«Portugal comprou esta semana a bala da sua execução, com alguma pompa, circunstância e uma gigantesca cegueira e subserviência aos poderosos da Europa. Refiro-me à assinatura do texto do novo "tratado" cisionista da UE, que deixa de fora o Reino Unido e a República Checa. A assinatura por si só não significa a ratificação do tratado, que tem que ir aos Governos, aos Parlamentos nacionais, passar nos tribunais constitucionais onde é caso disso, e, no caso irlandês, a referendo. Mas conhecendo os nossos costumes, para Portugal, é como se já fosse de pedra e cal, perante a subserviência de Governo, do PSD e do PS, a complacência presidencial, o olhar para o lado do Tribunal Constitucional, e a abulia da opinião pública. Mais uma vez, fomos colocados sob o signo da nova lei da inevitabilidade, para aprovar a "regra de ouro", de que é feita a bala que, destruindo tecido, osso e massa encefálica, deu a outros o instrumento para a nossa execução.
(...)
Há receitas by the book que os bons técnicos conhecem, mas duvido que percebam por que razão os países não podem ser governados by the book. Duvido que saibam o que é o "ruído" de que sociólogos como Weber teorizaram. É que se os países fossem governados by the book, seria fácil governá-los e nada falhava. É aliás esse o mito tecnocrático, o de que o saber puro, uma espécie de matemática de soluções interligadas, de modelos, quando aplicadas com rigor, dão os resultados pretendidos. Esta é, aliás, uma ilusão muito típica dos economistas que, como agora estamos no tempo deles, arrastam atrás de si a admiração embasbacada dos comuns mortais.
Talvez valha a pena lembrar que a maioria dos modelos que foram aplicados à economia mundial e nacional falhou estrondosamente e que na génese de muitos problemas actuais está uma coligação muito próxima de economistas e políticos, ambos unidos por essa redução da política ao "economês". (...)
O pequeno e imenso problema é o "ruído" do mundo. As acções humanas, sejam na economia, na sociedade, na cultura, na política, estão cheias de "ruído", que gera um enorme fosso entre as intenções proclamadas e os resultados obtidos. Quase que se pode dizer que a regra é os resultados serem muito diferentes das intenções. É a regra que Weber lembrava aos políticos de que a maioria das suas acções tem resultados exactamente opostos ao pretendido. Aplica-se também aos economistas a fazer política.
(...)
Os propagandistas do actual poder (...) têm-se em tão alta noção de si próprios que acham que estão a "mudar Portugal", a "fazer um país diferente", um típico revolucionarismo messiânico, em versão chã.»
in Público, 3MAR2012
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Há receitas by the book que os bons técnicos conhecem, mas duvido que percebam por que razão os países não podem ser governados by the book. Duvido que saibam o que é o "ruído" de que sociólogos como Weber teorizaram. É que se os países fossem governados by the book, seria fácil governá-los e nada falhava. É aliás esse o mito tecnocrático, o de que o saber puro, uma espécie de matemática de soluções interligadas, de modelos, quando aplicadas com rigor, dão os resultados pretendidos. Esta é, aliás, uma ilusão muito típica dos economistas que, como agora estamos no tempo deles, arrastam atrás de si a admiração embasbacada dos comuns mortais.
Talvez valha a pena lembrar que a maioria dos modelos que foram aplicados à economia mundial e nacional falhou estrondosamente e que na génese de muitos problemas actuais está uma coligação muito próxima de economistas e políticos, ambos unidos por essa redução da política ao "economês". (...)
O pequeno e imenso problema é o "ruído" do mundo. As acções humanas, sejam na economia, na sociedade, na cultura, na política, estão cheias de "ruído", que gera um enorme fosso entre as intenções proclamadas e os resultados obtidos. Quase que se pode dizer que a regra é os resultados serem muito diferentes das intenções. É a regra que Weber lembrava aos políticos de que a maioria das suas acções tem resultados exactamente opostos ao pretendido. Aplica-se também aos economistas a fazer política.
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Os propagandistas do actual poder (...) têm-se em tão alta noção de si próprios que acham que estão a "mudar Portugal", a "fazer um país diferente", um típico revolucionarismo messiânico, em versão chã.»
in Público, 3MAR2012
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