únicas."
Thomás Jozé de Freitas trabalhou no Arsenal Real de Lisboa entre 1813 e 1836. Foi um dos maiores vultos da armaria portuguesa. Uma pistola de bolso, feita por ele em 1829, com duas baionetas basculantes, uma navalha e um saca-rolhas, na coronha, encontra-se no Museu Militar, em Lisboa. António Joaquim de Figueiredo, gravador e cinzelador, trabalhou, também, no Arsenal Real de Lisboa entre 1773 e 1817.

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