09 março 2012

Escutem o Zé-Ninguém

Há um livro de Wilhelm Reich, redigido em 1946, que poderia endereçar-se a Sua Excelência o Senhor Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, Escuta, Zé Ninguém!.
Sua Excelência tem o hábito de dizer as coisas de tal maneira que as pessoas não o percebem, sendo o resultado quase sempre lamentável, permitindo que a popularidade de S.ª Exa. seja a mais baixa de que há memória.
Como se não bastasse, a retórica de que serve é, no mínimo, pastelosa. Veja-se: «Pela quarta vez, numa disputa eleitoral em que pessoalmente me submetia ao julgamento dos meus concidadãos, obtive mais de 50% dos votos. Tratou-se de um gesto de confiança dos Portugueses que muito me honra. Senti, naturalmente, o peso desta responsabilidade histórica. A vitória nas eleições de 2011 teve um sabor especial, que reforçou em mim a admiração profunda e o sentimento de gratidão para com o povo português.»
S.ª Exa. tem a mentalidade própria de alguém conservador e, por isso, acha uma aberração o casamento de pessoas do mesmo sexo. Mais, a coisa é de tal forma forte para o delicado estômago de S.ª Exa. que ele chega mesmo a servir-se desse facto como dado de arremesso contra o governo e a maioria que permitiu que tal fosse possível.
Como se diz no tal livrinho de Reich, «não existe nada a que mais fujas do que a encarar-te a ti próprio» Zé Ninguém.
Sim, como pode alguém tolerar que as pessoas sejam livres e vivam como tal? A liberdade é contra natura e constitui sempre uma ameaça aos interesses de desses poucos que se acham empossados pela lei divina.
Só alguém divino é capaz de adivinhar o que dirá a História. Cavaco Silva é um desses iluminados. Afirma sem titubear: «não me congratulo pelo facto de a História me ter dado razão».
nem se lembra que história e memória são indissociáveis. Dar-lhe-á jeito fazer de conta que não fez a primeira campanha a prometer melhor dias aos Portugueses (como ele gosta de escrever). Viu-se. Desde que é presidente, a vida dos Portugueses não tem parado de se afundar.

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