24 fevereiro 2009

Os bouvardinhos e pécuchets dos nossos dias


Às vezes gostava de morar em Lisboa para poder ser como toda a gente, ou seja, um bocadinho presunçoso e idiota. Gostava de lamber botas aqui e ali e cagar umas postas de bacalhau lá e além, só para me sentir alguém.

Mas como estou longe, navego pelos blogues de alguns lisboetas e rio-me, rio-me até mais não. A maior parte consegue ser tão ou mais afectada que figuras como Castelo Branco ou Lili Caneças. Com a diferença de serem figuras com pretensões a intelectual: meninos e meninas já com alguma idade, que adora ler (e o que lêem, e o que lêem), adora participar em encontros onde se fala de livros, de escrita e de temas assim grandiosos e que não perde uma oportunidade para estar à la page.

Não sei se já repararam mas nunca em nada do que escrevem ou do tanto gostam de ler há, sei lá, uns gramas de sal ou de sangue. Não. É tudo insípido, vazio, de literato para literato. À insipidez chamam-lhe poesia e excitam-se muito com banalidades linguísticas ou com os nomes sonantes do santo mercado internacional da literatura.

Nisso são de factos bons: têm um instinto que lhes indica quem é quem nesse particular mercado bolsista. Só lêem e falam daqueles que já vêm validados por algum selo de segurança. Pois como é fácil de perceber, é esta uma gente que não sabe ler, de tal forma tem os sentidos intoxicados pelo parecer. Há um livrinho de Flaubert que os retrata bem, Bouvard e Pécuchet. O mesmo autor tem até um dicionário que precisa de ser actualizado.

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