30 junho 2010

É um carro? Não, é um avião.


O “Transition”, como é chamado, é um veículo movido a gasolina, com tracção nas rodas dianteiras, para circular nas ruas, e um propulsor para o voo. Com as asas dobradas, cabe numa garagem normal. Tem capacidade para dois passageiros, atinge a velocidade de 185km/h no ar, com uma autonomia de voo de mais de 700 km e pode passar de carro a avião em 30 segundos.
O carro-avião é obra da Terrafugia e será lançado no mercado ao convidativo preço de 163 mil euros.

28 junho 2010

Otto Muehl


O corpo, as relações com o corpo, seja pelo excreta (urina, fezes, suor), seja pelas pulsões (eróticas, emocionais), seja por uma necessidade de explorar, controlar, provocar as reacções humanas perante o corpo conduziram Otto Muehl ao Accionismo vienense (considerado um dos movimentos mais estranhos e radicais da história da arte).
Nascido em 1925, Muehl fez estudos no pós guerra, em que participou. Na década de 1960 inicia a chamada “action painting”, com pinturas materiais. Desse período são também as esculturas de dejectos e sucata, parcialmente coloridas, tendo por elementos-base materiais naturais (areia, madeira e pedra, por exemplo). Em 1962, relaciona-se com Hermann Nitsch e Adolf Frohner, no Perinetkeller, em Viena. O encontro mudaria o rumo das artes na Áustria e transformaria o Accionismo vienense num movimento de carácter internacional. No ano seguinte, ocorrem as primeiras performances do grupo, descritas como “a celebração de um naturalismo psicofísico”.
A partir de 1966 começa uma cooperação estreita entre Muehl e o accionista Günther Brus. O corpo humano passa a ser entendido não só como material pertinente às acções, mas também como parte essencial das mesmas. Desde então, é possível acompanhar o nascimento das chamadas “acções totais”.

Escândalos, censura, perseguição judicial e prisão tornam-se uma constante na vida de Muehl. Que mais tarde viria a ser detido sob acusação de pederastia e violação, ficando na cadeia sete anos.
O teor e o alcance das acções ultrapassam as fronteiras da Áustria em finais dessa década e inícios da de 70, e o nome de Otto Muehl, bem como a sua arte, surgem indissociados de temas que eram desconfortáveis às sociedades capitalistas pós-industriais, comprometidas desde os anos 50 com a implantação e a difusão do Estado de bem-estar social.
Em finais de 1969, Muehl aparece na acção “Stille Nacht” (Noite feliz), em que um porco foi dilacerado e o seu sangue, bem como a urina e os excrementos eram atirados ao corpo de uma mulher nua, enquanto se ouviam canções tradicionais de Natal.
O nome de Muehl e do seu grupo accionista começam a ser relacionados com o recém-criado RAF (Rote Armee Fraktion), na Alemanha, depois conhecido como Baader-Meinhof. A ligação era absurda, dado que membros deste grupo o consideravam anal-fascista e burguês, mas à propaganda do Estado convinha que essa associação fosse feita, para criar anti-corpos junto dos cidadãos.

Em 1971 Muehl cria, em Viena, uma comunidade experimental que transladará, em 1974, para Friedrichshof, a este da capital. Orgias envolvendo crianças, muito álcool, estupefacientes e outros excessos atraíram cerca de seis centenas de curiosos deram mau resultado. A coisa ainda assim durou até 1990. No ano seguinte Muehl foi detido e passou quase sete anos no cárcere. Depois de ter sido libertado, acabou a viver no nosso país, no Algarve, juntamente com a mulher e outros seguidores das duas ideias, onde ainda reside.
A sua obra tem sido alvo de retrospectivas nalguns museus.
Aqui podem ser vistas algumas das curtas-metragens que realizou entre finais de 60 e inícios de 70. E aqui está a página do artista.
Este texto foi redigido a partir de várias fontes (1,2,3 e 4).

26 junho 2010

Tony Blair, um herói dos nossos economistas


O povo é crente. O povo é pacífico. O povo ouve os líderes. Os líderes actuam muitas vezes em causa própria, defendendo não o seu país, mas o seu próprio bolso. Tony Blair tem-se revelado um bom exemplo.
«O ex-primeiro-ministro britânico prestou serviços de consultadoria à companhia petrolífera sul-coreana UI Energy Corporation em 2008. Ao longo de dois anos tentou impedir que o acordo fosse público, devido à sua "natureza sensível". Mas agora soube-se que recebeu muito por ele. Só não se sabe quanto. "O que era talvez mais sensível para o senhor Blair era que a UI tinha vastos interesses no Iraque, país que se abriu às companhias estrangeiras depois de as tropas britânicas terem ajudado os EUA a derrubar Saddam Hussein [em 2003]", escreveu recentemente o Daily Telegraph.»
O corolário do seu trabalho a favor da paz será o de se tornar presidente da BP.

25 junho 2010

Ballet Mécanique de George Antheil


«Ballet Mécanique» é uma obra escrita para diversos tipos de instrumentos mecânicos: pianos, capainhas eléctricas, hélices de aviões e outros. A música foi composta em 1924 por George Antheil (o «Bad Boy da música» do século passado, como a si mesmo se considerava o compositor norte-americano) para o filme dadaísta com o mesmo nome, dirigido pelo pintor Fernand Léger e pelo cineasta Dudley Murphy, com fotografia de Man Ray. Mas por desentendimentos entre compositor e realizador, a coisa ficou em águas de bacalhau até aos anos 90. Anthiel pensou numa partitura de 30 minutos para um filme de apenas 16 minutos.
A versão de 1924 foi escrita para 16 pianos, quatro percursionistas, três xilofones, um tam-tam, três campainhas eléctricas, uma sirene e três hélices. Algo que se pôde ouvir na National Gallery (EUA), em 2006. Contudo, como a execução da peça levantava vários problemas, o próprio autor procedeu a ajustes. E em 1953 compôs uma para dez percursionistas e quatro pianos.



Filme e música são hoje levados ao palco em Espanha pelo grupo Neopercusión. Grupo que actuará mais vezes, pondo em cena um espectáculo a que chamou "Mecanicusión, Antiqvacusión e Cuerpusión".
Hoje poder-se-á ouvir obras do percursionista cubano Amadeo Roldán, "Ritmicas V e VI", a estreia em Espanha da obra "Mono-Prism II", do japonês Maki Ishii, «considerado o sucessor de Takemitsu», e a interpretação de "Ballet Mécanique", composta por George Antheil.
Podem ouvir uma amostra indo aqui.

Fonte: ABC

23 junho 2010

Last Portrait of Mother de Daphne Todd



Para superar a morte da mãe, a pintora britânica Daphne Todd passou três dias a pintar o seu retrato na casa mortuária. Ao ter que escolher um quadro para apresentar a concurso (o "British Premium", da National Portrait Gallery), seguiu a opinião de um amigo que lhe disse que esse chamaria a atenção do júri.
Todd pintou Annie Todd (a mãe) várias vezes ao longo da vida. A mãe nunca gostou dos retratos. Segundo o The Guardian, a mãe morreu com 100 anos (há um ano) e a filha pintou-a até a pele ter ganho uma tonalidade esverdeada.
O prémio chegou agora, por se tratar de um retrato com uma força incrível, segundo palavras da directora da National Portrait Gallery.


Ver mais aqui e aqui.

22 junho 2010

Psique e Eros e Almada Negreiros


[Para ampliar, clicar na imagem - retirada daqui]

A Casa da Rua da Alcolena, no Restelo, em Lisboa, feita entre 1951 e 55, tem painéis de azulejos de Almada Negreiros, e nasceu de um projecto de quatro amigos que nela quiseram materializar o mito de Psique e Eros.
Para a historiadora de arte e investigadora italiana Barbara Aniello, a casa é uma "obra de arte total". "É difícil encontrar no âmbito europeu uma casa que reúna estas características", garante - e é isso que defende no e-book A Casa da Rua da Alcolena - História, Mistério, Símbolo (pode ser lido aqui).

O projecto é do arquitecto António Varela, que a desenhou para José Manuel Mota Gomes Fróis Ferrão, poeta e amigo de Almada. A casa é "um conjunto de poesia, porque José Manuel era poeta, de pintura de Almada, escultura de António Paiva e arquitectura de António Varela". Até o jardim faz parte do projecto cúmplice dos quatro amigos. "O jardim, com as suas plantas, foi pensado a partir de uma ideia unitária: o mito de Eros e Psique. Toda a casa conta as metamorfoses de Psique à procura de Eros."
Na altura, José Manuel, o dono da casa, tinha apenas 25 anos. Diz José-Augusto França: "Estranho proprietário este, homem de fortuna, vivendo com sua mãe, amigo do seu arquitecto e do seu escultor, e de Almada, em grandes frequências, autor de dez livros de poemas, entre 1944 e 1964, de limitadas tiragens e que se perderam bibliograficamente, sem registos de história ou de crítica que ao autor eram certamente indiferentes..."
A biblioteca era o centro da casa. No exterior dessa biblioteca, azulejos geométricos feitos por Almada desdobram-se por duas paredes como se fossem um livro aberto. E no interior, nas paredes negras, surgia, desenhada a branco, uma estrela de cinco pontas.
Os onze painéis de azulejos em vários pontos exteriores da casa, todos eles de Almada, repetem o tema de Eros e Psique, do amor sob diferentes formas: Columbina e Arlequim, Maternidade e Paternidade, um par de circo, outro dançante, outro ainda, enlaçado, num barco chamado Eros. Primeiro separados, depois unidos. É a busca da unidade, numa soma mais filosófica do que aritmética. "O casal, diz Almada, resolve-se numa equação impossível: 1+1=1. O que é matematicamente absurdo é filosoficamente exacto e rigoroso."

Para ler mais, ir aqui.

21 junho 2010

Portugal Portugal

"Só alguns dos países do antigo bloco comunista que aderiram à União Europeia (UE) são mais pobres que Portugal. O nosso país é o nono pior no ranking do poder de compra. No topo da lista está o Luxemburgo, com elevada percentagem de população de origem portuguesa."
Abaixo de Portugal estão: Eslováquia, Hungria, Estónia, Polónia, Lituânia, Letónia, Roménia e Bulgária.

Fonte

18 junho 2010

Hip hip hurra!

Daniel de Oliveira põe os pontos nos is em "O Dia do Feriado Nacional". Vale a pena transcrever alguns excertos:

"As duas deputadas católicas (parece que se trata de um estatuto que lhes está reservado) do PS estão preocupadas com a produtividade que se perde nas pontes e nos feriados."

"o dia do trabalhador (ou será o "dia do colaborador"?), data celebrada em todo o Mundo ao mesmo tempo, podia ser num dia qualquer. Ricardo Rodrigues explicou que é mais relevante "celebrar o acontecimento do que celebrar o dia em que teve lugar o acontecimento".

Para atalhar, e seguindo a lógica do deputado dos gravadores, podíamos celebras todos os acontecimentos no mesmo dia."

"A ver se nos entendemos: os feriados não têm como principal função as pessoas não trabalharem, mesmo que muitas delas seja apenas isso que fazem. São, supostamente, dias em que os portugueses revêem a sua história e aquilo que faz deles uma comunidade. Retirar aos feriados o seu sentido simbólico - que é a data - é retirar à celebração tudo o que ela tem."

"Se um feriado é tão insignificante que pode ser celebrado noutra data qualquer, acabe-se com esse feriado"

Escritores e jornalistas

Sempre que morre um escritor, os jornalistas correm atrás dos políticos para recolherem o comentário. Qual a pertinência jornalística da coisa? Nunca consegui perceber. Era suposto pedirem a amigos, a colegas um comentário. Que é que os políticos têm a dizer senão banalidades?
Que peçam um comentário às principais figuras do Estado (Presidente, primeiro-ministro) ainda vá. O resto é pura preguiça informativa. Tédio. Morte.
Em geral, o jornalismo português não passa disso: tédio, morte. É péssimo, alimenta-se, qual abutre, dos textos das agências noticiosas, compraz-se numa auto-suficiência que mostra bem o quanto a maior parte dos jornalistas é ignorante.
Os escritores sabem que dar uma entrevista a um jornal é, quase sempre, falar com alguém que não sabe nada da obra, mas que corre sempre atrás do pequeno escândalo.
A morte de Saramago e a cobertura jornalística são bem a prova disso.

1922-2010 José Saramago


Eram 12h45 em Lanzarote, a mesma hora de Portugal continental, (11h45 nos Açores) quando foi declarado o óbito do escritor, na casa em que residia, na localidade de Tias, na ilha espanhola de Lanzarote.
A última década e meia trouxe-lhe o reconhecimento internacional, como podem ver aqui.

16 junho 2010

Antonio Lucas

Génesis de la palabra

Vestida de desnudez, así naciste,
fundación de vida, aire y vuelo.

Eres corona o cima del deseo,
caverna misma de la infancia donde hubo vida un día,
antorchas de nostalgia,
champán,
pájaro en vilo,
y una flor de costumbre
semejante al amor,
en igual tempestad erguida,
con la misma ansiedad de nombrar el mundo.

Yo quiero que mi voz se eleve por tu espalda
en la danza del mar, donde todo es origen,
en la dulce deriva de la plata del sueño;
hacer contigo el ser del ser,
darte música y latido, esquinas de alegría,
darle forma a quien me besa.

No habrá espacio en que no estés,
no habrá tiempo ni rutina donde digo.
Como lechos nocturnos arderán reinos de niebla.
Será ahí, en el alba quieta de la madera hundida
donde posarás tu rayo absorto,
la energía de ese canto que alberga cuanto fuimos.

Si unís en desconcierto vuestros pechos,
si hacéis de vuestra sombra un sólo humo,
veréis en el esfuerzo la luz de lo aún no dicho:
la daga, la semilla, el ámbar, los metales...
el llanto de los niños con sol en la garganta,
el ultimo violín de la loucura,
los cien días de luto del mar cuando me ahoga.

Qué ardor entonces, qué eléctrica belleza:
evocar un nombre,
sumarle vida.

[in Las máscaras, DVD, 2004, págs. 59-60]

15 junho 2010

Auschwitz Birkenau





[Fotos daqui]

A 14 de Junho de 1940 chegavam 728 prisioneiros políticos à antiga caserna da cidade de Oswiecim, baptizada como Auschwitz pelos nazis. Era o início de um pesadelo que viria a ser designado como holocausto.
A ideia de usar o lugar para campo de concentração nascera em finais de Abril na cabeça do chefe das SS, Heirich Himmler, com a finalidade de receber resistentes polacos.
Alargado o campo, viria a ser cenário, em Setembro de 1941, ainda antes do lançamento da Solução Final, do primeiro assassinato em massa, com gás Zyklon B, de cerca de 600 prisioneiros soviéticos e 250 polacos.
Até à Primavera de 1942, Auschwitz foi essencialmente ocupado por polacos não judeus. Nessa altura, começaram as chegadas de judeus de toda a Europa, num afluxo que obrigaria à criação de Auschwitz-II, ou Birkenau.

Em Auschwitz-Birkenau morreram, segundo os dados do museu do campo, um milhão de judeus, 70 mil a 75 mil polacos não judeus, 21 mil ciganos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos e dez mil a 15 mil outros prisioneiros, entre os quais resistentes. E nem sequer se pode dizer que ninguém sabia: desde Novembro de 1940, escassos cinco meses após a sua abertura, e ao longo de dois anos e meio, Witold Pilecki, capitão polaco e resistente à ocupação, que viria a participar no levantamento de Varsóvia e seria executado pelo regime comunista do pós-guerra, enviou para o exterior informações, que terão chegado desde Março de 1941 aos britânicos.
Pilecki, que se fizera prender para preparar uma insurreição, recolheu informações com dados sobre extermínio de judeus, câmaras de gás e construção de fornos crematórios. Evadiu-se em Abril de 1943, mas não conseguiu convencer os aliados sobre o Holocausto que ali decorria.

13 junho 2010

Quem edita Eugénio de Andrade?


A editora Quasi faliu. A coisa afectou muita gente, por exemplo a Fundação Eugénio de Andrade, a quem ficou dever muito dinheiro.
Ler mais aqui.

Ciclonudistas


Milhares de pessoas saíram nuas e de bicicleta para as ruas de várias cidades em todo o mundo. Objectivo: promover o uso desse meio de transporte, em detrimento dos automóveis.

Fonte: ABC

Em baixo imagens do ano passado e deste ano.




The 1st Philly Naked Bike Ride from IanK on Vimeo.

12 junho 2010

Um funeral à chuva

Um grupo de antigos colegas de universidade reúne-se na Covilhã, 10 anos depois, para o funeral de um colega, recordando os tempos que passaram juntos. Faz lembrar "Os amigos de Alex", mas é bem português, nas vidas e nas histórias que vai cruzando. Passam em revista as peripécias da vida de estudante (praxes, bebedeiras e mais umas coisas) e fazem algumas revelações sobre a vida íntima. As personagens são estereótipos: o professor certinho ex-folião, o cronista de viagens sempre agarrado à máquina fotográfica, o gay, a apresentadora de TV actriz frustrada, etc. Uma longa-metragem produzida e realizada fora dos centros de decisão, sem dinheiros públicos, com o apoio de empresas e pessoas. "Um funeral à chuva".

10 junho 2010

Renzo Piano, arquitecto



Estou convencido de que um bom edifício é como um fertilizante para a cidade: melhora-a. E um museu parte dessa premissa que a mim me custou a aprender: que a arte torna as pessoas melhores.

Um lugar pensado para as pessoas torna-as melhores. Isso obriga-nos a que, nós os arquitectos, nos desdobremos. Devemos ser construtores, sociólogos e poetas.

Excertos de uma entrevista publicada aqui.

Enrique García-Máiquez

Presentación

No me conoces. No conoces
mi habilidad inevitable
para meter la pata a voces
- a coces - hable lo que hable.

De mí discrepo si me escucho
mas no me oigo y me reitero.
Yo necesito pensar mucho
para llegar a ser sincero

y natural, bajar el tono
para alcanzar el tino, alzarme
la vanidad a sencillez

para estar a mi altura. Yo no
me sé decir sino al callarme...,
o al escribir, alguna vez.

[ Haz de luz, Premio «Villa de Cox», 1997, pág. 32]


Autobiografía

No he estado nunca solo. Siempre estuve
rodeado de amor. Tranquilamente
me dejaba querer: quiso la gente,
no sé por qué, tenerme en una nube
muy blanda de cariño. Yo flotaba
de mi madre a un amigo, de mi hermano
al recuerdo de un verso, del verano
a aquel silencio en el que Dios me hablaba.
Pero quise estar solo y ser más hondo.
Crispé los puños, apreté la boca,
y huí de los demás como una roca
que se suelta en un pozo. Y vi, en el fondo,
lo que busqué: a mí mismo, esta mirada
girando en espiral hacia la nada.

[Casa propia, Renacimiento, 2004, pág. 34]

09 junho 2010

Libro del Arcipreste ou Libro de buen amor



O Libro de buen amor é um livro de imaginárias confissões eróticas, redigidas por um tal Juan Ruiz, arcipreste de Hita (localidade a nordeste de Madrid) à volta de 1330-40. Narra as andanças de um clérigo que se divide entre seguir o bom amor (o amor a Deus) ou o amor louco (o amor carnal). Se por um lado é pastor de almas, por outro é homem e a sua natureza pede-lhe que encontre uma fêmea prazenteira. Como é clérigo, precisa da ajuda de alcoviteiras, mormente com a astuta Trotaconventos, com quem estabelece proveitosa sociedade.
Mil e duzentas páginas, com 1720 estrofes, escritas em castelhano arcaico, que configuram um misto de sátira clerical, paródia literária, tratado didáctico-religioso e manual amatório. Tudo com muito sentido de humor, tendo por base a obsessão do protagonista em encontrar "fêmea prazenteira". Recentemente editado pela Akal, numa edição crítica, enriquecida com notas e comentários.

Fonte: El País

08 junho 2010

António Manuel Couto Viana (1923-2010)


[imagem daqui]

Morreu hoje em Lisboa. Aqui ficam alguns poemas seus.


O poeta e o mundo

Podem pedir-me, em vão,
Poemas sociais,
Amor de irmão p'ra irmão
E outras coisas mais:

Falo de mim - só falo
Daquilo que conheço.
O resto... calo
E esqueço.

[in Uma vez uma voz, Verbo, 1985, pág. 44]

A poesia está comigo

Queres cantar fados, ler sinas
Por ruas tortas, escusas?
Ou tens pretensões mais finas?
- Não me esperem nas esquinas:
Não marco encontros a musas.

Cantem outros a desgraça
Em quadras fáceis, banais,
Cheias de mofo e de traça:
Soluços de fim de raça,
Com vinho, amor, ódios, ais.

E dos parques silenciosos
De estátuas, buxo e luar,
Cresçam sonetos cheirosos,
Requintados, vaporosos
Qual uma renda de altar.

Para mim basta o que tenho:
Umas rimas sem valia,
Mas próprias, do meu amanho;
Minha colheita, meu ganho
- Poesia! Poesia!

[idem, págs. 63-4]

Fora de moda

Versos antigos, de antigos poetas,
Tão esquecidos, fora de moda,
Ao lê-los, leio, numa outra era,
Meus próprios versos. E a alma chora.

Bem pouco entendo, dos novos cantos,
O que me dizem, o que sugerem,
Que fim apontam, com que diálogo
Falam da vida, como a interpretam.

Só vejo imagens, oiço palavras
Belas, sim, belas, mas sem sentido.
E desce a sombra, e os sons apagam-se
Sobre os meus olhos, nos meus ouvidos.

É de leitores que são avaros
Estes poetas do meu presente?
Tanta poesia só para raros!
(Ou sou o raro que não a sente?)

[idem, págs. 430-1]

06 junho 2010

Vêm aí as motos que voam



Os brinquedos de Batman vão ser o pão nosso de cada dia. Sobretudo as motos voadoras. A primeira chama-se Switchable e é produzida pela empresa norte-americana Samson Motorworks. Claro que, de início, é só para ricos.
Tem uma configuração semelhante a um motociclo, com três rodas, e características que a afastam de um automóvel, como a ausência de pára-choques. Possui capacidade para um condutor e um passageiro, sentados lado a lado, numa cabina climatizada. Na prática, o interior da Switchable é feito em couro e conta com um sistema de ar condicionado. A empresa californiana também pensou num espaço para mercadorias: criou uma área capaz de transportar até 23 quilos de carga.
Em terra, as asas estão embutidas em compartimentos situados na quilha, abrindo apenas durante o voo. Também oculta, está uma unidade de propulsão e a traseira do veículo, ao estilo de um carro desportivo, tem um estabilizador extensível. Dizem os engenheiros da Switchable que, com um depósito de 60,5 litros de combustível, terá capacidade para voar 600 quilómetros e percorrer 1400 quilómetros sobre rodas. Em velocidade de cruzeiro, atingirá 216 quilómetros por hora.
Quando chegar ao mercado, em 2011, segundo a empresa, toda esta artilharia tecnológica deverá ser vendida em formato de kit faça-você-mesmo: a estrutura deverá custar cerca de 48 mil euros e o motor ficará por 20 mil euros, aproximadamente. Ou seja, uma brincadeira para milionários que estejam na disposição de pagar perto de 70 mil euros para voar na estrada.

Fontes: 1 e 2

04 junho 2010

A idade é um posto


Ele há números mágicos... Quinze parece ser um deles. Sobretudo se se for português.
A ministra escritora infantil quer infantilizar o país, promovendo o laxismo, a grunhice, a aldrabice. O que importa é a maldita estatística, sobretudo as da OCDE. Quanto ao discurso da ministra, soa a excerto de uma aventura... no reino da idiotia: “Se estudarem, se tiverem vontade – a vontade move o mundo - se quiser esforçar-se, recorrer a apoios para superar dificuldades, acredito que para alguns isso será possível”.
A medida anunciada hoje foi publicada em Diário da República em meados de Fevereiro e dá uma nova oportunidade de avaliação para os alunos com mais de 15 anos, que ficariam este ano retidos no 8º ano. Se quiserem, se forem excelentes (e a excelência deve estar a ser preparada nalgum novo diploma ministerial, que facilite todo o processo), os meninos poderão candidatar-se a exame e passar para o 10.º ano. É o dois em 1, tão chique, tão gauche, tão aventura.

Museu de Arte Contemporânea de Ponta Delgada


Ainda não começou e já dá que falar. Está de parabéns a presidente da edilidade micaelense. Ponta Delgada vai contar com uma exposição por ano da colecção de Serralves. A Fundação de Serralves está também a dar apoio à autarquia na concepção, instalação e exploração do Museu de Arte Contemporânea.

01 junho 2010

Louise Bourgeois (1911-2010)







Foi durante décadas uma escultora silenciosa, recatada, ignorada. A partir dos anos de 1980 aparece em cena e a década de 1990 consagra-a. Londres, Nova Iorque, Paris promovem-na e Louise Bourgeois é internacionalmente catapultada para ícone de um tipo de arte.
O nicho familiar, povoado de negros fantasmas, surge como célula carcerária. O sexo, a sexualidade e a maternidade surgem sob irónicos e críticos ângulos. As suas grandes aranhas são, ao mesmo tempo, “mães” em cuja teia preservam o mais íntimo da vida, e fantasmas “vingadores” que vogam no inferno urbano, passeando a sua medonha solidão pelas praças dos lugares.
Como disse Paulo Herkenhoff, "Louise Bourgeois desenvolveu uma lógica das pulsões, importando vincular sua obra aos grandes temas do conhecimento ou da literatura e não aos sistemas da arte. Melhor falar então de um material extraído de recalques e embates da vida como abandono e ira, desejo e agressão, comunicação e inacessibilidade do Outro. No confronto permanente entre pulsões de morte, angústia, medo e as pulsões da vida, a obra de Louise Bourgeois é uma dolorosa e triunfante afirmação da existência iluminada pela libido. Nessa obra biográfica e erotizada, transformar materiais em arte é uma conversão física, não no sentido religioso, mas como a conversão da electricidade em força. (...) Digamos então que a obra de Louise Bourgeois caminhe pela territorialização de imensidões. São assim o corpo, a casa, a cidade e o desejo. Ou a geometria, a família e a insularidade. Obra antiplatónica, não se satisfaz com o mundo das idéias e conjecturas. Deseja ter um corpo."