Fizemos uma montagem com transcrições das notícias de três jornais: Público, i e DN. As frases dizem tudo. Mostram como o professor era frágil, como os alunos o tratavam, como a escola (colegas e direcção) o ignoravam, como ele estava só no mundo do faz de conta que é a escola portuguesa.
1) Luís V. C. tinha 51 anos, vivia com os pais em Oeiras, era professor de música contratado e foi colocado este ano lectivo na Escola Básica 2+3 de Fitares, em Sintra. As suas habilitações incluíam uma licenciatura em Sociologia, o ter sido jornalista durante alguns anos e colaboração com o Boletim Actual da Câmara de Oeiras, onde assinava crónicas.
2) Na manhã de 9 de Fevereiro, L. V. C. parou o carro no tabuleiro da Ponte 25 de Abril, no sentido Lisboa-Almada. Saiu do Ford Fiesta e saltou para o rio.
3) Logo nos primeiros dias terão começado os problemas com um grupo de alunos do 9º ano. A indisciplina na sala de aula foi crescendo todos os dias, chegando ao ponto de não conseguir ser ouvido. Dentro da sala, e ao longo de meses, os alunos chamaram-lhe careca, tiraram-lhe o comando da aparelhagem das mãos, subindo e descendo o volume de som, desligaram a ficha do retroprojector, viraram as imagens projectadas de cabeça para baixo.
4) Houve vezes em que L. V. C. expulsou os alunos da sala, vezes em que fez participações disciplinares. Foram pelo menos sete as queixas escritas que terá feito à direcção da escola.
5) O resultado das participações foi nulo. A direcção apenas lhe propôs assistir a aulas de colegas para aprender a lidar com as provocações.
6) Nos corredores valia tudo. Um dia, chamaram-lhe cão. Nos outros dias, deram-lhe "calduços" na nuca à medida que caminhava até à sua sala de aula.
7) O professor de música não falava com ninguém. Chegava às sete da manhã para preparar a aula. Montava o equipamento de som, carregava os instrumentos musicais da arrecadação até à sala. Deixava tudo pronto e depois entrava no carro. Ficava ali dentro, de braços cruzados, e só saia para dar a aula. L. V. C. preferia estar no carro em vez de enfrentar uma sala de convívio cheia de colegas.
8) Os alunos dividem-se sobre o professor, mas concordam que "era muito calado" e que "não convivia muito nem com alunos nem com professores". Uns recordam com saudade as aulas onde puderam tocar instrumentos e ver filmes relacionados com música e dança. Outros insistem que "ele era estranho" e que "não impunha respeito". Mas não negam que eram "mal comportados". "Portava-me sempre mal, mas não era por ser ele. Somos assim em todas as aulas, é da idade", reconheceu um dos alunos que tiveram mais participações por indisciplina.
9) "Também sou professora de música e nunca ouvi dizer que [o professor] era alvo de gozo e de maus tratos. Ele nunca nos disse nada", disse à agência Lusa uma docente que pediu para não ser identificada.
10) "Evitava expulsar os alunos porque temia parecer inábil perante a direcção da escola", diz o psicólogo que seguia LVC há dois anos.
11) Professores e pais da Escola Básica 2,3 de Fitares, Sintra, manifestaram-se hoje indignados com a associação entre o suicídio de um docente e a indisciplina dos alunos, argumentando que o caso está a perturbar os estudantes.
1) Luís V. C. tinha 51 anos, vivia com os pais em Oeiras, era professor de música contratado e foi colocado este ano lectivo na Escola Básica 2+3 de Fitares, em Sintra. As suas habilitações incluíam uma licenciatura em Sociologia, o ter sido jornalista durante alguns anos e colaboração com o Boletim Actual da Câmara de Oeiras, onde assinava crónicas.
2) Na manhã de 9 de Fevereiro, L. V. C. parou o carro no tabuleiro da Ponte 25 de Abril, no sentido Lisboa-Almada. Saiu do Ford Fiesta e saltou para o rio.
3) Logo nos primeiros dias terão começado os problemas com um grupo de alunos do 9º ano. A indisciplina na sala de aula foi crescendo todos os dias, chegando ao ponto de não conseguir ser ouvido. Dentro da sala, e ao longo de meses, os alunos chamaram-lhe careca, tiraram-lhe o comando da aparelhagem das mãos, subindo e descendo o volume de som, desligaram a ficha do retroprojector, viraram as imagens projectadas de cabeça para baixo.
4) Houve vezes em que L. V. C. expulsou os alunos da sala, vezes em que fez participações disciplinares. Foram pelo menos sete as queixas escritas que terá feito à direcção da escola.
5) O resultado das participações foi nulo. A direcção apenas lhe propôs assistir a aulas de colegas para aprender a lidar com as provocações.
6) Nos corredores valia tudo. Um dia, chamaram-lhe cão. Nos outros dias, deram-lhe "calduços" na nuca à medida que caminhava até à sua sala de aula.
7) O professor de música não falava com ninguém. Chegava às sete da manhã para preparar a aula. Montava o equipamento de som, carregava os instrumentos musicais da arrecadação até à sala. Deixava tudo pronto e depois entrava no carro. Ficava ali dentro, de braços cruzados, e só saia para dar a aula. L. V. C. preferia estar no carro em vez de enfrentar uma sala de convívio cheia de colegas.
8) Os alunos dividem-se sobre o professor, mas concordam que "era muito calado" e que "não convivia muito nem com alunos nem com professores". Uns recordam com saudade as aulas onde puderam tocar instrumentos e ver filmes relacionados com música e dança. Outros insistem que "ele era estranho" e que "não impunha respeito". Mas não negam que eram "mal comportados". "Portava-me sempre mal, mas não era por ser ele. Somos assim em todas as aulas, é da idade", reconheceu um dos alunos que tiveram mais participações por indisciplina.
9) "Também sou professora de música e nunca ouvi dizer que [o professor] era alvo de gozo e de maus tratos. Ele nunca nos disse nada", disse à agência Lusa uma docente que pediu para não ser identificada.
10) "Evitava expulsar os alunos porque temia parecer inábil perante a direcção da escola", diz o psicólogo que seguia LVC há dois anos.
11) Professores e pais da Escola Básica 2,3 de Fitares, Sintra, manifestaram-se hoje indignados com a associação entre o suicídio de um docente e a indisciplina dos alunos, argumentando que o caso está a perturbar os estudantes.
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