28 fevereiro 2009

A lógica da batata


"São epifenómenos minoritários [a proibição de umas imagens num computador Magalhães num Carnaval, ou o confisco de uns livros com a "origem do mundo" de Courbet na capa], não revelam qualquer doença social, porque de um modo geral toda a gente os condenou. Naturalmente, sem dúvidas, sem hesitações." José Pacheco Pereira dixit (Público, edição papel de hoje).
Toda a gente condena o racismo. No entanto as anedotas sobre pretos são frequentes e tranversais a faixas etárias e grupos sociais. Seguindo a douta lógica do inquisidor-mor não há racismo em Portugal. Ou há de facto racismo, mas não é aqui, não é nos actos isolados de fulano e beltrano.
Se pensássemos como o inquisidor-mor perceberíamos que também a ele lhe faz espécie a "Origem do Mundo" de Courbet, os pénis de Mapplethorpe ou o casamento de homosseuxuais, entre outras coisas, claro. Os inquisidores são sempre feitos dessa mesma massa: atiram areia para os olhos dos que já estão cegos.

Lindo, tão lindo como um pôr do sol


Há postais de que as pessoas gostam. Há momentos que emocionam as pessoas. Há situações que comovem as pessoas.

Gostar, emocionar, comover: todo o meu ser (mais uma expressão linda linda) reage assim ao belo (lindo lindo) discurso do senhor professor Carlos Reis. Diz o sr. professor que a revalorização dos textos literários, enquanto "repositórios de uma cultura, de uma memória cultural e de um legado estético" e as alterações na linguagem introduzidas pelas tecnologias de informação e comunicação são dois aspectos tidos em conta nos novos programas.

Leitores, limpem as lágrimas. Carlos Reis é de um singeleza tão arrebatadora. Esta preocupação pelo literário e pelas novas tecnologias é absolutamente extraordinária. Quem haveria de se lembrar de algo assim tão lindo lindo salvo um génio como o sr. professor e a respectiva equipa?

Agora, para quantos deixaram de acreditar em Deus mas acreditam em Carlos Reis, o mundo da leccionação fluirá como nunca, pois as alterações metodológicas, didácticas, científicas, sociais e técnicas dos últimos anos que motivaram "reajustamentos" nos programas e, nalguns casos, "alterações substanciais" encarregar-se-ão de mostrar como a língua materna é moderna, gira, bué de fixe.

Não bastava a incapacidade cada vez maior de perceber o que se lê (logo que se saia da disparatada listagem de obras literárias do plano nacional de leitura), fruto das modernices pedagógicas ("metodológicas, didácticas, científicas, sociais e técnicas")... Não, era urgente gastar uns quantos euros com uma equipa que criou e vai distribuir os pozinhos de perlimpimpim... E assim tudo será mágico.

A maior parte dos manuais do ensino básico são elaborados por gente que gosta muito de esquemas, de imagens giríssimas, de perguntas bacocas. Ou seja, gente com a velha escola salazarista de tudo dirigir. Gente que, vê-se logo, nada lê, mas cuja preocupação é como a do senhor professor doutor Carlos Reis - serem modernos, actuais, lindos lindos.

Se julgam que fazemos bluff, folheiem esses manuais. Seja qual for a editora e a equipa redactorial e vejam se não é como dizemos.

Há uns anos houve uma editora, a Raiz, cuja percepção de manual era bem distinta da mediocridade instalada, mas não deve ter tido clientes à altura. Eu, por exemplo, sei de um senhor que é actualmente presidente de um conselho executivo e que se queixava muito da falta de perguntas.

O país, em vez de gastar os tais euros a formar professores como devia, gasta-os em show off, na certeza de que cada equipa que passa pelo Ministério da Educação pode fazer a porcaria que quiser que a culpa será sempre endossada aos que obedecem.

O novo programa é um amontoado de TLEBS que só virá complicar a vida dos alunos - porque as TLEBS enfermam do tique estruturalista que sempre se esquece que só a partir de determinadas idades os alunos são capazes de reflectir sobre a língua. Antes têm que ultrapassar os vícios apreendidos no meio onde vivem e onde se movem. Mas isso que importa, se falar de tecnologias é tão bem e tão in?

27 fevereiro 2009

Em Viana não se pode comer carne nem peixe: para defender os animais



Viana do Castelo é uma cidade e pêras. Acaba de decidir que a realização de qualquer espectáculo tauromáquico no espaço público ou privado do município fica proibido sempre que ele dependa de qualquer autorização a conceder pela autarquia.
O politicamente correcto tem destas coisas: cega.
O PS local acha que assim contribui para (não se riam) "ir de encontro ao perfil de cidade saudável".
De facto, uma cidade não é habitada por pessoas, mas por idiotices e vaidades de certos políticos. Se assim não fosse, não passava pela cabeça daqueles senhores aprovarem medidas que farão a alegria dos fundamentalistas, mas que deixam triste quem gosta de tradições. Viana é o exemplo perfeito de um lugar que assimilou os valores folclóricos do Estado Novo, dos quais muito se orgulha e vende como imagem de marca. No entanto, não gosta do que é genuinamente português, nem defende valores de tolerância e apreço pela diferença. Prefere correr atrás do politicamente correcto. Por isso, em Viana não tardará muito que a autarquia impeça o abate de vacas, porcos, borregos, ovelhas, coelhos, galinhas, além da capatura de peixes, pois ali "o executivo socialista considera que o espírito de cidade moderna e progressista deve estender-se ao respeito pelos direitos dos animais".
Os vianenses que continuarem a comer animais estarão não só a desautorizar essa sumidade cultural que é Defensor Moura, como a impedir que Viana seja moderna e progressista.
É que, como facilmente se percebe, os touros apenas existem para corridas e espectáculos, contribuindo para o enriqueciemnto do país (informação vinda a público há tempos). Já os porcos, vacas, cabritos, frangos, coelhos, perus, etc. existem para alimentar a população.


26 fevereiro 2009

Medo global

Os portugueses depositaram 1,2 mil milhões de euros no banco estatal em Outubro, no pico da crise. Quase cinco vezes mais do que o normal. Um valor equivalente a 1% da riqueza produzida anualmente em Portugal.
Foi este o acréscimo dos depósitos da Caixa Geral de Depósitos (CGD), verificado em Outubro, num montante superior a 1,2 mil milhões de euros. Este dinheiro foi depositado no banco estatal, num fenómeno que tem na base a transferência de dinheiro de outros bancos e canalização de recursos de aplicações de maior risco. Tudo devido às incertezas do mercado financeiro e aos receios de contágio à banca nacional.
A CGD não podia fazer senão o que fez em relação ao negócio das acções, porque, diz: «A posição de 9,58% na Cimpor ao preço de 4,75 euros por acção tem plena justificação por se tratar de um bloco de acções relevante e com um prémio de controlo implícito (inferior ao habitualmente praticado),na medida em que é uma participação financeira “charneira” no controlo accionista da Cimpor. Assim sendo, este lote de acções tem, e teria sempre, um prémio de controlo. E, de acordo com as práticas de mercado, os prémios de controlo variarão entre 25% e 35% sobre o preço médio em bolsa dos últimos 6 meses. No caso presente, considerando a cotação média dos últimos 6 meses da Cimpor (3,78 euros), significa que a transacção dos 9,58% foi efectuada com um prémio de 25%, isto é, no limiar mínimo do intervalo dos prémios de controlo. Em reforço deste princípio, convém sublinhar que foi muito recentemente efectuada uma transacção, com contornos semelhantes, no mercado de valores da Bolsa de Lisboa com um prémio de 36%.»
Ou seja, assim que as coisas melhorarem nos mercados a CGD recupera o dinheiro. Entretanto, para efeitos de contabilidade, o buraco não é tão grande, porque património é sempre património (os aristrocatas que o digam).

Quando o povo discute negócios está o caldo entornado

O povo não deve meter o bedelho nos negócios.
O povo serve para trabalhar e pagar impostos. Sempre assim foi e assim deve continuar.
O povo não tem nada que saber se se gasta muito ou pouco dinheiro a comprar acções acima do preço de mercado. Se o sua excelência o senhor presidente do banco garante que sim quem é que o povo julga que é para pôr isso em questão?
O povo come e cala e mais nada.
O senhor presidente está muito aborrecido com a fuga de informação. O segredo é a alma do negócio. Em não havendo segredo é uma porra bem acabada.
A CGD agiu "em defesa intransigente do interesse público, do accionista, da instituição e dos clientes", disse o senhor presidente Faria de Oliveira. E se ele diz que sim o povo baixa as orelhas, porque é mesmo assim.
O único senão é que a CGD é um banco do Estado, ou seja, do povo. Mas insiste-se: o povo paga, o resto são histórias.

Negócios finos


A Caixa Geral de Depósitos é uma instituição de bem. Como tal faz os negócios que bem entende. Bem ou mal o que eles que lá mandam querem é lucro. Se gastam 30 quando podiam gastar 5 é porque estão a fazer um ganda negócio (grafamos assim para se perceber o gordo que é o negócio).

E como a CGD fez questão de explicar (mas perder tempo com explicações para quê, meu Deus?), comprou acções da Cimpor a Manuel Fino, a um preço 25% superior ao de mercado, para não destabilizar a cimenteira.

Os empresários portuguses são do melhor que há no mundo. Conseguem, por causa da crise, vender acções 25% mais caras ao banco do Estado para que outra empresa não fique prejudicada. Tão amigos que são eles todos. Já eu se for lá pedir meia dúzia de tostões para comprar um bem essencial: uma casa, tenho não só de lhes dar mil e uma garantias como fico a pagar couro e cabelo por causa desse meu pedidozito. Estou a pensar em ir à Conservatória do Registo Civil alterar o meu nome. Estou indeciso entre Manuel Grosso ou Joaquim Sócrates.

Mais um negócio com o alto patrocínio da Comunidade Europeia


Não bastava ter uma colecção (inútil) de cassetes vídeo (VHS), chega-me agora a informação de que mais três anos e deixo de poder ver a RTP Açores. O meu velho receptor não suporta o digital, mas o analógico vai desta para melhor em 2012. E se quiser ver televisão tenho de comprar um novo aparelho. Ora bolas. Para os fabricantes é óptimo, claro. Mas eu, que ganho pouco mais do que o salário mínimo, tenho de desembolsar uns bons centos de euros para poder ver televisão?
Leio a notícia e começo logo a ficar com nervoso miudinho: o jargão técnico tem esse dom, o de me irritar. Que raio, tanto acordo ortográfico, tanta adaptação para virem falar em “switch-off”, "simulcast", “set-top-boxes”, TDT, IPTV...
Eu sei que não há pacóvio que não se babe com siglas e palavrinhas em outra língua que não a nossa, mas não acham que, tendo em conta que somos nós que vamos ter de pagar o negócio, as coisas deveriam ser mais bem explicadas e em linguagem que a gente entenda?
Dizer que com a transição para o sistema digital terrestre "a população passará a ter um conjunto muito significativo de vantagens ao nível da qualidade da imagem e do som, mas também mais canais (com transmissão em alta definição)" soa-me a aldrabice. Ainda há imensos lugares onde a suposta qualidade de imagem é pura mentira (então se for zona raiana, vê-se melhor qualquer canal espanhol que um dos quatro portugueses). Isto para não falar da badalhoqueira que é a programação - excepto uma ou outra série não há informação digna do nome e quanto a entretenimento é melhor nem falar, ao lixo sucede lixo ainda pior.
Para ver telelixo chega-me o velho aparelho. Para quê gastar uma pipa de massa para ter a casa encharcada de publicidade ou de lixo?
Digam-me, que eu sou um bocadinho limitado de entendimento.

25 fevereiro 2009

Fazer de conta que se muda para melhor


Estamos num tempo em que pouco mais importa do que parecer. Parecer que se sabe ler, escrever e contar. Parecer que se sabe pensar. Parecer que se é moderno.

Alguns ditos pedagogos ainda estão nos anos 60 do século passado e lá naquelas cabecinhas meio intoxicadas com haxixe e outras substâncias do género parece-lhes bem falar em aprender a aprender, em prazer... pois é, isso de que para se ser um óptimo ginasta ou um jogador de primeira não é preciso mais nada que... prazer. Já agora, para se ser bom médico, não é preciso saber nada, basta ter tido muito prazer em frequentar algumas aulas. Quem diz médico pode dizer engenheiro civil ou de outra especialidade. Para quê trabalhar se basta o prazer?

Os adictos que ainda divulgam tais bacoradas deveriam ser obrigados pelo Estado a ir trabalhar para escolas problemáticas durante um ano lectivo consecutivo. No final, ouviríamos as suas doutas opiniões. Agora, abrir a boca para dizer aos professores do ensino básico as idiotices que devem fazer, não está bem. É que se os adictos são professores em escolas superiores de educação ou afins, se ganham o seu salário a vender banha da cobra que vai lesar uma parte importante do futuro do país e se nunca se dão sequer ao trabalho de ir ver a que é que a merda cheira, isso não é senão preguiça, tédio, estupidez.

E preguiça, tédio e inanidade são muito frequentes nas medidas ME. Veja-se a dos novos programas de língua portuguesa. Já está nas escolas para discussão - e logo num ano em que os professores andam assoberbados com a papelada da avaliação. Momento estratégico, claro, pois assim será fácil fazer avançar algo que está cheio de problemas. Desde logo a mudança de terminologia gramatical. Depois o facto de quem elaborou o documento nada ter a ver com ensino básico e se ter esquecido, portanto, das especificidades de quem lecciona do 1.º ao 6.º ano. Cuja formação em linguística e outros aspectos do funcionamento da língua é fraco. Mas isso que importa se quem está nas comissões que produzem estas coisas quer é fazer boa figura junto de fulano ou beltrano, que é muito conhecido por cagar postas sobre os mais diferentes aspectos científicos da língua?

Qualquer mudança, para produzir efeitos, tem de ter em conta os públicos que pretende atingir. Esta não quer atingir nada nem ninguém. Serve para inglês ver e assim que for obrigatória vai ser uma preciosa ajuda para dificultar o que já está bastante complicado: aprender a ler com desenvoltura e perceber o que se lê.

Mas isso não interessa realmente. O que se quer é que as meninas e os meninos saiam da escola a saber assinar o seu nome. O resto são balelas. Ou são colégios privados onde cada vez mais serão formados os líderes.

24 fevereiro 2009

Ainda o caso do livro apreendido em Braga


Diz e bem o deputado António Filipe: só uma "decisão judicial fundamentada na prática de um crime" pode justificar uma intervenção da polícia. "A actuação da polícia no caso em questão é um precedente grave que tem que ser devidamente explicado".

O livreiro a quem a PSP de Braga apreendeu cinco exemplares de um livro que reproduz na capa uma pintura de Gustave Courbet, por a considerar "pornográfica", vai recorrer aos tribunais. António Lopes vai também enviar exposições ao Presidente da República e aos grupos parlamentares da Assembleia da República. "Sei que a PSP não recebeu ordens do ministério da Cultura, mas a verdade é que se sentem, actualmente, à vontade para o fazer", afirmou. Para o empresário, "esta deve ter sido a primeira vez que um livro foi apreendido depois do 25 de Abril".

Já a PSP tenta sair airosa da coisa dizendo que havia “perigo de alteração da ordem pública” pois “Havia vários grupos de crianças a visitar a feira que, depois de se aperceberem da obra, arrastaram vários colegas para a verem. Os pais não gostaram da situação, começaram a ficar inquietados e pediram aos organizadores que retirassem os livros”.

Ora da próxima vez que um grupo de pais exigir, por exemplo, que seja retirado um carro da PSP que se encontre num parque de estacionamento, a polícia agirá com a mesma prontidão e retirará o veículo.

Há desculpas esfarrapadas que, por envolverem sexo, são facilmente aceites. O problema está na falta de educação dos pais e da PSP que não só desconhecem o que seja arte, música e literatura contemporânea, como se relacionam com tudo o que tenha a ver corpo humano do mesmo modo malsão dos regimes ditatoriais ou dos orientadores religiosos mais inquisitoriais.

Este caso do livro apreendido, juntamente com manifestações recentes de altos membros da Igreja católica mostra bem que a educação anda pelas ruas da amargura e que o regime democrático tem de se deixar de fantasias e começar a preparar os seus cidadãos como deve ser, sob pena de cairmos não tarda nalguma caça às bruxas.

José PP contra Pedro PC

O homem é o que temos de mais parecido com deus. Pacheco Pereira é um bom exemplo de um deus que se passeia entre os humanos. O José não perdoa que alguém se engane a fazer uma citação. Aquilo é logo para deitar abaixo. O que ele está a deitar abaixo não é, obviamente, o lapso de Pedro Passos Coelho. O que está a deitar abaixo é um putativo líder, alguém que não cai no goto de PP e que PP não hesita em pôr a ridículo, pois se há coisa que seja importante para o país é o que lêem os líderes políticos ou os candidatos a líder. E o lapso do Pedro PC é tão grande que dá logo vontade de gritar Aqui d'el-rei! Porquê? Ora porquê, porque na memória de PC há algumas afinidades entre Husserl e Sartre.
Já o sentido inquisitorial do José PP é muito cosmopolita, pois se há coisa que os portugueses não são é pidescos, inquisidores, policiazecos de meia tigela.
O José PP tem muitas maneiras de se meter com o Pedro PC, mas pegou logo na mais fácil, quiçá por estar tão preguiçoso como o alvo que pretendeu abater.

Os bouvardinhos e pécuchets dos nossos dias


Às vezes gostava de morar em Lisboa para poder ser como toda a gente, ou seja, um bocadinho presunçoso e idiota. Gostava de lamber botas aqui e ali e cagar umas postas de bacalhau lá e além, só para me sentir alguém.

Mas como estou longe, navego pelos blogues de alguns lisboetas e rio-me, rio-me até mais não. A maior parte consegue ser tão ou mais afectada que figuras como Castelo Branco ou Lili Caneças. Com a diferença de serem figuras com pretensões a intelectual: meninos e meninas já com alguma idade, que adora ler (e o que lêem, e o que lêem), adora participar em encontros onde se fala de livros, de escrita e de temas assim grandiosos e que não perde uma oportunidade para estar à la page.

Não sei se já repararam mas nunca em nada do que escrevem ou do tanto gostam de ler há, sei lá, uns gramas de sal ou de sangue. Não. É tudo insípido, vazio, de literato para literato. À insipidez chamam-lhe poesia e excitam-se muito com banalidades linguísticas ou com os nomes sonantes do santo mercado internacional da literatura.

Nisso são de factos bons: têm um instinto que lhes indica quem é quem nesse particular mercado bolsista. Só lêem e falam daqueles que já vêm validados por algum selo de segurança. Pois como é fácil de perceber, é esta uma gente que não sabe ler, de tal forma tem os sentidos intoxicados pelo parecer. Há um livrinho de Flaubert que os retrata bem, Bouvard e Pécuchet. O mesmo autor tem até um dicionário que precisa de ser actualizado.

23 fevereiro 2009

A santa madre ignorância e a Polícia de Segurança Pública

Braga é uma cidade onde a antiguidade e a modernidade convivem... mal.
Alguém se deve ter queixado à PSP do livro e a PSP, cuja função é zelar pelo bem público e pela lei, não esteve com meias medidas e apreendeu os exemplares disponíveis numa feira de livros de saldo.
A notícia é trágica porque evidencia a ignorância que grassa dentro da corporação policial. Senão imaginem a nossa PSP a entrar pelo museu dentro para apreender o quadro... "pornográfico".
O quadro A origem do mundo (1866), do pintor oitocentista Gustave Courbet, tido como fundador do realismo em pintura, está exposto no Museu D'Orsay, em Paris.
A Feira do Livro em Saldo e Últimas Edições está a decorrer, até ao dia 8 de Março, na Praça da República - vulgo Arcada - no centro de Braga.

O futuro dos ansiolíticos


Tadinhas das crianças, ansiosas pelo Magalhães e o Magalhães nem ai nem ui, não chega, não enche a vida baça e triste da pequenada. E se a pequenada anda a pôr a nu o quão cinzenta e débil é a vida mental na Lusolândia, as mamãs e papás pelos vistos não querem ficar atrás (a pequenada para ser assim tinha de ir buscar inspiração nalgum lado) e como mães sentem-se "indignadas". Ai o direito à indignação é tão lindo, tão fresco, tão azul e branco...

Todos os dias, Catarina, de seis anos, faz a mesma pergunta à mãe: "Quando chega o Magalhães?". A resposta nem sempre é fácil. "Como mãe sinto-me indignada, porque nem sequer me dão uma explicação", disse à Lusa a mãe desta menina, que estuda em Algés e espera pelo computador desde o início do ano lectivo.

Quando a criançada tiver o seu brinquedo e se aborrecer e os resultados escolares forem cada vez piores, que palhaçada vão os governantes tirar da cartola?

E quando se contarem pelos dedos das mãos os que ainda forem capazes de ler uma instrução simples sem três ou quatro bocejos, que será feito do país?

Preparem-se negociantes e merceeiros, o futuro está nas drogas, nas drogas autorizadas pelo Estado: ansiolíticos, antidepressivos e afins. Invistam, invistam.

22 fevereiro 2009

Meredith Monk - Scared Song

Meredith Monk - Walking Song

Chemical Brothers - Asleep From Day

The Durutti Column - No Communication

Durutti Column - Day Is Over and Red Shoes (1988)

Ruy Cinatti (1915-1986)


Borda d'alma


O calendário foi cumprido
à risca - saiu certo.
Tive um tubérculo, por junto,
entumescido,
mas saiu certo.

A culpa foi minha, que não soube
adubar bem.
Foi propício o clima. A culpa é minha,
de mais ninguém.

Vou experimentar novas mezinhas.
Talvez cultive.
Com anos de pousio, um homeme cresce.
Talvez me salve.


[Borda d'Alma, 1970]

Pedro Mexia


Eu estive aqui


Eu estive aqui.
Neste seco, fero e estéril monte,
nesta lição que não se aprende
nem se deseja.
Eu estive aqui.
Dois passos atrás e um à frente,
ao contrário de Aquiles
e a tartaruga, mantendo apenas
o destrutivo paradoxo.
Eu estive aqui.
Nesta feira onde os poemas
servem de sacos de castanhas,
onde os poemas se queimam
por causa do frio,
se comem por causa
da fome.
Eu estive aqui.
No século vinte.

[Duplo Império, Ed. Autor, 1999]

20 fevereiro 2009

A rua, a rua, o espectáculo, isso sim é importante


O mundo não é perfeito. O governo de Portugal não é divino. Mas a senhora DREN (Direcção Regional de Educação do Norte) é perfeita e divina. Ela adivinha a vontade do povo e sabe que em se tratando de uma escola pode e deve obrigá-la a fazer o que a DREN quer. Pode e fê-lo. Os professores vieram para a rua (podiam ter metido e artigo e ficado em casa) vestidos de negro, amordaçados e com as mãos presas por correntes. Coitados. Queixam-se que estão "atafulhados" de trabalho, com os processos de eleição do Conselho Geral e do director do agrupamento, as provas assistidas e a avaliação do desempenho, e ainda com as provas de aferição e exames nacionais. Por isso, divulgaram, decidiram cancelar algumas das 174 actividades programadas para este ano lectivo, entre as quais o desfile de Carnaval, as visitas de estudo dos alunos até ao 8º ano e as idas à praia das crianças do pré-primário. Suspendiam apenas três a quatro por cento das actividades, para ver se respiravam melhor. Em Paredes de Coura já se respira mal, senhor presidente da Câmara. Aquilo que se passou é muito grave. Mas, pelos vistos, o importante para autarcas, pais e demais ambiciosos é o folclore, a rua, o ruído. Abençoados.

TODOS DIFERENTES & TODOS IGUAIS


19 fevereiro 2009

Surpresa e indignação


Voos desses ninguém os quer (nem sequer os nomeamos para não correr riscos desnecessários). Se algo se estiver a passar neste momento terá de ser veemente negado pelos ministros do futuro. A política sempre se fez de compromissos e Portugal assume as suas responsabilidades quando não há volta a dar-lhe. Quem diz Portugal diz outro país qualquer.
Bem vistas as coisas, a única responsável é a CIA, que também só faz o que lhe mandam fazer. E assim continuará a ser.
Luís Amado esteve portanto bem.
A democracia faz-se com muito basfond, perdão, com muitos bastidores. Quando algo passa as malhas apertadas dos filtros o fedor é grande, mas basta esperar que passe.

Uma cultura laxista e baseada na calúnia

Temos uma cultura de diz-se que diz-se que. Já várias vezes assisti a conversas onde Fulano ou Beltrano garante a pé juntos que, apesar de não ter estado presente, foi tal e qual como diz.
As relações humanas são feitas com muito de invísivel, caldeando desejos, receios, preconceitos, perversões, anseios e mais. Basta que alguém, um elo mais fraco numa determinada cadeia humana, seja exposto para virem uns quantos predadores enfiar o dente e garantir que dado acontecimento se passou como elas descrevem, embora nenhuma tenha presenciado de facto os acontecimentos.
E se vos disser que já assisti a várias conversas destas entre professores, na tentativa de um pequeno linchamento moral de outrem?
Agora imaginem a pressão que não recai sobre os ombros das vítimas, quando ainda têm o azar de sofrer humilhações da parte de encarregados de educação ou até de alguns alunos (a má formação está geograficamente muito bem disseminada).
Retoricamente, podem vir estes ou aqueles minimizar as agressões mas elas constituem algo tão intolerável que, como disse em tempos, o senhor Procurador, são crimes.
Como é que alguns pais partem tão facilmente para a agressão a um professor? Porque reina um certo clima de impunidade - foram muitos anos a dizer mal dos professores, a demonizá-los, a assacar-lhes a má educação dada pelos pais em casa - e de irresponsabilidade.
O que era bom era que os jornais, rádios e TVs que são tão rápidos em explorar o espectáculo, cobrissem com a mesma expectacularidade as sentenças, sempre que elas venham a ser tomadas em tempo útil.

18 fevereiro 2009

Panphagia protos, o pequeno 'avô' dos dinossauros gigantes


Panphagia protos

O Panphagia protos tinha um metro e cinquenta desde o início da cabeça até à ponta da cauda e não mais de 30 centímetros de altura. Tanto comia plantas como carne.
Há 228 milhões de anos passeava pelo nosso planeta e constitui um dos fósseis mais antigos até agora descobertos. Os pequenos fósseis desse "avô" foram encontrados em 2006, no Parque Ischigualasto, na Argentina. O fóssil apresenta a morfologia de um dinossauro primitivo, o crânio de um carnívoro, mas os dentes de um herbívoro. Os paleontólogos acreditam que foi o primeiro omnívoro.
Os dentes eram o intermédio entre os carnívoros e os herbívoros, o que prova que se trata de um animal de evolução. Provavelmente tinha hábitos de omnívoro, com dentes preparados para moer vegetais ou carne. Daí o nome científico com que foi baptizado: Panphagia, que vem do grego e significa "que come de tudo", e protos, o primeiro.
Trata-se de um omnívoro, o elo que faltava entre os dinossauros carnívoros e os herbívoros gigantes quadrúpedes: uma peça muito importante da história dos dinossauros.

17 fevereiro 2009

A economia, essa ingrata

- Atão não é que ela veio dar o dito por não dito?
- Quem?
- A economia, pois quem havia de ser?
- Ai a megera...
- A coisa está tão feia que até a CGTP anda a pedir a intervenção da Igreja.

Escrever ou não escrever, eis uma piada barata


Hoje, refeitos do choque, podemos já sentir saudade. Saudade do António. Ele escrevia tão bem que até chateava. E o trabalhão que ele dava à crítica? Pfff, nem se imagina. Portugal deve-lhe muito. O que seria o país sem esse herdeiro de Camões, que cantou alguns dos episódios da nova saga ultramarina?

E que seria do António sem tanto bonzo que lhe ampare e propague os dislates?

A nós impressionou-nos o modo como L.F.R com J.C.S. voltam à carga e explicam o que é isso de deixar de escrever. Pela reverência com que falam de algo de que, nitidamente, não se fazem ideia o que seja.

Para esta dupla maravilha livros são objectos que interessam na justa medida em que vendem muitos milhões. Se não venderem muitos milhões não são livros. Há quem venda muito mais que Salinger, mas aqui, no novo reino da Baviera, isso são detalhes sem importância. Trata-se, claro, de dar uma demão de cultura a um texto esquisito.

«Esta revelação de António Lobo Antunes pode até ter surpreendido algumas pessoas, mas não é um caso isolado. É verdade que são muitos os autores que, como o recentemente falecido John Updike, continuam a escrever novos livros até à data da sua morte, mas alguns decidem parar de publicar quando se encontram no topo. (Nós a pensar que o António estava já nas faldas e afinal ainda se passeia pelo topo. Somos mesmo nada, ceguetas de todo.)

J. D. Salinger, por exemplo, é um dos grandes vultos das letras norte-americanas, contudo não publica uma única linha desde a década de 60.» (Isto é falso, mas a cultura das redacções de jornais é assim categórica, firme, pedagógica. Que interessa se publica ou não publica, fica bem esse mistério: escritor deixa de escrever... que só é mistério nas cabeças airosas de alguns, mas são alguns que têm o meio para ampliar a verdade e não há como as verdades para se espalharem...)

«Já o poeta francês Rimbaud continuou a escrever até morrer, prematuramente, com apenas 37 anos. Não obstante, durante muito tempo limitou-se a assinar cartas, pois redigiu o último texto literário aos 21 anos. [Donde se conclui o quê? Foi texto que tiveram que cortar, pois era paleio a mais para o editor? Ou é uma daquelas frases que mostram que raciocínio e escrita são indissociáveis, se um falha, o outro também falha?] O norte-americano Henry Roth, por outro lado, escreveu um primeiro livro, Call It Sleep, em 1934. Só regressaria passados 45 anos, mas ainda conseguiu assinar várias obras até que morreu em 1995.» (E nós a vê-lo, coitadinho, de esferográfica em punho a assinar tantas obras. Aquilo metia dó. Era darem uma esmola ao pobre e mandá-lo para casa.)

Já noutro lado, o problema da habitação é algo que inquieta o anónimo redactor da notícia: «O escritor refere não saber se vai continuar a viver em Lisboa ou se vai para fora do país na altura em que deixar de escrever.» E como o país não sai da crise sem essa informação, pede-se a todo o trabalhador que não faz nada que se desloque até à residência de Sua Santidade o António e acenda velas em honra da pátria. Velas vermelhas (verdes também serão toleradas). Nós daqui rezaremos um terço pela sua alma. E uns quantos pela alma da pátria.

16 fevereiro 2009

Da Offbeat generation ao tédio antoniano


Uns estão fartos de escrever e entregam-se ciclicamente ao choradinho do Eu vou parar (imitando quiçá os eternos presidentes Jardim ou Costa ou afins). Um choradinho que dá notícia em muito lado: 1, 2, 3.

Outros querem é ter leitores, escrevem e gostam de escrever e encontram maneiras sugestivas de dar que falar. O próprio nome soa bem: Offbeat generation.

15 fevereiro 2009

Quarentena


Alô, alô, daqui do espaço das viroses para o mundo dos sãos: a gripe atacou este blog. As articulações não reagem, os olhos pesam, os músculos parecem ter sido prensados e martelados a frio, a febre vai alta: os posts esboroam-se, inúteis, vãos.
Assim que possível retomaremos a emissão.

13 fevereiro 2009

Galesnjak


Porque é Galesnjak tão famosa? Porque graças ao Google Earth descobriu-se que a ilha tem essa forma.
Galesnjak é uma pequena ilha croata, com 108 mil metros quadrados, cujas coordenadas são: Latitude: 43° 58' 49 N e Longitude: 15° 23' 11 E.
Embora apareça num atlas publicada em 1807 por Napoleão, só agora, com a referida ferramenta informática, Galesnjak se tornou famosa.

Imagens do processo de fabricação do haxixe






Haxixe (do árabe Hashish) é o pólen compactado, extraído das flores e das inflorescências femininas da Cannabis sativa ou Cannabis indica (planta popularmente conhecida como marijuana, "erva" ou maconha.
Depois da colheita, às plantas são-lhes retiradas as folhas, ficando apenas as flores, que serão batidas e maceradas. O pólen acumulado durante a maceração pode depois ter a forma de bolas ou tabletes endurecidas de cor castanha, dourada, preta, vermelha ou verde-escura.

As promessas do Presidente


Cavaco, grande Cavaco. Fez a campanha das presidenciais a prometer mais e melhor emprego e que com ele na presidência a crise teria os dias contados. Claro que era discurso para enganar papalvos, mas como hoje Carvalho da Silva veio pedir maior intervenção do senhor Presidente da República, recordamo-nos que foi precisamente essa a bandeira eleitoral do homem. Agora, na presidência, esqueceu-se disso e aparece apenas em passeio pelo país.

O ano passado o sr. Presidente mostrou preocupação com o afastamento dos jovens da vida política e a primeira jornada do Roteiro para a Juventude foi dedicada ao associativismo juvenil. Agora, na segunda jornada do mesmo programa, é a cultura que está em evidência.

Os resultados são de fazer abrir a boca ao mais incréu. Desde que Cavaco actuou não há jovem que não milite activamente pela causa nacional. Agora que está virado para a cultura, vai ser um nunca mais acabar de... ténis de mesa e afins (sim, que a cultura desta gente tem muito ou de desporto ou de folclore - tudo o que vá além disso...)

11 fevereiro 2009

Coitadinhos...

Que mais vai acontecer ao PS? Tentativa de assassinato político e moral de José Sócrates; a cabala da Casa Pia; a campanha negra de 2005 (qual? o quê?) e os poderes ocultos de 2009.
A gente lê e pasma. Será que voltamos aos tempos suásticos ou aos tempos salazarentos? Cabala? Onde? Campanha negra? A sério? Sempre pensei que foi ao contrário.
Que gentinha, senhores, que gentinha. Tudo lhes serve para fazer campanha, para fazer choradinho, para sonhar com nova maioria absoluta.
Era bom que isso não acontecesse. O PS parece cada vez um partido de medíocres. Governar o país com gente dessa vai dar mau resultado.
Convém não esquecer que as crises não duram sempre e que não há a mais pálida ideia política de um rumo para o país. E era isso que gostávamos de ver o PS a discutir - não as cuecas ou a gravata ou as casas ou contas bancárias de Sócrates.
Em não havendo ideias, o papel de vítima é muito mais interessante. Coitadinhos...

10 fevereiro 2009

Às vezes o Público tem graça

O humor não é o forte do jornal. Que peca por ser sisudo e um tanto ou quanto a puxar para a direita. Mas há lá uns quantos jornalistas que ainda vale a pena ler. Sejam de que lado forem, lêem-se com agrado, porque fazem rir.
Um exemplo, transcrito da edição papel de hoje, assinado por José Vítor Malheiros: "Os responsáveis da crise financeira e económica que está a abalar o mundo (...) foram finalmente encontrados. Os responsáveis somos nós.
Se pensava que os problemas se deviam à crise do subprime, à ganância desmedida de (muitos) banqueiros, investidores, especuladores e à desonestidade de outros tantos (muitos) banqueiros, investidores, gestores, consultores, agências de rating, entidades reguladoras e fiscais diversos, esqueça. A culpa da crise é sua (e, admito, também minha).
A hipótese começou por ser avançada timidamente mas as provas são esmagadoras e são repetidas pelos especialistas em voz cada vez mais alta. Não podemos continuar a negar. E não devemos ser cépticos pelo facto de serem analistas e propagandistas da direita que o dizem. A direita tem maior familiaridade com as coisas do dinheiro (e com o dinheiro ele próprio) e sabe do que fala. A culpa é mesmo nossa. Sua e minha.
Eles descobriram o que é que você e eu andámos a fazer nos últimos anos. Descobriram que andámos a viver acima das nossas possibilidades e que andámos a comprar... a crédito. A comprar casas com empréstimos e coisas assim. E às vezes até - não vale a pena negar - a usar os nossos cartões de crédito.
A prova que eles descobriram é que o próprio Obama, no discurso de posse, pôs o dedo na ferida e explicou que a crise se devia "ao fracasso colectivo" dos americanos que não souberam fazer as escolhas difíceis que se impunham. Obama não falou de Portugal, mas se tivesse falado teria dito que aqui (e no resto do mundo) a razão é semelhante. A culpa é nossa.
Paul Krugman - Nobel de Economia e colunista do New York Times - não concordou com Obama quanto à culpa colectiva e diz que, pelo contrário, "os americanos" não faziam a mínima ideia das falcatruas dos mercados financeiros e que as pessoas que sabiam juraram aos quatro ventos que a desregulação financeira era uma coisa boa - mas Krugman, aqui entre nós, talvez seja c-o-m-u-n-i-s-t-a e talvez não seja boa ideia acreditar nele. As suas críticas ao sistema financeiro fazem parte de uma conspiração internacional para impor a ditadura do proletariado.
Agora que os analistas têm as provas na mão temos de admitir que, se os trabalhadores da Bordalo Pinheiro, da Tyco Electronics, da Peugeot-Citroën, da Autoeuropa, da Controlinveste, da Philips, da Sonae Indústria, da Delphi e de tantas outras não tivessem vivido acima das suas possibilidades e não tivessem contraído empréstimos para comprar casas para viver, o mundo estaria melhor e eles teriam podido manter os empregos. Já sabíamos que, quando os bancos ganham dinheiro, ele vai para os bolsos dos gestores e accionistas, mas que, quando perdem dinheiro (por má gestão, desvio de fundos, fuga ao fisco), esse dinheiro se vai buscar aos bolsos dos contribuintes. Mas ficámos agora a saber que não é só o dinheiro que é preciso pagar. É preciso arcar com a culpa.
(...) Por muito pobre que seja, cada português vai poder orgulhar-se de ter ajudado a pagar alguns carros de luxo, férias em ilhas exóticas e amantes espampanantes. É verdade que não usufruímos de nada disso, mas sempre consola. E estava dentro das nossas possibilidades. Não é tão mal visto como ter contraído um empréstimo para comprar casa, acima das nossas possibilidades."

Ah, lince!


Já não se pode dizer Ah, leão! com o mesmo sentido de pois de se saber que o lince consegue copula 80 vezes em apenas 48 horas. Metade desse tempo reserva-o para dormir. Actividade que mantém durante dois dos doze meses do ano.

As concentrações de estrógenos e hormonas dos linces são 35 vezes mais elevadas que as de qualquer outra espécie de felino.

Fonte: El Mundo

PENSAMENTO DO DIA EM 1867!!!


Curioso, não é? 142 anos depois... E logo vindo de quem vem...!
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"

Karl Marx, in Das Kapital, 1867

09 fevereiro 2009

Grão a grão poupa a nação


Onde se lê que "a manutenção das duas categorias é essencial para a melhoria da escola pública" deve ler-se é essencial para a grande poupança nacional. Quem trabalha deve receber pouco. Quem especula deve não só receber muito como subvenções que davam para pagar 5 salários de professores no topo.
Viva o ME! Viva!
Viva Portugal!

O prazer adverte que o uso prolongado da ciência causa impotência


A maior parte dos estudos que são notícia cheiram sempre tanto a sacristia. É como se só o que dá prazer fosse causa de infortúnios. O trabalho, a falta de dinheiro, o ter de aturar gente idiota, o excesso de ruído (em centros comerciais, em lojas, em supermercados, na rua), nada disso parece ter importância. Já o álcool e a marijuana fazem muito mal.
As pessoas não se suicidam porque estavam mal e fartas de estar mal, não. Suicidam-se porque bebem muito. O beber muito não é um sintoma, claro. O beber é que se deve evitar.
Beber e fumar também fazem muito mal aos testículos, porque... os estudiosos decidiram que sim.
Ainda se lembram de há uns tempos ter vindo à baila o quanto os cientistas publicam estudos feitos por empresas farmacêuticas como se se tratasse de trabalhos pessoais?
Estes estudos tem algo de comum com a caça às bruxas, só muito tempo depois é que alguém começa a perguntar se não se terão enganado nas causas.

08 fevereiro 2009

Outro poema de Rosemary Tonks


Badly-Chosen Lover

Criminal, you took a great piece of my life,
And you took it under false pretences,
That piece of time -
In the clear muscles of my brain
I have the lens and jug of it!
Books, thoughts, meals, days, and houses,
Half Europe, spent like a coarse banknote,
You took it - leaving mud and cabbage stumps.
And, Criminal, I damn you for it (very softly).
My spirit broke her fast on you. And, Turk,
You fed her with the breath of your neck -
In my brain's clear retina
I have the stolen love-behaviour.
Your heart, greedy and tepid, brothel-meat,
Gulped it, like a flunkey with erotica.
And very softly, Criminal, I damn you for it.

Rosemary Tonks (n.1932)

Story of a Hotel Room

Thinking we were safe-insanity!
We went in to make love. All the same
Idiots to trust the little hotel bedroom.
Then in the gloom...
...And who does not know that pair of shutters
With all the awkward hook on them
All screeching whispers? Very well then, in the gloom
We set about acquiring one another
Urgently! But on a temporary basis
Only as guests-just guests of one another's senses.
But idiots to feel so safe you hold back nothing
Because the bed of cold, electric linen
Happens to be illicit...
To make love as well as that is ruinous.
Londoner, Parisian, someone should have warned us
That without permanent intentions
You have absolutely no protection
-If the act is clean, authentic, sumptuous,
The concurring deep love of the heart
Follows the naked work, profoundly moved by it.

A cadeira afinal era uma banheira


Salazar, o ilustre... femeeiro? O ilustre... galã? Apenas um homem que se portava como tal. Isso mesmo vai para o ar hoje na Sic, desmontando "o grande marketing político de Salazar como homem casto" (palavras do realizador Jorge Queiroga).
Série onde se diz que o homem afinal não caiu de nenhuma cadeira, mas na banheira. O que também é muito mais comum. Se calhar estava a olhar para... sentiu um estremeção e... pumba.

Nem os próprios miliantes consegue entusiasmar


Será o timbre? Ou apenas o tom? Se calhar é o conteúdo, aquilo que diz. O que importa salientar é isto: «Sócrates nunca chegou a empolgar verdadeiramente a plateia de militantes socialistas do Porto». Se os militantes já estão do lado dele como há-de empolgar o país?

O pior é que não há oposição, ou, melhor, não há, do lado da oposição, ninguém que consiga galvanizar uma grande parte do eleitorado. Ferreira Leite avançou cedo demais e já está queimada. O resto não tem hipóteses de chegar a não ser em coligação.

Quanto ao partido do governo, se Sócrates não conseguir repetir a proeza da maioria absoluta, como conseguirá governar? Vendendo acordos aqui e ali? (Para comprar precisa de dinheiro que não tem).

07 fevereiro 2009

"Menina na Praia" de Ofélia Marques (1902-1952)


s/ data, óleo sobre tela
Centro de Arte Moderna, Fund. Gulbenkian, Lisboa

Ofélia Gonçalves Pereira da Cruz nasceu em Lisboa, a 14 de Novembro de 1902. Uma das primeiras mulheres, em Portugal, a frequentar a Universidade, terminou os cinco anos da licenciatura em Filologia Românica, na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1922. Optou, contudo, pela carreira artística, integrando a chamada segunda geração do modernismo português.
Casada com Bernardo Marques (1898-1962), colega de curso, recebe dele o apelido com que assinará as suas obras. Pintora, desenhadora, ilustradora, colaborou com revistas como a “Atlântico”, “Panorama”, “Ver e Crer”, “Revista de Portugal”, ou “Civilização”. Neste última, em 1928, teve particular destaque a rubrica “O Reino dos Miúdos”, ilustrando estórias contadas por Rosa Silvestre (pseudónimo de Maria Lamas). Trabalhou igualmente com Fernanda de Castro (1900-1994), Natércia Freire (1919-2004) e José Gomes Ferreira (1900-1985), para quem ilustrou, semanalmente, em 1925, a primeira versão de “As aventuras de João Sem Medo” (publicadas em O senhor doutor, a convite de António Lopes Ribeiro, e ainda assinadas pelo escritor com o pseudónimo de Avô do Cachimbo). Saber mais...

Esther Ferrer (San Sebastián, 1937)




Esther Ferrer, espanhola, artista, mulher.


Mora em Paris e é a artista da ARCO deste ano. O El País dedica-lhe algum espaço e nós, que gostamos de a ler, aproveitamos para umas quantas transcrições: "Tom [Johnsony, o marido] e eu escolhemos todos os anos os livros que não vamos voltar a ler más e pômo-los à porta para que os levem".


"Não gosto de ter. Não me agrada possuir objectos. Agradar-me-ia ter menos. Ter um tecto basta-me. Acumulo apenas obras de arte porque não tenho outro remédio. Compro poucas coisas, roupa, ou o que seja. Comprar não me dá satisfação nem segurança. Não me traz nada. Consumir não me vai tirar a angústia de viver, assim sendo para que o hei-de fazer?"


"Eu gosto muito de trabalhar o absurdo, de fazer as coisas muito simples. Quando me ponho a pensar uma performance, passo o dia a tirar. Não digo que seja uma depuração, mas que consiste em extrair todo o supérfluo, o adorno. Não pretendo gratificar o espectador. O meu trabalho é muitas vezes muito seco, mais que sóbrio. E a mim agrada-me muito o rococó e o barroco, mas para outros o façam. O expressionismo inclusive, interessa-me muito como espectadora. Quero que no que é meu tudo saia de forma natural, quase sozinho. Como os números, 1, 2, 3 são maravilhosos. Não há nenhum drama. O drama, se quer, acrescenta-o o que vê".

06 fevereiro 2009

E em nono lugar... o Cherne


Esta notícia recorda-me uma velha anedota: a do Zé dos Plásticos, mais famoso que o papa. A anedota está no lugar atribuído a Barroso: o 9.º, antes do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que ficou em 10.º - basta olhar para os países dos inquiridos para perceber a pertinência e a validade do inquérito: França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Itália e Estados Unidos da América. Quem é que na América conhece Barroso? Ele há cada uma.
A um dão-lhe lugar entre os mais bem vestidos, a outro o pódio da popularidade. E porque não fazerem um sobre o melhor penteado?

Sea Shepherd, um navio contra a captura de baleias


O navio Steve Irwin do grupo ecologista Sea Shepherd chocou hoje contra o barco baleeiro japonês Yushin Maru 3 quando este tentava trasladar duas baleias mortas para o cargueiro Nisshin Maru.

Tudo aconteceu na Antártida, conforme se pode ler e ver no sítio Sea Shepherd. Pelo segundo ano consecutivo, o Steve Irwin persegue embarcações que levam a cabo o programa anual nipónico de captura de cetáceos com "fins científicos".


Imagens do choque de 2007



Ver o futuro em tempos de crise?


Fala Luiz Moutinho, professor catedrático de Marketing na Universidade de Glasgow:

"há cada vez menos o mercado da empresa para o consumidor, mas sim do consumidor para a empresa. Somos nós que decidimos quais são as marcas e produtos que queremos adoptar."

"vivemos numa economia de experiência, de emoções. Hoje em dia, as pessoas têm conhecimento do realismo do que está por detrás de uma marca (...). As pessoas querem coisas com autenticidade emocional. (...) Estamos cada vez mais a falar de uma sociedade de co-criação, em que os consumidores vão criar valor, os produtos e as mensagens."

"Esta crise até tem aspectos positivos, vemos quase uma definição correcta do marketing - resolver as necessidades das pessoas com lucro. Tem de haver lucro para os dois lados. Até agora, o marketing tem sido enviesado para beneficiar um lado, a empresa."

"É possível uma empresa conseguir cativar mais consumidores em tempos de crise?

A estratégia tem de ser de senso comum. Se as pessoas estão em dificuldades, as empresas têm de arranjar uma arquitectura de serviços e de produtos para responder a essas condições. Têm de ajudar, não só olhar para o seu lado e para os seus objectivos, mas têm de ajudar seres humanos que estiveram lá quando as empresas tinham lucro."
Fonte: DN

05 fevereiro 2009

Vem aí inéditos de Julio Cortázar (1914-1984)


A notícia é dada pelo El País: Quando falece un escritor, tarde ou cedo acaba por vir uma cómoda à tona. A de Julio Cortázar estava tão cheia de papéis que os seus cinco gavetões mal se conseguiam abrir. No dia 23 de Dezembro de 2006, Aurora Bernárdez, viúva e herdeira universal do autor argentino, juntamente com Carles Álvarez, estudioso e cortazariano fanático conseguiram abrir a cómoda. O resultado é a edição, em Maio próximo, de Papeles inesperados.

O livro contém 11 contos nunca incluídos em obra, um capítulo inédito do Libro de Manuel, 11 novos episódios da personagem que protagonizou Un tal Lucas, quatro autoentrevistas, 13 poemas inéditos... No total, 450 páginas.

Thomas Bayrle - pequena galeria






Alemão, de 1937, que alguns consideram um pintor de pintores, aqui ficam alguns trabalhos de Bayrle.

04 fevereiro 2009

Esponjas com 635 milhões de anos


Vestígios químicos deixados por esponjas há 635 milhões de anos em estratos de sedimentos encontrados em Omã são a prova da vida animal mais antiga da Terra, revelaram hoje cientistas norte-americanos na revista “Nature”.

As esponjas são organismos primitivos que não se deslocam voluntariamente do seu local de fixação. Alimentam-se por filtração, bombeando água através das paredes do seu corpo e retendo as partículas de alimento nas suas células. Não possuem músculos, nem sistema nervoso, nem órgãos internos.

Usando uma análise química dos sedimentos rochosos, datados de há 635 milhões de anos, os cientistas descobriram vestígios de moléculas que só são produzidas por uma classe de esponjas. Isto sugere que as criaturas existiam antes da Idade do Gelo que ocorreu há 630 milhões de anos e que trouxe depois a súbita diversificação de vida multicelular, há 530 milhões de anos. Estas formas simples de vida animal surgiram 200 milhões de anos antes do aparecimento das plantas terrestres, diz Roger Summons, geobiológo do Instituto de Massachusetts que participou na investigação.

Os fósseis de animais mais antigos, encontrados nas rochas, datam de há 580 milhões de anos. Mas os autores deste estudo defendem que os “fósseis moleculares” deverão ser a melhor forma utilizada para compreender a Evolução. “As pessoas que olham para os fósseis nas rochas, normalmente, consideram apenas a imagem visível”, considerou Summons. Mas “isto vem mostrar que esses vestígios não são a única coisa a procurar”.

Titanoboa Cerrejonensis, a cobra de tamanho autocarro


Serpente? Aquilo era mais um colosso. E não espanta que o fosse - é pré-colombiana. Viveu há 60 milhões de anos no que é hoje a Colômbia.
Baptizaram-na como Titanoboa Cerrejonensis pelo tamanho e pelo lugar onde encontraram os restos fósseis: a mina de carvão de Cerrejón. Tinha mais de 13 metros de comprimento e pesava 1,25 toneladas. Vivia com temperaturas que oscilavam entre os 30 a 34 graus celsius (86 a 93 Fahrenheit).

Mais informação aqui.

03 fevereiro 2009

A velha aliança e esses bastardos dos...


Ingleses.

Os gajos são demócratas, liberais e porreiros. Os gajos são dos sindicatos e estão a defender os seus trabalhadores. Os gajos são ingleses. E como ingleses que são, estão-se nas tintas para esses gajos manhosos que lhes vendem álcool e sexo e mais alguma coisa no Algarve. Esses gajos que se fockam. Plim é pròs ingleses e eles é que mandam. Eles, os que moram lá naquela ilha exótica, que ainda tresanda a colonialismo com um cheirinho a chulé proletário.