17 julho 2011

Palavras de um quase pessimista


Fala Miguel Cadilhe, antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva:

É claro que me custa ver hoje os destinos da UE submetidos a uma Alemanha que, como pessoas mais sábias do que eu disseram, não está à altura dos problemas. Nós podemos estar à beira de uma germanização de parte da Europa.

A população está preparada para os sacrifícios e é bom que haja uma boa distribuição dos sacrifícios.

o risco de execução e o risco social podem conjugar-se no pior sentido. Isto é, os nossos governantes podem assustar-se e sucumbir perante a agitação social, tentando reduzir o ritmo de execução do memorando. Isso, a meu ver, é pior, muito pior do que as consequências da austeridade bem executada.

Não podemos cair na utopia de pretender uma distribuição igualitária. Mas devemos procurar o mais possível que essa justa distribuição de sacrifícios seja, e repito-me, visivelmente procurada pelos políticos, pelos governantes.

Eu acho que as principais promessas eleitorais, em democracia, devem ser cumpridas. Tenho pena que, logo nos primeiros dias, a palavra tenha sido quebrada.

Com as medidas actualmente em curso, acha que Portugal tem condições para pagar a dívida?

Depende do crescimento económico e da redução dos défices externos. Quer uma coisa quer outra não estão totalmente ao nosso alcance. O crescimento económico depende da procura externa, assim como o défice externo. Podemos procurar vender produtos com qualidade e a bom preço - mas atenção que o preço está condicionado pelo euro forte e nós não mandamos nele. Mas quanto ao crescimento económico, o que é que os nossos políticos podem fazer por ele? Os políticos podem e devem fazer reformas estruturais...

Moody"s pode ter dúvidas quanto ao ritmo de execução. Também pode ter dúvidas de que, mesmo executando bem, seja insuficiente. Mas a Moody"s justificou o corte também porque tem dúvidas sobre o crescimento. E aí, eu dou-lhes razão. O crescimento económico não dá para pagar dívidas, dá é para fazer mais dívidas.

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