09 novembro 2009

Cartas da Península, de William Warre


William Warre era luso-britânico. Nasceu no Porto, em 1784, e estava destinado a prosseguir o negócio da família britânica, ligada ao comércio do vinho. As invasões napoleónicas trocaram-lhe as voltas (ingressara no Exército britânico aos 19 anos). Foi na qualidade de oficial inglês que regressou ao solo natal, na altura com 24 anos, para cumprir o que lhe pareceu ser a sua vocação histórica: ajudar a salvar Portugal da invasão estrangeira. Participou não só nas mais importantes batalhas das Guerras Peninsulares, mas também na resistência dos portugueses.
Lutou na Batalha da Roliça (o primeiro combate da Guerra Peninsular) e na do Vimeiro, que conduziram directamente à libertação de Lisboa, e esteve com o general Sir John Moore na sua famosa e terrível retirada na Corunha, ainda hoje lendária na história britânica. Esta catastrófica marcha de Inverno através de montanhas cobertas de neve culminou na batalha desesperada nos cumes das colinas da Corunha e na morte prematura do general Moore. Warre escreveu numa carta para casa relatando a honra de estar na retaguarda e de ser o último oficial a embarcar a 16 de Janeiro, no momento em que os franceses tomavam a cidade.
O capitão Warre esteve presente na libertação da sua cidade natal, o Porto; no cerco e tomada de Ciudad Rodrigo; e testemunhou a brutalidade do segundo cerco e saque de Badajoz, em Abril de 1812. Embora tivesse apenas 27 anos na altura, foi o oficial principal na intimação do Forte de São Cristóvão e fez prisioneiros os generais Philippon e Weyland - os comandantes franceses de Badajoz -, que lhe entregaram as suas espadas pessoalmente.
Participou na épica e decisiva batalha de Salamanca, em Julho de 1812, que muitos estrategas militares consideram ser aquela em que Wellington demonstrou as suas grandes qualidades estratégicas, ainda mais do que em Waterloo.
As suas cartas foram publicadas em 1909, por iniciativa de um sobrinho e mereceram uma segunda edição em 1999, pela mão de um sobrinho-bisneto. Dez anos depois, regressam pela mão da Alêtheia. Cartas que, embora pessoais, contêm muitos dados militares e são, por isso, um curioso documento da época de 1808 a 1812.

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