15 março 2012

Da pátria portuguesa e dos nobres lusitanos

Vivemos tempos mínimos, em que as boas intenções contaminam os discursos do poder, mas não as práticas. Em que as empresas continuam a actuar como se o Estado fosse uma vaca leiteira, pois o nobre e alto objectivo dos donos das empresas é o lucro e não há, dizem, valor mais absoluto. Tempos em que o Estado esmaga os pequenos para servir os interesses dos grandes. Tudo sob cobertura jornalística, ou seja, sob o manto diáfano da indiferença.
Assim, enquanto Henrique Gomes, ex-secretário de Estado da Energia, diz que a manutenção dos lucros excessivos decorrentes das garantias dadas pelo Estado ao negócio da energia desviará das famílias e das empresas mais de 3500 milhões de euros até 2020, o presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) tenta pôr água na fervura, afiançando ser «prematuro» afirmar que as tarifas de electricidade vão aumentar 10 por cento, em 2013.
Já as empresas nacionais, exemplo de verdadeiro patriotismo, podem pôr os olhos na Lusoponte, que entregou um pedido de indemnização por parte do Estado no valor de 100 milhões de euros. Porquê? Pelo «risco de variação dos impostos».
Como se percebe, as empresas recebiam do Estado verdadeiras fortunas. Isto é, dinheiro que nos é tirado em impostos serve para meia dúzia enriquecer.
Mas o discurso é sempre: contra o trabalho. Contra quem é assalariado médio e baixo. Esses pagam a factura e são apontados como os culpados da coisa. Por dever patriótico.
A pátria tem sido uma bocadinho puta. É toda oferecida a quem devia pagar e cobra couro e cabelo a quem está liso.

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