28 junho 2010

Otto Muehl


O corpo, as relações com o corpo, seja pelo excreta (urina, fezes, suor), seja pelas pulsões (eróticas, emocionais), seja por uma necessidade de explorar, controlar, provocar as reacções humanas perante o corpo conduziram Otto Muehl ao Accionismo vienense (considerado um dos movimentos mais estranhos e radicais da história da arte).
Nascido em 1925, Muehl fez estudos no pós guerra, em que participou. Na década de 1960 inicia a chamada “action painting”, com pinturas materiais. Desse período são também as esculturas de dejectos e sucata, parcialmente coloridas, tendo por elementos-base materiais naturais (areia, madeira e pedra, por exemplo). Em 1962, relaciona-se com Hermann Nitsch e Adolf Frohner, no Perinetkeller, em Viena. O encontro mudaria o rumo das artes na Áustria e transformaria o Accionismo vienense num movimento de carácter internacional. No ano seguinte, ocorrem as primeiras performances do grupo, descritas como “a celebração de um naturalismo psicofísico”.
A partir de 1966 começa uma cooperação estreita entre Muehl e o accionista Günther Brus. O corpo humano passa a ser entendido não só como material pertinente às acções, mas também como parte essencial das mesmas. Desde então, é possível acompanhar o nascimento das chamadas “acções totais”.

Escândalos, censura, perseguição judicial e prisão tornam-se uma constante na vida de Muehl. Que mais tarde viria a ser detido sob acusação de pederastia e violação, ficando na cadeia sete anos.
O teor e o alcance das acções ultrapassam as fronteiras da Áustria em finais dessa década e inícios da de 70, e o nome de Otto Muehl, bem como a sua arte, surgem indissociados de temas que eram desconfortáveis às sociedades capitalistas pós-industriais, comprometidas desde os anos 50 com a implantação e a difusão do Estado de bem-estar social.
Em finais de 1969, Muehl aparece na acção “Stille Nacht” (Noite feliz), em que um porco foi dilacerado e o seu sangue, bem como a urina e os excrementos eram atirados ao corpo de uma mulher nua, enquanto se ouviam canções tradicionais de Natal.
O nome de Muehl e do seu grupo accionista começam a ser relacionados com o recém-criado RAF (Rote Armee Fraktion), na Alemanha, depois conhecido como Baader-Meinhof. A ligação era absurda, dado que membros deste grupo o consideravam anal-fascista e burguês, mas à propaganda do Estado convinha que essa associação fosse feita, para criar anti-corpos junto dos cidadãos.

Em 1971 Muehl cria, em Viena, uma comunidade experimental que transladará, em 1974, para Friedrichshof, a este da capital. Orgias envolvendo crianças, muito álcool, estupefacientes e outros excessos atraíram cerca de seis centenas de curiosos deram mau resultado. A coisa ainda assim durou até 1990. No ano seguinte Muehl foi detido e passou quase sete anos no cárcere. Depois de ter sido libertado, acabou a viver no nosso país, no Algarve, juntamente com a mulher e outros seguidores das duas ideias, onde ainda reside.
A sua obra tem sido alvo de retrospectivas nalguns museus.
Aqui podem ser vistas algumas das curtas-metragens que realizou entre finais de 60 e inícios de 70. E aqui está a página do artista.
Este texto foi redigido a partir de várias fontes (1,2,3 e 4).

1 comentário:

a glória do vulgar disse...

não sabe por acaso se ele ainda está vivo? desconhecia o homem e a obra e achei divertido saber um pouco de ambos

tenho gostado de ler o seu blog, onde vim parar por puro acaso - googlava uma etimologia no houaiss...

e gostei de rever a paria da vitória.

tudo simpático, em suma.