02 dezembro 2009

Manuel de Freitas

2007, Aldina Duarte

O Sr. Vinho fazia apenas mais
um ano do que tu. São coisas que
acontecem, tão exactas e por vezes
belas como a tristeza de saber
que «tudo aquilo que hoje
existe / um dia há-de morrer».

Aquele corpo, de olhos fechados,
pedia com as mãos que não
o fotografassem esta noite,
sujando uma alegria que até na dor
prevalece e ficou, durante alguns
segundos, encostada aos nossos ombros.

Só quando ouviram Ai Meu Amor
se Bastasse as pedras de gelo
aceitaram desfazer-se no meu copo,
muitos anos depois de termos gasto a morte:
agora que nenhum esquecimento basta
e se reacende, todavia, a vela frágil do amor.

[in Jukebox 1 & 2, Teatro de Vila Real, 2009, pág. 39]

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