Al Berto, 1996
© Luísa Ferreira
CASA
.
.
durante a noite
a casa geme agita-se aquece e arrefece
no interior frio do olho da tua sombra sentada
na cadeira aparentemente vazia
.
esperas acordado sem sono
que a temperatura da casa se funda
com a temperatura incerta do mundo
depois
escreves exactamente isto: o horror dos dias
secou contra os dentes – e rouco
dobrado para dentro do teu próprio pensamento
ferido
atravessas as sílabas diáfanas do poema.
.
levantas-te tarde
atordoado
para extinguires o lume ateado
junto à memória da casa – respiras fundo
para que o gelo derreta e afogue
a vulgar noite do mundo.
.
olhas-te no espelho
atribuis-te um nome um corpo um gesto
dormes
com a árvore de saliva das ilhas – com o vento
que arrasta consigo esta chuva de fósforo e
estes presságios de tranquilos ossos
.
.
Al Berto, O medo
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