10 março 2008

A democracia não se esgota no voto

Vale a pena ler André Freire (Professor de Ciência Política no ISCTE), no Público de hoje: «A ideia de que a democracia não se esgota no voto é uma ideia tão elementar, tão rebatida e, supostamente, tão comummente aceite, que pode à primeira vista parecer redundante e espúrio fazer deste tema o objecto de um artigo. Porém, hoje, mais do que nunca, há um abismo entre a teoria e a prática. Por exemplo, apesar de, amiúde, políticos e jornalistas, entre outros, se lamentarem com o declínio da participação eleitoral e exortarem os cidadãos não só a votar, mas também a participar activamente na vida das respectivas comunidades, quando os cidadãos se mobilizam muito (como nas recentes manifestações) logo assistimos a uma desvalorização da participação extra-eleitoral e a uma hipervalorização do voto. Ou ainda: apesar de regularmente se lamentar a fraqueza da sociedade civil e se exortarem os cidadãos a fortalecê-la, nomeadamente para todos termos uma melhor governação, temos assistido recentemente a uma demonização dos sindicatos, que estão entre as maiores organizações da sociedade civil. Ou será que só os empresários representam a sociedade civil?»
Gostaríamos de transcrever o artigo na íntegra. Como não podemos, deixamos apenas mais um pedacinho.
«As mais recentes [sondagens] (CESOP/RTP, 28/2, e Eurosondagem/Expresso, 1/3), apesar de continuarem a revelar a liderança do PS nas intenções de voto (CESOP: 39 por cento), muito por falta de alternativas, revelam também um claro descontentamento com o exercício do "poder absoluto". Segundo o CESOP, 37 por cento dos portugueses pensam que o PS ganhará em 2009, mas 71 por cento consideram que nenhum partido terá maioria absoluta. Mais, 66 por cento acham que o desempenho do Governo tem sido "mau" ou "muito mau"; 81 por cento estão nesta situação se nos reportarmos apenas às políticas sociais (saúde, educação, segurança social). Neste sentido, revejam-se os barómetros DN/Markest em 2007: os titulares das duas primeiras pastas lideravam, destacados, a impopularidade (DN, 30/11/07, 25/5/07 e 26/1/07). Por último, 62 por cento consideram que os três anos de governo trouxeram "mais coisas negativas que positivas" (CESOP). Parece, portanto, que a expressão de descontentamento na rua pode não estar assim tão longe das preferências populares como alguns alegam.»

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