Deixo-vos a parte que me soube bem:
«Há uma espécie de decreto-lei informal que, ainda no tempo de Sócrates, na sequência das imposições da troika, passou a entrar em vigor. Esse decreto, editado e publicado por opinadores do regime, "especialistas" em economia, grandes empresários, gestores ao serviço destes, banqueiros, políticos do "centrão", iludidos do neoliberalismo, académicos conformados e burocratas dependentes da eurocracia, resume-se numa frase: "Protestar contra as medidas de austeridade é antipatriótico".
A teoria desenvolve-se no pressuposto de que não haveria outro caminho para "salvar Portugal" (sic) que não seja este que actualmente trilhamos. Pelo que, para bem da Pátria, qualquer manifestação, greve, marcha, abaixo-assinado ou simples comentário contra o que se está a passar é, na sua essência, um acto de traição.
Isto faz-me lembrar o meu tempo do ensino primário, quando a minha cabeça era encharcada pelo chavão "a Pátria não se discute", para justificar a guerra no Ultramar. Essa guerra, lia-se em todos os jornais, via-se na televisão e ensinava-se na escola, não só era inevitável como necessária. Além do mais, dizia-se, do ponto de vista económico, que Portugal não sobreviveria à perda das colónias. Quem protestava era declarado traidor à Pátria e ia preso.
Pois quando cheguei ao liceu, anos depois do 25 de Abril, já não havia Ultramar, a Pátria até estava de melhor saúde, prosperava, e os traidores da véspera eram os heróis da nova época. Como vêem, as certezas absolutas e indiscutíveis são todas muito relativas...»
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