29 abril 2009

O nome da gripe


Era suína e assim continua a ser designada em todo o lado, excepto no Público, que a rebaptizou de gripe mexicana. Será que o exemplo vai ser seguido por outros?
Os produtores de gado suíno devem ter ficado satisfeitos com a mudança do Público. Porque receiam que o nome da gripe afecte o consumo de carne de porco, mesmo que não haja nenhuma relação entre o consumo dessa carne e a possibilidade contágio.
Os principais vírus da gripe mexicana são o H1N1 e o H3N2, estirpes que se desenvolveram através dos seres humanos, mormente os que residem nos Estados Unidos da América. O primeiro com berço em 1918, o outro com berço em Hong Kong, no ano da graça de 1968. O que acontece é que os suínos podem (como tem acontecido) ser portadores desses vírus humanos ou aviares.
Portugal até ao momento não regista nenhum caso de gripe mexicana, apesar de alguns falsas ameaças. O que não significa que não venham a aparecer, pois a cada dia que passa o número de alertas aumenta.

28 abril 2009

Madalena Matoso - Prémio Nacional de Ilustração 2008



A ilustradora Madalena Matoso venceu o Prémio Nacional de Ilustração 2008 pelo seu trabalho no livro "A charada da bicharada", de Alice Vieira.
A charada da bicharada, editado em 2008, pela Texto Editores, é um livro de charadas de Alice Vieira que convida o leitor a adivinhar o nome dos animais, num jogo em que a ilustração de Madalena Matoso assume um importante papel.
O júri atribuiu ainda uma Menção Especial ao livro O Cuquedo da Livros Horizonte, com ilustração de Paulo Galindro e texto de Clara Cunha e ao livro És Mesmo Tu?, do Planeta Tangerina, com ilustrações de Bernardo Carvalho e textos de Isabel Minhós Martins.
Mereceram uma menção do júri os autores e os livros:
Afonso Cruz, Histórias de Reis e Princesas, Asa.
Bernardo Carvalho, Um Dia na Praia, Planeta Tangerina.
Danuta Wojciechowska, O que se vê no ABC, Caminho.
Inês Oliveira, Milagre de Natal, Civilização.
Luís Henriques, Sabes, Maria, o Pai Natal não existe, Caminho.
Madalena Matoso, Trava-Línguas, Planeta Tangerina.
Rachel Caiano, A Casa de Férias, Histórias do Senhor Valéry, Caminho.
Teresa Lima, Lá de cima cá de baixo, Gailivro.

Uma garrafa em Auschwitz-Birkenau



Operários que trabalhavam perto do antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau encontraram uma garrafa no interior do qual estava uma mensagem escrita por prisioneiros.
Escrita a lápis e datada de 9 Setembro de 1944, a mensagem contém os nomes, os números de campo e as terras de naturalidade de sete jovens prisioneiros da Polónia e de França (Bronislaw Jankowiak, Stanislaw Dubla, Jan Jasik, Waclaw Sobczak, Karol Czekalski, Waldemar Bialobrzeski e Albert Veissid. Este último ainda está vivo, de saúde e reside em França).
A garrafa foi colocada num muro de cimento de uma escola cuja estrutura os prisioneiros tinham sido forçados a consolidar. As instalações da escola, a poucas centenas de metros do campo, eram usadas como armazéns pelos nazis.
Os nazis exterminaram 1,1 milhões de pessoas em Auschwitz - na sua maioria judeus, mas também polacos não judeus e ciganos, homossexuais e outros.

Fonte: JN

A gripe espanhola


O El País de hoje recorda o número de mortos da pneumónica ou gripe espanhola que matou 40 milhões de pessoas em todo o mundo, em 1918. A I Guerra Mundial terminou, nesse mesmo ano, com nove milhões de mortos. A gripe dizimou muito mais gente.
Foi a pior das três epidemias mundiais de gripe do século XX (1918, 1957 e 1968), e a pior pandemia de qualquer tipo registada na história. O vírus que a causou não provinha dos porcos mas das aves, de resto, era H1N1, como o actual. O H1N1 foi, até 1918, um vírus aviar, sofrendo depois mutações que causaram a morte de milhões de pessoas.
Os efeitos foram tão devastadores por causa da censura da guerra. Os países implicados não davam informações sobre a epidemia para não desmoralizar as tropas, de modo que as únicas notícias vindas a público foram as dos jornais espanhóis. Daí a designação de "gripe espanhola". O primeiro caso registado surgiu em Camp Funston (Kansas) a 4 de Março de 1918. Nessa altura, o vírus causava apenas um leve transtorno respiratório, embora fosse já muito contagioso, como qualquer gripe. Assim, em Abril tinha-se já propagado por toda a América do Norte e também pela Europa com a presença das tropas americanas.
A 22 de Agosto, em Brest, uma das principais entradas dos soldados norte-americanos na Europa, registam-se centenas de casos e espalha-se rapidamente, tendo sofrido alterações que tornaram o vírus letal. Provocava rápida pneumonia e dois dias mais tarde a morte. Na Índia, registaram-se 12 milhões de mortos.
Foi a chegada do vírus aos lugares mais recônditos que permitiu reconstitui-lo há quatro anos. Johan Hultin e cientistas militares, juntamente com Jefferey Taubenberger, lograram resgatar os genes do vírus dos pulmões de uma das vítimas, uma mulher que morrera em 1918 numa povoação esquimó do Alasca. O frio preservara-o e foi possível verificar que era um vírus da gripe aviar, com 25 mutações que se multiplica 50 vezes mais depressa do que o da gripe comum após o primeiro dia de infecção e 39.000 vezes mais nos quatro dias seguintes.

Já começou? Ou ainda é só alarme?


Os cenários de pandemia já deixaram de ser cenários para se tornarem realidade. Nos EUA também já há várias pessoas infectadas, incluindo crianças em idade escolar.
Na Europa, também já surgiram vários sinais: Dinamarca, Suíça, Itália, Suécia estão debaixo de mira. Espanha tem vários casos.
Brasil, Colômbia, Israel, Nova Zelândia e Austrália são outros países com notícia de gripe suína. A origem é sempre a mesma: México.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) antecipou uma reunião para hoje e pode aumentar o nível de alerta mundial. A agência da ONU considera que há o risco de uma pandemia e teme que o vírus possa sofrer uma mutação, que o tornaria mais perigoso.
Por enquanto, o alarme é maior do que o vírus, mesmo tendo em conta o número de mortos. As possibilidades de a epidemia acontecer e ter expressão mundial não está ainda descartada. Os próximos dias serão fundamentais para perceber como evolui o vírus.
Para já entretenham-se a aumentar o mapa das ocorrência do vírus no ano passado.

26 abril 2009

Será que se vai repetir o fenómeno?


Depois da crise, mais notícias preocupantes nos chegam do Novo Mundo. Agora sob a forma de epidemia.
A directora da Organização Mundial de Saúde Margaret Chan afirmou hoje que há um potencial do surto do vírus da gripe suína no México e Estados Unidos se transformar numa pandemia.
O vírus em causa é de gripe A, designado como H1N1, contendo no seu ADN uma mistura até agora desconhecida de vírus aviários, suínos e humanos, incluindo elementos dos vírus suínos europeus e asiáticos, explicou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). A vigilância da gripe tem sido intensificada desde 2003, quando a gripe aviária H5N1 reapareceu na Ásia. Desde então os especialistas temem que essa ou outras variedades possam desencadear uma pandemia capaz de provocar milhões de mortes.
Segundo a directora-geral da OMS "trata-se claramente de um vírus animal que se transmitiu ao Homem e isso tem um potencial pandémico, porque está a afectar pessoas". Margaret Chan disse que, apesar de ainda ser cedo para afirmar se vai ocorrer uma pandemia, a situação "está a evoluir muito rapidamente", sendo o grupo mais afectado o dos jovens adultos saudáveis, que habitualmente não tomam vacinas para a gripe.
Nos inícios do século passado, aliada à crise económica, veio a guerra e uma epidemia (a pneumónica) que matou milhares de pessoas. Será que se vai repetir o fenómeno?
Desta vez a comunicação é mais fácil e muito mais rápida. Portugal já está de prevenção.

25 abril 2009

Para que servem as bibliotecas?



Além de guarda de uma parte do que se vai publicando, as bibliotecas passaram a disponibilizar acesso gratuito à net. O que, num tempo de crise, é fundamental. Que o digam quantos as usam diariamente como fonte de recursos para... um emprego.
Em Nova Iorque a Biblioteca Pública tem sido o "trabalho" de muitos dos que se viram de repente privados de uma fonte de subsistência. Ninguém se recorda de ver tanta gente de fato e gravata nas bibliotecas públicas de Nova Iorque como agora. O motivo é a crise. Uma boa parte dos novos frequentadores são pessoas que ficaram subitamente desempregadas.
«"Há décadas que estamos nesse negócio da busca de emprego", diz Paul LeClerc, presidente da instituição. Além do venerável e famoso edifício na rua 42, a New York Public Library (NYPL) tem dezenas de sucursais espalhadas pela cidade. Em todas elas tem havido um afluxo de desempregados à procura de ajuda, ou simplesmente dos computadores.
A busca de emprego é um processo muitas vezes longo e que hoje em dia passa quase sempre pela Internet. Ter acesso gratuito a um terminal - e funcionários treinados para ajudar, por exemplo, a preencher candidaturas de emprego - pode significar a diferença entre uma situação normal ou a degradação progressiva e irreversível.
É que o desemprego não é mau apenas do ponto de vista financeiro. O sentido pessoal de auto-estima está frequentemente associado ao trabalho que se tem, ou não. A ausência de uma rotina diária é perigosa em si mesma. E os desempregados estão sujeitos a um conjunto de humilhações diárias que podem levar a estados de vergonha paralizantes.
Talvez por isso, segundo LeClerk, muitos dos actuais visitantes da NYPL não revelaram aos seus conhecidos que perderam o emprego. Alguns nem sequer terão contado à família. Saem de manhã como sempre saíram, como a roupa que sempre usaram, e dirigem-se à biblioteca, onde passam o dia.»

Fonte: Expresso

Retóricas


O discurso do Presidente da República é uma súmula de banalidades que serve para entreter jornalistas e políticos mas nada diz ao comum dos cidadãos.
Apelar a isto ou àquilo não resolve nada. Como não o faz dizer que é preciso apostar nas questões mais importantes para o país, que segundo Cavaco, são o "emprego, a segurança, a justiça, a saúde, a educação, a protecção social e o combate à corrupção".
Há anos que se repete a ladainha e, na prática, o que tem acontecido é cavar o fosso entre ricos e pobres. Cada vez há mais pobres e os ricos estão cada vez mais ricos.
Os portugueses estão cansados de discursos desses. E a incredulidade manifesta-se com um aumento da abstenção.
Vejamos um caso simples: a educação. Espanha, que tem, como nós, muito insucesso e abandono escolar (as ditaduras deixam feridas profundas) já começa a perceber que a um maior interesse dos pais correspondem melhores resultado escolares dos filhos, com o consequente sucesso. Por cá continua a chutar-se para canto e a brincar aos discursos, mas de concreto NADA!
Um nada extensível à justiça, à saúde, ao emprego. Pela simples razão de que toda a retórica continua a assentar em premissas falsas: a de que os cidadãos são idiotas; a de que as pessoas apenas querem benesses e não estão dispostas a fazer sacrifícios.
Quando se anunciam medidas como a da atribuição de medicamentos gratuitos a quem deles precisa e não tem dinheiro, pouco antes de eleições, os portugueses ficam com urticária: desconfiam, pois isso já devia ter acontecido. O governo, independentemente dos efeitos sociais da medida, espera colher benefícios eleitorais. O esquema é recorrente e usado por todos, oposição incluída. Mas esquecem-se de que sendo assim, a descrebilização da classe política é constante, pois as pessoas percebem como as coisas funcionam. E se se sujeitam é porque é complicado encontrar equilíbrios colectivos, dada a maneira de ser das pessoas, mais aptas ao conflito do que aos consensos. Talvez por isso, gostam, de um modo geral, dos governos autoritários que, contra tudo e todos (crêem) tomam medidas impopulares. O pior é haver tantos telhados de vidro (Sócrates é um bom exemplo).
Assim, enquanto meia dúzia continua a auferir salários muito acima da média europeia, a maioria recebe meia dúzia de euros, mesmo depois da vertiginosa escalada que os preços sofreram quando Portugal mudou o escudo pelo euro. E que possibilitou enriquecimento a muitos. Empresas há que continuam a ter lucros fabulosos, mesmo com a crise. Enquanto o número dos que já quase não têm para comer aumenta.
Repare-se no preço das casas e dos bens de primeira necessidade e compare-se com os discursos de saúde e bem-estar para perceber o desfasamento.
A retórica do «é preciso que» apenas serve para fazer de conta. Portugal precisa de mais, sob pena de perder o pouco que conseguiu com o 25 de Abril de 1974.

23 abril 2009

Limpar a memória


A memória colectiva dos portugueses sempre foi fraca. O que não espanta. São muitos séculos de ignorância e de miséria.
Que nos dias de hoje haja quem queira transformar um ditador num herói, só mostra como a indiferença geral faz parte do quotidiano. Salazar foi um ditador. E no seu tempo jamais se poderia dar o nome de Humberto Delgado a uma praça ou a uma rua. No entanto, para os democratas da terra natal do ditador, atribuir à praça o seu nome é não só legítimo como ainda se argumenta que ele faz parte da nossa história. Há mais ditadores. Por isso, poderiam os de lá de Santa Comba Dão começar a designar as artérias com quantos ditadores influenciaram a nossa vida: Hitler, Estaline, Franco, Pinochet e por aí fora. Sempre a pretexto de que "quer se goste ou não, faz parte da história".

Portugal e a democracia


Portugal mudou e muito desde que optou pela democracia. E só quem tem o cérebro obstruído pode afirmar o contrário. Mudou tanto que se o bem-estar de agora fosse retirado às pessoas elas não saberiam como viver.
Mudou ao nível da educação, da saúde, da higiene, da alimentação, da liberdade, do emprego, da cultura, da rede viária e aérea.
Portugal é hoje um país muito mais europeu do que há 35 anos.
A população aumentou. O número de pessoas com mais de 70 anos duplicou, passando de 560 mil, na década de 1970, para 1,2 milhões, resultado do aumento da esperança de vida, que deu mais 13 anos aos homens e 15 às mulheres.
Em 1975 residiam no território nacional cerca de 32 mil estrangeiros, segundo dados do Serviço Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em 2007 esse valor subiu para 435 mil, sem contar com os imigrantes ilegais. E recorde-se que Portugal era um país donde se emigrava. Entre 1960 e 1974 registaram-se os valores mais elevados da emigração no país: mais de 1,5 milhões de portugueses, ou seja, 100 mil por ano, saíram de Portugal, de acordo com o Atlas de Portugal do Instituto Geográfico Português.

22 abril 2009

A Casa das Tias


Restaurada e reabilitada, a Casa das Tias volta a ser um lugar habitável. Depois de ter sido moradia, tornou-se escola primária, caindo mais tarde na ruína. Agora, passa a dispor de novas funcionalidades. A biblioteca municipal José Silvestre Ribeiro desloca-se da Praça Francisco Ornelas da Câmara para o edifício em frente da Igreja da Misericórdia, o mesmo acontecendo com a sala de reuniões da Assembleia Municipal.
A autarquia praiense optou por transpor as funcionalidades que tinha no edifício da Praça para a Casa das Tias. Poderia ter optado por outras funcionalidades, dotando a ilha de um centro de exposições de arte contemporânea, mas preferiu conservar aquilo que tem sido prática na localidade.
Esperar-se-ia que a edilidade possuísse um edifício que congregasse todos os seus serviços, mas preferiu espalhá-los pelos diversos edifícios que possui. Algo que onerará os custos de manutenção, mas que tem a vantagem de preservar e dar utilidade a algum do património construído.
Corrija-se apenas o seguinte, relativamente à notícia: Nemésio é autor de apenas um romance: Mau Tempo no Canal.

21 abril 2009

Biblioteca digital em português


A UNESCO reuniu 32 instituições mundiais e criou uma plataforma gratuita de internet que reúne documentos de bibliotecas e arquivos de todo o mundo. O projecto, que foi desenvolvido por uma equipa da biblioteca do congresso norte-americano, tem com objectivo aprofundar a singularidade das diferentes culturas num único projecto global e está acessível em português.
Aí se podem ver mapas e gravuras muito antigas com datas que vão desde 1500 até quase 1900.
Um dos destaques vai para o mapa de Lisboa, depois do terramoto de 1755. A reconstrução da cidade pode ser vista nesse mapa.
Um outro mapa, em aguarela e bico de pena do século XVI, faz parte de um Atlas da Madeira e dos Açores, onde é possível ver detalhadamente os diversos portos da ilha da Madeira.
A descrição de Portugal, por alturas de 1500 é incluído num outro mapa feito pelo cartógrafo que fez o primeiro mapa do país, mas mostra o Algarve no sudoeste da Península Ibérica.
Podem-se ainda consultar documentos históricos, também um novo mapa que mostra as explorações espanholas e portuguesas com observações dos mais engenhosos geógrafos de Espanha e Portugal, que fazem as delícias dos que gostam de História.
Portugal tem direito a 13 arquivos históricos, Espanha por exemplo a três e Timor Leste a um arquivo. Trata-se de um livro, da autoria de Afonso de Castro, um capitão de infantaria do Exército Português que serviu como governador de Timor-Leste no período de 1859 a 1863, que pode ir analisado online e que é um dos primeiros estudos históricos desta antiga colónia Portuguesa.

Fonte: TSF

20 abril 2009

8850 quilómetros de muralha


A Grande Muralha da China é a maior estrutura construída pelo Homem e foi erguida na fronteira norte do Império Chinês, qual dragão que percorre um ziguezagueante caminho por entre desertos e montanhas. É Património Mundial da Unesco desde 1987.
Há quem pretenda que é visível da lua e se há coisa que o povo gosta é da lua. As secções mais largas da Grande Muralha têm cerca de 10 metros de largura e um objecto de 10 metros de largura só pode ser visto a olho nu a uma distância máxima de 36 quilómetros, se se verificarem óptimas condições atmosféricas. Ora a lua está a 380 mil quilómetros da Terra.

Puros e castos



Silvio Berlusconi e Mara Carfagna (ministra da Igualdade de Oportunidades) pintados por Filippo Panseca

Sexo, procura-se


Já ouviu falar do SexLab? É uma unidade laboratorial de investigação em sexualidade humana que acaba de ser criada na Universidade de Aveiro (UA), ao abrigo de uma parceria que envolve também as universidades de Coimbra e Trás-os-Montes.
O SexLab procura 50 homens e 50 mulheres, com idades entre os 18 e os 50 anos e com diferentes habilitações literárias, para o primeiro teste, A saúde sexual da mulher e do homem: contributos para um modelo de compreensão biopsicossocial. Com um nome assim comprido os testes não o deverão ser menos: numa sala onde é garantida total privacidade, as pessoas são levadas a observar filmes de conteúdo sexual (que produzem os estímulos sexuais) e, enquanto observam esses filmes, a sua resposta sexual está a ser medida por instrumentos próprios, colocados nos órgãos genitais. Em simultâneo, são também medidas outras respostas fisiológicas, como a frequência respiratória e cardíaca, e, no final de cada filme, são também colocadas algumas questões aos indivíduos, para avaliar sentimentos e emoções, ou seja, as respostas subjectivas aos estímulos.
O mais curioso é acreditar que amostras tão reduzidas produzem dados representativos. Talvez o elemento químico seja preponderante para os cientistas, mas como avaliar o elemento emocional? Meia dúzia de perguntas serão suficientes? Partir de filmes para testar relações humanas que envolvem fisicidade e espírito será um bom ponto de partida?
Por algum tinham de começar, não era?
Os investigadores esperam perceber o que explica a diferença entre homens e mulheres na resposta sexual, bem como perceber a discrepância que existe entre resposta fisiológica e subjectiva (sentimentos e emoções). Daqui fazemos votos para que sejam bem sucedidos.

19 abril 2009

J. G. Ballard (1930-2009)


James Graham Ballard, um dos grandes visionários do século XX, considerado o último dos surrealistas e mestre da ficção científica, morreu hoje, com 78 anos, por causa de um cancro da próstata que há muito o afligia.
Britânico, nasceu em Xangai, onde viveu uma infância exótica e aventureira, tendo sido testemunha da invasão japonesa que o levou, a ele e à família para o campo de concentração de Lunghua. Essa experiência dramática deu origem ao romance autobiográfico O império do sol.
Foi para o Reino Unido já adolescente e custou-lhe a adaptação ao mundo cinzento e fechado da sociedade britânica do pós-guerra. Estudou Medicina, algo que é bem evidente nos seus livros, nomeadamente pelo recurso à anatomia, patologia e dissecação, às vezes de uma perturbadora fisicidade e sexualidade. Esteve na força aérea (RAF), que lhe proporcionou o curso de piloto e um imaginário particular, especialmente o que se relaciona com voos e aparatosas quedas de aviões.
Edifícios desabitados, night-clubs e hotéis abandonados, piscinas sem ninguém, desertos são alguns dos não-lugares que comparecem nos seus contos e romances, povoados pela estranheza e pela desolação.
Alguns dos seus livros foram transpostos para o cinema, como O império do sol, realizado por Spielberg e Crash, por David Cronenberg.

17 abril 2009

Aventuras no país do zé com medo


O Zé vai ao médico e o médico faz-lhe perguntas. Se o Zé, constrangido por estar ali, perde o pio ou se embrulha todo, sem conseguir articular o alfabeto, que faz o médico?
Os sintomas, meu Deus, os sintomas são o busílis. O pior é a capacidade de expressão do paciente (nome a todos os títulos notável, pois é necessária muita paciência para com os médicos).
São às dezenas as campanhas disto e daquilo para chamar a atenção do Zé quanto à sua saúde, mas na verdade isso não é bem assim, pois mal o Zé recorre aos serviços de saúde pública vê-se a braços com uma trapalhada. Se não tem médico de família, então...
Pode dar-se o caso de os médicos não saberem que fazer em muitos casos e sem algo de banal ou recorrente, despacham o paciente Zé para casa, às vezes com uma receita para que ele ache que tudo se vai resolver.
Os médicos são pessoas que têm de aturar muita doença ao dia. Muitos sintomas, muitas dores, muitas queixas. Mas a medicina não é magia, limita-se a responder que já foi estudado e testado. Já os problemas do Zé são os dele em concreto e se vai ao médico porque sente desconforto, porque há uma dor ou um incómodo persistente mas não febre nem nada de manifestamente visível, que pode fazer o médico?
Prescreve. Imprime. Assina.
Infelizmente temos uma tradição farmacêutica que vive à grande, em muito por culpa do excesso de posologia. Mas quem muda essas regras? Pelos vistos ninguém.
E quem paga a factura, claro, é o Zé. Paga-a em triplicado: impostos, honorários, farmácia. Ganda Zé, hein? Não há problema, pois os médicos vão já tratar do assunto: por referendo.
O Zé salta de contente. Ou será com medo?

16 abril 2009

Franco Volpi (1952-2009)


Os poetas e os filósofos gostam de andar de bicicleta. Os automobilistas gostam pouco de ciclistas e não raro enviam-nos para os braços de Tanatos.
Que o diga o filósofo Franco Volpi (Vicenza, 1952) que na segunda feira foi albarroado por um automobilista quando passeava na sua bicicleta, acabando por morrer no hospital.
Professor na Universidade de Pádua e colaborador regular do jornal La Repubblica, Volpi era especialista em Filosofia alemã, nomeadamente em Martin Heidegger, reflectindo também sobre a relação entre a Filosofia e a Psicologia actual.
Entre as suas obras refiram-se O nihilismo (1996), Heidegger e Aristóteles (1984) e Sobre a fortuna do conceito de decadência na cultura alemã (1995).

15 abril 2009

Estes noruegueses são loucos!


Ia a mais de 130 Km/h e a fazer amor. Estes noruegueses são loucos! (sim, sim, parafraseamos Astérix e Obélix).
O casal - ele com 28 e ela com 22 anos - foi detido anteontem pela polícia rodoviária norueguesa numa estrada a oeste da capital do país, Oslo.
Prenderam-nos porque circulavam a 133 km/hora, numa área com velocidade máxima limitada a 100 km/hora e porque o carro seguia aos ziguezagues. É que a mulher estava sentada no colo do homem que a penetrava e não podia ver quase nada porque as costas dela tapavam-lhe a visão.

Leia mais aqui.

Sem eira nem beira dos Xutos e Pontapés



A canção tornou-se um hino que exprime a revolta.
Eis a letra:

Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou-bem

Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar/Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor

Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir/Encontrar
Mais força para lutar...

(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer

É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar/A enganar
o povo que acreditou

Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar...

(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder

Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão

Portugal Portugal um país pouco europeu


Portugal tinha em 2006 dois milhões de pobres, conclui um estudo feito por Nuno Alves, do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, dos quais 300 mil eram crianças.E 56 por cento desses pobres tem entre os 15 e os 64 anos.
Os dados revelam que 25 a 30 por cento da população pobre em 2005/2006 exercia regularmente uma profissão e que 40 por cento dos indivíduos com mais de 14 anos sem percurso escolar era pobre.
E agora como será? Que raio se tem andado a fazer? Que porcarias de governo têm calhado na rifa aos portugueses? E os nossos queridos empresários onde estão? Que empreendadorismo é esse que deixa tanta gente na pobreza?

14 abril 2009

Um abeto cresceu dentro do pulmão de um homem


Foi encontrada uma planta, com cinco centímetros, a crescer dentro do pulmão de um paciente na Rússsia.
O homem, Artyom Sidorkin, de 28 anos, consultou o médico porque tinha constantes dores no peito e tosse persistente com sangue. Os médicos suspeitaram de cancro nos pulmões. Mas quando o estavam a operar, para retirar o suposto tumor maligno, verificaram que não se tratava de cancro mas sim de uma pequena árvore a crescer dentro do pulmão. E colocaram a hipótese do paciente ter inalado uma semente de abeto que começou a crescer dentro do seu corpo.
O russo, confrontado com o relatório dos especialistas, nem queria acreditar. Pensou que “estava a delirar” quando lhe disseram que tinha sido encontrada uma árvore num dos pulmões.
A imagem é reveladora.

Fonte: ABC e JN

A pobreza não nos larga


Há muito quem queira resgatar a figura do senhor das botas, que não era gato mas tinha algo de D. Juan, quando a ele se deve parte substancial do nosso atraso em relação à Europa.
É certo que depois do 25 de Abril poderíamos ter-nos desenvolvido mais, mas como, se os nossos empresários são maioritariamente fracos?
Já nos quiseram vender a ideia de que em Portugal há falta de produtividade e de criatividade, no entanto, olhando para os lados verifica-se que não: os tugas trabalham que se fartam quando a isso são obrigados e há bastantes deles a quem bem se pode aplicar a designação de criativos. O que há é poucos empresários capazes de potenciar e de aproveitar a mão-de-obra e a criatividade, pois são centenas os que ainda pensam com a cabeça junto à barriga, ao sexo e ao espelho.
E as associações empresariais também têm a sua quota de responsabilidade, ao não terem desenvolvido campanhas de informação junto dos associados mais fracos. Algo que sai caro ao país.
Não temos os níveis de assistência social doutros países europeus, mas já houve grandes campanhas de intoxicação da opinião pública a favor das seguradoras (ou dos bancos, não é?).
Na saúde estamos onde estamos, ou seja, bastante mal, sobretudo pelo desfazamento entre litoral e interior ou entre centros urbanos e centros rurais. Espanha está muito melhor e teve algumas afinidades connosco.
Na educação andamos a brincar com o fogo, contribuindo para a miséria que nos rodeia. Baixa escolaridade é sempre sinónimo de baixos salários, mas dado o fraco tecido empresarial português há muitos licenciados no desemprego, algo a que as classes baixas são sensíveis, até como desculpa para a fuga da escola. Mas os nossos iluministas do presente acham que é com magalhães que se vai resolver o assunto. Ou tratando os professores como se fossem cães ou algo do género.
Quanto à cultura é melhor nem falarmos, depois de um mandato em que se tentou inverter a situação (com Manuel Maria Carrilho), caímos no descalabro e na indigência: quis-se passar a ideia de que acultura só é "boa" se vender. O que não espanta, pois com Salazar o analfabetismo e a baixa escolarização foram uma constante.
Portugal continua pobre sempre por culpa dos empresários e dirigentes que tem: salvo as excepções da praxe, gente medíocre.

13 abril 2009

O outro lado do Super-Homem por Joe Shuster




"Secret Identity: The Fetish Art of Superman's Co-Creator Joe Shuster" revela o lado obscuro do super-homem. A edição, de Abrams ComicArts, coloca Clark Kent em situações de sado-masoquismo. O autor da proeza é Joe Shuster (na foto), um dos co-criadores do super-herói. Nos anos de 1950 Suster passou dificuldades económicas e dedicou-se a outros públicos: os livros eram publicados como "Nights of Horror"e vendiam-se a três dólares.

Inflação: desceu mas ninguém nota a não ser os da estatística


Os dados mostram algo que os consumidores não sentem: baixa de preços. Os combustíveis continuam caríssimos e os salários baixíssimos. Tal como sempre. Se há 45 anos os combustíveis eram o que eram, diga-se que nem uma centésima parte do tráfego havia.
Curiosamente, há cada vez mais gente a vender a ideia de que a deflação está aí ao virar da esquina. Mas o que se vê, é que se continua a comprar e a vender em abundância. Eu ando pelas ruas e vejo, o pessoal cheio de sacos. Isto para não falar de farmácias e mercearias (super ou hiper) que estão sempre cheias. O preço do leite ou do arroz ou de outros bens de primeira necessidade continua elevado.
Se alguns deixaram de gastar dinheiro com coisas supérfluas, isso só quer dizer que pelo menos por uma vez imperou o bom senso. Deviam os governantes estar satisfeitos com isso, mas pelos vistos não estão.
Os discursos apocalípticos são sempre mais sedutores.
Eu creio que quem produz tem duas escolhas: ou produz muito para vender barato ou produz com qualidade para vender caro. Há alguns pobres que gostam de se endividar para comprar caro e há muitos da classe média que preferem comprar pouco mas bom.
O problema é que ainda há muitos que gostam de comprar muito barato para vender caro e isso é coisa que os portugueses não gostam.
Daqui a ano e mio vamos assistir (quiçá para grande alegria dos que agora se queixam) a uma substancial subida da inflação.
E o poder de compra que os portugueses recuperam por causa da crise vai desaparecer num abrir e fechar de olhos. E isso é que devia incomodar os governantes: o raio da miséria que não há meio de nos deixar.

11 abril 2009

Os tugas gostam mesmo de automóveis


Portugal ainda tem muito para andar. Não só pelo número de estradas construídas, como pelo tipo de automóveis que fazem as pessoas perder a cabeça. Infelizmente, a criatividade nacional continua muito atrasada: música, cinema e os temas do costume. De automóveis, quase nada. Mas é preciso ver que dos milhões de euros apreendidos pela Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo (DGAIEC), em 2008, na sequência das diversas actividades antifraude, os automóveis levam a fatiam de leão: mais de 24,5 milhões de euros relativos a 2346 automóveis apreendidos.

10 abril 2009

Carlito Azevedo


Um poeta sem papas na língua: ver entrevista de Alexandra Lucas Coelho (Ípsilon), "Para entender o mundo vou ler os poetas novos" e esta ligação.
Deixamos aqui um poema e um excerto dessa entrevista, com a devida vénia a Alexandra Lucas Coelho e a Carlito Azevedo.


POEMA INÉDITO DE CARLITO AZEVEDO

O tubo

Parte 1: Paraíso

Foi quando a luz
voltou e vimos
o rosto da jovem
que se picava junto
à mureta do Aterro,
a camiseta salpicada,
a seringa suja.
“Nenhum poema
é mais difícil
do que sua época”,
você disse
em meu ouvido
sem que eu soubesse
se era a ela que se
referia ou se ao livro
que passava das mãos
para o bolso
da jaqueta.
Distinguimos
lá longe
a Ilha Rasa,
calçamos
os tênis
e seguimos
sem atropelo
sentido enseada.

........................................................

Outro dia ouvi um escritor uruguaio a justificar o acto de fumar. Dizia que dos quatro elementos, o nosso corpo é 70 ou 80 por cento de água, a gente pisa na terra, e o ar está por todo o corpo. O fogo é o único elemento que nos repele, é nosso inimigo, e fumar seria o único modo de termos o quarto elemento dentro. Ao fumar você tem o seu próprio fogo e solta fumaça, mantendo a relação. Não recomendo a ninguém que comece a fumar por isso, mas achei muito bom. Não são mais os sacrifícios incas, aztecas de queimar as pessoas com fogo, mas esse fogo quotidiano, comum do cigarro. Porque de certa forma hoje vivemos de relações empobrecidas. Não que antes tenham sido melhores, talvez tenham sido apenas mais assassinas e exageradas, e agora sejam mais medíocres.

É fumador?

Não, nunca fumei.

A relação forte com a imagem também vem de ter querido ser pintor, e isso está na sua poesia desde "As Banhistas" à Vieira da Silva, ao Goya.

Eles são inspiradores, o que eu chamo os "Aliados Substanciais", que é o nome de um livro do René Char só sobre pintores. Quando vejo cadernos com desenhos acho que fica muito mais bonito.

Tem uma poeta francesa que foi ao Brasil e esqueceu a máquina fotográfica e desenhou tudo o que via. Desenhava muito bem. É um dom que sempre invejei. Eu escrevia redacções, poemas, mas tem sempre aquele garoto na escola que sabe desenhar cavalos de forma realista, coisas lindas. Sempre achei que era para aquilo que tinha nascido, mas sem nenhuma habilidade manual.

Você vê um quadro abstracto de Max Ernst, mas aí ele dá um título, "O que as mulheres gritam ao atravessar um rio", e isso é instigador, sempre parece que a partir daí qualquer um pode criar um poema.

Às vezes como professor e director de oficinas literárias eu levo esse título e digo para cada um escrever um poema, e vêm as experiências mais diversas, mais líricas. Parece que a pintura e a música são propiciatórias. Nunca estive no Chile, e tem uma música em que, de cada vez que eu boto, vejo uma rua que tenho a certeza que é no Chile. E o artista plástico, é como se tivesse escolhido o melhor momento que sugira o que aconteceu antes e o que vai acontecer depois. Havia toda uma série de momentos para pintar, mas ele escolheu aquele. Aí, a literatura, que é uma arte temporal, pode-nos dar conta do que veio e virá. Se a Vieira da Silva faz um quadro como "Jogadores de cartas", começamos a imaginar o que pode acontecer depois, o que estão pensando, de onde vieram.

Sempre pensei que eram momentos mágicos, escutar música ou olhar pintura. Mas nunca tive vontade de ser compositor, me parece muito trabalhoso. Para a pintura não tive talento, para a música não tenho paciência.

Que relação tem com outras possibilidades de passar a poesia, como a performance, a videoarte?

Não nasci com essas novas tecnologias.

É um desconforto?

Não, eu adoro. Por exemplo, ainda comprei disco de vinil, depois passei para o CD, mas vejo que agora as pessoas nem compram disco, já baixam as músicas pelo computador, que é uma relação que eu não tenho, a minha é mais artesanal. Mas admiro muitíssimo.

Também já acontece com parte do que faz. O poema "O tubo" só existe online, e eu posso lê-lo como pode alguém em Timor.

Isso é revolucionário e adoro que as novas gerações já dominem isso. Não sei se foi o Caetano que falou que a Internet é uma grande sessão de cartas. No jornal sempre existe aquela secção onde as pessoas vão colocar suas dúvidas, e a Internet é uma sessão mundial de cartas. O que é interessante. Também existe muito ressentimento. No Brasil existe uma série de blogues "Eu odeio". Você pega e coloca tudo o que você odeia: eu odeio a Rede Globo, eu odeio o Roberto Carlos.

Mas há um elemento que eu adoro: digito "poesia peruana contemporânea" e em três segundos tenho uma centena de poetas. Se descobrir um, já é uma descoberta. Mas também não perco muito tempo com o computador, me policio.

Adoro ficção científica e um dos autores que leio é o Stanislaw Lem, o autor de "Solaris". Ele deu uma entrevista a um repórter muito animado com as novas tecnologias que lhe perguntou se estava contente com o facto do mundo estar cumprindo quase tudo o que ele dizia. E ele respondeu que não gostava, não achava o mundo contemporâneo muito interessante. O rapaz falou no computador, na Internet. E o Lem disse: "Eu posso ir a um buscador e escrevo a palavra felicidade, e ele dá-me dois milhões de textos sobre a felicidade. Mas em que é que isso me aproximou da felicidade?" E talvez me tenha afastado, porque vou perder o tempo todo lendo aquilo. Então, eu gosto daquilo, mas é bom também relativizar.

Mantém a mesma relação com os criadores da sua idade? Como é que eles olham para a nova geração? Também dialogam?

Em alguns casos felizmente sim, como o Arnaldo Antunes.

Que é um herói para os novos.

A recepção dele foi exemplar, recebeu-os muito bem, e é visto como um ídolo por eles. Mas boa parte da minha geração, que talvez achasse que a poesia devia terminar neles, recusa-se a ler, ou quando lê acusa. Teve uma reacção muito negativa à chegada dos novos poetas. Toda a revista que aparece entra sempre num sistema de abraços, tapinhas nas costas, parabéns, nenhuma é muito questionada. A "Modo de Usar" teve uma defesa grande de alguns poetas, mas também um ataque dos poetas da minha geração, que é absolutamente incompreensível e eu só posso ler como reacção a algo muito forte. Também fui acusado de abrir muito as portas da "Inimigo Rumor", que já tem 10 anos, a essa poética, convidei-os a editarem a revista, e isso foi tomado como quase uma traição. Foi incrivelmente mal recebido. Vejo isso como sintomático da força dos novos poetas, porque no sistema literário brasileiro quem chega sem incomodar é porque vai repetir o já feito, e todo o mundo fica satisfeito com aquele mínimo logro que já conseguiram: não me incomode que eu não te incomodo, me elogia que eu te elogio, vamos fazer o mesmo. E ninguém sai muito daquela pequena festa nossa. Quando aparece algo que sai fora disso, as reacções são estarnhas. Para mim nada foi melhor que a chegada desses poetas.

Que nomes daria para quem quiser ler o que se está a escrever?

Para usar nomes novos, na área experimental gosto de um poeta como Ricardo Aleixo. Na área mais do verso, do papel, um poeta de Minas - terra do Drummond -, Walter Gam. Se essa expressão poética da indeterminação, criada pela crítica americana Marjorie Perloff faz algums sentido na poesia brasileira, para mim é na poesia do Walter Gam, do informe, como dizia o Bataille. Gosto de Daniela Storto, essa não tem nem livro, é um raro caso de poeta que em vez de estar ansiosa pela estreia preserva o seu ineditismo. Acho que ela só vai querer estrear aos 40 anos, mas faz poemas fabulosos.


09 abril 2009

Portugal adora a investigação

As bolsas são bem o espelho de um país que pouco ou nada liga a quem investiga. Com bolsas dessas mais vale ir trabalhar para as obras. Os montantes são ridículos e há anos que não os actualizam.
Quem precisar de bolsa para um doutoramento recebe a fabulosa quantia de... 980 euros. Tenham dó. Que raio de Estado é este?

08 abril 2009

Um dia de cada vez


Tantas coisas e ao mesmo tempo tanto nada. Quando os sentidos são muito estimulados há como que um curto-circuito e parece que tudo perde a cor e o sabor.
Assim, em tempos de abundância há como que um adormecimento colectivo que, dependendo dos lugares e das circunstâncias, pode despoletar reacções intensas em tempos de carência.
Em termos económicos já todos mais ou menos perceberam que as certezas de há meses se esfarelaram. Em termos de cultura é que ainda se continua a pensar como há meses. As livrarias cheias de lixo, os teatros às moscas...
No entanto, mesmo em Portugal há quem continue a criar e vá, a pouco e pouco, obtendo o reconhecimento que merece. Como acontece com A. M. Pires Cabral que, por viver longe do provincianismo de Lisboa, se viu remetido para um escuro e silencioso lugar, donde foi resgatado pelos que encontraram nas palavras de Joaquim Manuel Magalhães sobre a poesia de Pires Cabral uma ponte para os seus versos e para uma admiração que não tem parado de crescer.
Paralelamente, a sua prosa é premiada com o Grande Prémio DST de Literatura pelo romance Cónego. Que esse prémio faça outros descobrir o fulgor da sua poesia, por exemplo de Arado, de que ontem trancrevemos um poema.

07 abril 2009

Vacas gordas e vacas magras


Os médicos são engraçados. Recebem os delegados de propaganda médica, prescrevem com fartura, viajam a expensas da indústria farmacêutica... mas vêm falar em guerra económica. Claro que é guerra económica. Tão económica como a de prescreverem medicamentos que os clientes pagam e sobram. Ou tão económica como pagar uma consulta e não ter o recibo ou ter que ir a várias consultas, sempre pagas.
O que há muito devia estar estipulado era que os doentes apenas deviam ter os medicamentos de que precisam (a dose certa) e não carteiras que sempre têm pastilhas a mais que para nada servem a não ser para encher os bolsos de farmacêuticos (os das lojas e dos das fábricas) e médicos.
Os médicos, enquanto classe profissional tão preocupada com o zé povo, deveria ter pressionado o governo para acabar com essa roubalheira. Mas só reage agora, como se sentisse fugir do bolso algum contributo para o gasóleo.
É como se de repente as vacas gordas tivessem os dias contados...

A. M. Pires Cabral

Degradação

Toda a gente foi domingo
alguma vez.

Depois nas fezes aparecem
sinais de sangue, ou na urina.
Declaram-se abcessos,
coágulos, tumores.

Passamos então a ser uma sombria,
pesada, intransitiva
segunda-feira.

06 abril 2009

Rafael Bordalo Pinheiro, ceramista



Lisboa pode ver jarras, pratos, bilhas, potes e animais de louça da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro. Para contextualizar os visitantes, a exposição terá presente fotografias e documentos sobre a fábrica que ele criou em 1884 nas Caldas da Rainha e alguns projectos e desenhos originais do humorista e ceramista português.
Pena é que não haja a tradição de criar exposições didácticas e levá-las pelo país, em coordenação com as escolas, de forma a que os portugueses vão conhecendo um pouco do seu património artístico, ao mesmo tempo que aprendem a valorizá-lo.

Sismos e Açores


Quando há notícias de sismos fico sempre com a esperança de que as autoridades açorianas deitem as mãos à cabeça e façam o que deviam fazer: simulações, treinos, preparar as novas gerações para um sismo. Mas, nada. O governo de César está há mais de uma década no poder e até agora pouco ou nada fez nesse sentido. Nem depois do sismo do Faial.
As pessoas têm coisas e mais coisas penduradas nas paredes, por cima das camas, nos espaços onde estão mais tempo. Os perigos são enormes, mas ninguém parece preocupar-se.

05 abril 2009

A Pedra da Eloquência


Uma pedra pode não ser apenas uma pedra, é o caso da Pedra de Blarney ou Pedra da Eloquência que se encontra sob uma ameia no Castelo de Blarney, em Cork, na Irlanda. Rezam as muitas lendas que a Pedra concede o dom da eloquência a todo aquele que a beijar. Para beijá-la, o visitante tem de inclinar-se para trás, segurando-se a um corrimão. Nem sempre foi assim, antes era agarrado pelos pés o peregrino que quisesse beijá-la.

Muitas lendas tentam explicar o ritual de beijar a pedra azulada de Blarney. A mais conhecida conta que a Pedra possui poderes mágicos que envolvem uma velha mulher, supostamente uma bruxa, que foi salva de morrer afogada pelo Rei de Munster. A mulher ficou tão agradecida que lhe concedeu o dom da eloquência. O Rei teria apenas de beijar a pedra do topo do Castelo. Com esse gesto não só ganharia o dom da eloquência como passaria a ser querido por todos.

O dia amanheceu com atletismo


Porque correm as pessoas? Para se manterem saudáveis? Para provarem a si próprias que estão em forma? Para vencerem um desafio: o do tempo, o da dificuldade?
Eu cá acho que são poetas. Correm porque gostam de fazer coisas inúteis. Correr por correr é belo e que há de mais inútil que o belo?
Elas correm, às dezenas, umas correm sozinhas, outras em grupo. Quase todas muito sérias, muito compenetradas do seu atlético papel. Como se correndo chegassem a um outro patamar das suas vidas. E correm, correm.
Poderiam ficar em casa a dormir até mais tarde, mas não: correm.
Poderiam estar na net a actualizar blogues, mas não: correm.
Poderiam limpar os aposentos ou preparar um lauto almoço, mas não correm.
Será que são críticos literários? Talvez críticos de arte... Quiçá promotores culturais...
Não, não, não.
Correm, sentem o movimento ritmado dos pés no solo. Sentem os calções e demais equipamento técnico no corpo e sentem-se bem por isso e por correrem, é como se fossem maratonistas de pequeno porte, gigantes à sua maneira, claro.
O dia amanheceu com atletismo em vários pontos do país.
Ah atletas, atletas.

03 abril 2009

Literatura açoriana ou talvez não


Cristóvão de Aguiar, natural (1940) da freguesia do Pico da Pedra, ilha de S. Miguel, rejeitou o rótulo de literatura açoriana, por considerar que ela faz parte da produção literária lusófona, que abrange todos os países de língua portuguesa.
"O título (literatura açoriana) é equívoco, porque pode parecer que é uma literatura separada da literatura portuguesa", afirmou à agência Lusa o escritor, na opinião do qual o conceito foi criado para que alguns escritores locais se pudessem destacar, já que não tinham lugar na literatura portuguesa.
Frisando que também não há literatura transmontana com Miguel Torga ou beirã com Aquilino Ribeiro, Cristóvão de Aguiar considerou que a produção literária nos Açores, ou tendo como pano de fundo os Açores, constitui "um enriquecimento da nossa língua e literatura", mas "não merece perdas de tempo em discussões que não levam a parte nenhuma".
"Há uma maneira muito fácil de fugir a todo esse problema escatológico que é chamar literatura lusófona, onde cabem todos os países de língua oficial portuguesa", defendeu Cristóvão de Aguiar, que conta com mais de 30 títulos publicados.

Fonte: DN

02 abril 2009

Helen Levitt (1913 - 2009)





Helen Levitt (Bensonhurst, 1913 - Manhattan, 2009) cresceu em Brooklyn e desde cedo revelou interesse pela fotografia. Registou os desenhos feitos a giz pelas crianças de rua, fotografando-os a eles e às crianças, o que lhe granjeou fama.
O trabalho que produziu ao longo de quase 50 anos de carreira inspirou-se em Cartier-Bresson e Walker Evans, com quem chegou a colaborar numa série de fotografias captadas nos arredores de Nova Iorque.
As suas primeiras imagens datam de 1936 e o grosso da sua obra guarda cenas do quotidiano de rua de Nova Iorque, particularmente da zona de Manhattan, onde vivia.
A exposição Children: Photographs of Helen Levitt no M.O.M.A., de 1943, lançou a sua reputação como fotógrafa.
Nova Iorque foi o cenário dominante da sua obra e da sua vida. Praticamente só saiu da cidade para ir ao México fotografar homens a beber nas cantinas locais, um trabalho que recolheu no álbum "Helen Levitt: Mexico City" (1997).
A partir da década de 1960 começou a fotografar a acores.

Este governo tão preocupado com o défice...

... esqueceu-se do resto. E agora começa a vir à tona a asneirada.
«O Governo socialista fez aprovar, em 2006, alterações à lei que permitem aos grupos financeiros a isenção total dos rendimentos das suas filiais, refere um relatório de auditoria da Inspecção-Geral de Finanças (IGF). O Ministério das Finanças não quis comentar ao PÚBLICO esta análise.
Em causa está a opção escolhida na adaptação para a lei portuguesa da directiva comunitária para evitar a dupla tributação de rendimentos (90/435/CEE). Ao contrário de noutros países - como é citado pela IGF o caso espanhol - a IGF considera que "o legislador português optou pela solução que, sendo a mais simples do ponto de vista administrativo, propicia o desenvolvimento de mecanismos de planeamento fiscal" abusivo e é "a mais penalizadora para os interesses do Estado".»

Claro que a crise faz levantar véus que doutro modo passariam despercebidos. Andava o pagode a suportar o défice e a banca a anunciar altos dividendos, quando a crise lhes caiu no colo. Primeiro pensaram que se tratava da cinza de algum charuto, depois começaram a ver que era mesmo fogo. E agora já se vê como os socialistas defendem a democracia. Força, força, companheiro Santos.