"Quem muito viu..."
Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado, e foi
privado em extremo da justiça justa;
e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos; e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi -
não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.
Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.
[in Poesia III, Ed. 70, 1989, págs. 48-9]
[Pode também ser lido na antologia de Manuel de Freitas, A Perspectiva da Morte: 20 (-2) Poetas Portugueses do Século XX, Assírio & Alvim, 2009]
[Pode também ser lido na antologia de Manuel de Freitas, A Perspectiva da Morte: 20 (-2) Poetas Portugueses do Século XX, Assírio & Alvim, 2009]
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